Era raro que meu companheiro Alexander tirasse folga de suas obrigações como guerreiro, então planejei uma viagem em família para os Territórios do Norte.

Como curandeira-chefe da alcateia, eu podia pagar por isso com facilidade. Meu consultório particular rendia trezentos mil reais por mês. O salário de Alexander como guerreiro mal chegava a dezoito mil reais.

Passei seis meses escolhendo as rotas mais seguras e negociando os direitos de passagem com outras alcateias. Os Territórios do Norte eram notórios por serem hostis a lobos de fora. Cada território exigia permissões separadas, algumas cobrando até sessenta mil reais só para garantir uma passagem segura.

Todos os outros membros da família ficaram de fora enquanto eu cuidava de tudo: as permissões de território, os esconderijos, as áreas de caça, até os suprimentos médicos que precisaríamos.

Os pais de Alexander moravam no anexo da mansão. Eles sobreviviam inteiramente com a minha renda desde que se aposentaram das obrigações da alcateia.

Sua irmã adolescente, Emma, estava sob minha responsabilidade desde os dez anos.

Eu não me importava em sustentar todos. Ver a família feliz valia qualquer esforço.

Minha prática terapêutica estava prosperando. Lobos de todos os territórios buscavam meus serviços, especialmente para aconselhamento sobre o vínculo de companheirismo.

A obtenção de passagem segura pelos outros territórios era complicada, por isso obtive nossas autorizações com antecedência.

Quando Emma mencionou que nunca havia viajado com um comboio protegido antes, acessei minhas economias para melhorar as condições de viagem de toda a família.Os noventa mil reais extras valeram a pena pela segurança deles.

Então, pouco antes da partida, Alexander soltou a bomba:

— A Victoria soube da nossa viagem e quer se juntar. O comboio protegido já está cheio, então você terá que atravessar o território da Alcateia das Sombras sozinha. Eu já providenciei sua permissão de passagem.

Ele me enviou o documento de viagem pela nossa conexão da alcateia.

Meu sangue gelou quando vi a rota - ela passava pela parte mais perigosa do território da Alcateia das Sombras. Três lobos haviam sido mortos ali apenas no mês passado.

— O que você quer dizer com isso? Era para ser uma viagem em família e você está convidando a Victoria?

— Claro. A Victoria queria participar, então naturalmente eu a incluí.

Minha loba se agitou furiosamente sob minha pele.

— Quando minha mãe sugeriu se juntar a nós na semana passada, qual foi sua resposta? Você disse que seria uma viagem exclusiva para a alcateia, sem forasteiros. Mas, no instante em que Victoria pede, você se apressa para acomodá-la?

— A Victoria não é como sua mãe. Ela é praticamente parte da alcateia - mais do que isso, na verdade. No meu coração, ela sempre foi da família.

Senti minhas garras ameaçando emergir.

— Então, por que sou eu quem tenho que viajar sozinha? Aquelas vagas no comboio foram garantidas meses atrás.

— O comboio está cheio. Tive que cancelar a sua vaga para dar lugar à Victoria. Você é forte, pode atravessar o território da Alcateia das Sombras sozinha.

Revisei a permissão novamente. De todas as rotas, ele havia escolhido a mais perigosa.

— Então a Victoria vai no comboio protegido, enquanto eu arrisco minha vida atravessando um território hostil sozinha?

— Você vive dizendo que quer explorar outros territórios. Agora é sua chance.

Olhei para James e Sarah, os pais de Alexander, a quem eu sustentava há anos.

James se afastou.

Sarah se aproximou com um sorriso conciliador.

— Scarlett, minha querida, Victoria e Alexander cresceram juntos, explorando as mesmas terras de caça e compartilhando tantas lembranças. Não há dúvida de que deveriam viajar juntos. Basta seguir a rota mais longa e nos encontrar no destino.

Emma interveio:

— Irmã Scarlett, a Victoria é delicada. Ela não pode atravessar o território da Alcateia das Sombras sozinha. Você é forte e capaz - vai conseguir.

Ri amargamente.

— Quem é realmente da alcateia aqui? Uma forasteira é tratada melhor do que sua terapeuta da alcateia, a provedora. Qualquer um pensaria que a Victoria é sua verdadeira companheira!

Os olhos de Alexander brilharam em dourado com raiva.

— É apenas uma rota de viagem diferente. Pare de fazer tanto drama. A Victoria é da família - ela correu conosco desde que éramos filhotes. Não podemos deixá-la atravessar território hostil sozinha. Faça esse pequeno sacrifício - mostre o que significa ser uma companheira de verdade!

Nesse momento, a porta da frente da nossa mansão se abriu.

Emma correu para cumprimentar Victoria, que entrou usando roupas de grife que custavam mais do que o salário mensal de Alexander.

— Victoria! Estou esperando há muito tempo! Por favor, entre!

Emma ajudou Victoria com suas enormes malas de viagem da Louis Vuitton.

— Senti tanto a sua falta! Se ao menos você não tivesse deixado nosso território naquela época... Você poderia ter sido minha verdadeira irmã assim que realizasse o vínculo com o Alexander!

Sarah pegou as mãos de Victoria, perfeitamente cuidadas.

— Exatamente! Eu sempre te vi como minha futura nora. No meu coração, ninguém se compara a você!

Disseram isso bem na minha frente, sem a menor vergonha.

Naquele momento, meu coração congelou em relação a todos eles.