Conflitos Extintos


No pequeno corredor que leva da porta até a sala, ouço algumas vozes agitadas. Adentro o apartamento, e vejo Jane com outras 3 colegas, jogando uno na mesinha de centro da sala.

- Alison! Você chegou. Quer jogar com a gente...- ela percebe o Mark vindo logo atrás de mim. - Oh.

- Boa noite, meninas. - digo acanhada.

- Boa noite. - elas respondem em uníssono.

Dada a quantidade de garrafas espalhas entre a mesa e chão, elas já estão aqui, a algum tempo.

- Boa noite. - Mark as cumprimenta.

- Nossa! Que voz sexy você tem. - uma das meninas diz em meio a um sorriso.

- Ei, você não é aquele cara que entregou os certificados na cerimônia de hoje na faculdade? - uma outra garota, mais rechonchuda pergunta apontando para Mark e semiserrando os olhos. - Você fica bem mais bonito naquele terno. - ri largamente.

Aff, essas garotas já estão bem mais altas do que eu imaginava, e parece que só vai piorar essa bebedeira toda.

- Acho que aqui não há condições para conversar. - falo próximo ao ouvido dele.

- Tudo bem, eu espero você lá em baixo. - ele se vira em direção a porta.

- Espera. - seguro em sua mão. - Vem comigo.

Ignorando totalmente as garotas na sala, que voltaram a dar atenção ao seu jogo, sigo para o meu quarto, ainda segurando Mark pela mão.

Ao entrarmos no quarto, Mark parece observar cada detalhe que há nele, do teto até o chão, sem deixar de fixar os olhos nos postais presos a parede, e meus ursinho de pelúcia em cima da cama.

- Bom, não é nada comparado ao que você está acostumado, mas pra mim é ótimo.

- Ele é perfeito! - continua a explorar com os olhos. - É a sua cara.

- Ah, obrigada. Sei que tenho bom gosto. - digo me sentindo boba por seu elogio. - Venha, você pode se sentar naquela poltrona ali. - aponto para a poltrona próximo a janela.

- Ok.

- Espera só um segundo, preciso fazer algo urgente. - sem esperar por uma resposta, eu entro no banheiro, e me apresso em tirar minhas roupas.

Essa é a parte do meu dia, em que torço muito para que chegue logo. Estar em casa, e poder me livrar da calça jeans, e poder colocar meu tão amado vestido.

Depois de tirar o casaco, a calça, e a blusa que usava, eu coloco um vestido mais soltinho, o que melhora ainda mais o meu humor.

- Pronto, agora já podemos conversar. - digo saindo do banheiro, fechando a porta atrás de mim.

Me aproximo da mesa do computador, e arrasto a cadeira até próximo da poltrona, para que assim, possamos conversar mais a vontade.

                     

                       Mark Fletcher

- Sobre o que você quer conversar? - ela questiona.

- Bom... - me sinto perdido, não sei exatamente por onde devo começar. - Eu... Queria dizer que sinto muito por tudo aquilo... Eu sei que deveria ter procurado te conhecer de forma casual, mas como eu não tinha exatamente por onde começar, acabei apelando para o lado o invasivo.

Ela me olha com muita atenção, como se absorvesse cada uma de minhas palavras.

- Eu espero que você não se magoe com minhas palavras, mas sinto que preciso ser sincero.

- Tudo bem, suas palavras serão apenas a título de explicação. Anotado. - ela se recosta na cadeira, ainda prestando muita atenção em mim.

Depois de explicar o passo a passo de como tudo foi acontecendo, desde não conseguir encontra-la, até achar seu chaveiro no meu quarto de hotel, e assim ter por onde começar a procura-la, depois as rondas em seu antigo bairro, até o encontro na cafeteria, e todo o desenrolar até aqui, ela pareceu compreender bem, que eu não sou um tarado que vive perseguindo mocinhas por aí, e isso me gerou um alívio imensurável.

- ...Eu só espero que você tenha conseguido entender tudo. - ela responde com um aceno de cabeça. - E é isso.

- Tá bom. - ela responde simplista.

"Tá bom"? É isso? Eu passei por tudo aquilo, para poder chegar até aqui, e tudo o que ela diz é simplesmente um "tá bom"? Confesso que estou bem confuso.

Mas também devo ficar satisfeito com esse simples "tá bom", porque queria ser bem sincero com ela, mas no meio do caminho, decidi omitir alguns detalhes, como por exemplo, a falta que eu senti dela, ou em como eu pensava nela dia e noite, e em como isso me afetou de forma inesperada. Mas acho que devo deixar de ser um covarde nesse quesito.

- Alison... - me aproximo mais dela, sentando na beirada da poltrona. Pego sua mão, e ela parece surpresa. - Eu... Senti a sua falta. - finalmente consigo proferir as palavras.

Ela me olha nos olhos, e percebo ela engolir seco.

- Eu também senti a sua.

Meu coração parece querer pular para fora do peito quando ela diz essas palavras.

Noto lágrimas se formarem em seus olhos, e eu levo minha mão livre até seu rosto, acariciando levemente sua bochecha. Ela fecha os olhos, e inclina o rosto sobre minha mão.

- Eu senti MUITO, a sua falta. - repito.

Ela então abre os olhos, e em um movimento inesperado, ela me abraça forte.

O cheiro do cabelo dela, era algo que desejei sentir o dia todo, e agora, estou aqui, com meu rosto enterrado nele.

Levo minhas mãos até suas costas, e com uma delas, subo até sua nuca, mantendo-a ali, com o rosto deitado em meu ombro.

A melhor coisa do mundo pra mim agora, é estar enroscado em braços, sentindo seu coração bater acelerado junto ao meu peito.

E pensar que toda a alegria que eu queria, e precisava, estava totalmente dependente de mim, dependente de eu tomar coragem e dizer a ela que sentia sua falta.

E pensar que hoje, eu acordei como um fracassado, me tornei um miserável, um ansioso, e agora, um homem muito sortudo. 

Nossa felicidade depende, literalmente, de nossas escolhas e atitudes.

- Eu nunca mais quero ficar longe de você. - ela se afasta um pouco para me encarar. - Nunca mais.

Uma lágrima rola por seu rosto, e eu carinhosamente a seco. Tendo o enorme prazer de ter seus olhos nos meus, eu me aproximo lentamente de seu rosto, e delicadamente toco seus lábios com os meus. Ela leva suas mãos até meu rosto, e a leveza de seu toque, me faz sentir acolhido.

Mais uma vez, eu não tive uma noite boa de sono, e o motivo ainda era a Alison, porém, dessa vez, as razões eram muito boas.

Depois de passarmos um longo tempo, apenas com ela sentada em meu colo, abraçada a mim, e eu sentindo sua lenta respiração aquecer meu peito, percebi a necessidade dela descansar, e ter uma boa noite de sono. Apesar de ser uma noite totalmente diferente do que eu costumo considerar como uma noite boa, posso certamente afirmar, que foi a melhor noite que tive com ela.

Eu pude tocar seus cabelos, sentir sua pele sob minhas mãos, e apreciar os traços perfeitos de seu rosto.

Ahh, eu adoro estar apaixonado por ela. Ela supre tudo o que meu coração deseja, apenas com sua presença, e isso é algo tão único pra mim.

Eu jamais pensei que estar apaixonado, me deixaria tão feliz. Costumava ver os apaixonados como loucos, fantasiando a felicidade, porém, hoje eu sou o louco, mas não há fantasia nessa minha felicidade, apenas uma realidade encantadora.

O relógio marca 7:53h, e eu não sei que horas eu posso ir vê-la de novo, então a ansiedade fica me sondando sorrateiramente.

Decido sair da cama, e tomar um banho, preciso sair e fazer alguma coisa, caso contrário, essas parede em deixarão saturado, e eu seria uma péssima companhia para a Alison depois.

Quando estou para sair do hotel, recebo uma mensagem dela.

"Bom dia Mark!

Espero que tenha dormido bem."

Meu coração chega a dar "pulos" de alegria com a mensagem dela. Quem, um dia imaginaria que eu, me sentiria assim com uma garota. E o melhor de tudo, é saber que ela se importa comigo de uma forma tão carinhosa.

Resolvo responder sua mensagem.

"Minha noite teria sido muito melhor, se você estivesse ao meu lado.

Café da manhã?"

Eu preciso tanto vê-la, que qualquer forma de estarmos juntos, seria maravilhoso.

"Seria ótimo ter sua companhia."

Ela responde, e eu prontamente saio do quarto.

No corredor, vejo John a minha espera sentado em uma poltrona. Quando ele me vê, logo se prontifica.

- Qual o destino Sr?

- Eu vou dirigir hoje, John. Aproveite seu tempo livre, mais tarde ligo pra você, e aviso se precisarei dos seus serviços.

- Sim Sr!

O dia está lindo, o sol brilha como nunca, e a brisa é bem fresca pela manhã. Acho que a escolha de roupa que fiz, combina bem com o dia ensolarado. Camisa e bermuda caem muito bem para o dia de hoje. E claro, não poderia faltar os óculos escuros. Uma roupa leve, pra aproveitar um café da manhã despojado, e com uma excelente companhia.

Quando chego em frente ao apartamento dela, lhe envio uma mensagem.

" Já estou aqui fora, e espero que esteja com fome, pois não tenho pressa que a refeição acabe logo"

Espero dentro do carro mesmo, não quero correr o risco de ser visto nessa área por algum jornalista desocupado. Seria péssimo ter uma manhã tão esperada, estragada por um bisbilhoteiro.

" Então devo avisar que estou faminta.

Desço em cinco minutos. <3"

 Agora estou mais ansioso ainda, e a perspectiva me deixa ainda mais afoito. Eu releio sua mensagem umas 5 vezes, e em todas elas, não consigo entender que diabos, isso "<3" significa. Fico confuso.

Ela finalmente aparece no portão, e eu sinto um largo sorriso preencher meu rosto.

Ela dá a volta no carro, e entra.

Seu vestido azul bebê, contrasta muito bem com seu tom de pele. Ela está tão linda, que nem parece que já a vi várias vezes. Parece ser a primeira vez que nos encontramos.

Ela se inclina, e me dá um beijo no rosto. Eu não resisto, e ponho a mão em seu rosto, a mantendo ali, bem próxima de mim. Então, levemente beijo seus lábios.

Uau, a sensação é incrível. Poder beija-la sempre que a vejo, me torna ainda mais viciado em vê-la, e as sensações que percorrem meu corpo, me deixam viciado em senti-la sempre por perto.

O que começa com um beijo cálido, e inocente, se torna algo urgente, e cheio de desejo. Quando dou por mim, sou eu quem está inclinado na direção dela, e com a mão em sua cintura, tentando a todo custo, puxa-la para mais perto, enquanto adentro sua boca com a minha língua.

Sinto a mão dela em meu peito, me afastando.

- Acho que é melhor a gente ir comer. - ela diz ofegante.

- Sim, eu estou faminto. - permaneço com a minha boca nela, só que descendo por seu pescoço.

- Estou falando do café da manhã, Mark. - ela tenta se afastar.

- Não podemos deixar isso pra depois. Hum? - continuo com minha mão em sua cintura, ainda puxando- a para mim.

- Mark...

- A gente pode subir, e você me mostra o quão boa é a sua cama. Que tal? - sinto sua resistência se esvaindo conforme vou descendo por seu pescoço. - Seria um ótimo jeito de começar o dia. Não acha?

Com a mão em meu ombro, ela toma impulso, e se afasta por completo.

- Mark, não foi isso que nós combinamos.

- Ok. - pego meu celular e começo a digitar.

- O que está fazendo? - ela me olha curiosa, quando seu celular toca dentro da pequena bolsa que ela carrega.

"Mudança de planos, vamos transar, estou com um puta tesão agora. Você me deixa louco!"

- Mark! - ela exclama surpresa.

- Agora estamos combinados? - lhe lanço uma olhar safado.

- Nós vamos tomar café da manhã, ou você vai me matar de fome? - me olha inquisitiva.

- Droga! - ligo o carro. - Saiba que você, é a primeira mulher na história, a me fazer desperdiçar uma ereção. - ela me olha absorta. - Talvez você não dure muito nesse cargo.

- E que cargo seria esse, Sr irresistível? - ela diz em meio a um riso.

- O de minha namora, ué. - seu rosto fica sério, e ela me olha com as sobrancelhas arqueadas, e eu dou partida no carro. - Então vamos comer, antes que eu comece a amaldiçoar o café da manhã.  

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