Nicole entrou no escritório e fechou a porta. A claridade iluminou os cantos da sala assim que abriu as persianas. Os últimos dias foram extremamente exaustivos, já que Nicole passou mais tempo com Claire e explicou tudo sobre o projeto "Médicos do Bem".
Naquela manhã quente de quarta-feira, o ar-condicionado estava no máximo. Por alguns minutos, Nicole sentiu-se aliviada por estar sozinha, mas o seu precioso momento de paz foi quebrado pelo ruído das batidas.
— Entre! — Elevou a cabeça ao olhar para a porta.
— Bom dia, Nicole! Está ocupada? — indagou Claire, com uma voz mansa.
— Bom dia, doutora Werneck! — Nicole esboçou um sorriso contido. — Sente-se! — Fez um gesto com a mão para a cadeira.
Claire ajeitou a saia
Isabella ficou boquiaberta logo que observou o homem adelgaçado na cadeira de rodas. O tecido do paletó preto estava um pouco frouxo nos ombros encurvados. Alexander mal lembrava o jovem robusto por quem ela se apaixonou. As linhas de expressões no rosto quadrado davam os primeiros sinais do envelhecimento prematuro. — O que você quer, Isabella? — indagou ele, friamente. — Eu só vim para conversar com a Nicole e aproveitei para pedir desculpas. — Colocou-se de pé e ajeitou a bolsa branca, de uma grife italiana, nos ombros. Aquele homem não a atraía como antes. — Sinto muito pelo que houve com você — balbuciou. — Não preciso de sua piedade e nem mesmo que alguém sinta pena de mim — replicou em tom grosseiro. Alexander enlaçou a cintura da esposa. — Minha família me dá força e me ajuda a compreender que o amor dele
O edifício do hospital psiquiátrico Viva Well tinha uma fachada verde e era cercado por alguns painéis brancos que traziam uma certa estabilidade para os pacientes e uma vaga lembrança da sensação de estar em casa. Durante o tratamento, Josephiné ficou presa no hospital onde recebeu atendimentos diários. Além da terapia com psiquiatras e psicólogos, também recebia todos os cuidados na alimentação e medicação. Pela manhã, a maioria dos pacientes participava das diversas recreações e atividades ao ar livre nos jardins. O sol iluminava as copas frondosas da vegetação que embelezava o pátio do prédio. Fazia algum tempo que Josephiné não tinha contato com outras pessoas. Os olhos de safira examinavam a paisagem através do vidro. Uma das enfermeiras abriu a porta e avistou a silhueta fina das costas da mulher comprida
Nicole estava sentada no sofá com um estofado verde-escuro. Ajeitou os cachos dourados de Marcelly. A menina parecia mais feliz do que nos últimos dias. O ringtone do BlackBerry tocou algumas vezes, porém Nicole decidiu não atender, se Alexander soubesse onde ela estava, ele surtaria. — Senhora Bittencourt! — O médico entrou na sala. A boca larga esboçou um sorriso branquíssimo logo que avistou Nicole. — Bom dia, doutor Becker! Ela afastou-se assim que cumprimentou o médico com um aperto de mão. — E quem é essa princesa? Doutor Becker se abaixou na altura de Marcelly. A menina deu um sorriso tímido e abraçou a cintura da mãe.
No escritório, Alexander abriu a persiana e observou o sol se infiltrar por entre as nuvens. Abaixou a cabeça e fitou o celular, tocou na tela e ligou mais uma vez. Estava agoniado com o sumiço de Nicole, tinha mais de duas horas que ela não dava notícias. — Alô! Quem está falando? Ajeitou o tronco no encosto da cadeira de rodas enquanto a outra pessoa falava do outro lado da linha. Não esperava ouvir aquela voz masculina. — O que você está fazendo com o celular da minha esposa? Virou a cabeça na direção da porta, mas ficou desanimado assim que viu Rosa entrar. — O quê? — Bateu com o punho cerrado na mesa. Tirou os óculos e respirou fundo. — Ela ainda não chegou. Em breve eu vou buscar o celular da minha esposa — disse a
Eram quase 7 horas da manhã de sábado quando Alexander entrou no elevador adaptado para cadeirante, acionou o botão e, em poucos segundos, a porta abriu no primeiro andar da casa. Foi até a cozinha e preparou ovos mexidos. A governanta chegou alguns minutos depois e ajudou a preparar o café da manhã especial de Nicole, que completava 29 anos naquele dia. — Rosa, daqui a pouco dê a mamadeira da Jullie, por favor! Eu deixei pronta, está em cima do balcão. — Sim, doutor! Fique tranquilo, deixa a Nicky descansar mais um pouco. Essa menina não para nem por um segundo. Sem demora, ele apoiou a mesinha sobre o colo e mexeu na alavanca, as rodas se moveram a caminho do elevador até o quarto do casal. Ele abriu a porta com cuidado e apreciou o brilho no rosto de Nicole. Acari
O restaurante Le Bistrot era o mais conhecido da Zona Sul do Rio de Janeiro. Dentro, o enorme salão estava repleto de pessoas. O gerente, um francês de aparência robusta e bondosa, recebeu o jovem casal e os conduziu até a mesa de vidro perto de um enorme espelho com entalhes dourados. O interior do ambiente era todo decorado no estilo Luís XV. Uma grande lareira no fundo do salão queimava a lenha de um carvalho e espalhava um agradável aroma por todos os cantos. Nicole apreciou a decoração do local e ajeitou a cadeira ao lado do esposo. Ambos se acomodaram próximo à lareira. O garçom se aproximou e entregou-lhes a carta de menu. Alexander falava algo sobre vinhos e avaliava a bebida indicada na lista de vinhos. — Traga-me um Château La Mission Haut-Brion, s'il te plaît! — Oui, monsieur!
Os lábios delineados por um batom rubi se esticaram em uma linha fina quando a mulher alta e curvilínea andava graciosamente no longo vestido prateado. O homem idoso tinha um sorriso triunfante, exibia com orgulho a bela mulher, cuja melanina brilhava sobre a luz branda do enorme lustre. Nicole abaixou a cabeça e prestou atenção na comida na esperança de que o pai não a notasse. Sentiu o olhar piedoso do esposo, porém não queria falar. — Meu anjo, fique tranquila! — Eu estou! — Afastou alguns dos cogumelos com o garfo. Por um instante, Alexander se compadeceu da mulher que se concentrava na comida. — Oi, filha! A mão alva com manchas senis tocou as costas de Nicole. O homem
Os cômodos estavam em completo silêncio. A casa se aquietava para mais uma noite de sono. Após olhar os gêmeos, Nicole seguiu para o quarto das filhas e levou a mão ao peito logo que Rosa apareceu de repente na porta de seu quarto. — Perdoe-me! — pediu a governanta. — Ouvi o ruído da porta, pensei que era uma das crianças. — Descanse, Rosa! — Nicole sorriu afetuosamente. — O Alex e o Rodolpho estão dormindo. — Como foi o jantar? — Não disfarçou a curiosidade. — Foi maravilhoso! Vamos renovar os votos. Mostrou o anel com um diamante na ponta e conteve o gritinho. — Fico tão feliz! A senhora merece — cochichou Rosa. — E como está