Tinham se passado cinco dias que eu não falava com Marcos, cinco malditos dias desde que ele correu para fora da cabana me deixando para trás. Tentei ocupar minha cabeça nesse período, sai com as meninas, fiz compras com Helen e Sara na cidade vizinha, e terminei a pintura na cabana. Mas nada do que eu fizesse parecia fazer o tempo passar mais rápido, eu sempre me pegava pensando em algo que acontecia no meu dia e eu queria contar a ele, ou via alguma coisa que iria combinar muito com ele, tudo girava e voltava em como eu precisava falar com ele e acertar as coisas. Como hoje, acordei sentindo uma necessidade imensa de vê-lo, meu coração estava apertado e eu já não aguentava mais o silêncio, quando tudo o que eu queria era estar com ele. — O que você vai fazer na cabana Emily? É domingo e está caindo uma chuva horrível — meu pai reclamou pela centésima vez desde que avisei que estava saindo. — Eu só tenho uma coisa pra fazer lá, não vai demorar. A verdade é que não tinha nada par
Ele estava realmente ferido, sua postura dura e evitando de fazer contato visual comigo, esse não era o Marcos que eu conhecia. — Eu não vou embora, não há nada que você possa fazer para que eu vá. — falei sendo firme e assisti sua postura se enrijecer ainda mais. — Só vá Emily. Por favor! — ele murmurou, indo em direção aos quartos e eu o segui. — Não adianta Marcos Almeida, mesmo que a polícia apareça aqui eu não vou sair. Não tem a menor chance! — afirmei determinada, e recebi seu aceno negativo novamente. — Qual é o seu problema? Fala comigo, chora, grita, quebra alguma coisa Marcos! Mas eu não aguento mais ver você nesse estado inerte de sofrimento! — gritei, indignada por ser ignorada. — Pelo menos olha pra mim caramba! Então ele se virou com a respiração de repente descompassada, as narinas se abrindo como se buscassem o ar que lhe faltava. Seus olhos claros estavam revoltos e cheios de lágrimas não derramadas, as olheiras marcavam seu rosto dizendo o quanto ele não estava
Naquele fim de semana a chuva finalmente decidiu nos dar uma trégua, então não perdemos tempo. Papai, eu e Marcos organizamos tudo para o churrasco, a cabana estava impecável, como minha mãe adorava deixar. Colocamos a mesa na varanda, perto da churrasqueira, Marcos tinha colocado varais com luzes e eu decorei com várias flores a mesa e o corrimão que envolvia toda a varanda. Todos já estavam ali, conversando, rindo, Felipe e Fabio corriam atrás da bola, enquanto meu irmão ajudava nosso pai na churrasqueira, usando isso para fugir da mulher, que estava na mesa, rodeada por Sara e Pedro, Bi e Carla conversavam ali perto, Bete e seu homem estavam chegando a qualquer momento. — Você está bem? — senti os braços fortes envolverem minha cintura e a voz de Marcos contra o pé do ouvido. — Só estou observando tudo. Fizemos um bom trabalho aqui, não acha? — seus lábios tocaram meu pescoço, fazendo cocegas e enviando um arrepio por meu corpo. — Fizemos sim, dona Andreia deve estar feliz lá
Cinco meses depois Minha vida em São Fernando parecia estar no caminho certo, não era um mar de rosas, mas eu estava feliz finalmente. Estava feliz com a chegada dos dois bebês, tínhamos acabado de fazer o chá de bebê para as duas, Helen e Bete, e eu estava grata por Helen estar cada vez mais animada. Elas estavam com oito meses, quase em tempo de nascer e meu irmão ainda não tinha dado o braço a torcer, passava a semana em São Paulo e vinha para casa nos finais de semana. Mesmo assim continuava a fingir que não conhecia a própria mulher, apenas quando ela estava dormindo era que ele entrava sorrateiramente no quarto para ficar com ela, um belo espécime de imbecil. Não via a hora que ele enxergasse de uma vez o que estava fazendo e se arrependesse, Fernando precisava cair na real antes que fosse tarde demais. Sara estava cada vez mais confiante quanto ao processo contra o ex-marido, apesar dele se recusar a assinar o divórcio, todas as provas e evidências que ela e meu irmão junta
Assim que estacionei de qualquer jeito na entrada do parque pulei para fora do carro, tomando cuidado para levantar a barra do vestido para não prender em nada e corri até um dos pequenos coretos que eu sabia que ainda estavam lá, no mesmo lugar. O tempo não tinha mudado aquele lugar, apesar da pintura nova ele ainda era o mesmo coreto que eu havia me sentado com Marcos várias vezes nas noites de verão. Um par de sandálias de salto alto era iluminado pela luz no centro do coreto, elas eram lindas, delicadas e perfeitas, em um tom perolado que combinava perfeitamente com o vestido. Embaixo delas estava mais um bilhete de Marcos. Dessa vez cortado cuidadosamente em forma de coração. "Nesse lugar, há anos, eu confessei que não conseguiria voltar atrás depois de beijar seus lábios. Era um caminho sem volta disso eu não tinha dúvidas e até hoje, cada vez que meus lábios tocam os seus, Emily eu sinto como me senti na primeira vez. Posso garantir, sem sombra de dúvidas que foram feitos
Faziam três anos que Marcos e eu estávamos juntos, três longos anos casados. Não me levem a mal eu amo aquele homem, mesmo que alguns dias eu quisesse arrancar os cabelos com o tanto que ele me irritava, afinal Marcos sabia apertar todos os meus botões bons e os ruins. Mas eu gostava de saber que existiam mais momentos de felicidade, amor e compreensão. No primeiro ano de casados moramos na cabana, todos sabiam o quanto precisávamos de privacidade. Pensávamos em comprar uma casa na cidade, mas por hora a cabana estava perfeita. O lugar era tranquilo, o tamanho era perfeito para apenas nós dois e nos finais de semana recebíamos família e amigos. Mas depois do bombardeio que Joshua sofreu e com ele vindo morar aqui definitivamente, Bianca precisou da nossa ajuda, então voltamos para a casa de Marcos. Era uma coisa horrível ver o jovem cheio de vida e animado, agora detestando tudo a sua volta depois de ter sido dispensado dos serviços. Joshua ainda se sentia um peso para todos que t
Eu me choquei com a fala da pequena e segurei a mão de Marcos. — Quem te disse isso? — Gente já sabe. — ela disse comendo as palavras, mas parecendo uma pessoa adulta já, até chegou a erguer o queixinho rechonchudo. — Leva meu imão. — Oh! — exclamei surpresa, a menininha era mais inteligente e ousada do que qualquer um que eu tinha visto. Todas as outras crianças continuavam em seus lugares, algumas já tinham parado de brincar ao notarem que estávamos ali, mas nenhuma chegou até nós. — E porque não você? — foi Marcos que fez a pergunta, já se abaixando e ficando na altura dela. — Eu sou neném, poxo fica aqui, ele não. — era tão fofo ouvi-la falando que quase me perdi no que ela falava. — E onde ele está? — Lá. — ela apontou o campo onde jogavam bola. — O de peto. — não foi muito esclarecedor sobre quem era ele, já que havia mais de um garoto usando preto ali. Marcos e eu não tínhamos pensado nem tocado no assunto sobre idade, na minha cabeça estávamos indo adotar uma criança,
Marcos lançou a pergunta no ar enquanto ele nos encarava, de um para o outro, parecendo incrédulo que aquilo estivesse mesmo acontecendo. — Não estou entendendo. O que querem dizer com isso? Ele estava mesmo sem acreditar no que estávamos perguntando, imagino que a esperança dele no último ano deve ter sido tão massacrada que ele se quer conseguia acreditar que aquilo era possível. — Nós estamos te perguntando se você quer ser adotado por nós, Henrique? Você e seus irmãos juntos conosco. Seu olhar se desviou para os irmãos que continuavam a nos espionar, achando que estavam escondidos. — Isso é verdade? Estão falando sério sobre adotar nós três? Eu não consegui conter o sorriso e acenei afirmando para ele e chamando a atenção dos pequenos, que correram em nossa direção. — Acho que seus irmãos podem te ajudar a entender mais rápido. — Lisa pulou no colo do irmão mais velho e Rafa ficou ao lado, parecendo desconfiado. Eu estava começando a ter uma ideia de como seria essa adapta