Ingrid sempre se orgulhou de sua autoconfiança, mas agora, ela sentia esse sentimento escapando por entre seus dedos como areia. A presença de Carla havia mudado tudo. Desde que ela reapareceu na vida de Ronald, ele estava diferente: menos rígido, menos frio, e, para seu desespero, mais distante dela. A expressão dele parecia menos pesada, e o sorriso pronto para surgir a qualquer momento. Era óbvio que a proximidade de Carla o afetava profundamente. Hermínio, agora começava a mostrar sinais de uma estranha simpatia por Carla.. Ele falava de Carla com um tom menos ácido, e Ingrid percebia que ele a observava de um jeito diferente, como se estivesse repensando as velhas mágoas. Hermínio parecia estar mais tolerante, e isso a deixava com medo. Se até o avô estava mudando de opinião, o que isso significava para ela? Ingrid sabia que precisava agir, rápido e com precisão, para não perder Ronald de vez. Ela começou a colocar em prática uma série de pequenas estratégias para reconquistá-l
Hermínio estava realmente entusiasmado com Carla. Desde o dia em que ela começou a tratá-lo com sua paciência e dedicação, algo havia mudado em seu coração. Ele decidiu que era hora de dar um passo a mais e convidá-la para o almoço de domingo com a família. A ideia de compartilhar uma refeição em clima de harmonia era algo que ele há muito tempo não sentia. — Carla eu gostaria muito que você viesse almoçar conosco no domingo. — Disse Hermínio, após ter acabado uma sessão de fisioterapia. — Seu Hermínio eu agradeço o convite, mais o domingo aproveito para descansar, é o único dia que tenho para colocar minhas coisas em ordem. — Faça um pequeno esforço, aceita o meu convite. Quando Hermínio fez o convite, Carla hesitou. Domingo era sagrado para ela e Davi, seu filho. Era o único dia que ela tinha para dedicar totalmente a ele, sem interrupções. No entanto, a insistência de Hermínio era gentil, mas persistente, e Carla, ao ver a sinceridade no olhar do velho homem, acabou cedendo. Ac
Ingrid saía do seu quarto, ajeitando os cabelos com uma expressão apressada, quando foi interrompida pela voz firme de Hermínio. Ele estava próximo ao elevador que Ronald havia instalado nas escadas para facilitar sua mobilidade, ainda se posicionando com dificuldade. — Ingrid, eu vou descer para tomar um café e depois quero ter uma conversa franca com você — disse Hermínio, seus olhos fixos nela, deixando claro que não era uma conversa comum. Ingrid levantou uma sobrancelha, surpresa, e cruzou os braços. — Comigo, vovô? Você nunca conversa comigo, só discute. Que milagre é esse? Hermínio soltou um suspiro profundo e a encarou com seriedade. — Já está na hora de interromper o casamento entre você e Ronald. Isso não pode continuar assim. O rosto de Ingrid ficou instantaneamente vermelho. Ela sentiu uma onda de pânico subir pela espinha, seu coração batendo descompassado. Era claro para ela o que aquilo significava: esse velho queria que Ronald ficasse com Carla. Seus pensamentos
Zefa não conseguia esconder a preocupação em sua voz quando pegou o telefone para ligar para Carla. — Carla, é a Zefa. Eu tenho uma notícia terrível... Hermínio sofreu um acidente e está no hospital, em estado grave. Eu achei que você deveria saber — disse Zefa, a voz trêmula de emoção. Ao ouvir aquelas palavras, Carla sentiu seu coração parar por um instante. Seu rosto ficou pálido, e ela apertou o telefone contra a orelha. Hermínio era mais do que penas seu paciente, ele era avô de Ronald e, mais importante ainda, bisavô de Davi, seu filho — algo que Hermínio jamais soube. Uma onda de arrependimento profundo tomou conta de Carla. Talvez, se ela tivesse contado a verdade sobre Davi a Hermínio. Sem pensar duas vezes, Carla decidiu que precisava estar lá. Ela suspendeu todas as consultas do dia, pegou sua bolsa e saiu apressada em direção ao hospital. A única coisa em sua mente era a imagem de Ronald, provavelmente desolado e sozinho, precisando de algum tipo de apoio. Quando cheg
Ingrid sentia a situação fugindo cada vez mais de seu controle. O vínculo crescente entre Ronald e Carla estava corroendo seus nervos, e ela sabia que precisava agir rápido antes que Ronald se afastasse de vez e a deixasse sozinha. Decidida a recuperar seu espaço na vida dele, Ingrid buscou a ajuda de sua mãe, traçando um plano que, para ela, parecia ser a única saída. Com os detalhes cuidadosamente planejados, naquela noite, ela esperou o momento perfeito para executar sua armadilha. Assim que Zefa terminou de preparar o chá que Ronald tomava religiosamente antes de dormir e deixou a xícara sobre a mesa do quarto, Ingrid entrou em ação. Ela se movia nas pontas dos pés, esgueirando-se para dentro do quarto de Ronald, ciente de que ele ainda estava no banho. Com mãos trêmulas, mas decididas, Ingrid retirou de seu bolso um pequeno frasco de sonífero concentrado e despejou uma dose generosa na xícara de chá. Ela sabia que a quantidade que usava era suficiente para garantir que Ronald c
Dois meses se passaram desde o acidente, e, aos poucos, Hermínio começou a dar sinais de recuperação. Os médicos reduziram a sedação gradualmente até que, finalmente, ele abriu os olhos, despertando do coma. A notícia de que Hermínio havia saído do estado crítico se espalhou rapidamente pelo hospital, enchendo Ronald e Carla de esperança. Quando Ingrid soube que Hermínio havia despertado, o pânico a consumiu. Seu maior medo era que ele se lembrasse do que realmente aconteceu naquela noite, quando ela o empurrou da escada em um ato de desespero. Mas, para seu alívio, Hermínio não se lembrava de nada. Ele não tinha memória do tombo, nem de quanto tempo havia ficado internado. Ronald confirmou a notícia para Ingrid, que disfarçou seu alívio com um sorriso forçado, sentindo como se tivesse escapado de uma armadilha mortal. Após mais uma semana no hospital, Hermínio recebeu alta e voltou para casa. Para alegria de Ronald e Carla, ele estava se recuperando muito bem, já conseguindo caminh
A mesa de jantar estava silenciosa. O jantar já havia terminado, e restava apenas o barulho ocasional dos talheres sendo recolhidos. Ingrid parecia tranquila, como se nada estivesse fora do lugar, mas Ronald a observava com desconfiança. Ele tinha agido normalmente até agora, mas sabia que não poderia adiar a conversa por muito mais tempo. Respirou fundo e decidiu que o momento havia chegado. —Ingrid, preciso conversar com você! — Ronald começou, sua voz firme, mas controlada. Ingrid olhou para ele, com um sorriso forçado. — Claro, Ronald. O que foi? Ronald inclinou-se um pouco na cadeira, cruzando os braços. — Amanhã, eu vou com você ao médico. Já deixei meu dia livre para isso. Quero que a gente faça exames concretos. Eu não estou acreditando nessa gravidez. Ingrid congelou por um segundo. O sorriso que ela exibia se desfez, e seu rosto ficou pálido. O nervosismo tomou conta, mas ela tentou disfarçar. — O que você quer dizer com isso, Ronald? Eu já te disse, estou grávida!
O jantar estava quase terminando quando Ingrid, sentada à mesa com Ronald, finalmente decidiu revelar a notícia que tanto aguardava. Ela havia planejado cuidadosamente como diria a ele, buscando a forma mais natural de abordar o assunto, mas mesmo assim seu coração batia forte. Respirando fundo, ela falou com uma voz calma, porém determinada. — Ronald, apareceu uma oportunidade maravilhosa — começou ela, forçando um sorriso que misturava excitação com apreensão. — Uma turnê de desfiles pela Europa. E como estou no começo da gravidez, acho que seria perfeito aproveitar essa chance antes de a gestação avançar. Ronald, que estava distraído com o final da refeição, parou abruptamente. O choque foi evidente em seus olhos. Ele olhou para Ingrid, tentando processar o que ela acabara de dizer. Desfiles internacionais? Grávida? As palavras não combinavam. — Ingrid, você está falando sério? — Ele perguntou, sem esconder a incredulidade em sua voz. — Como você pretende viajar para o exterior