Ronald sabendo que Ingrid também não desejava esse casamento resolveu tomar uma atitude. — Ingrid, precisamos conversar. Esse casamento não é o que eu imaginava para minha vida. — Eu sei, Ronald. Mas você sabe que não tenho escolha. Meus pais estão contando com isso para salvar a empresa, espera que você ajuda ele financeiramente. — Então é isso?! Meu avô só pensa em herdeiros, seu pai querendo ajuda financeira, não sou um peão em um jogo de xadrez. — Eu também não sou. Eles pensam que um casamento pode resolver tudo, mas não é assim que funciona. — Então, estamos presos nessa armadilha juntos. Eu me sinto tão... impotente. — E eu, também. Eu não quero ser vista apenas como uma solução financeira. Quero mais do que isso, mas não sei como sair dessa situação. — Às vezes, eu me pergunto se existe uma maneira de romper isso. Talvez... talvez devêssemos conversar você com seus pais eu com meu avô. — Isso só pioraria as coisas. Eles estão tão focados nos benefícios que não veem o q
A casa dos Guimarães estava cheia de movimentação, flores chegavam de todos os cantos, catálogos de decoração estavam espalhados sobre a mesa, e o burburinho da preparação para o casamento de Ingrid e Ronald dominava o ambiente. Judite, sempre radiante, supervisionava cada detalhe com entusiasmo, seus olhos brilhando com a ideia de sua filha se casando com o famoso CEO da Belle Essenza. — Gustavo, eu estava pensando... — começou Judite, enquanto examinava mais um catálogo de flores. — Acho que devemos aumentar a lista de convidados. Mais algumas pessoas importantes devem saber deste evento. Quero que todos saibam que nossa Ingrid está se casando com um dos homens mais poderosos do país. Ela falava com um brilho de euforia nos olhos, já imaginando os cochichos invejosos de suas amigas e conhecidos. Para ela, aquele casamento era um triunfo social. Gustavo, por outro lado, estava sentado à mesa, olhando para uma folha de papel com as finanças da família. Não compartilhava o mesmo ent
A manhã na padaria de Joaquin era como qualquer outra. O cheiro de pão fresco saindo do forno preenchia o ar, enquanto clientes fiéis entravam e saíam, cumprimentando o padeiro com sorrisos e pedidos apressados. Atrás do balcão, Carla, com seus seis meses de gravidez, sentia o corpo pesado e a mente um tanto distante, mas, mesmo assim, insistia em ajudar seu pai como fazia todos os dias. Joaquin, um homem de coração bondoso, observava a filha com preocupação. Ele sabia o quanto ela se esforçava, dividindo o tempo entre a faculdade e a gravidez, mas não queria sobrecarregá-la com mais trabalho na padaria. — Carla, minha filha, vá descansar um pouco. — disse Joaquin tirando o avental e aproximando-se do balcão. — Você já faz tanto indo à faculdade, não precisa ficar aqui me ajudando. Carla, teimosa como sempre, sorriu levemente e balançou a cabeça. — Estou bem, pai. Só falta um pouco mais de movimento por hoje e eu vou para casa. — Ela falava com a voz tranquila, mas seu corpo denun
O dia finalmente havia chegado. O casamento de Ronald e Ingrid, amplamente divulgado pelos jornais e ansiosamente aguardado pela alta sociedade, estava prestes a acontecer. O local escolhido por Hermínio era um espaço luxuoso, adornado com flores raras e velas cintilantes. Cada detalhe parecia ter sido cuidadosamente pensado para impressionar os convidados. O clima do evento era uma mistura de admiração e curiosidade. Amigos influentes de Hermínio, colegas de negócios de Ronald e conhecidos da família de Gustavo se misturavam, conversando em tons contidos e lançando olhares discretos para os recém-chegados. Ronald chegou acompanhado de Hermínio, ambos impecavelmente vestidos. Mas havia algo diferente na postura de Ronald. Ao seu lado, ele fazia questão de levar Zefa, a governanta da família, como sua acompanhante até o altar. Ela era muito mais que uma empregada, sempre fora uma figura materna para ele, cuidando dele desde a infância. Ronald sabia que, naquele dia, mais do que nunca
A recepção do casamento estava chegando ao fim, e a música suave já ecoava de maneira menos intensa pela sala. Ronald se aproximou de Ingrid, que conversava com algumas tias distantes. Com um toque leve no braço dela, ele murmurou: — Ingrid, já está tarde. Vamos para casa? Ela assentiu com um sorriso discreto. No entanto, antes que eles pudessem sair, Hermínio, que estava próximo, não perdeu a oportunidade de intervir. — Ora, Ronald, você poderia muito bem levar a Ingrid para Paris. Que tipo de casamento é esse sem uma lua de mel? — disse Hermínio, com um meio sorriso que sugeria tanto provocação quanto crítica. Ronald respondeu sem hesitar, mas mantendo o tom sempre calmo: — Não gosto de viagens longas, a menos que sejam a trabalho. Hermínio balançou a cabeça, desapontado, mas não insistiu. Era uma daquelas discussões que ele sabia que não levaria a lugar nenhum com o neto. Ronald sempre foi pragmático, difícil de se influenciar com a tradição ou com as expectativas da família.
Mais tarde, quando Ronald retornou para casa, sentiu a ausência de Zefa, mas não fez perguntas. Ele confiava que tudo estava sob controle. Porém, quando a cozinheira se aproximou para perguntar a Ingrid sobre o jantar, a situação tomou outro rumo. — Senhora, o que devo preparar para o jantar? — perguntou a cozinheira, hesitante. Ingrid, sem dar muita importância, respondeu: — Não sei... Pode fazer um risoto de camarão, com alguns acompanhamentos. Ronald, que estava ao lado, arregalou os olhos, surpreso. — Risoto de camarão? — ele disse, claramente alarmado. — Mas você sabe que sou alérgico a camarão! Ingrid pareceu surpresa, mas antes que pudesse responder, a cozinheira interveio: — Ah, desculpe, senhor Ronald, ... A senhora Ingrid demitiu Zefa mais cedo, e foi por isso que não fui avisada do que preparar para o jantar. O silêncio que se seguiu foi pesado. Ronald olhou diretamente para Ingrid, incrédulo. Ele respirou fundo, controlando o tom de voz antes de falar: — Zefa foi
Nesses dias em que Zefa estava de férias na fazenda, Ingrid estava tirando a paciência de Ronald. Ela reclamava de tudo, Ronald já não estava suportando mais ela. Ronald começou o dia com a mesma rotina que costumava seguir. A mídia o chamava de "o homem de ouro", e sua presença em qualquer evento corporativo era suficiente para atrair investidores e jornalistas. Mas, dentro de sua própria casa, ele não passava de um alvo constante das críticas afiadas de Ingrid. Naquela manhã, antes de uma importante entrevista para uma revista de negócios internacional, ele acordou mais cedo. Preparou-se com cuidado, vestindo um terno sob medida que havia sido encomendado na última viagem a Milão. Cada detalhe estava no lugar — desde os abotoados de ouro até o relógio suíço no pulso. Sua imagem pública era impecável, mas ele sabia que, dentro de casa, Ingrid sempre encontrava algo a dizer. Quando desceu as escadas, ela já estava na sala, folheando distraidamente uma revista de moda. Ao vê-lo
Ingrid estava sentada na varanda, admirando a vista de seu jardim imenso, mas seus pensamentos estavam longe dali. Pela primeira vez em muito tempo, ela sentia uma felicidade enorme. Seu telefone não parava de tocar, e as propostas de trabalho finalmente haviam se tornado interessantes. Durante anos, ela aceitara trabalhos pequenos e sem relevância. No entanto, desde que se tornara a senhora Ronald Costa, seu nome ganhara notoriedade, e agora, convites de grandes eventos e marcas importantes começaram a aparecer em sua vida. Naquela manhã, Ingrid recebera um convite para desfilar em um evento de moda em Los Angeles, um dos maiores da indústria. Era um sonho que, por muito tempo, parecia distante, quase inalcançável. E agora estava tão perto. Eufórica, ela foi correndo contar a novidade para Ronald, já imaginando sua reação. Sempre esperava um olhar de desaprovação ou indiferença, mas desta vez era diferente. Ela abriu a porta do escritório de Ronald, que estava, como sempre, imerso