ThierryEu não era o retardado que se dava ao luxo de cair na mesma enganação duas vezes, então, do mesma forma que eu tinha certeza que o juiz estava tomando os devidos cuidados para que o seu nome não fosse ligado com o nome do dono do morro dos Macacos, eu tomei o meu cuidado particularO filha da puta já estava com as cartas do jogo todas a posto, tanto que me entregou, ali mesmo, um pen drive com tudo e mais um pouco sobre as movimentações do Imperador, qual rota ele fazia, o dia da semana que ele parava para fazer toda a organização do seu pessoa, como ele treinava aquele que ele chamava de menor, qual era a função de cada um fora do território do morro, como o dinheiro chegava nas mão deles, saía do país e entrava novamente limpinho como água, mas em nenhum desses detalhes, o nome do Andrade aparecia, em nenhumNão tinha como aquilo acontecer, porque uma pessoa ia se dignar a fazer todo aquele teatro se ele não estivesse atolado até a cabeça com a história. Só que uma coisa tin
ThierryEu ainda tive que acabar de escutar algumas ladainhas do Andrade, ver o jeito indignado que a Rose olhava para ele em todo o momento que o neguim tentava de todas as formas fugir da responsabilidade de ser pai e tacar na cara da mulher que a menina que ele estava sendo obrigado a cuidar era resultado de uma foda mal dada, e também, tive que acabar de ouvir aquela enxurrada da mulher, toda se explicando que não podia, de jeito nenhum, nem mais pisar os pés no morro, que além de não ter mais para onde voltar, para quem voltar, nem para o retardado do marido corno, ela não estava nem em condições de comprar uma calcinha freadaEu ainda tive que escutar aqueles dois por um bom tempo, mas na boa, nem estava ligando muito porque aquilo ali, bem na frente, era resultado de um conjunto de coisas que estavam completamente favoráveis a mim, finalmente, depois de tanto tempo. O Almeida continuava lá, com aquele jeitão de policial veterano sabe, marrento, impondo a sua presença e com cara
Cecília Eu voltei para casa, só que o meu pensamento ficou inteirinho com o Thierry, eu queria ter ficado com ele, sem dúvidas, mas era a minha obrigação dar forças para a minha mãe, porque estava nítido que realmente ela não estava bem. Quando a gente se é criança, dependentes, os pais fazem qualquer coisa para fazer com que qualquer coisa que possa nos causar sofrimento, vá embora, não chegue perto, não nos machuque e é isso que a gente tem que fazer quando são eles que precisam disso da nossa pessoa, temos que mostrar que assim como uma mãe é para um filho, um filho tem que ser para uma mãePor isso voltei para casa e, pela primeira vez em algum tempo, eu vi ela com aquela sua roupinha habitual, de dona de casa, mas que valorizava as suas curvas, com um avental cobrindo a parte superior do seu corpo e toda ocupada lavando a louça, se esforçando para fazer um jantar simples, mas gostoso, pelo menos era isso que o cheiro estava denunciandoEu parei e fiquei ali, parada, perto do sof
ThierryEu preferi fazer o caminho todo no silêncio, só acariciando a sua pele macia, a da perna, instigando o seu desejo e curiosidade. É lógico que passava na minha mente que ela tinha me prometido fazer qualquer coisa para me satisfazer, não só porque eu queria me atolar ali nela, mas porque eu era o seu homem, gostava de marcar o meu território, e, na cama, ela amava se mostrar toda rendida a mimeu ainda não entendi porque o cara lá de cima achava que eu merecia tamanha sorte, eu realmente não conseguia entender o porquê dele ter me dado a melhor de todas as mulheres, porque era isso que a Cecília era para mim, a melhor das melhores. Depois de tanta decepção, depois de tantos desencontros nessa minha vida, depois de ver todo mundo se alegrando na casa do amor, eu finalmente tinha conseguido um lugar na sombra para amarrar o meu burroCheguei na minha casa no silêncio e fui caminhando para dentro sem fazer nenhum som, mas ela sabia, ela entendia cada batida que o meu coração errad
RafaelEu tive que fazê as coisas tudo na rapidez, tinha que conta com a sorte mais do que qualquer um porque a nossa janela de tempo era muito pequena. Depois que a Amanda me jogo na cara que o filha da puta do Andrade tava lá, conversando com o delegado, de mãozinha dada com a desgraçada da Rose, eu já sabia que ele tava é querendo vira o jogo pro lado dele e não podia deixa isso aconteceO negócio tinha que partir pra cima do juiz porque a Rose eu já contava como caso perdido, aquela ali era esperta, e além do mais, quem é cria de morro, sabe muito bem que dependendo da cagada, nem compensa volta pra casa, porque a cama macia não vai tá esperando, e sim o melhor dos castigos bem pensadosEntão, trocando a minha fita com a Amanda ainda pelo telefone, eu decidi agir e foi tudo de supetão mesmo, nada dessas coisas de pedi permissão, porque, além de eu não tê tempo pra isso, eu confiava que o Imperador ia me dá aval se eu soltasse a treta antes, por isso fui com gostoA Amanda era cria
RafaelGisele - Quem é essa biscate que tá desmaiada lá no quartinho hein?Rafael - Te dou um beijo se tu descobriGisele - Eu não quero descobri nada Rafa, eu quero que tu me diga quem ela éA única coisa que eu não gostava na Gisele era aquela coisa que a bicha tinha de fica fazendo showzinho toda vez que me via junto de uma outra mina e isso nem era coisa de paquera e muito menos de esfrega, mermo porque, depois dela, de eu assumi de verdade, não teve mais ninguém, mas cara, só um "oi" pra qualquer sapatão do morro, ela já dava um escândaloRafael - É a mina do delegado lá, aquele que tu fico por um tempoGisele - O quê? E por quê ela tá aqui Rafa? Ficou louco?Rafael - Relaxa nega, tu sabe muito bem que eu não faço as coisas desse jeito, se ela tá aqui é porque tem um motivo. O cuzão acho o caminho de volta pra aquela coisa que a gente tento esconde e agora a gente precisa tê garantia pra que ele esqueça de vez tudo isso entendeuGisele - Ah tá, mas então isso é coisa do Imperad
ThierryThierry - Oi dona Maria, é o Thierry, será que...Maria - Dona não, pelo amor de Deus, você me chamando assim eu me sinto uma velha, eu hein. Mas deixa eu falar, já que a Cecília não usa o celular para atender ligação, porque eu estou ligando já faz tempo para ela e só dá na caixa postal e como eu sei que quando ela demora, é porque está contigo, fala pra ela que vou deixar a cópia da minha chave naquele vasinho que fica na varanda, porque vou sair sem a minha bolsa e não quero ficar carregando coisas e que ela não precisa me ligar porque não vou levar o celular, ah... pede para ela não se preocupar porque eu estou com o Almeida táEla foi falando e no mesmo instante eu fui perdendo as minhas pernas, como assim ela queria que eu desse recado para a Cecília? A Cecília não estava com ela? Aonde ela estava?Thierry - Espera aí, vamos com calma ok, aonde está a Cecília?Maria - Uai, ela não está contigo?Thierry - Não, ela não está comigo, no caso, já deveria estar aí com vocêEu
CecíliaAssim que meu olhos foram se abrindo, eu senti uma dor imensa na lateral da minha cabeça e logo me lembrei da presença do carinha mal encarado lá no ponto de ônibusPra mim aquilo era normal, de pessoas mal encaradas é que o ônibus ficava cheio, tanto na ida como na volta. Na ida era por conta das pessoas estarem ainda com a memória viva do colchão vazio e ter que passar uns bons minutos dentro de uma lata de sardinha só na disputa de quem pegava o lugar do lado na janela, só para ir o caminho todo sem se incomodar da cabeça ir batendo no vidro, tamanho era o sono. Na volta, a cara feia era por conta do desespero de querer chegar logo em casa depois de um dia de cão e não poder acelerar a velocidade do ônibus porque ela era controlada, então, nem senti frio na barriga quando mais um mal encarado parou do meu lado antes de eu subir naquele ônibusO problema era que com aquele eu devia ter me preocupado, justo aquele carinha estava todo disposto a fazer coisa errada com a minha