Se eu achei que a noite na boate tinha sido o ápice da viagem, estava redondamente enganada. Porque o pós-boate com minhas amigas era um espetáculo à parte. Estávamos destruídas, descabeladas, com os pés latejando e o rímel borrado, mas com o coração leve e a alma em êxtase. Voltamos para o hotel de táxi, rindo por absolutamente nada e abraçando as dores como se fossem medalhas de guerra. Foi épico.Assim que entramos no quarto, desabamos. Literalmente. Cada uma em uma cama, uma almofada, uma poltrona. Ninguém teve forças nem pra tirar o salto. Mas, é claro, ainda tínhamos energia para o mais importante: fazer inveja ao nosso querido e fofo Murilo.— Ana! Liga pro Murilo! — Bea gritou, jogando uma almofada em mim.— Eu? Tô sem força até pra piscar — respondi, rindo.— Vai logo! — Bea insistiu. — Ele PRECISA ver o nosso estado deplorável e sentir inveja. — Verdade, vamos fazer inveja no Muri. — Respondi. — Quem é Murilo? — Rafa perguntou. — Murilo, trabalha na empresa do seu irmão,
Após uma hora, lá estávamos nós aproveitando a praia. Rafaela usava um biquíni que deixava pouco para a imaginação, Beatriz estava no mesmo estilo, e eu optei por um maiô sexy. Assim que chegamos, algumas mulheres nos encararam com cara de poucos amigos, mas nem nos importamos. Sentamos em três espreguiçadeiras e levantamos a mão chamando um garçom. As meninas pediram drinks, e eu preferi iniciar com uma água tônica. Como dizia minha mãe: "Vamos limpar o fígado para estragá-lo novamente." Nunca soube se isso era verdade, mas como foi mamis que disse, acreditei sem nem pesquisar.— Amiga, esse drink de maracujá está uma delícia. — Rafa estendeu o copo na minha direção para que eu experimentasse.— O de morango está dos deuses. — Beatriz me passou o dela.— Estão realmente uma delícia, mas eu vou pedir esse tropical. Deve ser divino.Chamei o garçom e ele se aproximou rapidamente, com aquele sorriso de fazer molhar a calcinha. Pedi meu drink e um aperitivo de camarão, o que fez as menin
O sol já começava a se inclinar, pintando o céu de um laranja quente e estonteante quando notei que o moreno do futevôlei finalmente estava vindo em nossa direção. Ele passou a mão pelos cabelos molhados e ajeitou a sunga como quem sabia exatamente o que estava fazendo e queria ser notado por isso.— Olha o galã vindo aí — Rafaela comentou em um sussurro divertido, sem disfarçar o sorriso malicioso. — Alerta de problema — Beatriz murmurou, tomando o último gole do seu drink.O cara parou bem na nossa frente, com aquele sorriso de quem se acha irresistível e cruzou os braços, destacando os músculos definidos e brilhantes de protetor solar.— Boa tarde, meninas. Vocês três chamaram tanta atenção que o jogo até perdeu a graça.Pela forma de falar já percebi que é um idiota, revirei os olhos por dentro, mas sorri de forma educada.— Boa tarde. Estávamos justamente comentando como o jogo estava interessante. — respondi, mantendo a diplomacia.Ele se aproximou ainda mais, deixando o ego
Enzo Albuquerque O dia começou estranho. Eu não estava com a menor vontade de trabalhar, mas, como sou o novo chefe, preciso mostrar a eles que o trabalho vem em primeiro lugar.Resolvi levantar e tomar um café. Passei pela sala de Ana Beatriz e encontrei Richard conversando com a assistente dela. Nós dois acabamos trocando farpas, e faltou pouco para trocarmos alguns socos. Entrei na minha sala e me servi de uma dose generosa de uísque. Estava tentando relaxar quando minha irmã me ligou.— Fiquei sabendo o que aconteceu aí. Quer conversar? — Ela perguntou, e eu respirei fundo.— Não quero conversar nada. Estou apenas relaxando.Minha irmã ficou muda por algum tempo.— Ana Luiza está rebolando igual uma dançarina da Carreta Furacão. — Rafa estava rindo, e eu sem entender.— O que é isso?— Deixa pra lá.— Vou trabalhar agora. Boa viagem e se cuida.— Pode deixar, irmãozinho.Desliguei a chamada com Rafa ainda sem entender o que significava “rebolando igual dançarina da Carreta Furacã
Um tempo depois, minha mãe percebeu o meu incômodo e me chamou para que conversássemos e, assim que nos afastamos, já despejei tudo que estava sentindo. — Mãe, você não pode simplesmente decidir com quem eu devo sair. Eu não pedi isso. — Enzo, é só um jantar. Ninguém está te obrigando a casar com ela — respondeu baixinho, ainda mantendo o sorriso de “boa anfitriã”. — Mesmo assim, você sabe o que está fazendo. E isso me irrita — falei entre dentes. Ela se aproximou e sussurrou no meu ouvido, com aquele tom que me dava nos nervos: — Já está feito, meu amor. Tarde demais pra surtar agora. E, por favor, não seja rude com a moça. Ela é de boa família, bem-educada, tem classe... Exatamente o tipo de mulher que você precisa ao seu lado. Engoli em seco. Lá vinha aquele velho discurso da "classe social", como se amor e sentimentos tivessem pedigree. — Mãe, pare de se meter na minha vida. Sério. — Só estou tentando ajudar — ela sorriu e voltou para onde Bianca estava, mudando de
Acordei mais cedo do que o costume, o que já era um feito e tanto para um sábado. Depois da noite anterior, tudo que eu queria era ficar na cama, esquecer do mundo e do fiasco que foi o jantar forçado com Bianca. Mas hoje era aniversário do Juninho, meu afilhado, e se tem algo que me faz esquecer dos problemas, é aquele moleque.Me arrumei no automático, joguei uma camisa qualquer, jeans, e peguei os presentes que tinha embrulhado na noite anterior. Três no total. Um exagero, talvez, mas o sorriso do Juninho valia qualquer gasto. Joguei tudo no banco de trás do carro, liguei o motor e segui para o outro lado da cidade, onde Tatiana e Fábio resolveram se enfiar.— Quem é que escolhe morar no fim do mundo, meu Deus? — murmurei para mim mesmo, encarando o GPS e suas infinitas curvas. Demorei uma eternidade para chegar, e quando finalmente estacionei em frente à casa deles, respirei fundo, tentando esconder o cansaço que me consumia por dentro.Assim que desci do carro, Tatiana apareceu n
(Anos Atrás)Ana Luiza Martinelli A chuva castigava a cidade naquela noite, mas nada poderia se comparar à tempestade dentro de mim. O barulho das gotas contra o vidro da sala ecoava, abafando o som dos meus próprios pensamentos, mas não era o suficiente para silenciar a dor que se espalhava pelo meu peito.Meus dedos tremiam enquanto seguravam o celular, meus olhos fixos na tela, como se, a qualquer momento, aquela imagem fosse desaparecer. Como se, de alguma forma, eu pudesse acordar desse pesadelo.Mas a foto continuava ali. Ele continuava ali.Enzo.O homem que eu amava. O homem em quem confiei sem hesitar. O homem que, agora, estava estampado na tela do meu celular... com outra mulher.Ela sorria para a câmera, uma expressão de pura satisfação, e ele estava ao lado dela. Perto o suficiente para que qualquer desculpa fosse inútil. Seus braços envolviam sua cintura de um jeito íntimo demais para ser um mal-entendido.Meu coração batia forte, não por amor, mas por raiva, por incred
(Seis Anos Depois)Os corredores de vidro refletiam minha imagem conforme eu avançava, os saltos ecoando em um ritmo preciso, como um lembrete do caminho que trilhei até ali. O passado já não pesava mais sobre meus ombros, e a menina insegura, que uma vez trabalhou como auxiliar de serviços gerais para ajudar a família, agora não existia mais. No lugar dela, havia uma mulher confiante, determinada e, acima de tudo, implacável. Os funcionários desviavam o olhar quando eu passava, alguns cumprimentavam com um aceno respeitoso, outros cochichavam entre si, admirados ou intimidados. Eu sabia o que diziam,sabia o que pensavam. Ana Luíza Martinelli não era apenas a nova diretora-executiva, mas também a mulher que nunca aceitava um "não" como resposta. Meu nome já não estava vinculado à humildade do passado, mas à força que conquistei no presente. Ao entrar na sala de reunião, senti os olhares recaindo sobre mim. Alguns eram de respeito, outros, de inveja. Os diretores masculinos foram r