Pietro Castellane:Inquieto e impaciente, ando de uma lado para o outro na sala de espera, ao lado da sala de cirurgia, incapaz de permanecer parado. Meu olhar se desvia insistentemente para o relógio de pulso. A ansiedade devora cada minuto lentamente. Nunca imaginei que uma cirurgia pudesse parecer tão longa para quem estava desse lado esperando por notícias. Quanto tempo mesmo dura uma cirurgia para colocar um marcapasso? Quarenta minutos? Uma hora? Duas?As luzes da rua começam a ascender, consigo ver pelas janelas abertas dessa sala, que apesar de grande, sinto-a minúscula.Cada segundo que passa parece ser mais lento que o anterior. Gabriel ainda é tão pequeno, tão frágil. Meu coração se contrai de medo só em imaginar todas as complicações que podem surgir. Respiro fundo, passando as mãos pelos cabelos, sentindo a tensão em cada músculo do corpo.Um som de saltos batendo no piso polido me faz virar, a esperança de que seja Débora ou algum outro médico trazendo notícias me enche
Fernanda CastellaneA luz baixa da sala é o único brilho que me acompanha, refletido discretamente no vidro da televisão enquanto a série Rainha Charlotte continua tocando. Estou largada no sofá, só de robe, as pernas dobradas sob o corpo e uma garrafa de vinho descansando preguiçosamente na minha mão.Charlotte acabou de dar uma resposta afiada para o rei, e eu dou uma risada baixa.Tão poderosa.Tão dona de si.Queria me sentir assim agora.Pego o celular para ver as horas.21h30, então vejo a mensagem dele... ele vai vim... não, já deve está chegando! porra! tem uma hora que ele enviou essa mensagem.— Droga... — murmuro, me sentando de forma mais ereta.Meus pés deslizam sobre o chão frio da cozinha. Abro a geladeira, fecho. Olho para a bancada. Nada me inspira, não, não tem nada rápido e fácil para preparar.— Não vai dar tempo de preparar nada pra ele...Meu olhar vai para o forno do fogão, a ideia simplesmente surgindo na minha cabeça. Mordo lábio.— Comer... — abro um sorriso,
Três dias depois...Fernanda Castellane:Finalmente o dia de voltar a rotina de fauldade e hospital chegou, estrango a paz de uma mulher recem casada. Tem apenas três dias que comecei a morar oficialmente com Pietro, e não consigo descrever nenhuma sensação melhor do que poder dizer que tenho uma marido .Mesmo que seja por um contrato...Não importa, enquanto for válido, Pietor é meu marido e fim.E, o que me deixa ainda mais feliz é fato de ele ter me permitido mudar para o quarto dele." Vai facilitar suas lições matinais, já que as noturnas sempre nos deixam exaustos." - minhas palavras ensaiadas ecoam, mordo o lábio segurando o riso com a lembrança.Ele soltou uma risada baixa, daquelas que ele faz quando está tentando esconder que está sorrindo. Não discutiu. Só puxou o lençol de lado e me deixou entrar. Foi no segundo dia que, depois da loucura deliciosa da noite onde fui seu jantar e tive que servi a osbremessa na cama, ele me puxou de leve para o peito dele.E foi assim que p
Fernanda Castellane:O vento sopra com força leve sobre o terraço, trazendo consigo um frio discreto que arrepia meus braços por baixo do jaleco. As luzes do hospital tremeluzem à distância, e o céu, salpicado de estrelas, parece mais silencioso do que deveria.Tiago está encostado na mureta, com os braços cruzados e o olhar perdido no horizonte. Seu corpo está aqui, mas tudo no modo como se mantém afastado me diz que ele queria estar em qualquer outro lugar, longe de mim.— Me trouxe aqui só pra ficar me encarando? — ele pergunta sem virar o rosto, o tom carregado de mágoa e ironia mal disfarçada.— Ti... — minha voz sai hesitante. — Por que está se comportando assim comigo? Eu sou sua amiga...— Não. Não somos amigos, Fernanda.As palavras dele são como um tapa inesperado. Arregalo os olhos, dando um passo para trás, como se o chão tivesse se tornado instável de repente.— Nã-ão...? — sussurro, quase sem acreditar.Tiago finalmente vira o rosto, e quando nossos olhares se encontram,
Fernanda Castellane;A casa está cheia. E eu nem tinha me tocando a saudade que tinha disso.O som das vozes misturado às risadas, os passos apressados dos gêmeos correndo pelo corredor com Pietro atrás deles, tentando manter o tom sério enquanto esconde o sorriso… tudo isso aquece a minha pele, o peito, o estômago. É como se, finalmente, essa casa grande e silenciosa tivesse encontrado alma.Gabriel repousa no colo da minha mãe, Cristiane, que o embala com um movimento suave e constante, como quem já nasceu sabendo como fazer isso. Ela murmura baixinho uma antiga canção de ninar, a mesma que cantarolava pra mim quando eu era pequena e tinha pesadelos.Luciana, com os cabelos presos em dois coques meio tortos, sorri encantada. Seus olhos brilham ao ver Gabriel se mexer, e suas mãozinhas expressivas se movem no ar, contando uma história muda que só ela compreende por inteiro. Ao lado, Luciano está debruçado sobre uma caixa de brinquedos, mergulhado no próprio universo de descobertas, c
Gabriel já está dormindo.O peito de Pietro sobe e desce devagar enquanto ele permanece parado ao lado do berço, os olhos fixos no rostinho tranquilo do nosso filho. Ele o observa como se estivesse tentando memorizar cada traço, como se quisesse eternizar aquele momento na mente. E talvez queira.Eu estou escorada no batente da porta, exausta. Não tanto mentalmente quanto fisicamente. O cansaço pesa nos ombros, nos pés, nas pálpebras. Mas o peso maior ainda é o que ficou de Tiago. Pensar nele me deixa com o coração apertado. Triste. Ferida.Mas mesmo assim... não trocaria este momento por nada no mundo.Pietro fecha cuidadosamente o mosquiteiro do berço e então se vira. Quando seus olhos encontram os meus, algo muda no ar. Seus passos são silenciosos, firmes. Ele caminha até mim, e suas mãos grandes pousam com gentileza nos meus quadris, consigo sentir o calor de suas palmas.Seus olhos se prendem aos meus, e por um instante, não existe nada além daquele olhar.— Agora que cuidei do b
Fernanda Castellane:O hospital está especialmente frio hoje. Não sei se é o ar-condicionado mais forte ou o fato de eu estar sentada diante da mulher que mais me despreza nesse mundo.Paula Castellane.Minha sogra.Ela está posicionada exatamente como gosta: de frente para mim, com a postura ereta e o queixo levemente levantado, como uma rainha prestes a julgar sua serva. Nem a cadeira de rodas diminui a imponência que ela faz questão de exalar. Seus olhos, frios como aço polido, me observam como se eu fosse um erro de cálculo que ela ainda não entende como foi cometido.A tensão entre nós é quase palpável.— Como tem passado, minha sogra? — pergunto com a voz suave, o sorriso no rosto tão falso quanto o dela sempre foi. A curva de deboche nos meus lábios é medida, estratégica. Quase teatral.Ela ergue uma sobrancelha, bufa. Com desdém.É querida, você não é a única que sabe sorrir com falsidade — sorrio internamente com o pensamento.— De cadeira de rodas — ela responde com secura,
Fernanda Mendonça:Concentre-se Fernanda. Você já passou por várias simulações na faculdade, respire fundo e ajude! — Pressão arterial subindo! — A voz da enfermeira corta o ar, carregada de tensão.— Precisamos acelerar — a obstetra declara, sua postura rígida transparecendo a gravidade da situação. Ela se volta para o anestesista. — Ela está estabilizada o suficiente?— Podemos começar — o anestesista responde com um breve aceno, embora o nervosismo esteja evidente em sua voz.Meu coração parece pular do peito quando o bisturi na mão da doutora reluz sob a luz fria da sala. O ambiente ao meu redor parece diminuir, cada som ampliado como se estivesse dentro de uma bolha prestes a estourar.Droga! A simulação nunca é como a vida real.A obstetra começa a incisão, suas mãos rápidas e precisas. O sangue surge na pele pálida da paciente, e o som dos instrumentos sendo passados de mão em mão enche a sala, um ritmo quase hipnótico.— Chegando na cavidade uterina — informa a Dra.Sinto o s