Aquela foi sem sombra de dúvidas a decisão mais difícil da vida de Ivy. Sair dos braços do seu amor adormecido e partir para nunca mais vê-lo. Sua garganta estava tão apertada pelo choro que tentava segurar, que parecia que não conseguiria mais respirar a qualquer momento, e sua cabeça doía muito. Mas nenhuma dessas sensações ruins era comparada a dor que sentia em seu peito, como se uma espada estivesse lhe atravessando e penetrasse mais fundo a cada segundo.
Já vestida e no máximo silêncio, o observou pela última vez, alí, deitado, ainda sem roupa, tão lindo e bem esculpido quanto um deus grego lapidado. Lembrou da noite de amor maravilhosa que passaram juntos, mais linda do que qualquer coisa que já viveu e dos segredos que ele lhe revelou de coração aberto, imaginou também o calor que aquele corpo emanava, e como a aqueceria se esquecesse tudo e voltasse a deitar ao seu lado. Antes que cometesse uma loucura, fechou a porta devagar, respirou fundo e partiu.- Ivy, um homem me descobriu!- exclamou Lunna alarmada, enquanto entrava na cabine.- eu fui no lugar que você falou, onde dava pra ver o mar negro e lindo sendo quebrado pelo navio e o vento era realmente muito forte. Eu pensei que estivesse sozinha, então subi apenas um degrau da grade de proteção, para conseguir ver lá em baixo, só que esse homem desesperado surgiu do nada, gritando comigo, pra eu não fazer isso e eu fiquei confusa, até entender que ele pensava que eu iria pular! Nesse exato momento uma rajada de vento avançou sobre mim e arrancou o meu chapéu, eu tentei segurar o chapéu e caí da grade, não pra fora, é claro.- ei, você está atropelando as palavras,vai com calma. Então esse homem descobriu que você não se tratava de um cavalheiro? Era algum rosto conhecido, de Londres?- eu não reconheci o seu rosto de lugar algum, mas tenho certeza que é um homem poderoso, ele estava muito elegante.- amanhã vamos desembarcar, e
Pela primeira vez, desde que partiu de Veneza, Ivy sentia algo próximo a felicidade novamente. Por muito pouco não ficaram presas naquele porto, e não foi fácil enganar aquele homem tão autoritário. A única coisa que precisavam agora, era chegar a tempo ao Wycombe Abbey, e desfazer a troca com vivienne.Seis meses. Exatamente seis meses haviam se passado, desde que vivienne aceitou embarcar naquele plano louco. Durante esse tempo, aprendeu a dançar de forma elegante, a planejar cardápios simples e elaborados para bailes, saraus ou um jantar para poucos convidados; organizar uma dispensa para o inverno, entre outros deveres, que segundo lhe disseram, a tornariam uma excelente esposa para qualquer conde.Hoje finalmente deveria acontecer a troca inversa, voltaria a sua rotina nos palcos, e se a senhorita Ivy cumprisse a sua palavra, teria palcos muito melhores para atuar. O que a preocupava, no entanto, era o atraso da senhorita Sac
Os dias em Dorset foram relativamente mais fáceis de serem suportados para Ivy. O clima familiar, a brisa do mar, a natureza ao redor e principalmente sua família e amigas por perto fizeram toda diferença para isso.Vez ou outra a condessa notava o comportamento da filha mais reservado, já não ouvia suas gargalhadas altas pela casa como antes, mas atribuía isso ao seu treinamento no internato.- querida, próxima semana estaremos em Londres e o filho da condessa de Cumberland finalmente chegará de viagem. O nosso acordo de casamento não foi desfeito publicamente e com o seu treinamento, tenho certeza que conseguirá fisga-lo.- perdão, mamãe, mas aceitar um casamento por contrato que existia desde que eu era criança, é uma coisa, agora, rastejar atrás de um homem, piscando os olhos de forma afetada e sorrir das suas piadas sem graça é demais até para o meu treinamento. Eu não pretendo me humilhar desta maneira.- ora Ivy, não é
Logo cedo, no dia seguinte, uma caravana de carruagens partiu de Dorset para Londres. O conde e a condessa viajavam sozinhos em uma carruagem luxuosa com o brasão da família; Hebert, Suzan e o pequeno Erick, seguiam logo atrás em uma carruagem maior e confortável para o bebê; Ivy, sua dama de companhia e vivienne compartilhavam uma terceira carruagem e seguidas a elas, outras mais simples vinham repletas de bagagens e alguns criados.- infelizmente não poderei acompanha-la até em casa Ivy. Temo que a sua governanta de Londres me reconheça como a assistente da diretora que lhe entregou a carta de recomendação no internato. Mas, estarei disponível no que precisar.- não pense que esquecerei de procurar alguns contatos que poderão ajuda-la com a sua carreira vivi. Eu sou muito grata a você.Ao longo da viagem Ivy sofreu com os enjôos algumas vezes, o balançar da carruagem não contribuía em nada com o que estava sentindo e suas amigas a
Após vários minutos de um chá tedioso e silencioso, onde somente as condessas conversavam entre si, yvi já pressentiu que o seu plano talvez não fosse dar certo. Não sabia por onde começar, o que falar, ou como agir, e mal teve tempo de conversar com as amigas sobre isso. Ela nunca foi tímida ou introspectiva, pelo contrário, só que nunca antes planejara seduzir alguém e carregar para o altar.- senhorita Sackville, gostaria de dar uma volta pelos jardins? Se a lady Dorset permitir, é claro.- disse lorde Clifford, finalmente quebrando o silêncio.- claro que eu permito, lorde Clifford. Aqui está demasiadamente quente, seria ótimo vocês tomarem um ar fresco.- eu adoraria, lorde Clifford. Chegamos ontem em Londres e eu mesma ainda não caminhei pelos jardins.James estendeu o braço para Ivy que aceitou com prontidão e seguiram juntos para o jardim.- então, senhorita Sackville, antes de ma
- o que significa isso?- perguntou Suzan alterada, antes mesmo que Ivy conseguisse raciocinar sobre os fatos e dizer alguma coisa.- oh, meu Deus! meninas, não é o que vocês estão pensando, quer dizer, é, mas não como vocês devem estar pensando, Ivy, amiga, me perdoa, conversa comigo...- eu não tenho tempo agora, vivienne. Preciso sair daqui imediatamente.- Ivy, me perdoe, esse beijo nunca deveria ter acontecido, não era a minha intenção ao vir aqui.- suplicou James dessa vez.- eu não tenho tempo para isso agora, lorde Clifford. Me tire daqui imediatamente e depois nós falamos sobre isso.Confundindo a irritação de Ivy com ciúmes, James se apressou em fazer o que ela pedia e saíram pelos fundos do teatro para não chamar atenção. Na carruagem permaneceram em silêncio, principalmente pela presença de Lunna, pois os dois preferiam ter aquela conversa a sós.Quando a carruagem
Ivy sentiu o seu interior se revirar por inteiro, por alguns segundos ficou paralisada, logo depois, soltou James e virou para acreditar que tudo era real, que ele realmente estava alí.Suas pernas tremiam e não tinha certeza se conseguiria se manter em pé. Mas, sim. Era ele. Com aquele olhar faiscando da forma como ela lembrava e amava, seu Andrew estava alí.Sem se importar com o local onde estava, ela pretendia correr e pular em seus braços, quando foi interrompida pelo duque de Gloucester, anfitrião do baile, que também adentrou na sacada. Só então ela se deu conta de que a festa tinha parado e a atenção de todos estava voltada pra lá.- é você mesmo? Andrew? O que está fazendo aqui, meu filho?Filho? Todos na sociedade sabiam que o duque era um homem duro, e que maltratou muito a sua primeira esposa e os filhos. O seu herdeiro havia morrido e o segundo filho o abandonou jurando nunca mais voltar. Era essa exatamente a his
Nas primeiras horas da manhã, Ivy já estava sentada na mesinha do jardim, aguardando James que prometeu visita-la. Não conseguiu pregar o olho a noite inteira, sabendo que Andrew estava na mesma cidade que ela.Lunna já tinha desistido de tentar acalma-la, até porquê estava extremamente nervosa também. Quando ele finalmente chegou, sequer precisou bater na porta. Lunna, que já estava atenta, o interceptou e o levou até uma Ivy louca de ansiedade.- oh, James, ainda bem que chegou!- não precisou trata-lo com formalidades, já que as circunstâncias haviam tornado-os mais próximos.- eu sequer consegui dormir esta noite.- bom dia, Ivy. Então, minhas suspeitas parecem se confirmar com toda essa ansiedade. É ele, não é?Mesmo sem mensionar o assunto, ela sabia ao que se referia. E era arriscado demais mensionar sua gravidez dentro de casa, onde as paredes poderiam ter ouvidos.- sim, é verdade, acontece que ele ainda não sabe o que está acontecendo,