Para Ivy, ir para o internato passar os próximos seis meses de sua vida, estava fora de cogitação. Para sua sorte, sua dama de companhia era, assim como ela, uma jovem ousada, audaciosa e muito corajosa, que nunca dispensava uma boa aventura. A essa hora, ela já deveria estar de volta, o coração de Ivy pulava em seu peito de tanta ansiedade. O plano era muito arriscado, mas, se desse certo, os próximos seis meses seriam muito diferentes do que a sua mãe planejou.
– Ivy, querida, já está pronta? A carruagem está nos aguardando.– disse a condessa, entrando no quarto da filha.
– Eu estou, mamãe, mas a Lunna foi se despedir de alguns parentes e eu prometi que daria uma carona para sua prima também, até a cidade de Luton. Já que eu vou ficar trancada como uma prisioneira, minha dama de companhia pode ter uma folga para visitar a família com sua prima.
– Querida, eu disse que a acompanharia pessoalmente, e realmente gostaria muito de poder ficar um pouco mais de tempo ao seu lado, porém, surgiu um imprevisto muito importante para resolver.
– O que poderia ser mais importante para senhora, do que me privar da minha liberdade?
– Não seja irônica, isso nunca lhe cai bem. Seu irmão esteve aqui mais cedo, Suzan está sentindo muito desconforto e algumas dores, a gravidez está bem avançada, então, pode ser que o meu primeiro neto já esteja querendo vir a este mundo.– Sempre que falava sobre o primeiro neto, a condessa assumia aquele ar muito mais orgulhoso que o de costume.
– Oh, isso não é justo! Não havia pensado nisso ainda, mas só conhecerei o meu sobrinho em seis meses?
– Isso é consequência dos seus próprios atos! Quem sabe aprende a lição dessa vez?
Antes mesmo de se apaixonar pelo seu irmão, Suzan já era amiga de Ivy, e as duas já aprontaram muitas coisas juntas. Dona de uma beleza angelical, Suzan chamou a atenção do futuro conde de Dorset, assim que ele voltou de sua viagem de estudos, mas, Hebert ainda demorou algum tempo até admitir que estava completamente apaixonado e finalmente colocar um anel no dedo de Suzan. Sendo assim, não foi tão difícil para Ivy, convencer a amiga a "sentir dores" precocemente e solicitar a ajuda da ansiosa, futura vovó.
Para que o seu plano desse certo, era imprescindível que a sua mãe não fosse deixa-la pessoalmente. Um criado seria mais fácil de despistar, já a condessa, era muito perspicaz.
– Minha lady, mil perdões pelo atraso. Condessa, perdão, não sabia que estava com a senhorita Sackville. – disse Lunna, enquanto entrava no quarto de ivy. – Minha prima está aguardando lá em baixo, com os outros criados, podemos partir assim que quiserem.
– Eu nunca vou querer. – Provocou Ivy.
– Mas eu e o seu pai queremos, e isso é o suficiente. Vamos, levante-se daí. Como eu ia dizendo, não irei mais pessoalmente, mas, não pense que vou deixa-la sem uma supervisão adequada até chegar lá. A senhora Jackson irá acompanha-la, a viagem não é tão longa, ainda hoje ela estará de volta.
– Vou me despedir do papai. Encontro você e sua prima na carruagem, Lunna.
Após uma chorosa despedida Ivy caminhou ansiosa em direção a carruagem. O conde de Dorset, sempre foi um homem muito reservado e de poucas falas, porém, quando falava, sua voz era sempre respeitada. Quando ele concordou com a esposa, a respeito do internato de Ivy, ela soube que não teria como evitar a partida. Isso não significava que entre os dois não havia uma ligação afetuosa, pelo contrário, Osmund sempre foi muito mais atencioso com os filhos e com a esposa do que a maioria dos nobres, acontece que até ele se viu obrigado a tomar uma decisão mais extrema, diante dos relatos recebidos semanalmente através da condessa sobre o comportamento inadequado da filha.
Risadas muito altas, opiniões muito incisivas, muita leitura para uma dama, certa vez guiou sozinha uma das carruagens da família pela cidade, dessa vez pelo menos não estavam em Londres. Mas, nada disso o incomodava realmente, além do fato da sua esposa ficar reclamando sem parar. No entanto, jogar um copo inteiro de bebida no rosto de um lorde, em pleno salão de baile... nem mesmo ele poderia ignorar este fato.
Estava ciente que se Ivy se casasse com qualquer um dos homens que conhecia e ousasse manter esse tipo de comportamento, as consequências poderiam ser bem piores para ela no futuro.
Os Cumberland já haviam retirado a promessa de casamento firmada entre eles, mas, o que seriam capazes de fazer se o casamento houvesse acontecido antes desse episódio? Se sua filhinha pertencesse agora ao futuro conde, que punição ele lhe daria? Então, para o próprio bem da filha, decidiu ouvir a esposa dessa vez, além disso, seis meses não era tanto tempo assim. Isso não evitou, no entanto, que os seus olhos marejassem ao ver a carruagem partir.
– É para o seu bem, minha flor.- disse para si mesmo quando ela partiu.
Enquanto isso, na carruagem, Ivy tentava controlar sua ansiedade. Mesmo para os seus padrões, o que estava fazendo era muito ousado, porém, também era muito tarde para voltar atrás.
– Sabe o que eu realmente duvido, senhora Jackson?– disse Ivy, de forma imparcial.
– Não faço ideia.
– Duvido que minha família, especialmente a minha mãe, consiga ficar seis meses sem me visitar ou me escrever. Até acho que mandarão alguém ir me buscar bem antes do fim do prazo, espere para ver como tenho razão.
Até a senhora Jackson, que já estava acostumada com o comportamento impróprio da lady, pareceu surpresa com a sua afirmação. Será que nem a caminho do internato ela estaria arrependida?
– Eu não contaria com isso, minha lady. O conde não é homem de voltar atrás.
– Mas, neste caso, ele apenas concordou em me enviar pra este lugar. O prazo de seis meses e o fato de não haver visitas, foram ideias da condessa, ela mesma o fará voltar atrás sobre isso. Posso apostar uma moeda de prata se quiser. Mas, não vale falar sobre isso com a minha mãe, seria contra as regras da aposta.
A senhora Jackson pareceu realmente ofendida. Aquela jovem tola achava mesmo que ela seria capaz de apostar pelas costas da sua senhora?
– Não sou chegada a apostas, minha lady. Espero que use esse tempo ao seu favor para refletir sobre as coisas, sobre a vida. Mais cedo ou mais tarde, terá que se comportar da forma correta.
– Já estou usando o meu tempo para pensar muito, não se preocupe. Preciso mesmo pensar numa forma de fazer o lorde Jhonson pagar por ter me feito passar por tudo isso. Assim que minha mãe vier me buscar, quem sabe daqui a um mês?
Em seu lugar, Lunna sorria da astúcia de sua amiga. Sabia muito bem o que ela estava fazendo.
Foi assim que Ivy garantiu que a sua mãe jamais a visitaria ou permitiria que qualquer um a visitasse ou escrevesse nos próximos seis meses. A senhora Johnson era uma das empregadas mais antigas da sua família, sempre sabia de tudo o que acontecia nas redondezas e mantinha a condessa por dentro de todos o assuntos. Em resumo, era uma fofoqueira, que mesmo que desejasse e esse não era o caso, não conseguia guardar um segredo. Já a condessa, odiava se sentir desafiada, agora ela iria provar para Ivy, a todo custo, que era capaz de deixa-la por seis meses, sem visitas ou cartas dramáticas.
Lunna ainda tentava conter o riso, enquanto Ivy conversava com a senhora Jhonson, e sua prima estava aparentemente tímida, o caminho inteiro de cabeça baixa, com uma capa feia de um tecido grosseiro marrom.
Após várias horas de viagem, a carruagem finalmente parou na cidade de Luton, um pequeno desvio para deixar Lunna e a prima na casa dos seus parentes. Outra carruagem já as aguardava lá, para leva-las à casa da família.
– Senhora Jhonson, eu preciso parar um pouco aqui, sabe, as vontades da natureza que não podem esperar.
– Minha lady, já estamos bem perto de Buckinghamshire...
– Eu não consigo esperar mais, é extremamente urgente.
Ivy viu a carruagem com as duas moças se afastar pela estrada, enquanto ganhava um pouco mais de tempo, parando em uma estalagem para usar o banheiro, e apenas depois disso, prosseguir viagem até o Wycombe Abbey.
Aquele seria o momento mais crucial do seu plano e o mais arriscado também. Prosseguindo viagem a carruagem finalmente chegou a Buckinghamshirese e se aproximava do Wycombe Abbey, um lindo jardim adornava a entrada do lugar. Realmente não era o que Ivy estava esperando, sempre imaginou um lugar escuro e tenebroso.
– Chegamos, minha lady, irei acompanha-la até lá.– disse a governanta, assim que chegaram ao local.
– De forma alguma! Já é humilhante o suficiente o fato de que eu esteja sendo presa injustamente neste lugar, não quero que veja o meu semblante, em total desgraça, quando eu passar por aquela porta. Fique aqui e me veja entrar, pra ter certeza que eu não fugi correndo com as malas nas mãos. Eu já estou com a carta da minha mãe aqui, para entregar a diretora, ela vai assinar e eu a trarei de volta para senhora.
– Hum, tudo bem, vou poupar minhas pernas cansadas pela idade de ter que andar até lá, mas, sei que a minha lady é muito esperta, eu só saio daqui com a assinatura da direção.
– Claro, não se preocupe.
Ivy desceu da carruagem e o chofer se apressou em pegar suas malas e acompanha-la até a entrada. Ela bateu levemente na porta e aguardou até uma funcionária abrir.
– Por favor, volte para a carruagem, senhor Smit, deve haver um funcionário para levar as malas daqui em diante, obrigada.
– Pois não, milady.
Assim que o chofer voltou para a carruagem, a porta do internato foi aberta. uma mulher de tamanho incomum levou as malas de Ivy para dentro, enquanto outra a recebia sorridente.
– Olá milady, me acompanhe por aqui.
Ivy seguiu a mulher até um pequeno escritório, onde a diretora do lugar a aguardava, na sua frente, sentadas, estavam Lunna e a senhorita Hamlets. Ela era linda, seu cabelo estava impecável em um penteado trançado, sem a capa feia de criada de baixo escalão que usava antes. Ela agora ostentava um dos melhores vestidos de Ivy, azul celeste, de musselina, que destacavam ainda mais seus olhos azuis. Assim que Ivy entrou na sala ela sorriu encantadoramente.
– Por que demorou? Eu já estava preocupada, vocês estavam bem atrás de nós. – perguntou vivienne, com toda a naturalidade de uma atriz.
– Perdão milady, a senhora Jhonson se sentiu mal em Luton e parou para tomar um ar. Ela não quis descer agora, mas me aguarda lá fora.– respondeu Ivy, tentando não demonstrar o nervosismo, afinal, o plano estava dando certo.
– Que falta de educação a minha. – continuou a senhorita Hamlets. – Senhora MacGregor, essa é a minha prima, que também veio me acompanhar até aqui, Vivienne; Vivienne, essa é a diretora desse adorável lugar, a senhora McGregor. Pode entregar a carta da minha mãe, para ela assinar?
– Oh, sim, é claro.- Ivy estava realmente trêmula, nunca tinha feito algo parecido, por outro lado, a senhorita Hamlets se mostrava uma excelente atriz.
– Vivienne, eu estava dizendo a senhora McGregor, que pretendo me casar com um conde em seis meses e que a minha mãe, a condessa de Dorset, me enviou até aqui com ótimas referências sobre o lugar, para que eu pudesse me aperfeiçoar ainda mais nas tarefas femininas, esperadas de uma futura condessa. Minha mãe é muito cuidadosa, senhora McGregor, achou pouco me enviar apenas com uma dama de companhia, por isso mandou outra carruagem com a minha prima e uma governanta da sua confiança, ela aguarda sua assinatura nessa carta para ter certeza de que eu cheguei bem.
Seria impossível não acreditar em cada palavra daquela mulher. seu rosto angelical, seu porte impecável e sua convicção ao afirmar cada parte da história, já estavam quase convencendo Ivy de que ela era Vivienne, e que a Ivy de verdade estava sentada ali, com o seu vestido de musselina azul.
– Aqui está a carta, senhora.
Rapidamente a senhora McGregor leu a carta enviada pela condessa, com o desejo de que a filha permanecesse na sua escola pelos próximos seis meses, e fosse instruída sobre como se portar, como se comportar com toda classe e elegância, não que a filha já não agisse de tal forma, porém, aperfeiçoamento nunca era demais. Ao longo desse período não haveriam visitas ou cartas, afinal, uma dama precisaria aprender a agir sozinha após o casamento, sem interferência da família e isso seria para o seu bem.
"Excelente" pensou a senhora McGregor, enquanto assinava a carta. este era o tipo de jovem que gostava de ter em Wycombe Abbey, aristocrata, excelente reputação, interessada em agir com classe e elegância em todas as situações... Estava realmente satisfeita em recebê-la.
– Pode deixar que eu mesma entrego a carta a senhora Jhonson, Vivienne, vou me despedir e ver se ela está se sentindo melhor.– disse a senhorita Hamlets, assim que a diretora lhe entregou a carta assinada.
– Claro, eu logo vou me juntar a vocês, só gostaria de tomar alguma coisa antes de partir novamente, essa viagem foi tão cansativa.– respondeu Ivy, ganhando um pouco mais de tempo no local.
– Claro, mil perdões, minha lady.- disse a diretora enquanto tocava o sino para chamar uma serva.
– Luci, acompanhe a senhorita Sackville até a porta, ela irá se despedir da sua governanta a já volta, também providencie um refresco para a senhorita Vivienne, que chegou depois, por gentileza.
Ivy sentia que qualquer um que olhasse para ela veria a mentira em seus olhos e saberia que não era Vivienne coisa nenhuma, mas, até agora ninguém demonstrou nada de diferente, o plano parecia estar dando certo, só mais um pouco e teria acabado, será que iriam mesmo conseguir?
– Olá, a senhora deve ser a acompanhante da senhorita Sackville, senhora Jhonson, não é? Eu sou Vivienne, assistente da diretora.– disse a senhorita Hamlets, enquanto sorria para a governanta da família Sackville. – A partir de agora, ela estará segura aqui conosco, será uma honra instruí-la de alguma forma pelos próximos meses. Estamos muito agradecidos pela preferência da família.– Levarei seus agradecimentos à condessa de Dorset, obrigada senhorita.– Aqui está a carta assinada pela diretora, desejamos uma boa viagem de volta. A senhorita Sackville já foi encaminhada aos aposentos dela e em seguida irá conhecer as dependências do lugar. A partir de agora, ela já não terá nenhum contato com alguém de fora.– Obrigada mais uma vez, partiremos então.– Disse surpresa e ao mesmo tempo satisfeita com a rigidez daquele lugar. Era tudo o que a senhorita Sackville precisava.De posse da carta assinada pela direto
O clima estava maravilhoso na primeira manhã a bordo do Savannah, o moderno navio a vapor onde viajavam. Para Ivy, este era um presságio de que tudo correria bem.Infelizmente, as duas amigas não puderam explorar o navio como gostariam. O acesso da terceira classe era limitado apenas aquele piso, e como distração, além de olhar o mar, tinham apenas um salão de jogos e um salão comum, onde as pessoas se reuniam falando alto, cantando e contando piadas.O refeitório também era separado apenas para aquela classe. Possuía longos bancos de madeira, onde vários passageiros ocupavam a mesma mesa. Segundo ouvira falar, isso era considerado um luxo para a classe econômica, que as companhias de viagens passaram a adotar, pois, em outros tempos a terceira classe tinha que levar os próprios alimentos.Na cabine, além das camas e um pequeno armário para guardar os pertences, havia uma pia, onde poderiam se lavar, mas, a casa de
O navio demorou muito mais do que o previsto na Espanha, só seguiram viagemà noite, daquele mesmo dia. Deveriam chegar à Itália em três dias, se tudo corresse bem e as paradas não fossem tão longas.Os dois dias que se seguiram foram tranquilos e as noites, como sempre, bem animadas, na área coletiva da terceira classe. Ivy realmente se divertia e se sentia livre naquele ambiente, festejando com aquelas pessoas e conhecendo um lado diferente da vida. Seria hipócrita se dissesse que não sentia falta de todos os luxos que tinha e de todos os privilégios que a sua posição social proporcionava, no entanto, a liberdade de agir e se comportar alí, era algo que desejava provar a muito tempo.Era a sua última noite a bordo do Savannah, no dia seguinte desembarcariam na Itália e aproveitariam ao máximo a estadia por lá. Tudo exatamente como sonhou durante os últimos anos.Estava dançando com um rapazote italia
Aquela foi uma noite bem longa para Ivy, ela não saberia explicar o motivo, mas, sempre que fechava os olhos a imagem daquele olhar de fogo a devorando, vinha em sua mente perturbá-la, e também podia ouvir as vozes da sua cabeça que sussurravam perguntas que ela jamais poderia responder."E se tivesse ficado?""E se não tivesse corrido como uma criança com medo?"Não era do seu feitio correr ou fugir de qualquer desafio, pelo contrário, sempre fora julgada por sua ousadia e atitudes, consideradas indevidas para uma dama. No entanto, naquela noite, de forma nada planejada, estava agindo com medo e até timidez. "Ele também estava olhando pra mim."Era essa a frase que permanecia na cabeça de Ivy, enquanto ela se afastava, no balanço das águas. Por mais que ela estivesse em uma cidade tão encantadora, cercada por todo luxo e liberdade que só seria possível para um cavalheiro, o único pensamento que vinha lhe roubando os sentidos era exatamente esse.Após o episódio no barco, pelo restante do caminho e durante o resto daquela noite em que mal pregou os olhos, não havia outra coisa na qual conseguisse se concentrar. Os olhos de gelo, de um azul tão profundo, o cabelo escuro que realçava ainda mais o seu olhar, o tamanho e a personalidade imponentes. Tudo naquele homem a atraía, de uma forma que jamais imaginou ser possível.Sempre havia idealizado a sua vida livre e independente. Sabia que chegaria o momento em que teria que se casar com alguém, os seus pais, com certeza, se certificariam disso. No entanto, nunca se imaginou feliz07
– Milady, a senhorita perdeu o juízo de vez! – disse Lunna, assim que Ivy retornou ao quarto luxuoso que as duas dividiam e lhe contou o que havia acontecido e o que haviam combinado para o dia seguinte.– Meu coração já ficou tão aflito hoje, ao vê-la partir com ele, sozinha, e agora me diz que pretende fazer o mesmo amanhã?– Calma, Lunna. Eu não pretendo ir sozinha, você irá comigo dessa vez. Eu não quero passar impressões erradas nesse primeiro encontro oficial. Amiga, eu sei que isso tudo parece loucura, mas, é algo que não dá pra explicar, eu só sinto que preciso viver isso antes de voltar para o faz de conta da minha mãe. É a minha única chance real de fazer o que eu realmente quero.Ivy caminhou até a cama e se jogou nela, imaginando como tudo seria no dia seguinte.– Você está apaixonada por ele? – perguntou Lunna, afinal, nunca tinha visto a sua lady se comportar daquela maneira com um cavalheiro.–
Quando desceu do seu quarto para encontrar-se com Andrew, Ivy sentiu aquele familiar frio na barriga, que antecedia todos os encontros entre os dois. Sempre achou que a esta altura já estaria longe de Veneza, que toda aquela empolgação já teria ido embora, que um homem experiente e viajado, como Andrew aparentava ser, não deveria dedicar tanto tempo assim a uma simples serva, que sequer saía a sós com ele. No entanto, pelo decorrer dos acontecimentos, estava completamente enganada.Nos últimos dias, mal se separavam e ela já se via ansiosa pelo próximo encontro. Ele, por sua vez, sempre estava lá na tarde seguinte, elegante e gentil, com os olhos de gelo que sempre faiscavam quando a viam chegar e a derretiam por dentro, um pouco de cada vez.– Milady, está especialmente encantadora esta tarde– falou ele, assim que a viu chegar. – E a senhorita Evans?– Lisonjeiro como sempre, milorde. Infelizmente a senhorita Evans se s
Como uma tarde que deveria ter sido a mais maravilhosa de sua vida, estava se tornando tão desastrosa? Em um momento estava completamente envolvida em um beijo avassalador, em outro estavam discutindo sobre o futuro que não poderiam ter.O que mais ele queria que ela dissesse? Já não era esperado que em um determinado tempo ela tivesse que partir? E, o que, de fato, ele estava disposto a lhe oferecer?Se perguntava Ivy, enquanto navegavam de volta para Veneza.Se sentia culpada, acima de tudo, afinal, acabara de o rejeitar. Entretanto, o que ele queria dizer, quando lhe pediu para abrir mão de sua vida e ficar em Veneza? Voltou a subestimá-la como uma serviçal desonrada e sem dignidade, apenas por não ser abastada? Ou pior, seu próprio comportamento desajustado o levaram a subjugá-la dessa maneira, como já acontecera antes, em Londres, com outros cavalheiros?Neste caso, só lhe restava descobrir o que verdadei