No domingo de manhã a casa amadeirada estava silenciosa e fresquinha. A mulher que passava o café no coador erguia os olhos castanhos para a janela ao ouvir o som do motor da caminhoneta. O alfa bronzeado descia com sacolas com pães fresquinhos e quentinhos, soltando um bocejo silencioso.
Quando Bill entrara na casa deixando a sacola na mesa da sacada, fora até a cozinha depositar um selar na bochecha da noiva, a fazendo sorrir.
— Por que levantou tão cedo hoje? Poderia ficar mais tempo na cama já que é domingo.
— Tenho que passar na cooperativa pra resolver algumas coisas, mas quero voltar pro almoço.
Abrindo um sorriso brincalhão, Maggie voltava a se concentrar em coar o café na garrafa.
— Agora que se resolveram não quer perder um minuto, não é?
Escondendo a vergonha, Bill pigarreou olhando a vista da janela.
— Theodor
Gabriel estava ansioso na segunda-feira de manhã. Desde o momento em que se sentara na fonte antes da aula começar, e não enxergara a figura do ômega loiro sentado debaixo da tabebuia, ele sentira que algo estava errado.De modo geral, ele não era um rapaz que costumava se preocupar com mau entendidos. Dessa vez era diferente.Na sexta-feira à noite Gabriel fora para a festa junto com seu novo grupo de amigos. Como esperado de um bando de adolescentes doidos, o álcool e a pegação rolavam à solta pela casa da garota rica. No instante em que pisara no gramado do sobrado e percebera a atmosfera da festa, Gabriel torcera o nariz.Gostava de ir em festas, mas preferia algo comedido. Música alta, gente bêbada se esbarrando e casais se engolindo nos corredores não era algo apreciativo para o garoto. Ainda assim fizera um grande esforço para se divertir, já que estava
No instante em que pisara fora do ginásio coberto, vira o loiro seguir para os fundos do prédio. Estranhando, se apressara para alcançá-lo.— Ei, Theodore, espera!O garoto encapuzado parara de caminhar, sem se virar para trás. Tentando acalmar sua respiração ofegante, Gabriel apoiou-se em seus joelhos antes de se aproximar lentamente do loiro.— Não consegui conversar contigo hoje. Você está bem?— Estou bem.A resposta seca fizera Gabriel engolir em seco.— Theo!— Volta aqui seu tampinha! Temos um assunto pra resolver.Gabriel fechara os olhos reprimindo a vontade de xingar ao ouvir a voz de Nicolas e Milles tão perto de onde eles estavam.— Cala a boca, seu babaca. Volta pra sua trupe que eu quero conversar com meu amigo.— Oh, já está se escondendo atrás da sua esposa.
Aquelas palavras se repetiam para Theodore incansavelmente. Imaginava que Gabriel fosse agir como Nicolas. O questionando o que poderia ter acontecido, ou então que ficaria tão preocupado ao ponto de querer cuidar de suas feridas. Só que Gabriel fora simples. Ele apenas afugentara a onda de preocupação excessiva e o deixara ir embora. Ficara levemente entristecido, admitia, pela aparente falta de interesse de seu colega de classe. Quando a noite chegara a janela de chat do MSN se erguera, fazendo o ômega loiro pular da cama mesmo sentindo dores. Sentando-se na cadeira de sua mesa de estudos, encontrara o nome de Gabriel brilhando na tela lhe desejando boa noite. Rapidamente o loiro lhe responde a saudação, aguardando ansiosamente sua resposta. “Gabriel diz: Como está se sentindo? Dói em algum lugar?” Theodore cobrira o rosto com as mãos abafando o riso alegre e eufórico. Espiando entre os dedos, respirara fundo para lhe responder. “Theodore diz: Dói um pouco na barriga e as cos
Diferente do seu habitual, Theodore não ficara debaixo da tabebuia próximo à fonte quando chegara na escola. Sabia muito bem que se estivesse por lá, Gabriel viria atrás de si para conversar. E no momento, não queria aumentar a dor da decepção.Infelizmente nenhum outro lugar parecia ser bom o bastante para que tirasse um breve cochilo até que o sinal tocasse. Rondando o pátio feito uma barata tonta, Theodore seguira para dentro do prédio preferindo esperar na porta de sua sala.Se fosse o primeiro a entrar, poderia simplesmente fazer como o dia anterior. Baixar a cabeça fingindo dormir até que o professor chegasse e aplicasse a avaliação. Assim evitaria duas pessoas que certamente iria lhe azucrinar.De maneira alguma seu melhor amigo deveria saber que chorara por causa de Gabriel. Apesar de que era provável dele saber sobre a foto,
Os dois estudantes briguentos bufavam diante do silêncio da coordenadora da escola. A mulher de cabelos impecavelmente penteados e bem vestida tamborilava os dedos sobre a mesa, espreitando os olhos para os dois garotos surrados, que evitavam se olhar.— Quando começo a pensar que finalmente não os veria em minha sala, vocês fazem questão de aparecer. — Murmurava a mulher por fim, puxando uma pasta de capa escura para folear algumas páginas até que finalmente começasse a escrever algo nela — Bem na semana de provas. Então, qual o motivo da briga dessa vez?— Não suporto ele, isso serve?A mulher erguera os olhos friamente para Milles, o repreendendo silenciosamente. No entanto, o loiro balançara a cabeça mantendo o sorriso ladino.— Então você irá bater todas as pessoas que não suporta? Devo avi
Dois garotos se depararam com a enfermaria completamente vazia. Theodore levara o seu amigo até uma das camas onde o sentara, logo indo procurar por algodão e soro.Gabriel não desgrudava os olhos de Theodore. Imaginava mil e uma forma formas de começar a conversar, sentindo que aquela seria a única chance de ser escutado. Havia notado que seu amigo ficava chateado com certa facilidade, tendo Gabriel de prestar mais atenção em suas palavras.Isso era algo que nunca se atentara.Nunca precisou medir suas palavras com os amigos que tinha. Sempre fora elogiado por ser educado com os mais velhos e com as garotas, sendo brincalhão e companheiro com os meninos. No entanto, sua conversa com Theodore na noite passada comprovara que Gabriel nunca fora educado de verdade.Ele apenas queria agradar as outras pessoas, falando de um jeito que não as zangasse.Notara aqu
— Ah! Me desculpa, Theodore! Estou muito atrasada?Theodore se mantinha encostado no muro da escola, arqueando a sobrancelha para a baixinha garota que se apoiava nos próprios joelhos. Assistira Lilian correndo em sua direção desesperada, já que fazia alguns minutos que o sinal da saída havia tocado.— Estava fazendo prova?— Aham. De português. Quando a professora pede pra fazer algum tipo de texto eu sempre me demoro. Mas tudo bem — Virando-se para o prédio da escola, a garota beta unia ambas as mãos em uma saudação — Vou tirar boa nota, amém.Rindo da garota, Theodore se desencostara do muro para seguir Lilian pelas ruas. Era um tanto quanto estranho ele ser visto com outra pessoa que não Nicolas. Ou então com Gabriel. Pior ainda com uma garota.Mesmo assim, não chegava a ser desconfort&aacu
Gabriel estava irritado na tarde de quarta-feira.No dia anterior logo após se despedir de Sadie e Milles, Gabriel seguira o seu rotineiro caminho de casa com um olhar vazio. Em sua cabeça matutava que em algum lugar estaria Theodore junto daquela garota baixinha bonitinha.Ora essa, Theodore não era gay? Então por que raios estava de mãos dadas com uma garota beta? Nunca o vira ao lado de uma garota em todos aqueles primeiros meses de aula, e de repente aparecia uma. O sentimento tão estranho que se apossara de si no instante em que os vira no corredor, o fizera marchar para separá-los imediatamente.Já não bastava o grande empecilho que era seu capitão do time de vôlei, agora surgiria mais uma pessoa para roubar Theodore de si?Imediatamente Gabriel parara de andar.Roubá-lo de si?Quem?O Theodore?Por quê?Ele era seu amigo, pode