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Capítulo 2 - Um dia agradável

             

                                Carter Bennett

A minha sorte é que a tia da faculdade me arrumou outro uniforme, para substituir a roupa molhada. Durante a aula, tudo o que eu consigo pensar enquanto a professora Smith explica a matéria de literatura, é em como uma mulher tão velha, consegue ser tão conservada. Ela caminha de um lado a outro, falando sem parar, com uma firmeza impressionante. Nem de longe parece que tem cinquenta anos, e não é atoa que o diretor Henry vive arrastando uma asinha para o seu lado.

Contudo, esse pensamento logo se perde e tudo simplesmente desaparece, quando começo a pensar naquele garoto que esbarrou em mim mais cedo a caminho da faculdade. Algo está me atraindo nele  e preciso descobrir o que é.

Sigo assim enquanto desenho distraidamente qualquer coisa que nem sei distinguir, no caderno. Mais acabo voltando a realidade quando o sinal do terceiro tempo toca.

Henry entra e na sala logo em seguida, e eu observo meio confusa, o homem alto de cabelos grisalhos e rebeldes, com seu grande suéter vermelho, de péssimo gosto. Até porque o diretor só vai à sala, quando algo relevante acontece.

Ele para em frente a turma, dando antes uma boa conferida em Smith que revira os olhos com impaciência enquanto arruma suas coisas na bolsa para sair.

— Bom dia turma — diz animado com um sorriso de orelha a orelha, e eu não sou capaz de compreender de onde o homem tira tanta animação logo cedo. — Vocês não terão os últimos dois tempos de aula, pois seus professores de química e física faltaram, devido a forte chuva que alagou diversos lugares. — Todos comemoram conversando alto, inclusive eu.

Coloco meu material que está sobre a mesa, na mochila e saio correndo o mais rápido que posso. Desço com pressa saindo logo da escola, junto os outros alunos.

Como tenho tempo livre, não vejo problema em passear um pouco. A minha cidade é pequena, e não há muito o que fazer, mas passear pelas ruas largas sem a preocupação de ser assaltada ou algo do tipo é um privilégio que gosto de ter. A chuva já passou, e o sol está começando a dar as caras, o que é bom, pois tudo fica ainda mais encantador quando o tempo colabora.

Chego a praça que tem próxima à escola, e uso a blusa de frio para secar o banco e sentar. Há algumas senhoras conversando ali perto sobre algo relacionado a bingo e mulheres depravadas, um menino brincando com um cachorro e um pessoal do próprio colégio fazendo um barulho desnecessário.

Estou mexendo no celular, atualizando as redes sociais, quando observo que alguém senta ao meu lado no banco. Quando ergo o olhar, não consigo acreditar no que meus olhos vê em. Aquele garoto de novo, e dessa vez parece bem mais simpático.

— Olha só, quem tive a sorte de encontrar por aqui. — Agora reparando em sua voz, posso notar o quanto é grave e agradável. — Matando aula, senhorita?

— Não… — sinto minha bochecha corar, e um frio na barriga repentino tomar conta de mim. — Na verdade, fui liberada mais cedo.

— Então esse foi apenas um acaso dos bons, até porque eu estava passando e te vi de longe… — com a proximidade posso sentir o cheiro de seu perfume masculino forte, e meu corpo rapidamente responde a isso, fazendo meus pelos ficarem arrepiados. — A propósito nem disse meu nome, prazer Carlos. — Ele dá, um sorriso meigo e estica a mão enorme, que aperto com certo receio.

— Sou Carter… — Respondo meio tímida — É um prazer — sinto meu rosto corar ainda mais, enquanto dou um sorriso fraco, e Carlos me encara parecendo admirado, com "o que" eu sinceramente não sei.

— O que você acha de um ‘milkshake’? Assim podemos conversar melhor, já que tem esse tempo livre… — Não consigo acreditar que esse, cara esteja me chamando para sair, com menos de cinco minutos de conversa, e eu estou muito tentada a aceitar.

— Bem… — mordo o lábio nervosa, enquanto ele me encara com tamanha expectativa que sou incapaz de negar. — Pode ser. — Digo por fim, e ele sorri satisfeito.

A casa de Milkshake dos Connors fica a poucas quadras da faculdade, por isso chegamos lá em cinco minutos. O lugar é extremamente acolhedor, e parece o cenário de um filme romântico gravado em Amsterdam. Desde pequena frequento o local, e não há nada que eu ache mais adorável do que passar uma tarde comendo hambúrguer, e lendo um bom livro.

Estamos sentados na última mesinha, extremamente confortável e aconchegante, e eu sinto as borboletas rodearem meu estômago de um jeito ridículo demais.

— Você uma menina tão linda é solteira, enrolada ou namora? — ele pergunta quebrando o silêncio, com o olhar curioso sobre mim.  Não consigo evitar na mesma hora dar uma grande gargalhada.

— Carlos até parece que tenho relacionamento com alguém, não tenho nem amigos quem dirá um relacionamento. — Ele me encara surpreso e dá, um sorriso, parecendo satisfeito com a resposta.

— Mais uma qualidade então.

— O que quer dizer? — arqueio a sobrancelha intrigada.

— Um dia saberá. Mas diz aí você gosta de morango? — fico surpresa com a pergunta inusitada do garoto, claramente para mudar de assunto.

— Prefiro baunilha. — Respondo um pouco tímida, me condenando por aceitar tão facilmente, o convite para sair de um estranho.

— Você é bem tímida, né? — diz enquanto tira uma mecha de cabelo do meu rosto e coloca atrás da orelha, me fazendo corar. — Aliás, fica linda quando está com vergonha.

— Desse jeito você me deixa sem graça… — nesse momento a garçonete chega e anota os nossos pedidos. Peço de baunilha mesmo, enquanto Carlos escolhe chocolate. — Você estuda por aqui?

— Ah!? Não… — ele ri — eu já terminei a faculdade, a propósito tenho vinte e um anos, caso tenha dúvidas. — Fico chocada, pois, dava no máximo dezoito para ele, e isso não tem como ser mais estranho. Deixa-me nervosa e, em simultâneo, eufórica.

— Nossa olha ele se exibindo por terminar os estudos — sorrio com vontade, e pela primeira vez me sinto a vontade com alguém, mesmo que o tenha conhecido hoje. — E você mora por aqui?

— Sim, tenho uma oficina de carros aqui perto. Se quiser conhecer algum dia meu ambiente sujo de trabalho, está convidadíssima.

— Obrigada… — agradeço sabendo que meus pais nunca vão deixar eu visitar uma oficina de carros de um cara de vinte e um anos, a menos que leve a polícia federal junto.

Conversamos tanto, sobre os assuntos mais aleatórios possíveis que nem vejo o tempo passar. Tanto que quando olho a hora entro em desespero, pois meu pai já deve ter chegado do trabalho.

— Preciso ir — digo assustada.

— Mas já? Deixa eu te levar em casa… — arregalo os olhos, nervosa e nego.

— Não! — ele me olha desconfiado, mas ignoro pegando minhas coisas e tirando uma nota da bolsa para pagar.

— Não precisa pagar, o milkshake é por minha conta. Adorei a companhia, espero te ver novamente.

— Certamente que sim, obrigada, Carlos. Foi uma tarde agradável. Até qualquer dia… — estico a mão, que ele ignora e me puxa para um abraço depositando um beijo em meu rosto, que faz meu coração acelerar. Seu corpo é forte e musculoso, e o meu se torna extremamente frágil e pequeno diante dele. Quando nos afastamos, sorrio e saio correndo apressada.

Já são seis horas da noite, e tem quatro chamadas perdidas do meu pai. Corro tanto, que quando chego em casa minha respiração está até ofegante.

— Carther! Onde estava até esse horário? — meu pai pergunta parecendo preocupado, o que me alivia um pouco, por ele não estar bravo.

— Papai desculpe, eu tomei um milkshake e perdi a noção do tempo. — Ele sorri e sua expressão se suaviza.

— Tudo bem, minha querida. Quando for assim avisa, eu estava preocupado. Se a sua mãe chegasse e não te visse aqui… — faz sinal de navalha no pescoço e finge morrer, eu gargalho alto.

— Desculpa papai… — corro e lhe dou um beijo — não me espere para o jantar, estou cansada e dormirei.

— Tudo bem, boa noite querida.

— Boa noite.

Após tomar um bom banho e relaxar com meu pijama fresco, posso deitar e responder minhas mensagens. Tem algumas do meu pai que eu não vi, perguntando onde eu estava. Algumas da minha dupla de trabalho na aula de química, dizendo que mandará sua parte do relatório ainda hoje, e para minha surpresa uma de Carlos. Trocamos telefone durante a conversa a tarde.

Carlos: Ei Carter :p que tal conhecer a oficina amanhã mesmo? Tenho certeza que gostará, e eu posso te pegar na faculdade! ;)

Respiro fundo sentindo meu coração disparar, e mesmo sendo errado respondo à mensagem.

Eu: claro, adorarei ^^

Ele não demora a responder de volta.

Carlos: Contarei os minutos para te ver de novo S2

Eu: Até amanhã! rsrs

Depois disso, dormirei sorrindo, até porque Carlos tem algo diferente que eu não sei explicar, mas me atrai.

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