Lívia
Eu nunca gostei muito de aniversários. Na verdade eu os detestava. Minha mãe nunca se importou em comemorar e sequer se lembrava. Até os nove anos minhas comemorações eram feitas na escola, por professores sensibilizados com a falta de interesse de Mônica em celebrar a data. Ela sempre foi convidada mas nunca compareceu a nenhuma. Quando Walter se casou com ela, até tentou fazer algo. Foram três anos de tentativas frustadas. No primeiro ano, Mônica se esqueceu da data e foi fazer compras no shopping. Voltou três horas depois e eles discutiram a noite toda. No segundo ano ela compareceu, mas expulsou as pessoas com meia hora de festa alegando que se sentia mal. Na terceira ela simplesmente não quis participar e se trancou no quarto.
Quando completei treze anos, Devon e Sabrina já haviam se mudado para a casa ao lado, nos tornamos amigos e começamos uma tradição. Todos o
Senti sua excitação a ponto de explodir e eu não estava diferente. Ele também sentiu. No entanto sua reação não foi exatamente a desejada. Nem por mim, e aparentemente, nem por ele. O que me deixou ainda mais confusa. Ele nos afastou lentamente e com um pesar quase doloroso. Se encolheu no banco e notei que me queria o mais distante possível. Voltei ao meu banco e arrumei minhas roupas amassadas. O olhei e ele encarava a estrada. Tenso, suas mãos apertavam as pernas com firmeza.- É melhor eu... Sair... Está tarde e... - começou a se embaralhar com as palavras- Aconteceu algo? Eu fiz algo errado? - o questionei inconformada- Não! - virou-se para mim e parecia transtornado - Eu fiz...- O que? Você tem namorada? É isso? Claro. Perfeito demais pra ser verdade...- Não! Não. Não, eu não tenho. É só que... Eu não devia ter feito isso.- Me beijado? - eu entendia cada vez menos o que estava acontecendo- Me aproveitado
Terminamos a organização por volta das cinco da tarde. Decidi fechar e sair para comermos alguma coisa. Havia um foodtruck com comidas típicas brasileiras na praça ali perto. A única coisa boa que Mônica me apresentou foi a culinária e a comida do seu país. Eu nasci no Brasil, mas não vivi nem dois anos da minha vida por lá. Mônica e meu pai biológico se mudaram para cá meses antes dela ser abandonada por ele.Pedimos cachorro quente completo e dividimos refrigerantes. Conversamos um pouco sobre as novas apresentações e sobre gravar um vídeo clipe. Devon deu ótimas ideias de roteiro e cenários. Sabrina sugeriu uma coreografia. Adorei todas as ideias e prometi leva-las a Erick. Ele era como uma espécie de empresário e eu sempre levava sua opinião em consideração. Nos despedimos ali mesmo. Pedi um lanche para a viagem, seria meu café da manhã.Desci a ladeira até a loja tranquilamente. Respondi algumas mensagens no celular e o guardei no b
Desci a ladeira até a loja tranquilamente. Respondi algumas mensagens no celular e o guardei no bolso. Ouvi um cantar de pneus e pessoas gritando. Quando me virei um carro em alta velocidade vinha em minha direção. Invadiu a calçada e por pouco não me atingiu. Senti o impacto de um corpo contra o meu. Não vi os movimentos seguintes até atingir o chão, ou quase. Caí sobre alguém que me segurava com firmeza. Abri os olhos e encontrei o azul cintilantes de Harvey me olhando preocupado. Levei alguns segundos para processar o que havia acontecido e enfim me levantar. Pessoas que passavam correram até nos e nos ajudaram a nos reerguer. A essa altura o carro já havia desaparecido. - Você está bem? - Harvey questionou atencioso, segurou meu braço e senti aquela bendita corrente elétrica nos envolver. Ele também sentiu, pois se afastou subitamente - Estou... - abaixei a cabeça frustada - Você é que não está. - analisei as esc
Harvey Abri os olhos e analisei o lugar estranho aos meus sentidos. Na noite anterior não pude observar direito o quarto de Lívia. Com sol invadindo por uma fresta pela cortina os tons de lavanda da decoração se tornaram evidentes. Era algo minimalista e aconchegante. Havia uma penteadeira no canto com um grande espelho no estilo vintage. Uma estante com livros e uns vasos de plantas. Ao lado da estante uma poltrona confortável e um abajur. A janela entreaberta revelava a vista para o mar do outro lado da rua. Não sei porque eu imaginava algo mais extravagante. Mas tudo combina perfeitamente com ela. Segurei seus dedos depositados em meu peito e analisei seu rosto tranquilo. Dormia como um anjo. Ajeitei os fios de cabelo espalhados por seu rosto com cuidado para não acorda-la. Ela suspirou e se ajeitou em meu ombro. As lembranças da noite anterior ainda estavam frescas na minha mente. Como foi bom tê-la em meus braços. Tocar sua pe
Cheguei ao quartel por volta das nove e quarenta da manhã. Cecile arregalou os olhos ao me ver. Sempre fui extremamente pontual, nunca faltei ou me atrasei. Balancei a cabeça informando que estava bem, em resposta ao seu olhar preocupado. Atravessei rapidamente o corredor em direção a garagem. Tentei ser o mais discreto possível mas as coisas não correram como o planejado.- Prescott... - Tenente Willard, meu superior me chamou antes que eu chegasse ao meu destino- Senhor... - me virei preparado para a bronca- Aconteceu algo? Você chegou com quase três horas de atraso. - me analisou por completo- Eu sinto muito senhor, eu perdi a hora. Isso não vai se repetir...- Acredito que não... Mas até tudo bem? Tem algo que eu possa ajudar?- Não senhor. Foi só, um problema com
Ao chegar notamos que o rio havia transbordado devido ao grande volume de chuvas na região. A cidade era pequena e não havia corpo de bombeiros próprio. Logo de princípio resgatamos um garoto e sua avó que subiram no telhado da casa. O garoto conseguiu erguer a senhora de cerca de noventa anos até o alto da varanda movido pelo desespero. Alocamos ela em uma maca e a subimos com cuidado e desci para buscar o garoto. Estava com algumas escoriações mas nada grave. Havia pessoas presas em árvores, carros e nos topos das casas. Houveram desmoronamentos e pessoas ficaram presas nos escombros. Dentre elas uma garotinha de quatro anos que por milagre não sofreu ferimentos sérios.Levamos cerca de quatro horas para resgatarmos todas as pessoas e animais. Por sorte não houveram vítimas fatais. Embora algumas pessoas tenham sido resgatadas em estado grave. Interditamos a área
Sorri com a lembrança de vê-la brincar com o cordão enquanto atendia meus amigos. Subi as pressas e corri para a cozinha. Onde eu estava com a cabeça de convida-la sem tempo para me preparar? Não sabia se tinha algo para servir, se a casa estava limpa o suficiente. O que eu iria vestir? Eu tinha um vinho descente na adega? Eu não bebo, mas ela bebe. Abri todos os armários em busca de algo que fosse rápido e sofisticado. Por sorte havia feito compras a poucos dias. Optei por uma salada tropical e macarrão ao molho pesto. Deixei tudo adiantado e corri para o banho. Enquanto me ensaboava de recordei que não havia combinado o horário com Lívia.- Merda! - abri o box e tateei a pia em busca do meu celular disquei o número e coloquei no viva voz, ela atendeu ao terceiro toque - Lívia? É o Harvey. - informei um pouco alto demais- Eu sei. Reconhe
LíviaSe me dissessem meses atrás onde eu estaria agora eu daria uma boa gargalhada. Nunca imaginei que esse tipo de coisa era para mim. O mais próximo de relacionamento que já tive foi com Erick. E nem poderia classificar assim. E honestamente eu não me importava. Não estava disposta a toda a burocracia de me comprometer sem a menor certeza de que receberia algo em troca. O único exemplo de relação que tive foi o de Mônica e Walter e eu não classificaria aquilo como meta.Além disso vi Sabrina sofrer por dois anos em uma relação abusiva e quase morrer por isso. E embora ela ainda acredite firmemente em viver seu conto de fadas eu não botava muita fé nisso. Não que eu fosse descente no amor ou algo do tipo. Apenas me convenci que para algumas pessoas ele simplesmente não viria. E me julgava uma dessas sorteadas.<