Valentim estava prestes a correr para chamar o médico da família, mas eu o detive.

— Às vezes, tontura vem com enjoo. Talvez seja porque eu não tomei café da manhã. Não se preocupe.

Ele relaxou um pouco, e com carinho, me colocou de volta na cama, cobrindo-me cuidadosamente com o cobertor.

Enquanto ele fazia isso, sua expressão séria tornava difícil para mim associar aquelas ações cruéis a ele.

Se eu não tivesse ouvido suas palavras, seria impossível acreditar na sua capacidade de atuar tão bem.

Fingi estar dormindo e ouvi quando ele ligou do banheiro.

— Noemia, fique tranquila. Vou te dar tudo que você quiser, não importa o que custe.

Quando Valentim saiu do banheiro e me viu de olhos abertos, ele hesitou por um momento antes de abrir um sorriso.

— Aconteceu algo na empresa. Descanse bem, eu preciso ir.

Assenti com a cabeça, mas assim que ele saiu, me vesti rapidamente e fui ao hospital.

A espera foi interminável, e eu temia ter interpretado tudo errado.

Também tinha medo de que, por ter tomado pílulas anticoncepcionais, o bebê não fosse saudável.

No instante em que recebi o resultado, as lágrimas começaram a escorrer sem controle.

Eu estava realmente grávida!

Minhas mãos tremiam de emoção enquanto mostrava o relatório ao médico, mencionando o uso recente de anticoncepcionais.

O médico disse que ainda era cedo para determinar a saúde do bebê.

Mas, já que estava grávida, era um presente dos céus, e eu faria de tudo para proteger meu filho de qualquer dano.

À noite, enquanto Valentim tomava banho, eu abri seu computador.

Tentei a senha várias vezes sem sucesso, até que digitei a data de nascimento de Noemia e consegui.

Na área de trabalho, havia uma pasta criptografada. Usei novamente a data de nascimento de Noemia para abri-la, e dentro estavam apenas fotos dela.

Cada foto que eu via, meu coração doía um pouco mais.

Cresci junto com Valentim e Henrique, eles eram como meus cavaleiros, sempre me protegendo.

Até que, aos 15 anos, Noemia transferiu-se para nossa escola e nos tornamos amigas.

Nosso trio de caminhada para a escola e de volta se transformou em um quarteto, mas aos poucos, virou um trio rápidamente onde eu não conseguia acompanhar.

Descobri que não era que eu não conseguia acompanhar, mas que meu príncipe e cavaleiro tinham encontrado alguém que eles gostavam.

Nas fotos, Noemia sorria, dormia sobre a mesa, até mesmo uma imagem de suas costas era um tesouro para Valentim.

Peguei o celular de Valentim, e tudo relacionado a senhas era a data de nascimento de Noemia.

O histórico de transferências e despesas era complicado, mas havia dois pagamentos fixos mensais.

Um era para Noemia, vinte mil dólares por mês, e o outro era menor, mas sempre pago no final do mês.

Anotei as contas e tirei fotos das fotos e registros de transferências com meu celular.

Tentei transferir para aquela conta, e apareceu o nome de uma mulher que eu não conhecia.

Apaguei a foto do nosso casamento que estava como papel de parede do celular.

Aquela noite, fiquei acordada até o amanhecer.

De manhã, fui ao banheiro lavar o rosto quando o alarme do celular tocou, e Valentim o desligou casualmente.

— Alice, por que você trocou o papel de parede do celular?

Olhei para ele com indiferença.

— Você sempre disse que a felicidade é algo que sabemos internamente e nunca tira fotos comigo, então resolvi mudar.

Ele coçou o nariz sem jeito.

— Ai, o amor é algo que sentimos por dentro, não precisamos mostrar.

Um sorriso irônico surgiu nos meus lábios.

— Mas se você não diz, como as pessoas saberão quem você ama?

Minha atitude o deixou surpreso, mas ele não conseguiu identificar o que estava errado.

— Amor, por que você está falando de maneira tão estranha hoje?

Sorri, e disse: — Nada demais. Vá para a empresa, você tem uma reunião importante hoje, não se atrase.

Ele não deu muita importância, preparou meu café da manhã como sempre, e antes de sair, deixou um beijo na minha testa.

— Estou indo. Se sentir saudades, me ligue.

Assenti, sem desmascarar sua farsa.