Capítulo 32A chama das velas tremulava conforme Helena virava mais uma página amarelada pelo tempo. O cheiro de mofo e tinta desbotada enchia o ar pesado da biblioteca do templo. Seu olhar varria as palavras com desespero crescente, mas por mais que tentasse encontrar alguma pista, algum feitiço, algum conhecimento antigo que a ajudasse a livrar Erik daquela escuridão, tudo o que lia eram fragmentos desconexos sobre maldições e sacrifícios esquecidos.Ela passou as mãos pelos cabelos, frustrada, e empurrou o livro para longe.— Precisa haver alguma coisa… — murmurou, sentindo a irritação crescer em sua voz.Seu peito subia e descia rapidamente, a ansiedade a consumindo. O tempo estava se esgotando. Erik não era mais o mesmo. Desde que chegaram ao templo, algo dentro dele estava mudando. No início, eram apenas momentos de distração, olhares perdidos no vazio, pequenos lapsos de temperamento. Mas agora, a influência da magia obscura que permeava aquele lugar estava se intensificando, a
Capítulo 33A noite se estendia sobre a floresta como um manto sufocante, e Erik sentia cada fibra de seu corpo pulsar com uma energia avassaladora. Seu coração martelava contra o peito enquanto ele caminhava para longe do templo, os pés afundando na terra úmida. A brisa fria da noite deveria tê-lo acalmado, mas tudo que ele sentia era fúria.Ele olhou para a mão direita, onde o anel de Reagor cintilava sob a luz fraca da lua. Aquele pequeno pedaço de prata era mais do que um ornamento, mais do que um símbolo da linhagem amaldiçoada à qual agora sabia pertencer. Era uma corrente invisível, um elo que o prendia a algo que não conseguia controlar.Seus dedos se fecharam ao redor do anel, e ele tentou puxá-lo.Nada.Seus dentes rangeram enquanto ele forçava mais, girando o anel, tentando empurrá-lo para fora de seu dedo. Mas ele não se movia.O pânico começou a subir por sua garganta, sufocando sua razão.— Saia… — sibilou entre os dentes, a respiração acelerada.Ele puxou com mais força
Capítulo 34O silêncio do templo era cortado apenas pelo crepitar do fogo da lareira e pela respiração irregular de Erik. Ele havia separado uma bacia com água morna e um pano limpo, os dedos trêmulos enquanto torcia o tecido e o passava delicadamente sobre o ferimento de Helena.Cada gota de sangue que removia era uma lembrança brutal do que havia feito.Ela estava desacordada, a febre ainda tingindo suas bochechas de um tom rosado. Seu corpo frágil se mexia levemente, o rosto sereno, como se a dor não a atingisse. Mas Erik sabia que era culpa dele. Ele sentia o peso disso em cada batida de seu coração.Seu olhar se fixou na mordida profunda em seu braço. O corte irregular, os hematomas em torno da pele ferida... A marca dele. A marca de sua maldição.Seus dentes rangeram enquanto torcia o pano com força, jogando-o de volta na água ensanguentada."Eu não posso protegê-la."A verdade o atingia como um golpe certeiro. Ele não confiava mais em si mesmo. Como poderia continuar ao lado de
Capítulo 35 A lareira crepitava suavemente no canto do aposento, o calor das chamas contrastava com o frio cortante da noite lá fora, envolvendo o ambiente em um refúgio íntimo. Mas dentro de Erik, não havia refúgio. Apenas o fogo incontrolável que ardia em suas veias.Ele beijava Helena com uma mistura de devoção e urgência, seus lábios buscando algo que apenas ela poderia lhe dar. Algo que ia além do desejo, algo que talvez pudesse redimi-lo."Toque-a. Domine-a. Faça-a entender a quem pertence."A voz do lobo reverberou em sua mente, profunda e selvagem, uma ameaça que ele precisava conter."Ela já escolheu ficar, então marque-a. Rasgue essa pele macia e faça com que todos saibam que é sua. Ela é sua."As palavras da fera eram como garras em sua sanidade. Erik cerrou os punhos, as mãos tremendo enquanto desabotoava a própria camisa e a jogava para longe. Seu torso nu se contraiu quando sentiu o olhar de Helena sobre ele.— Helena… Tem certeza que quer isso? — Sua voz saiu rouca, ca
Capítulo 36A manhã chegou com uma brisa fria, mas, dentro do templo, o calor do corpo de Erik ao lado de Helena a mantinha aquecida. Seus olhos se abriram devagar, e o primeiro pensamento que teve foi que precisava tirá-lo dali. A floresta proibida estava sugando Erik para uma escuridão cada vez mais profunda, e o anel em seu dedo era um lembrete constante de que ele não podia fugir do que era. Mas talvez, se deixassem aquele lugar para trás, pudessem encontrar algo além da maldição, além da maldição que Raegor deixou sobre ele.Quando Erik acordou, encontrou o olhar dela fixo nele. A culpa ainda estava ali, pesando sobre seus ombros, mas, por um momento, ele apenas ficou em silêncio, apreciando a forma como Helena estava perto, como se sua simples presença pudesse manter seus demônios afastados.— Já acordada? — sua voz saiu rouca pelo sono, e Helena sorriu levemente.— Já faz um tempo.O olhar dele deslizou até o braço dela, onde um curativo cobria as marcas de sua mordida. Ele sen
Capítulo 37A tensão no acampamento era palpável. Mesmo após a batalha, mesmo depois de Helena e Erik terem ajudado os metamorfos contra os caçadores, o peso do anel em seu dedo e o nome que ele carregava ainda pairavam sobre eles como uma sombra. Erik podia sentir os olhares desconfiados, as conversas sussurradas quando ele passava. Eles o temiam.E tinham razão.Depois do que aconteceu na clareira, da forma como ele quase não conseguiu parar de matar, Erik sabia que havia algo dentro dele esperando por uma oportunidade para tomar o controle novamente.O grupo de metamorfos os levou para um refúgio mais seguro dentro da floresta. Um vilarejo escondido entre colinas e árvores antigas, protegido por barreiras naturais e magia, longe da vista dos caçadores e do Conselho. Mas a recepção ali não foi calorosa.Ao redor das fogueiras, os metamorfos observavam Erik de longe, como se ele fosse uma fera à espreita. Ele podia sentir o cheiro do medo em alguns, o desejo de atacá-lo em outros. Ap
Capítulo 38A noite avançava, e a tensão no vilarejo permanecia densa. Ao redor da fogueira central, os três líderes dos metamorfos rebeldes, Darian, Kael e Seraphine observavam Erik e Helena com olhares carregados de desconfiança e expectativa. O círculo de metamorfos ao redor deles era silencioso, atento, aguardando o veredito que definiria o futuro daquela aliança.Darian foi o primeiro a falar, sua voz grave cortando o silêncio:— Falamos entre nós e decidimos que, se quiserem a nossa confiança, terão que provar que são dignos dela.Erik cruzou os braços, seus olhos se estreitando.— E como exatamente fariam isso?Kael se inclinou para frente, apoiando os antebraços nos joelhos. Seu olhar era pesado, avaliador.— Você carrega o sangue da linhagem de Raegor. Isso não pode ser ignorado.O nome foi dito com um peso especial, carregado de histórias não contadas. Erik sentiu Helena se enrijecer ao seu lado, mas não desviou o olhar.— O que vocês sabem sobre Raegor?Seraphine sorriu, ma
Capítulo 39 O círculo de pedras formava uma arena natural no coração do vilarejo, onde apenas os mais fortes provavam seu valor. A terra dura carregava o cheiro de sangue seco, suor e fúria, ecos de incontáveis desafios que haviam sido travados ali. O ar era denso, carregado de expectativa.Erik estava no centro, os músculos retesados, cada fibra de seu corpo preparada para o combate. O lobo dentro dele rosnava, ávido pela luta, pela chance de provar sua supremacia. Mas Erik sabia que essa batalha não era apenas física, era também contra a maldição que corria em suas veias, contra a sombra de Raegor que sussurrava em sua mente, instigando-o a perder o controle.Do outro lado da arena, seu oponente avançava.O metamorfo era enorme, com cicatrizes cruzando seu peito nu e olhos selvagens que brilhavam sob a luz do sol que começava a nascer. Ele era um dos guerreiros mais respeitados entre os rebeldes, e o desafio não era apenas um teste. Era uma sentença."Se você cair, ela será tirada