CAPÍTULO SEIS

Às 18 horas, ela esperava na antessala o chamado de sua mãe. Sentada ereta, com o queixo para cima em sinal de provocação, ela ouvia não a voz de dois homens, que seria seu pai e seu futuro marido, mas lhe pareceu à voz de mais de dois homens.

Sua mãe estava também com eles, mas não se ouvia sua voz, apenas um sorriso baixo e discreto ao fundo, em alguns momentos.

Ela foi então chamada pela mãe pouco antes das 19 horas. Sua mãe foi até ela e lhe ajudou com a bandeja que serviria as pessoas que estavam na sala. Café, rosquinhas, queijo e vinho.

A moça entrou devagar na sala, como mandava a  etiqueta e com os olhos baixados.

As vozes se silenciaram enquanto mãe e filha colocavam a bandeja sobre a mesa. O pai de Rúbyl fez uma breve apresentação da filha à todos:

− Essa é minha filha, Rúbyl!.  -Simples assim, não disse à ela o nome dos rapazes que ali se encontravam. Rúbyl após deixar a bandeja na mesa, fez uma mesura  abaixando- se levemente a cada um, segurando a saia.

Tudo foi muito rápido, pois era o que mandava a etiqueta; agora sua mãe serviria os hóspedes e a moça já podia voltar. Mas nesses breves segundos que duraram, apenas um dos rapazes, chamou sua atenção.

Eram três que ali estavam como ela presumira, acompanhados de seu pai.  Ficaram de pé assim que ela adentrou a sala, em sinal de respeito, mas logo se sentaram. Estavam todos de terno. O que estava no canto, usava um terno cáqui, calça combinando e segurava o chapéu na mão. Parecia ter 15 anos e era alto, cabelos castanhos e olhos claros.

Ao seu lado havia um rapaz também jovem, mas aparentava ser um pouco mais velho. Usava um terno claro, gravata vermelha, segurava também o chapéu, seus olhos eram mais para o azul e parecia tímido, pois ao sentir o olhar de Rúbyl, logo baixou a cabeça. O que estava perto de seu pai, parecia bem mais velho que os outros dois, mais alto também. Usava terno preto e gravata branca, seu olhar era do mais profundo verde que Rúbyl já tinha visto, os cabelos eram loiros, anormalmente grandes para a época, que moços mantinham cabelos curtos e barbas feita, no máximo um bigode. Mas ele não parecia se importar com aquilo. Foram poucos os segundos que seus olhos se cruzaram, mas o suficiente para que a moça sentisse suas faces corarem. Ele pareceu perceber isso, e deu um sorriso enviesado, como se soubesse ter sido ele o causador das faces subitamente avermelhadas da moça. Foi tão rápido que ao regressar da sala, a moça sentiu suas pernas fraquejarem. Sentiu também o olhar dele em suas costas como duas adagas.

− Mamãe, me diga logo qual deles é?! - Já inquiriu a filha aflita, quando estavam sozinhas.

− Calma filha, olhe os modos! - Falou a mãe, encabulada.

−Tudo bem, mas me diga, papai está me oferecendo a três homens, e qual se agrade mais de mim, me leva, é isso?  Por favor, mamãe, me diga ou enlouquecerei!

− Filha, eu já lhe disse que confie em seu pai, não disse? - A um chacoalhar de cabeça da pobre garota, a mãe que muito bem a conhecia, disse que iria tentar descobrir com seu pai sobre os rapazes e quem de fato era seu pretendente a marido.

Rúbyl foi se deitar aquela noite sem conseguir deixar de pensar no tal rapaz com ar de rebelde. Seus olhos a seguiram de uma forma magnética; é verdade que tinha sido muito rápido, mas o suficiente para deixar a imagem indelével em sua retina pelo resto da noite.

Ele pareceu ser mais velho que os outros dois, pensava a garota enquanto sua aia a ajudava a se arrumar para dormir, alheia a tudo. E ao se deitar, pensou:

− Já que tenho mesmo que ser desposada, poderia muito bem ser pelo mais velho. - E um rubor subiu-lhe pelo pescoço ao ter certos pensamentos. Ela jamais poderia questionar uma decisão tomada pelo seu pai, mas sequer se lembrava dos outros dois rapazes, mas lembrava com malditos detalhes as feições rebeldes do mais alto, que usava barba e cabelos maiores que o tradicional. E não deixou de perceber que também usava preto.

Seu sono foi conturbado e ela se sentiu envergonhada ao acordar de manhã ainda com esse assunto na cabeça. Pulou da cama e nem esperou sua aia que lhe auxiliava a se vestir, como toda manhã. Foi atrás da mãe, impaciente querendo saber se essa já havia descoberto algo com seu pai.

− Rúbyl, que desagradável filha, eu lhe disse que assim que possível eu lhe diria, e não, seu pai não quis falar sobre os negócios dele.

− Negócios, mamãe?! - Questionou a filha exasperada . − É isso que sou para vocês? Um negócio?

Sua mãe agarrou-lhe pelos braços e a puxou para fora da casa para que o pai não as escutasse.

− Baixe sua voz e controle-se, ouviu? - Exigiu a mãe. − Você acha que meu casamento também não foi arranjado pelo meu pai?  É negócios sim, minha filha. O que sei, é que daremos o seu dote ao escolhido, que lhe será um marido tão bom quanto o seu pai tem sido para mim até hoje.  Conheci seu pai apenas no dia do meu casamento e fui afortunada. Confio que seu pai fará o mesmo por você. Vamos essa semana comprar o restante do seu enxoval e não quero mais ouvir você falar sobre isso, fui clara? - Exigiu a mãe antes de soltar o braço da filha.

Realmente faltavam poucas coisas para o enxoval de Rúbyl, que já o preparavam desde os sete anos.

Mas ela não se animou, por mais que sua mãe e aia a tentasse levantar seus ânimos. Era como se ela estivesse indo para o cadafalso. Seguia as duas, mas não dava palpites, às vezes chacoalhava a cabeça apenas confirmando se havia gostado de tal cortina ou brocado de enfeites.

Mas sua mente não deixou de pensar naquele rapaz alto que aprisionara seu olhar por poucos segundos, mas o suficiente para serem lembrados todos os dias e noites turbulentas.

O casamento estava marcado para a primavera, faltavam menos de três meses, e ela já fazia a prova do vestido. Tudo isso sem animação alguma. Com mais tristeza ainda, descobriu que seu futuro marido tinha uma propriedade fora da cidade e não morariam próximos de seus pais. Isso só a fazia chorar ainda mais. Não sabia com quem se casaria, e iria para longe dos seus pais. Sua mãe tentava de tudo para animá-la, mas ela não conseguia sair daquela letargia automática na qual se afundara.

Siro não queria interromper o avô, na verdade estava gostando da história, mas queria realmente saber sobre Sanvay.

O avô percebeu isso e sorriu - Já chegarei lá, Sí - Acalmou o neto - Mas antes, desça e traga uma cerveja pra esse velho molhar a garganta. Traga algo pra você também.

 Desceu e  trouxe uma cerveja para o avô, um suco para ele e salgados de pacotes para degustarem. Notou que seu avô havia aberto a janela e olhava para a noite, absorto nos pensamentos do passado, com certeza.

Ele abriu a cerveja e continuou a narração, olhando ainda para a janela:

- O grande dia chegou. O casamento de Rúbyl seria realizado na fazenda mesmo, onde moravam, e tudo estava lindo. A primavera era a época que ela mais apreciava do ano. Toldos foram montados, convidados já chegavam e a oficialização seria embaixo do pé do Ypê roxo que estava carregado com suas flores, que exalavam em  todo o local. Um padre local e amigo da família mesmo que iria oficializar a união, o mesmo padre que batizara Rúbyl quando bebê.

“Seu vestido era majestoso, de cauda longa, decote em V, e todo bordado com pérolas até as mangas de três quartos, a luva na mesma cor branca do véu, escondia o tremor da moça, seu véu tinha mais de 2 metros, e a guirlanda se encaixava em seus cachos numa maestria completa. Ela tinha um véu que lhe cobria o rosto, e quando foi conduzida pelo tapete comprido ao encontro do seu noivo, não pôde deixar de reparar que todos ficaram abismados com sua beleza. Não se via muito bem com o véu a lhe cobrir a face, mas os sussurros de "nossa, como estás bela", não lhe passou despercebido. Ela ouvia o choro de sua mãe e pensava se seria de alegria ou tristeza.”

“Ela já havia completado 16 anos no último mês e a puberdade lhe fora favorável.”

“Ela caminhava de braçops dados ao pai, pelo que lhe pareceu quilômetros até chegar ao seu noivo e ser entregue à ele por seu pai.”

“ Ainda estava  de cabeça baixa ao receber um beijo do pai na testa ao ser entregue á seu noivo. Este lhe levantou o véu devagar e ela levantou lentamente a cabeça para aquele que seria seu dono, que seria seu marido enquanto um dos dois estivesse vivo. E ali estava... Ele!”

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