CAPÍTULO 1

MARCO POLO

Havia quatro ano que eu havia entrado na advocacia, eu havia tido uma sorte grande de meu pai me querer por essas partes, porque o medo dele o motiva a me manter longe ou fora do seu campo de visão ou convívio, como se eu fosse uma sombra obscura da família Keller, embora ele gostasse de se gabar com outros sobre o extraordinário filho dele e seus casos de destaque como um advogado ou com alguma mulher bonita. Eu sempre tinha alguém do meu lado por necessidade e meus casos sempre tinha minha total dedicação.

Meu pai não lidou bem com a minha percepção sexual aplicada, nunca, me chamando de maluco muitas das vezes ou até mesmo se perguntou onde foi que ele errou, talvez foi ter comido minha mãe ou ela ter conhecido ele, bem, mas com o tempo cada um foi para seu canto sem perturbar ninguém, hoje nosso assunto comum e os meus casos vinculados com a advocacia. Almoço de domingo? Esquece!

Isso não me torna ruim. Gosto de pensar que sou diferente dos outros, mas só as vezes, eu poderia ser o vilão, mas eu sou tipo um herói sem capa e sem cueca, isso para algumas pessoas que já estiveram ao meu lado, mantenho meu segredo e o que eu gosto em uma caixa de ferro, circulada com o mais pesado metal também, tudo dentro de mim, meu e de mais ninguém. 

Fiz um código, que me deixa disposto a três pontos.

Primeiro, não deixar o distúrbio sexual falar mais alto que a razão do mundo ou as leis dele.

Segundo, saber quem ou o que a mulher pode aguentar e está disposta a fazer por mim e por ela mesma, porque como eu disse, eu sou um herói sem capa e cueca. Tentando não desmaiar ninguém em uma cama pelo limite do que podemos fazer.

Terceiro, bem, ter discrição.

Com o tempo eu passei a ter esse código,  que me controla a não jogar essa coisa no ventilador e deixa voar coisa para todos os lados e atinja quem não pode e nem deve ser atingido, como meu pai, que as vezes eu acho que ele preferia ter um filho gay a um filho como eu, nada contra os gay, mas são menos complicados que eu.

Relação pai e filho não é bem o que eu chamo, mas nos convivemos bem entre a gente, eu no meu apartamento e ele na casa dele, eu longe e ele também, eu na minha sala e ele na dele, ditando as regras do escritório e o que eu devo ou não pegar para solucionar.

Como agora.

Eu longe e ele também.

Eu estou dentro de um carro, parado em um estacionamento de um bar.

Meu dia foi ruim.

Caso ruim.

Estou ansioso.

Ansiedade e compulsão.

Lá vamos nós!

Aqui é quase um ótimo lugar pra começar tudo isso.

Eu estou sem muita cabeça agora, porque estou em pré-crise, depois de tomar um calmante e um analgésico.

A necessidade de sexo ou fazer algo e quase visível já, mas nos últimos tempos eu tenho tido que ter todo meu controle diante o escritório e diante minha própria vida pessoal, sem ter que chamar a secretária para abrir suas pernas ou se ajoelhar para me chupar.

Eu não posso me envolver com alguém que está perto e que possa me fazer quebrar a segunda regra do meu código.

Eu não quebro regras, quebrar a primeira significa quebrar a segunda e sucessivamente assim.

Eu respiro fundo, tentando acalmar minha mente, ela é a primeira que grita.

Ela começa calma e logo barulhenta, depois ela grita comigo e ela joga tudo sobre mim, como uma onda sem fim.

Está acontecendo de novo.

Vai continuar acontecendo isso, de uma forma descomunal, dentro de mim e fora de mim.

Estava com dois dias de limpeza, sem nada, sem ninguém em mente ou alguém que pudesse me ajudar com isso. Era só eu, era só o que eu poderia me dar, me fazer ou me tocar, sozinho, sem ninguém ou sem nada por perto, até a vontade passar.

Saio do carro calmo, somente com uma calça social e a camisa branca sem gravata, minha cabeça, literalmente, sacode todo meu corpo.

Sacode de uma forma que eu já conheço.

Essa a compulsão, terrível e chata.

A primeira coisa que eu posso fazer e faço e me sentar de frente para o balcão e pedir um absinto, era o mais forte depois da tequila e o melhor para apagar vestígios do que eu queria naquele momento, eu bebi a primeira dose e fui direto para a segunda.

– Vai com calma – A voz fina me fez olha para cima e ver um rosto, eu fiquei em dúvida se ignorava ou falava algo, eu ignorei, mas segui a mulher que variava entre um cliente do balcão e outro, era nova aqui, eu sabia disso. Eu olhei para ela, era alta e tinha um cabelo castanho solto e que caia pelo ombro, suspirei fundo, mantendo o olhar fixo nela e sentindo a minha respiração ficar mais pesada, puxei a outra dose e virei, olhei para a menina, ela tinha um corpo bom, era sempre assim, garotas bonitas que fazem a gente beber sempre mais e aumentar a comissão delas.

Eu sinto a excitação de apenas notar como ela é, como ela tem uma bunda pequena e arredondada, como tem dois seios chamativos e escondidos de mim por uma blusa sem decote. 

Ela vem de novo na minha direção e eu fico imóvel, me levanto da banqueta, sinto minhas mãos inquietas e minha cabeça voando, sinto uma imensa vontade de ter um orgasmo, ali, naquele momento, coisa rápida. Compulsivamente.

Eu sigo para fora do lugar, para a garagem, ali eu paro e sinto os olhos arder e começo a passar as mãos nos olhos e nos cabelos, puxando, tendo a visão embaçada por uma compulsão.

Está acontecendo de novo.

Inferno.

– Ei, está tudo bem? – Eu paro, me viro e encaro a mulher do bar, com um par de olhos castanhos em mim, olhos brilhantes. – Você está bem? – Perguntou de novo e senti minhas mãos tremendo por causa da assiedade.

– Sim – Ela se aproximou e  puxa minhas duas mãos, minha respiração ficou rápida e acelerada, era uma crise de ansiedade, uma crise nervosa por falta do que eu queria e o que me dominava e me fazia tudo isso se eu não aceitava, ela apertou minha mão. – O que significa isso?

Era estranho, ela apertou minha mão, eu não queria aquilo, mas ela não deixou que eu soltasse a mão dela.

– Olha para mim, você está tendo uma crise – Eu paralisei, como ela sabia? – Olhe para mim, olhe para mim e segure minhas mãos – Não houve nem um vacilo na voz dela, nada. – Conte comigo – Ela fez uma pausa. – Um – Eu não falei nada. – Vamos homem, fale comigo, repita e tenta respirar, um.

– Um – Tentei, quase tendo uma risada nervosa da cena da boa alma caridosa.

– Dois.

– Dois – Eu consegui olhar para os olhos dela sem desgrudar, certo eu devia dar o pé. Isso geralmente não me acontece.

– Três – Ela apertou minhas mãos ainda mais.

– Três – Eu olhei para a boca dela, uma boca rosada.e tão calma no que falava.

– Quatro.

– Quatro – Eu senti o gosto amargo e passei a ter uma respiração mais funda e um relaxamento.

– Cinco.

– Cinco – Eu suspirei e sussurrei.

– Agora quero que puxe o ar e solte – Foi o que fiz, sentindo um pouco de paz dentro de mim e na minha cabeça. – Pronto, pronto – Ela soltou a minha mão, sem nada forçado, então eu pude entender o que ela havia feito e eu fiquei perplexo.

– Como... – Então um homem grande e careca saiu pela porta e do nada puxou o braço dela, de uma forma tosca e que quase a fez cair.

Eu não gostei.

– Ei – Ela tentou argumentar.

– Seu lugar de trabalho e lá dentro, não aqui de fora – Eu olhei com cautela, vi a mão dela voar e acertar o rosto do homem que soltou o braço dela, que ergueu a mão de volta.

Dessa vez eu a puxei para mim, me coloquei na frente dela e olhei sem medo para o homem, eu não tinha medo de tamanho.

Eu odiava homens que provocam algo em uma mulher, era detestável. 

– Coloca seu dedo nela e eu quebro ele, na verdade tiro também – Eu era ruim de sentir algumas coisas, então eu era considerado um maldito frio do caramba. – Quer tentar, quer provar a sua sorte, te fodo bonitinho.

–Te contratar foi um erro – A voz dele foi grave.

– Não, aceitar foi um erro! – Disparou a garota, que recebeu um olhar pesado e viu o homem careca sumir por entre a porta do lugar. – Caramba!

– Você está bem ?– Nesse momento uma garota saiu com uma bolsa e jogou para a mulher, que pegou e soltou um suspiro agradecido.

– Caramba, perdi o emprego, que bom – Ela suspirou e eu olhei para ela, envergonhado por ter parte naquilo.

- Aceita uma carona pra casa? - Foi a única coisa que consegui dizer e depois o silêncio entre a garoto e eu. 


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