Os olhos dele endurecem por um instante, mas ele não responde. Porque sabe que não há resposta possível.Faço um gesto com a mão, descartando-o como um pedaço de papel inútil. “Agora saia.”Ele hesita. Abre a boca como se fosse dizer algo, mas eu não estou interessado.“Eu…”“Saia.” Minha voz se torna um comando frio, inegociável, enquanto aponto para a porta.Ele não discute. Apenas se vira e caminha para fora, fechando a porta atrás de si. O silêncio retorna, mas desta vez, carrega um peso maior.Alcanço o telefone sobre minha mesa, os dedos deslizando com precisão sobre os botões enquanto disco um número já gravado em minha memória. O som do toque ecoa pelo escritório silencioso. Uma. Duas vezes. Então, a ligação é atendida.“Não foi Alex.” Minha voz sai firme, sem espaço para dúvidas. “Não foi ele quem contou para Ethan.”Do outro lado da linha, uma pausa breve, calculada. Então, a resposta vem, envolta em um tom sedoso e afiado como uma lâmina. “Quem foi então?” A voz feminina
POV BLAIR - DUAS SEMANAS DEPOISMeus dedos deslizam suavemente pelo colar que repousa em meu pescoço, sentindo o frio do pequeno pingente contra minha pele. Um presente singelo, mas carregado de significado. Miguel e seu tio Drake escolheram-no juntos, um gesto que aquece meu coração sempre que penso nisso. Drake garantiu que a ideia partiu de Miguel, o que torna tudo ainda mais especial. Um carro em miniatura, delicadamente esculpido em prata, brilhando discretamente sob a luz. Ele me lembra meu filho, fascinado por Fórmula 1 desde pequeno, e meu marido, cujo amor pela velocidade transformou-se em profissão.Respiro fundo antes de descer do carro, ainda presa entre dois mundos: a rotina que me espera dentro daquele prédio e os últimos dias ao lado de Ethan e Miguel, que ainda ecoam em minha mente como uma lembrança viva. As risadas despreocupadas, os momentos roubados entre os afazeres, as noites em que colocamos Miguel para dormir juntos… e o silêncio confortável que vinha depois
Sua voz é baixa, mas carrega um peso ameaçador, como se cada sílaba fosse cuidadosamente escolhida para me manter no lugar, presa por um fio invisível de terror.Engulo em seco, minha boca repentinamente seca. Tento dar um passo para trás, mas meus pés parecem grudados ao chão.— Q-Quem… quem é você? E o que está fazendo aqui? — minha voz sai trêmula, uma sombra do tom firme que deveria ter.Ele sorri. Um sorriso lento, arrastado, sem um pingo de simpatia. Apenas algo cruel e consciente do medo que causa.— Oh, quem sou eu? Vamos, querida. Você é mais inteligente que isso.Ele abaixa os pés da mesa, o som de seus sapatos tocando o chão ecoa no silêncio da sala, e então ele se endireita. Sua postura muda… antes relaxado, agora alerta. Como um caçador prestes a se mover.O ar parece ficar mais pesado.Meus instintos gritam para que eu corra.Mas para onde?— Eu nunca o vi antes.Minhas palavras soam quase irreais, como se eu estivesse tentando negar a verdade que me atinge com força. Me
— Brecha? — sussurro, um nó se formando na garganta. Ele não pode estar falando sobre o que eu acho que está falando.Ele se aproxima, a calma dele assustadora diante da minha crescente agitação.— A confiança. — Ele faz uma pausa, como se saboreasse o momento. — Vocês não desconfiam das pessoas que gostam. E isso é uma fraqueza. Então, você quer saber como entrei aqui, como sei tudo sobre todas as pessoas ao seu redor, como consegui atingir meu alvo. Como, Blair, eu teria acesso a você tão facilmente? A resposta é mais simples do que você imagina.Ele faz uma pausa dramática.— Gregory Marsh.O impacto das palavras dele é tão devastador que sinto as pernas tremerem. Meu assistente... — Você está mentindo! — Me viro para ele com toda a convicção que consigo reunir. A minha voz sai em um grito abafado, mas determinado. — Ele não é como você!Volkov apenas sorri, um sorriso grotesco, de alguém que conhece uma verdade que você não pode compreender.— Então tente abrir a porta. — Ele diz
Caminho pelo estacionamento do prédio sentindo-me um cãozinho acuado, de pelos eriçados e olhar inquieto. O silêncio opressor do subsolo se mistura com o eco de nossos passos, cada um deles parecendo um prego selando meu destino. Gregory e Volkov caminham logo atrás de mim, sombras ameaçadoras que pairam sobre minha nuca. Meu corpo avança por pura inércia, mas minha alma já se dissipou, deixando apenas um invólucro vazio para enfrentar o inevitável.Então, a vejo.A única figura feminina em meio à escuridão do estacionamento. A mulher que sempre foi uma ameaça silenciosa e que agora se materializa como um pesadelo prestes a se concretizar. O brilho carmesim dos lábios é suficiente para que meu estômago se revire em reconhecimento."Mariah..." O nome escapa de meus lábios em um sussurro incrédulo, impregnado de choque e repulsa.Sempre soube que ela queria me destruir. Sempre soube que sua presença era um presságio de infortúnio. Mas jamais imaginei que ela desceria tão baixo. Jamais
Volkov dirige por uma rodovia deserta, uma linha de asfalto esmaecida serpenteando entre pinheiros que se erguem como sentinelas frias. O inverno já mostra seus dentes: as árvores estão parcialmente cobertas por neve, e o chão, engolido por folhas mortas e congeladas, estala sob o peso do vento cortante. O céu, uma extensão densa de nuvens carregadas, pesa sobre nós, sugando qualquer vestígio de luz enquanto o fim da tarde se arrasta para a escuridão total.Os faróis do carro rasgam a neblina rala que se arrasta pela estrada como uma presença silenciosa e insidiosa. A luz hesitante ilumina apenas alguns metros à frente antes de ser devorada pelo breu. O ronco do motor preenche o silêncio sepulcral, interrompido apenas pelo ocasional sussurro do vento e pelo rangido seco das árvores balançando sob sua fúria.Meu Deus…Volkov mantém as mãos firmes no volante, os nós dos dedos pálidos contra o couro negro. Há um propósito em seu olhar, algo afiado e calculista, como se já tivesse plane
Um músculo salta em sua mandíbula quando ele murmura algo, ou talvez tenha apenas movido os lábios, um fantasma de ameaça.Eu tento me concentrar na respiração, mas o pânico sobe pela minha garganta como um gosto metálico.Então Volkov fala novamente, e sua voz é um veneno lento: "Eu sei exatamente onde Banks e seu filho estão. Espero que se lembre disso, Blair."O peso de suas palavras me atinge com força.Meu peito aperta. Meu coração martela contra minhas costelas, uma batida irregular e frenética. O carro continua a avançar, cada solavanco na estrada sacudindo meu corpo, mas nada é mais violento do que o medo que começa a se instalar em mim.Eu engulo em seco e sussurro: "Me matar para validar sua honra não te faz melhor que o Ethan."É um erro.Um erro que percebo no instante seguinte.O olhar que ele me lança pelo espelho é um buraco negro de fúria contida, um abismo que ameaça me consumir por inteiro. Se um olhar pudesse matar, eu estaria caída no chão neste exato momento, sem
O puxão é violento. Meu ombro quase se desloca com a força do impacto, e um grito escapa da minha garganta."Você é uma vadia!" O berro de Volkov ressoa como um trovão, e eu cambaleio, tropeçando nos próprios pés para me afastar. Meu corpo ainda lateja do puxão, mas minha mente só pensa em uma coisa: correr. Eu poderia tentar. Poderia arriscar. Mas não sou mais rápida do que uma bala.A mão dele avança de novo, tentando agarrar meu braço, mas desta vez consigo me esquivar. Meu corpo reage antes da minha mente, o instinto de sobrevivência gritando dentro de mim.Volkov sorri.Lento. Largo. O tipo de sorriso que gela o sangue."Não será rápida a sua morte." Ele diz, e a voz dele agora é mais baixa, mais íntima, cheia de um deleite sádico. "Eu quero saborear isso."Minha respiração sai entrecortada.Mariah ainda está caída no chão, imóvel, mas sua expressão diz tudo. Ódio. Puro, intenso, sem reservas. Ela não olha para mim… ela só enxerga Volkov, como se estivesse queimando ele com os o