Vilka não falou nada, continuou dirigindo, sabia que se não se afastasse dali rápido iria voltar e matar o irmão. Sentiu o desespero tomar conta dele, mas segurou firme.
Viajaram em silêncio absoluto por duas horas, Antônia ainda não havia digerido tudo o que fizera, matou um homem, tirou a vida de alguém. E isso, apesar de o homenzinho não fazer falta no mundo, era terrível de diversas formas. Vilka viu um hotel e parou o carro, não conseguia mais dirigir e tudo o que pensava era em desaparecer antes que realmente perdesse o controle. Desceu e foi até a recepção, pediu um quarto com duas camas, havia apenas quartos de casal.
Aceitou, pegou a chave e foi com Antônia até o quarto, abriu a porta, levou as malas e as deixou sobre uma poltrona. E
Ouviu alguém chamar seu nome ao longe, não sabia ao certo onde estava. Então lembrou, estava em seu quarto, ficara cega e surda novamente e perdera a consciência. A voz se tornou mais e mais alta, abriu os olhos com dificuldade e viu uma forma conhecida. A voz gostosa e as mãos macias de Varka chegavam até ela lentamente, aumentando as sensações a cada vez que seu nome era chamado. Tentou sentar, mas não conseguiu. Sentia como se um caminhão a tivesse atropelado.-Antônia! Antônia! – Varka tocava seu braço com delicada força. – Eu vou chamar um médico. – Se afastou com pressa.Antônia tentou falar, pedir que ficasse perto dela. Mas ainda não tinha forças para isso. Aos poucos, sua voz retornou, fraca e rouca a princ&i
No final da tarde ouviu batidas na porta e suspirou, que não fosse Vilka com suas súplicas de perdão, ela não sabia se ia resistir por muito tempo.-Posso entrar? – Varka sorriu na porta, trazia um doce em uma das mãos e uma garrafa em outra. – Tive que esconder isso da Tamara, acho que ela está levando essa coisa de cuidar da rainha muito a sério.-Entra! – Antônia riu e arregalou os olhos – Não sei o que deu nessa garota! Ela parecia uma líder estudantil feminista, até eu fiquei com pena do Vilka.-Eu sei! Eu também fiquei. – Levantou a garrafa e sorriu – Agora vamos beber e falar sobre a vida. – Sentou e serviu em dois copos que tirou do bolso da jaqueta. – Como você está
Melissa deu um passo para trás e fez uma cara de nojo.-Por tudo em que você acredita, Antônia, não me peça isso. Eu jamais passaria pelos horrores de uma gravidez, me casaria com você de bom grado, mas não posso carregar um pestinha dentro de mim!Antônia encarou Varka e piscou um olho.-Apenas se você quiser, podemos dar um jeito de resolver tudo o mais rápido possível, e torcer para dar tempo.-Eu aceito. Mas quero escolher o pai dessa criança. Não quero o filho de um estranho dentro de mim.-É justo. Quem você escolhe?Varka sorriu para Vilka e esticou a mão para ele
Chegaram tarde, com os cabelos molhados e os rostos corados. Vilka os esperava na sala de entrada.-Vocês demoraram... – tentou não demonstrar nada – como foi?-Estou bem, muito míope, mas de resto está tudo certo.-Isso é ótimo! – Levantou e abraçou ela lhe dando um beijo no rosto. Não percebeu o que havia feito. – Me desculpe, eu apenas me empolguei com as notícias.-Tudo bem. Obrigada por se importar. Esposa! – Varka vinha descendo as escadas, parecia melhor do que pela manhã.-E aí esposa? Pelas caras de felicidade imagino que esteja tudo bem...-Tudo dentro do esper
Bip...Bip...Bip...O som a incomodava, era ritmado, aquele BIP insuportável. Abriu os olhos e a claridade das luzes brancas a cegou um momento. Ah claro, estava ceg... depois de algum tempo viu uma televisão em sua frente, tudo branco e limpo e um cheiro ruim de hospital. Mas o que era aquilo? Franziu o rosto e tentou chamar alguém, mas algo a impediu, uma coisa horrível enfiada em sua garganta. Mas que merda era aquela!? Tentou puxar aquela coisa, mas suas mãos não mexiam, se desesperou, precisava de ajuda.-Tudo bem Antônia, tudo bem, a doutora já vem aqui ver você. Fique calma.Ela encarou Estevão, com os cabelos presos e um jaleco cobrindo as tatuagens. Ele não era enfermeiro, porque estava usando aquilo? Leu o nome no crachá
Antônia acordou assustada, era a terceira vez naquela semana que tinha o mesmo sonho com aquela criatura assustadora. Estranhamente, não sentia vontade de acordar no meio do sonho, parecendo sempre precisar, mesmo aterrorizada, chegar ao final daquela história. Sim, era isso o que parecia, uma história de terror de filme B. Quase um filme trash não fosse a sensação intensa de que aquilo era verdade, ao menos naquele mundo no qual mergulhava quando dormia.Levantou da cama e foi ao banheiro, tropeçando nas roupas espalhadas pelo chão do quarto e quase caindo sobre a caneca de café da noite anterior, que pairava, contrariando a gravidade, em uma pilha de papéis sobre a escrivaninha. Tinha que arrumar aquela bagunça, estudar para as provas finais e terminar a pesquisa para seu trabalho de conclusão do curso de jornalismo
-Antônia, sei que você está aí. Por favor me deixe entrar!Apontou o garfo na direção da porta, falando com a boca cheia, pois enquanto caminhava de costas se afastando, não deixou de comer de forma aflita, o macarrão cheio de molho shoyu pingando em seu pijama.-Se afasta da porta seu esquisito! Eu juro que finco esse garfo no seu olho e sirvo ele pro gato do vizinho! – Que espécie de xingamento era aquele afinal!? E por que não disse que tinha uma arma? Mas ficou firme, se aproximando novamente da porta. O homem sorria e encarava, com aqueles olhos de lobo, o olho mágico, era como se enxergasse Antônia.-Por favor, eu não sou seu inimigo. Estou aqui para conversarmos. Caminharam por pouco tempo na escuridão, até Antônia perder os sentidos, ainda caminhava e respirava, e tinha consciência disso, mas nada mais em seu entorno parecia perceptível, como se estivesse sob efeito de alguma droga, como se observasse tudo de um lugar distante, não conseguindo saber onde exatamente estava. Sentiu uma dor forte na cabeça e então tudo parou, uma espécie de anestesia geral tomou conta de seu corpo. A sensação durou pouco tempo, ao menos foi o que pareceu, logo depois ela sentiu-se despertar, sentia seu corpo novamente, via e ouvia tudo, participava novamente do seu entorno, digamos assim.Viu luzes brancas e azuladas em uma rua de calçamento com postes antigos, casas grandes rodeavam uma praça iluminada. No meio da praça, uma espécie de castelo imenso e todo iluminado.<SEU MUNDO