Dois meses se passaram desde a noite em que Antônia decidiu, mesmo sem estar exatamente consciente sobre isso, que iria substituir um possível futuro com Vilka por qualquer outro, não pretendia sair dormindo com todo mundo. Não achava isso errado, mas era uma rainha controversa o bastante já, se virasse uma rainha “promíscua” as pessoas a aceitariam ainda menos do que aceitavam.
Estevão também não era nenhum substituto inferior, tampouco se tornaria seu namorado ou seu marido, isso estava muito claro. Ele jamais pediria que ela assumisse publicamente qualquer tipo de relacionamento com ele, e depois tinha Vilka e suas reações violentas. Ninguém queria que um simples caso se tornasse o assunto principal e tomasse o lugar do que era realmente importante, a reconstrução da injusta sociedade daque
Chegaram no castelo por volta das 23 horas, Antônia desceu do carro e deu um assovio, era um prédio imenso com quatro andares, duas torres altas como arranha-céus, uma outra construção um pouco menor e um lago grande, atrás e nas laterais o terreno era cercado por uma floresta escura.-Bem vinda à sua casa de outono vossa alteza. – Vilka fez uma mesura e riu da expressão dela.-Isso é imoral, é errado de tantas maneiras que eu nem sei explicar. Minha mãe era uma pessoa horrível não era?-Não, ela era uma boa pessoa, seu pai também. Mas eles estavam acostumados com isso, foram criados para pensar que assim era certo, os nobres e burgueses comandariam este mundo e aqueles que nasciam miseráveis morreria
Pegaram a estrada ainda naquela tarde, Antônia estava calada, muito séria dirigindo enquanto Vilka apresentava os ritmos de seu mundo, eles também tinham rock e blues, mas com instrumentos um pouco mais pesados, o que fazia com que mesmo o rock mais balada tivesse uma pegada punk.-Você parece preocupada. O que foi que minha avó te disse?-Nada demais, mas você deveria ter me dito que ela lia pensamentos.-Você mentiu para ela?-Não, falei a mais pura verdade, e ela me entendeu tão bem! Eu só não sabia que existia essa coisa de ler mentes e enxergar o futuro.-Ela te falou sobre o futuro?-Não ex
Vilka não falou nada, continuou dirigindo, sabia que se não se afastasse dali rápido iria voltar e matar o irmão. Sentiu o desespero tomar conta dele, mas segurou firme.Viajaram em silêncio absoluto por duas horas, Antônia ainda não havia digerido tudo o que fizera, matou um homem, tirou a vida de alguém. E isso, apesar de o homenzinho não fazer falta no mundo, era terrível de diversas formas. Vilka viu um hotel e parou o carro, não conseguia mais dirigir e tudo o que pensava era em desaparecer antes que realmente perdesse o controle. Desceu e foi até a recepção, pediu um quarto com duas camas, havia apenas quartos de casal.Aceitou, pegou a chave e foi com Antônia até o quarto, abriu a porta, levou as malas e as deixou sobre uma poltrona. E
Ouviu alguém chamar seu nome ao longe, não sabia ao certo onde estava. Então lembrou, estava em seu quarto, ficara cega e surda novamente e perdera a consciência. A voz se tornou mais e mais alta, abriu os olhos com dificuldade e viu uma forma conhecida. A voz gostosa e as mãos macias de Varka chegavam até ela lentamente, aumentando as sensações a cada vez que seu nome era chamado. Tentou sentar, mas não conseguiu. Sentia como se um caminhão a tivesse atropelado.-Antônia! Antônia! – Varka tocava seu braço com delicada força. – Eu vou chamar um médico. – Se afastou com pressa.Antônia tentou falar, pedir que ficasse perto dela. Mas ainda não tinha forças para isso. Aos poucos, sua voz retornou, fraca e rouca a princ&i
No final da tarde ouviu batidas na porta e suspirou, que não fosse Vilka com suas súplicas de perdão, ela não sabia se ia resistir por muito tempo.-Posso entrar? – Varka sorriu na porta, trazia um doce em uma das mãos e uma garrafa em outra. – Tive que esconder isso da Tamara, acho que ela está levando essa coisa de cuidar da rainha muito a sério.-Entra! – Antônia riu e arregalou os olhos – Não sei o que deu nessa garota! Ela parecia uma líder estudantil feminista, até eu fiquei com pena do Vilka.-Eu sei! Eu também fiquei. – Levantou a garrafa e sorriu – Agora vamos beber e falar sobre a vida. – Sentou e serviu em dois copos que tirou do bolso da jaqueta. – Como você está
Melissa deu um passo para trás e fez uma cara de nojo.-Por tudo em que você acredita, Antônia, não me peça isso. Eu jamais passaria pelos horrores de uma gravidez, me casaria com você de bom grado, mas não posso carregar um pestinha dentro de mim!Antônia encarou Varka e piscou um olho.-Apenas se você quiser, podemos dar um jeito de resolver tudo o mais rápido possível, e torcer para dar tempo.-Eu aceito. Mas quero escolher o pai dessa criança. Não quero o filho de um estranho dentro de mim.-É justo. Quem você escolhe?Varka sorriu para Vilka e esticou a mão para ele
Chegaram tarde, com os cabelos molhados e os rostos corados. Vilka os esperava na sala de entrada.-Vocês demoraram... – tentou não demonstrar nada – como foi?-Estou bem, muito míope, mas de resto está tudo certo.-Isso é ótimo! – Levantou e abraçou ela lhe dando um beijo no rosto. Não percebeu o que havia feito. – Me desculpe, eu apenas me empolguei com as notícias.-Tudo bem. Obrigada por se importar. Esposa! – Varka vinha descendo as escadas, parecia melhor do que pela manhã.-E aí esposa? Pelas caras de felicidade imagino que esteja tudo bem...-Tudo dentro do esper
Bip...Bip...Bip...O som a incomodava, era ritmado, aquele BIP insuportável. Abriu os olhos e a claridade das luzes brancas a cegou um momento. Ah claro, estava ceg... depois de algum tempo viu uma televisão em sua frente, tudo branco e limpo e um cheiro ruim de hospital. Mas o que era aquilo? Franziu o rosto e tentou chamar alguém, mas algo a impediu, uma coisa horrível enfiada em sua garganta. Mas que merda era aquela!? Tentou puxar aquela coisa, mas suas mãos não mexiam, se desesperou, precisava de ajuda.-Tudo bem Antônia, tudo bem, a doutora já vem aqui ver você. Fique calma.Ela encarou Estevão, com os cabelos presos e um jaleco cobrindo as tatuagens. Ele não era enfermeiro, porque estava usando aquilo? Leu o nome no crachá