VIOLLETA FERRARI Duas semanas se passaram desde que fugi da casa dos Ferrari e da vida miserável que vivia com Ettore. Posso afirmar, sem sombra de dúvidas, que essas foram as melhores semanas da minha vida. Poder estar ao lado do meu pai, me sentir amada, saber finalmente, que pertenço a algum lugar, não tem preço. Nessas duas semanas aconteceram muitas coisas, uma delas foi a continuidade ao meu treinamento com Stefano, como já sabia atirar, intensifiquei as lutas ainda com cuidado devido à minha condição. No começo fiquei relutante, porém, meu pai me disse que seria preciso, assim conheceria o funcionamento das famílias da máfia. Na verdade, espero que nunca seja necessário que eu use algo desse tipo, não tenho coragem de machucar uma mosca, e apesar de Ettore ter me obrigado a matar, eu jamais puxaria o gatilho por vontade própria novamente. Amanhã será minha consulta com a doutora Laura, vai ser o início do meu pré-natal, não sei com quantos meses estou por conta da menstruaç
ETTORE FERRARIEnquanto tomo um banho, vou pensando em todos os acontecimentos dos últimos dias. Desde que me tornei capo e assumi a responsabilidade que a máfia nos dá, tenho atitudes que qualquer ser humano comum desaprovaria. Lembro que nem sempre foi assim, e apesar de ter sido criado e preparado para assumir uma fração da Ndrangheta, sempre achei que era muita responsabilidade em minhas mãos. Todo o fardo dos negócios está sobre mim, qualquer decisão que eu tome afeta a vida de centenas de pessoas, é muita coisa para uma pessoa só. O mais poderoso capo, como diria os mais antigos. É uma enorme responsabilidade e além de tudo isso, ainda sou extremamente visado, minha família está sempre na linha de fogo, pois sabem que atingindo a eles, afetarão a mim. Eu sou Ettore Ferrari, aquele que comanda um império, que dá as cartas no mundo dos negócios, que mata ao estalar de um dedo, e que, de uma hora para outra, começa amar uma mulher, que o deixa louco de todas as maneiras possíveis
ViolletaEstou prestes a entrar no palco, estou nervosa. Stefano estende seu braço para que eu possa enlaçá-lo, quando chegamos atrás da cortina, ele me olha. Já faz um bom tempo que papai saiu e não voltou, e se ele demorar mais, é capaz de meus saltos fazerem buracos nesse concreto. Quando já estava impaciente vejo a porta abrir, e ele passar por ela.— Já não aguentava mais, papai! — Ele sorri com minhas palavras.— Desculpe querida, me entreti cumprimentando alguns dos convidados, mas já vou anunciar sua entrada! — Desculpe papai, acho que são os hormônios que me deixam assim, é que estou muito nervosa, ansiosa.— Fique tranquila, esse nervosismo todo não faz bem para o bebê! — É, o senhor tem razão. Preciso me acalmar.— Então vamos. Vou apresentar você e depois aproveitamos a festa!— Fique aqui até que eu lhe chame, meu bem. Não se preocupe, estarei ao seu lado a todo instante, haja o que houver!Balanço minha cabeça confirmando, e pouco tempo depois ele desaparece através d
ETTORE FERRARIEstou consciente de tudo. Ouço as pessoas ao meu redor, sinto as enfermeiras mexendo no meu soro, arrumando meus travesseiros e cobertores, ouço o barulho da máquina à qual estou ligado, mas não consigo me mexer ou falar, e isso é desesperador para mim. O que mais me faria feliz neste momento é poder abraçar minha mulher e me ajoelhar diante dela, suplicando seu perdão, mas não consigo. Ouvir suas palavras me confortam de algum modo, talvez estar aqui não seja de todo ruim, não se for para tê-la ao meu lado. É claro que a situação em que me encontro é horrível, pois adoraria tocar meu anjo, dizer o quanto sou louco por ela, o quanto esperei por ela, o quanto sou completamente apaixonado por tudo que venha dela. Mas estou preso nessa cama, em coma, sem chances de poder dizer qualquer coisa para confortá-la. Depois de alguns longos minutos sinto ela se levantar da cama, meu coração aperta só de pensar que ela se vai, e vou ficar aqui sozinho.— Até logo, meu amor… Volte
VIOLLETA FERRARICINCO MESES DEPOISEstou no quarto onde Ettore continua a definhar em cima da cama. Minha barriga está cada dia maior, meus pés estão mais inchados devido ao meu estágio avançado de gravidez. Em poucas semanas vou ter o meu bebê, não quis saber o sexo, pois guardo a esperança de que Ettore acordará e juntos saberemos o sexo do nosso filho, ainda que, a cada dia que se passa, eu fique mais preocupada com o seu estado, pois nada se altera.Pietro ficou no lugar do irmão, assumiu todas as suas responsabilidades, na sede quem está na frente de tudo é ele. Surpreendi-me com o quanto está sendo forte, fazendo as melhores escolhas pelo seu irmão. Sempre que preciso de conforto, ele está ao meu lado.Quando não estou aqui, Sandra é quem está, mas em momento algum o deixamos sozinho. Ela também está sofrendo muito com a possibilidade de que Ettore não volte, e imagino que seu coração de mãe esteja ainda mais destroçado que o meu. Eu tento nem pensar nessa possibilidade, pois s
VIOLLETA FERRARIAbro meus olhos, que agora doem com a claridade, e sei que estou num hospital. Desespero-me pelo bebê e por não saber o que vai acontecer a partir de agora. Sinto uma dor muita forte na minha cabeça, minha barriga e todo meu corpo também estão doendo. Escuto passos apressados de longe e ouço a voz, desesperada de Sandra, próxima a mim.— Dios mio, o que aconteceu com ela? Ela vai ficar bem? E o bebê, como ele está? — Ouço Sandra falar, e em seguida, meu pai, também desesperado, fala:— Por favor, me falem o que aconteceu com minha filha e o bebê! — Ele diz com a voz embargada. — Doutor, por favor, me diga algo! — O carro em que sua filha estava foi encontrado capotado a alguns quarteirões daqui. Quando os paramédicos chegaram ela já estava inconsciente e sangrando muito, teremos que fazer uma cesárea de emergência, não podemos esperar mais.— Diga como ela está. Ela está bem, doutor? Por favor, não me esconda nada, só tenho ela e meu neto, não posso perder os dois a
Ettore FerrariMais uma vez, ouço Violleta se sentar do meu lado e colocar minha mão sobre sua barriga. Sempre que faz isso, sinto o bebê se mexer como se soubesse que é o seu pai quem o está tocando naquele momento. Não sei descrever a felicidade que me dá todas as vezes que ela me faz sentir essas coisas. Tocá-la, sentir o calor de sua pele, e ao mesmo tempo nosso bebê, me faz sentir cada vez mais vontade de me levantar dessa cama e abraçá-la com toda minha força, e beijar sua barriga.Sei que faz algum tempo que estou neste estado, pois sua barriga está maior em comparação a quando cheguei aqui. Não sei quanto tempo faz, mas me desespero toda vez que vejo que vou perder minha consciência novamente. Sempre que isso acontece, vejo coisas horríveis, insuportáveis, que me causam dor, sofrimento, parece uma espécie de inferno pessoal onde o desespero, o choro, e os gritos das pessoas ao meu redor torna tudo cada vez mais horripilante. Às vezes acho que vou enlouquecer se ficar mais temp
Ettore Ferrari Olho para Violleta, toda machucada sobre a maca, com nosso filho sobre os seios, sorrindo e chorando ao mesmo tempo. Ver aquela cena me emocionou de um jeito muito profundo, e não consigo sair do lugar. Vejo os médicos tirarem o bebê dela, e ela não esboçar reação nenhuma com isso. Acho estranho, tudo parece estar em câmera lenta, vejo-a fechar e abrir os olhos, e, novamente, olhar para mim. Quando me vê, abre aquele sorriso, aquele que ela dá quando está feliz com algo, e eu poderia, deveria retribuir, se não estivesse vendo seu estado. Os médicos e enfermeiros aplicam alguma coisa nela, ela deveria reagir, mas seus sinais vitais continuam baixando, gradativamente, minuto após minuto. Olho mais uma vez para o seu rosto e vejo ela dizer, balbuciar, as três palavras que mais esperei ouvir, dela, em toda minha vida. — Eu te amo! Ela sorri, novamente, soltando um suspiro lento, e não demora para seus olhos fecharem, e os aparelhos que estão ligados a ela começare