NICHOLASO ambiente ao meu redor é luxuoso, refinado, exatamente como deveria ser. O serviço impecável, a iluminação suave, a música ao fundo tudo contribui para criar um cenário perfeito para uma noite de distração. Mas nada disso realmente importa.Estou aqui com minha irmã e David, que, como sempre, se diverte sem hesitação. Dois copos de vodca já desceram queimando pela minha garganta, e uma loira determinada decidiu que hoje eu sou seu alvo. Ela se aproxima, sem rodeios, e puxa assunto com desenvoltura, até que, sem sequer um pedido de permissão, se inclina e sela nossos lábios.Eu não retribuo com entusiasmo. Nunca fui fã de mulheres tão diretas. Mas talvez seja exatamente disso que eu precise agora. De algo para manter minha mente ocupada, longe da única mulher que, contra toda a lógica, ainda me afeta.Sarah.Sinto um arrepio me percorrer antes mesmo de olhar na direção dela. É como se meu corpo soubesse antes mesmo dos meus olhos que ela está aqui. E então, quando levanto o
NICHOLASBebi mais do que deveria, e, antes que percebesse, já estava nos braços da loira, subindo juntos para o meu quarto. Seus lábios encontraram os meus com pressa, e eu correspondi. Talvez se me perdesse no prazer carnal, conseguisse, por alguns instantes, desligar minha mente.As peças de roupa foram caindo uma a uma, revelando um corpo perfeito, desejável. Mas, enquanto a deitava na cama, uma constatação me atingiu com força: nada nela me despertava a intensidade que eu sentia por Sarah.Mas segui em frente. Porque parar significaria admitir que Sarah ainda tinha um poder sobre mim que eu não queria aceitar.Protegi-me, e então a tomei, buscando nela um alívio para a tensão que me consumia. Mas, a cada movimento, minha mente me traía. O cheiro dela não era o mesmo. O calor de sua pele não era o mesmo.A cada toque, a cada suspiro, era o nome de Sarah que ecoava em meus pensamentos.Droga.Fechei os olhos, tentando me concentrar na mulher abaixo de mim. Mas foi um erro. Porque t
NICHOLASTenho certeza de que, assim que chegar à Espanha, essas memórias vão desaparecer. Pelo menos, é o que eu espero.Mas será que terei sucesso estando tão perto dela? Ou precisarei realmente sair de casa para me concentrar nos meus objetivos?O Recife tem algo que me atrai. Esqueci o quanto o jeito de falar daqui me encanta. As pessoas são tão simpáticas, prestativas, e o lugar é aconchegante de uma forma que nunca havia percebido antes. Talvez porque, no fundo, minha mente estivesse sempre em outro lugar.A brisa quente da cidade envolve meu corpo enquanto caminho até o prédio onde terei minha última reunião antes da viagem. A sensação de estar aqui novamente traz um turbilhão de lembranças, algumas boas, outras que prefiro esquecer. O cheiro do mar misturado ao aroma do café das barracas de rua me desperta, mas também me leva de volta para um passado que ainda me assombra.Ao crescer no orfanato, meu contato com o mundo exterior era limitado. As cuidadoras, em sua maioria, não
NICHOLASRetorno ao hotel com David, que não para de falar sobre o quanto gostou do lugar e sobre sua surpresa pelo fato de eu ter tido coragem de sair daqui. Mal sabe ele que, se eu não tivesse partido – ou melhor, se meu pai não tivesse me encontrado –, não sei o que teria sido de mim depois da decepção que sofri. No fundo, até agradeço ao imprestável do meu pai por ter me levado de volta para o Brasil.— Você viu minha irmã hoje? — pergunto, tentando afastar os pensamentos do passado.Ainda não encontrei Emma, nem falei com ela desde ontem. Sei que ela está furiosa. Afinal, saí do bar sem dar nenhuma explicação, como se ela não fosse importante.— Não vi a Emma, não. E por que eu deveria saber onde ela está? O irmão é você, não eu — David rebate, dando de ombros. — Além disso, ela nem gosta de mim, se quer saber. Nem sequer perguntou sobre você, o irmão idiota que só faz burrada e fala besteiras. Meu amigo, acho que esse lugar mexeu mesmo com a sua cabeça.Ele menciona a noite ante
NICHOLAS Dirijo-me ao quarto da minha irmã e bato firme na porta. O som ecoa pelo corredor silencioso. Alguns segundos depois, Emma abre, com a expressão fechada, como se estivesse pronta para um confronto.— Oi, Emma! Por que você não atendeu minhas mensagens? — pergunto, cruzando os braços. — E o que está acontecendo? Você não é assim.Ela revira os olhos e solta um suspiro impaciente.— Tá bom, deixa pra lá, depois você me conta. Estamos atrasados agora.— Não está acontecendo nada. Só estava muito cansada. — Sua voz sai seca, sem espaço para mais perguntas. — E vamos logo buscar a minha cunhada, antes que ela fuja para bem longe de você. Sinceramente, é o que eu faria no lugar dela.Minha mandíbula se contrai ao ouvir suas palavras.— Por que ela aceitou ir com você, sabendo o imbecil que eu sou, hein? — estreito os olhos, estudando sua reação. — Você realmente acreditou que ela ficou com todos os caras do orfanato? No mínimo, eu teria procurado saber a verdade antes de acusá-la.
NICHOLASSaímos do hotel sem demora e seguimos direto para a casa de Sarah. O trajeto foi silencioso, mas minha mente trabalhava a mil. Eu sabia que esse encontro não seria simples, e não apenas por estar prestes a buscar minha filha para uma nova vida. Havia algo mais, uma tensão crescente que eu tentava ignorar.Assim que chegamos, descemos do carro. O portão alto e reforçado denunciava a preocupação com segurança, algo que eu valorizava ainda mais agora que minha filha estava ali. A casa possuía um charme clássico, recuada no terreno, com uma varanda ampla que parecia convidativa, mas ao mesmo tempo protetora. Apertei o interfone e aguardei, tentando manter a calma.O som da fechadura destravando ecoou no silêncio, e logo fomos recebidos. Fiz um gesto discreto para que o motorista aguardasse e caminhei para dentro, com minha irmã, Emma, e meu amigo logo atrás. Ainda tínhamos um tempo considerável antes do voo, e eu nunca fui fã de esperar em aeroportos. Me perguntei, mais uma vez,
NICHOLAS Já derramei muitas lágrimas ao longo da vida. E não me envergonho disso.Muitas dessas lágrimas foram por Sarah.A dor de perdê-la, de imaginar que talvez nunca mais a veria, foi sufocante. Ela esteve ao meu lado por tanto tempo, era a mulher que eu amava, e a ideia de um futuro sem ela me dilacerava.Mas tudo isso ficou para trás.Passei dois anos convivendo com essa dor, mas a raiva acabou sendo mais forte do que a saudade. E, assim, segui em frente. Me joguei nos estudos, me distraí com outras mulheres, e isso se tornou um hábito. Até hoje, atraio muitas delas.Ser um homem solteiro e extremamente rico sempre despertou interesses. Algumas mulheres tentaram me prender com falsas gravidezes, achando que poderiam me enganar só porque, naquela época, eu costumava me envolver com elas sob o efeito do álcool. Mas sempre fui cuidadoso. Sempre me protegi.Sarah foi a única mulher com quem estive sem preservativo.Com qualquer outra, não importava o quão perfeita parecesse, eu nun
NICHOLAS Minha filha tem apenas dez anos, e suas feições lembram muito as minhas. No entanto, acredito que herdará a estatura da mãe, pois já dá sinais de não ser muito alta.Antes de sair, escuto os cochichos:— Ele é sempre tão arrogante e desagradável assim? Vai precisar de muita paciência para lidar com ele nos próximos dias, amiga.Dou um meio sorriso e continuo caminhando em direção ao carro, ignorando os comentários que, por mais discretos que sejam, sempre chegam aos meus ouvidos. A verdade é que a paciência nunca foi uma virtude minha, e não vejo motivos para fingir que sou diferente.Logo, todos me seguem rumo ao aeroporto. Minha pequena está radiante, ao contrário de Sarah, que mantém o olhar perdido em algum ponto distante, como se estivesse sendo arrastada para um destino que não escolheu.Mas a responsabilidade de ser feliz ou não é dela, não minha.— Papai, onde estamos? Nunca vi um lugar assim antes! — Lunna pergunta, os olhos brilhando com a novidade.— Aqui é um aer