NICHOLAS Minha filha tem apenas dez anos, e suas feições lembram muito as minhas. No entanto, acredito que herdará a estatura da mãe, pois já dá sinais de não ser muito alta.Antes de sair, escuto os cochichos:— Ele é sempre tão arrogante e desagradável assim? Vai precisar de muita paciência para lidar com ele nos próximos dias, amiga.Dou um meio sorriso e continuo caminhando em direção ao carro, ignorando os comentários que, por mais discretos que sejam, sempre chegam aos meus ouvidos. A verdade é que a paciência nunca foi uma virtude minha, e não vejo motivos para fingir que sou diferente.Logo, todos me seguem rumo ao aeroporto. Minha pequena está radiante, ao contrário de Sarah, que mantém o olhar perdido em algum ponto distante, como se estivesse sendo arrastada para um destino que não escolheu.Mas a responsabilidade de ser feliz ou não é dela, não minha.— Papai, onde estamos? Nunca vi um lugar assim antes! — Lunna pergunta, os olhos brilhando com a novidade.— Aqui é um aer
SARAHO silêncio no avião é interrompido apenas pelo som do motor e pelo murmúrio baixo dos passageiros ao redor. Mas dentro de mim, há uma tempestade furiosa.Considero seriamente as várias maneiras de atirar esse homem pela janela. O simples fato de estar ao lado dele já é sufocante. A antipatia que sinto neste momento é quase insuportável.Respiro fundo, buscando paciência divina para não perder o controle. Mas é difícil. Muito difícil.Nicholas.O nome dele pesa como uma maldição em minha mente. O homem que um dia foi o amor da minha vida agora não passa de um arrogante presunçoso que se acha dono do mundo. E, pior, quer monopolizar a atenção da minha filha.Minha pequena Lunna, inocente e radiante, ainda acredita que ele é um herói. E como posso quebrar essa ilusão sem despedaçar seu coração?Maldito homem!Ele está irreconhecível. O jovem apaixonado que um dia conheci se transformou em alguém frio, distante… insuportável.A lembrança do passado me atinge com força. A dor de ter
SARAHSe ele quer guerra, é guerra que ele vai ter.Desligo o chuveiro, frustrada, sentindo o frio gelado se arrastar pela minha pele. Meu quarto pode ser aconchegante, mas um chuveiro que parece um cubo de gelo definitivamente não faz parte do pacote. Então, por que não aproveitar as circunstâncias?Visto o roupão mais macio e envolvente que encontro, minha pele ainda úmida contrastando com o tecido quente. E nada por baixo. Sim, isso mesmo. Se ele acha que pode brincar comigo, está na hora de mostrar que também sei jogar.Bato na porta do quarto dele, já sabendo que quem virá me atender será minha pequena traidora – minha filha. E não erro.— Mamãe! — Ela sorri ao me ver, os olhos brilhando de animação.Mas, antes que eu possa responder, ele surge logo atrás. Alto, forte, e, para minha satisfação, sua expressão vacila no exato momento em que seus olhos percorrem meu corpo, demorando-se na abertura generosa do roupão.Perfeito.— Por que você está aqui assim, Sarah? — A voz dele soa
SARAHAo entrar no cômodo, enquanto me virava para fechar a porta, ele surgiu repentinamente.Mas o quê?Como ele conseguiu chegar aqui tão rápidoDroga, ele está furioso!Reconheço os sinais — ele parece prestes a cometer um assassinato.Seu semblante sério não me intimida, e seu mau humor não afeta minha tranquilidade.Antes, ele só expressava indignação, sem agir. Mas agora, sinto que ele é capaz de me machucar.Vejo tanta raiva nos seus olhos, mas sabe de uma coisa? Não estou nem um pouco me importando com a fúria desse idiota. Será que ele realmente achou que eu iria tomar banho gelado? A Espanha está em um clima muito frio nesta época do ano, eu sei que faz frio, e o 'bonito' ainda desligou a água de propósito.— Será que dá para sair do meu quarto, por favor? Preciso trocar de roupa agora. Estou com frio e quero descansar. A viagem foi longa e estou exausta.A verdade é que não estou cansada... estou faminta. Não por comida, mas por ele, esse homem delicioso que ainda está de p
SARAHA fome me obriga a sair do quarto. Meu estômago protesta e não há nada que me impeça de atender ao seu chamado. Caminho até a cozinha, e assim que atravesso a porta, minha irritação se dissolve por um instante.O ambiente é espetacular.Por todos os céus, que cozinha incrível! A única coisa nessa casa que realmente me agrada. Com um suspiro, abro a geladeira e, por um momento, esqueço completamente a existência do homem desagradável que ocupa o outro quarto. Ele pode estar se divertindo com quem quiser — isso não me diz respeito. Esta noite, a única coisa que me importa é desfrutar deste espaço maravilhoso e de uma boa refeição.Percorro as prateleiras, encontrando ingredientes frescos. Cenouras, abobrinhas, berinjelas… Pelo menos ele tem bom gosto para comida. Um babaca, sim, mas um babaca saudável.Decido preparar algo rápido, mas delicioso. Corto a berinjela em rodelas e grelho levemente, acrescentando um molho feito de tomates frescos e temperos aromáticos. Nada de conservan
NICHOLASAo chegar em casa, solto um suspiro longo, sentindo o peso do cansaço em meus ombros. Finalmente, um momento de descanso.Levei Sarah até o quarto que preparei para ela, estrategicamente localizado próximo ao meu e ao de Lunna. Mantê-la por perto é essencial. Quero ter controle sobre cada movimento dela, e as câmeras espalhadas por toda a casa, exceto nos quartos, me garantem isso.Por um instante, cogito instalar uma no quarto dela também. Assim, teria certeza absoluta de que Sarah não aprontaria nada escondido. Ela pode achar que tem liberdade para fazer o que quiser, mas está enganada. Aqui, cada passo dela é monitorado.Como conheço suas manias e fraquezas, fiz questão de desativar a resistência do chuveiro do seu banheiro. Sarah odeia água fria. É cruel da minha parte? Talvez. Mas confesso que estou curioso para ver sua reação ao se deparar com um banho gelado. Só por hoje. Não quero que ela fique doente, apenas lembrá-la de que as coisas mudaram.Mas, acima de tudo, min
NICHOLASMas garanti a mim mesmo que ela não faria isso novamente, ou eu não me responsabilizaria pelas minhas ações. Contudo, por mais que estivesse furioso, sabia que jamais levantaria a mão contra ela. Eu poderia fazê-la sofrer de outras maneiras, poderia provocá-la até que desejasse fugir de mim, mas nunca seria capaz de machucá-la fisicamente.Ainda assim, ela me olhou com desprezo. Seu olhar carregava uma fúria contida, uma dor que ela se recusava a deixar transparecer completamente.— O dinheiro te transformou em alguém arrogante — sua voz saiu fria, cortante. — Um homem sem sentimentos, sem alma.Suas palavras atingiram um ponto que eu não queria admitir. Mesmo que estivesse furiosa ou assustada, ouvir aquilo de sua boca foi como um soco no estômago. No entanto, não deixei transparecer. Vesti minha máscara de indiferença, como sempre fazia, e apenas sorri de canto.— É mesmo? — desafiei, mantendo o tom calmo, quase debochado.Quando mencionei outra mulher, vi sua expressão se
NICHOLAS— Estou indo para o trabalho. Por favor, fique em casa e não saia. Aqui é um lugar desconhecido para você, e não quero que se arrisque. Espero que siga minhas instruções, porque não tolero desobediência.Sarah me encara, os olhos brilhando com um toque de desafio. Ela inclina a cabeça de lado, como se ponderasse suas palavras antes de falar.— Você poderia me passar o contato da sua irmã? Talvez ela possa me mostrar alguns lugares interessantes.A audácia dela me surpreende. Ela realmente espera que eu permita isso? Que minha irmã a leve para passear depois de ter dito, na minha cara, que procuraria um homem para si? De jeito nenhum. Mesmo sob coação, jamais darei o número de Emma.— Hoje minha irmã está ocupada com trabalho e outros compromissos. Agora, preciso sair, então por favor, fique em casa. É importante seguir minha orientação e não arrumar confusão, Sarah. — Meu tom é firme, e saio sem esperar resposta.No carro, cumprimento o motorista e me recosto contra o banco d