NICHOLASMas garanti a mim mesmo que ela não faria isso novamente, ou eu não me responsabilizaria pelas minhas ações. Contudo, por mais que estivesse furioso, sabia que jamais levantaria a mão contra ela. Eu poderia fazê-la sofrer de outras maneiras, poderia provocá-la até que desejasse fugir de mim, mas nunca seria capaz de machucá-la fisicamente.Ainda assim, ela me olhou com desprezo. Seu olhar carregava uma fúria contida, uma dor que ela se recusava a deixar transparecer completamente.— O dinheiro te transformou em alguém arrogante — sua voz saiu fria, cortante. — Um homem sem sentimentos, sem alma.Suas palavras atingiram um ponto que eu não queria admitir. Mesmo que estivesse furiosa ou assustada, ouvir aquilo de sua boca foi como um soco no estômago. No entanto, não deixei transparecer. Vesti minha máscara de indiferença, como sempre fazia, e apenas sorri de canto.— É mesmo? — desafiei, mantendo o tom calmo, quase debochado.Quando mencionei outra mulher, vi sua expressão se
NICHOLAS— Estou indo para o trabalho. Por favor, fique em casa e não saia. Aqui é um lugar desconhecido para você, e não quero que se arrisque. Espero que siga minhas instruções, porque não tolero desobediência.Sarah me encara, os olhos brilhando com um toque de desafio. Ela inclina a cabeça de lado, como se ponderasse suas palavras antes de falar.— Você poderia me passar o contato da sua irmã? Talvez ela possa me mostrar alguns lugares interessantes.A audácia dela me surpreende. Ela realmente espera que eu permita isso? Que minha irmã a leve para passear depois de ter dito, na minha cara, que procuraria um homem para si? De jeito nenhum. Mesmo sob coação, jamais darei o número de Emma.— Hoje minha irmã está ocupada com trabalho e outros compromissos. Agora, preciso sair, então por favor, fique em casa. É importante seguir minha orientação e não arrumar confusão, Sarah. — Meu tom é firme, e saio sem esperar resposta.No carro, cumprimento o motorista e me recosto contra o banco d
NICHOLASWilliam, meu representante legal, cuida das questões administrativas com precisão e eficiência. Mas quando se trata de números, finanças e gestão, ninguém supera David. Ele é brilhante, muito mais do que eu nessa área. Seu talento é inegável, e a paixão que ele demonstra por cada detalhe faz com que tudo pareça simples. Ele está prestes a abrir sua própria agência de publicidade, e é evidente que será um sucesso. Com a fortuna que acumulou ao longo dos anos, ele não precisa mais trabalhar, mas isso nunca o impediu de buscar mais. Desde o nosso primeiro encontro, percebi que sua riqueza não era apenas fruto da sorte, mas do império construído por seus avós e da inteligência afiada que herdou.Na empresa da família, David é apenas uma sombra. Ele surge para assinar documentos e marcar presença em reuniões estratégicas, mas evita qualquer envolvimento emocional. Seu pai e seu irmão comportam-se como se fossem os verdadeiros donos do negócio, movidos pela arrogância e pela ilusão
SARAHA ira me define.Nicholas saiu para trabalhar, mas, antes de ir, achou que poderia me dar ordens. Como se eu fosse uma criança. Como se tivesse alguma autoridade sobre mim.Sério? Isso já passou dos limites.Será que ele realmente acredita que vou segui-las? Se sim, então ele tem um problema maior do que imagina.Tomei meu café da manhã com uma fúria silenciosa, cada gole parecendo alimentar ainda mais minha impaciência. Assim que terminei, subi para o quarto. Minha rotina de cuidados já estava feita, e eu tinha um objetivo claro: sair e procurar um emprego.Eu precisava me adaptar ao novo ambiente, criar minha independência. Pelo menos, o idioma não seria um problema.Antes de sair, olhei para Lunna. Ela ainda dormia, seu rosto sereno contrastando com a tempestade que se agitava dentro de mim. Me aproximei de Isabel, grata por sua presença reconfortante.— Senhora Isabel, poderia me fazer um favor? Poderia cuidar de Lunna enquanto eu saio um pouco? Preciso resolver algumas cois
SARAHDepois de vestir algo confortável para me proteger do frio intenso, fui até a cozinha, buscando algo para comer.Encontrei um medalhão pronto e outro que ainda precisava ser preparado. Talvez a cozinheira já tivesse percebido que eu gostava de cozinhar, mas naquele momento, só queria algo rápido.Aquecei a comida no micro-ondas. Não era o ideal, mas serviria.E, como se tivesse um radar, ele apareceu.Nicholas entrou na cozinha e começou a falar sobre finanças, como se nada tivesse acontecido. Como se o fato de eu estar furiosa e exausta não importasse.Ignorei completamente.Me levantei e me afastei, deixando-o falando sozinho, algo que eu sabia que ele odiava.Sempre odiou.E talvez, só talvez, isso fosse um pequeno prazer para mim.Então, a voz doce de Lunna cortou o ar, chamando minha atenção.— E aí, mamãe, qual filme vamos assistir? Estou em dúvida entre Cinderela e outro. Que tal vermos Pequenos Grandes Heróis? Acho que o papai vai gostar. Você já viu comigo e curtiu, ent
SARAHEle nunca demonstrou interesse pelo orfanato, mas, para mim, aquele lugar sempre teve um valor imenso. Foi lá que encontrei abrigo quando não tinha para onde ir. Fiz amigos que se tornaram irmãos, aprendi a ser forte e, mesmo em meio às dificuldades, criei memórias que marcaram minha vida.Os momentos de fome, os castigos injustos, as noites frias sem esperança… tudo isso ficou gravado em mim. Mas também foi ali que experimentei a felicidade simples de correr descalça pelo pátio, de compartilhar um pedaço de pão como se fosse um banquete e de descobrir o primeiro amor.Hoje, o abrigo está em melhores condições. Fiz questão de providenciar a pintura e a manutenção de algumas áreas, mesmo que isso me exigisse sacrifícios financeiros. Eu não poderia deixar o lugar que me deu tudo cair em ruínas.— Então, você ainda visita o orfanato onde crescemos? — A pergunta dele veio carregada de algo que não consegui identificar. Arrependimento? Curiosidade?Desviei o olhar, sentindo um nó ape
EMMASinceramente, eu nunca entendi como algumas pessoas conseguem sentir prazer em destruir a felicidade dos outros. Que tipo de satisfação isso traz? Que necessidade doentia é essa de interferir no amor alheio?Meu irmão, Nicholas, sempre foi discreto sobre seus sentimentos, mas hoje, ao mencioná-la, a mulher que ele amou e que, no fundo, ainda ama vi sua dor transbordar. Ele fala de Sarah com uma intensidade que me faz questionar: como alguém pôde se meter entre os dois de forma tão cruel? Como ele permitiu que isso acontecesse?Chamam-no de possessivo, mas isso não poderia estar mais longe da verdade. Nicholas é um homem calmo, distante de qualquer traço de agressividade. Ele nunca foi do tipo controlador, que sufoca e vigia cada passo da pessoa amada. Se fosse, teria investigado a fundo tudo sobre Sarah. Teria questionado cada rumor, cada voz que sussurrava contra ela. Mas, ao invés disso, ele escolheu o caminho da desistência. Covarde, preferiu abandonar tudo a lutar pelo qu
EMMAO relógio mal marcava cinco da manhã, mas a ansiedade me fez pular da cama direto para o chuveiro. Estava prestes a pisar em Recife. Já tinha ouvido falar tanto do Brasil que, por mais que Nicholas tentasse me controlar, eu iria explorar o país.Assim que terminei de me arrumar, enviei uma mensagem para meu motorista."Me busque na hora combinada. Não quero atrasos."Fechei a porta de casa com um sorriso discreto nos lábios. Estava na hora de embarcar nessa nova jornada.E algo dentro de mim dizia que essa viagem mudaria tudo.Ao chegar ao aeroporto, lá estavam eles, esperando pelo check-in.E que visão.Não, não estou falando do meu irmão. Estou falando de David.O infeliz estava absurdamente atraente, como sempre. A calça jeans justa delineava cada músculo das pernas, e a camisa de botões realçava os braços fortes e o peito largo. Que delícia!Emma, controla-te.Respirei fundo e foquei em Nicholas, ignorando deliberadamente a presença de David. Sabia que o irritava, o que torna