MAISIE CONHECEU Michael Vane durante as aulas, no final do ensino médio. Era como aqueles romances clichês dos livros de adolescentes, ele, um bad boy metido a riquinho (ou seja, um imbecil com mente de noz que se vangloriava merecidamente devido a sua aparência exuberante), mas nunca teve nada além da sua beleza, já que não tinha onde cair morto e ela a nerd da sala, que era linda, discreta e de uma família tradicional.
Era basicamente impossível qualquer tipo de relacionamento entre eles, a menos que fosse para que ele pudesse colar nas provas e se dar bem de alguma forma.
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DEZ ANOS APÓS O TÉRMINO da escola, os colegas de sala resolveram marcar uma reunião, para celebrar as conquistas que haviam alcançado desde a última vez que se viram.
Maisie se tornou uma mulher linda, sua carreira em administração havia começado a despontar e já atuava em uma Multinacional de sucesso, o que deixaria muita gente com inveja.
E ela estava adorando isso...
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MAISIE ERA A GAROTA MAIS ALTA da sua turma, o que de certa forma a deslocava de todos, conseguiu uma vaga na turma de vôlei, mas algumas pessoas mais próximas insistiam que ela fosse modelo, tinha uma boa postura, cabelos extremamente lisos que chegavam na cintura, se não fosse pelos óculos, muitos a teriam como a garota mais linda da escola.
Maisie era totalmente desprovida de ego, não dava a mínima em ser a garota mais linda, popular ou inteligente da escola, seu grande sonho era daqueles mais simples possíveis, uma boa casa para morar, filhos e um marido que a amasse e respeitasse, ou seja, a americana média, nem nota dez nem nota quatro, uma simples nota sete e meio.
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MAISIE SE SENTOU em uma mesa afastada da churrasqueira, quieta com sua cerveja sem álcool, desfrutava de seu momento de glória pessoal, cada um deles tinha uma história, ela sabia que alguns contavam vantagem sobre suas próprias vidas e fracassos, outros, como ela, evitavam falar qualquer coisa para não chamar a atenção de forma desnecessária.
Ela estava ali porque queria confrontar seus próprios demônios, era enfim uma vencedora e isso ninguém ali poderia provar o contrário, estava no panteão daqueles que venceram seus medos, seus fracassos, seus demônios e acima de tudo, venceu a própria vida destinada a ela.
COMO ERA DE SE ESPERAR, para se mostrar, Michael levou a estatueta do Oscar que ganhou ao interpretar a história do Presidente dos Estados Unidos, ela em si é uma pequena estatueta de trinta e cinto centímetros de altura pesando quase quatro quilos, feita de estanho folheado a ouro de catorze quilates, em forma de um cavaleiro sobre um pedestal no formato de um rolo de filme, com uma espada de cruzado atravessada verticalmente ao peito.
Seu valor real é de cerca de quinhentos dólares, mas seu valor simbólico é incomensurável, pelo prestígio profissional e popular que concede ao premiado e pelo faturamento que pode dar a um filme.
Concebida em 1929 pelo diretor de arte Cedric Gibbons e pelo escultor George Stanley, não sofreu mudanças significativas até hoje, nos mais de 90 anos em que já foi entregue. Apenas durante a Segunda Guerra Mundial foi confeccionada em gesso pintado com tinta dourada, devido ao esforço de guerra americano na época, que procurava racionar todos os tipos de metal. Após o conflito, os agraciados com estes Oscars tiveram seus prêmios trocados pela estatueta original.
A versão mais popular e conhecida para o nome dado ao careca dourado é a que concede sua autoria à secretária-executiva da Academia, Alice Herrick, que ao vê-lo comentou que a pequena estátua parecia muito com seu tio Oscar, comparação ouvida por um jornalista presente no momento, que a publicou em seu jornal. Outra versão dá conta que a atriz Bette Davis o teria apelidado assim, dado a semelhança da estatueta com seu primeiro marido, Harmon Oscar Nelson.
De qualquer modo o apelido pegou de tal maneira que hoje – e há muitos anos – é o nome pelo qual o Prêmio da Academia é conhecido mundialmente.
MAISIE SENTIA QUE ESTAVA sendo constantemente observada, mas não conseguia identificar de onde vinha o olhar. Na cabeça dela, era mais fácil falar na frente de mil colaboradores ater que encarar pessoas que a intimidavam com sua fluidez durante toda a sua adolescência.
Maisie sabia que estava num patamar diferente, era uma estrela no mundo corporativo, tinha saído em diversas capas de revistas, incluindo de moda, realizava palestras sobre liderança e motivação, vendia algo muito maior que os produtos de alguma empresa, ela vendia para a alma das pessoas sedentas por algo a mais na vida.
Eu já venci o mundo, é fácil vencer esses caipiras...
Ela cresceu e venceu a vida, mas na frente daquelas pessoas se sentia ainda uma adolescente frágil e indecisa sobre si mesmo e o mundo que ainda estava descobrindo diante de si, pois mais que já tivesse vencido muitos desafios na vida, ainda estava se descobrindo e sabia que agora poderia estar no topo do mundo.
Ela fechou os olhos e se viu na primeira vez que havia vencido na vida sem ter que dividir seu mérito com outras pessoas, ela estava ali na frente de uma grande plateia a aplaudindo, era a melhor vendedora do país e recebeu um prêmio que havia transformado a sua vida para sempre...
Mas uma voz do passado a havia despertado em seu presente...
— Não acredito que é você.
Maisie levantou seu olhar aos poucos, acompanhando as curvas que a roupa fazia no corpo escultural daquele homem, parado a frente dela. Obviamente ela sabia quem ele era, seu primeiro e único amor, o homem que mudou toda a sua existência, alguém cuja a voz reconheceria entre bilhões de pessoas.
— Michael... Michael Vane... – disse com um nítido sarcasmo no ar – o famoso astro do cinema... quanto tempo, hein...
Ele estava com uma calça preta de vinil colada, uma camiseta preta aberta os quatro botões de cima e uma jaqueta de couro, cabelos desarrumados, mas em um corte jovial. Se não fosse moreno, ela podia jurar que era o Jon Bon Jovi quando novo. Ainda sem palavras, continuou a encarar aquela pessoa, quase desejando que fossem apenas os dois.
— Parece que o tempo não passa para você, não é mesmo?
— Mas ele passou para nós...
— Por isso que eu disse que parece...
— Você também parecia um idiota, depois eu vi que não era só aparência.
Michael adorava uma piada com humor negro e caiu na risada.
Eles se conheciam tão bem, tinham vivido juntos tantas experiências inusitadas para um jovem casal, mas naquele momento não passavam de estranhos um para o outro, ela sabia que ele era o homem que amava, sempre o amou, mas também era o homem que a havia abandonado grávida e transformado a sua vida num verdadeiro inferno, e por isso Maisie jurou vingança, pois ela passou pelo Hades completamente sozinha, não tinha uma mão para segurar e se sentir segura durante aquela tempestade, mas ele havia sumido de sua vida para sempre...
Até aquele momento...
— Eu sabia que você ia se tornar uma mulher linda e fabulosa, apostei todas as minhas fichas em você e venci mais uma vez, mas conseguiu superar as minhas expectativas, hein.
— Michael... Tudo bem?
— Estaria bem melhor se estivesse sozinho com você agora...
— Esse é um sonho que não sei se você realmente gostaria de sonhar se soubesse o final que teria... afinal, sonhos podem se tornar pesadelos...
CAIN WELLER tivera a pior vida que alguém poderia sonhar ou imaginar, havia sido abandonado em um orfanato ainda bebê, nunca soube quem eram seus pais e desde criança a única forma que conhecia de sobreviver era tomando as coisas de quem as tinha, porém, onde ele morava ninguém tinha absolutamente nada para ser tirado.Tudo o que Cain sabia sobre a vida era que ela não era justa, se existia um Deus, só poderia ser um tirano, se tivesse ainda pais, eram os piores que alguém poderia ter no mundo, ou seja, num mundo criado e governado por um Deus cristão, seu deus era o próprio satanás.Na escola, foi expulso diversas vezes até que os diretores do orfanato simplesmente deixaram de matriculá-lo, pois ele não conseguia se adaptar à vida em coletividade, era um lobo solitário s
MAISIE SHEPARD TINHA apenas dezessete anos de idade quando todo o turbilhão de emoções e sensações aconteceu em sua vida, até então perfeita para qualquer adolescente.Tinha pais maravilhosos, um irmão chato, uma melhor amiga a quem poderia confidenciar sobre qualquer assunto, chamada Hannah, um cachorro que a acompanhava desde criança em suas pequenas aventuras no quintal de sua casa e uma vida muito boa que o emprego de seu pai proporcionava a toda a sua família, ou seja, tudo o que alguém na idade dela poderia sonhar.Maisie era o epíteto do que era a classe média americana, ia uma vez por ano à Disney World, jantava fora uma vez por semana com toda a sua família em algum restaurante, ia uma vez por semana ao shopping e não precisava fazer trabalhos extras de férias de verão ou inverno para ajudar no orçamento de casa ou até mes
MICHAEL ENTROU para o grupo de teatro na escola e se dava muito bem com todos os companheiros, principalmente com as garotas, ele tinha o dom natural de tratar com o público feminino, era um predador natural e as mulheres adoravam ser presas de Michael, o garoto mais bonito e descolado da cidade.Sua atuação era carregada de excentricidades que o professor de artes não sabia se isso era genialidade ou pura maquiagem teatral, ou os dois, mas Michael era uma metamorfose ambulante, era quase uma pessoa com TMP – Transtorno de Múltiplas Personalidade, porém, ele sempre tinha o controle de tudo, com exceção de sua vida familiar, da qual não dependia dele tal controle.Michael visivelmente tinha muitos problemas dentro de casa e o professor Clark estava ciente de todos eles.Antes de ser professor, era amigo de Michael e sempre que podia tirava-o daquele turbilhão de emoções trau
HANNAH ERA TUDO o que todas as garotas sonhavam ser na escola, a garota mais linda, descolada, bem-de-vida e desejada pelos rapazes mais interessantes e atraentes, para ela os garotos eram apenas um delicioso banquete em que poderia fazer o que bem entendia e logo descartá-los, não era um fim em si mesmo, mas sempre foi um meio para ter o que queria, e ela sempre quis ter tudo na vida, o único que parecia não cair sob seus encantos era Michael Vane.Muito pelo contrário, parecia que Michael sempre a tinha nas mãos e fazia o que bem queria com ela.Literalmente...Fazia sempre tudo o que queria...Ao contrário das pessoas na escola, Hannah sabia que Michael era um pobretão de quinta categoria que não tinha onde cair morto, ela conhecia a sua família que, coincidentemente trabalhava para seu pai, mais por consideração do que por merecimento, pois Carl Vane era um al
A PRIMEIRA PEÇA de teatro que Michael encenou foi um estrondoso sucesso em sua cidade e rodaram o Estado realizando dezenas de apresentações, inclusive no palácio do governo em que foi aplaudido em pé por todos os políticos mais importantes do Estado, incluindo o governador e três senadores da República.Em cada uma destas cidades Michael deixava corações partidos e histórias que nem se lembravam por tê-las repetido dezenas de vezes.— Você não se cansa não? – Disse Hannah, seu par na peça de teatro.— Me cansar? Está maluca? Eu quero é mais...Eu sempre quero mais...— Eu sonho fazendo isso pelo resto da vida... só há duas coisas que jamais irei me cansar nesta vida.Ela queria que pelo menos uma destas coisas fossem sempre com ela ou ela própria, mas Hannah sabia qu
O CURSO ESTAVA TERMINANDO e todos estavam se preparando para o grande baile e Maisie teve que ir acompanhada de seu irmão, pois não havia sido convidada por ninguém, afinal, ela era a garota mais alta de sua turma, a mais inteligente e só isso já estava assustando todos os garotos.— Cara, é deprimente saber que tenho uma irmã derrotada como você, sabia?Maisie fez cara de poucos amigos.— Cala a bola, seu idiota, você é uma pessoa incrível quando não está falando, respirando e nem vivendo, sabia?Eu a acertei em cheio...— Mas eu pelo menos terei companhia para o baile no ano que vem.Maisie bufou indignada enquanto via o irmão mostrar a língua.— Ainda há bastante tempo para você estragar isso, é seu maior talento.Maisie se arrependeu daquelas palavras todos os dias de su
HANNAH OBSERVAVA de longe a situação mais ridícula que já tinha visto, dando-lhe até ânsia, o pobre idiota de seu amante todo doce com a intelectualzinha e desengonçada da turma.— Está tudo bem, querida? – Disse Jeromy – você parece um pouco distraída.— Claro... – disse voltando à sua triste realidade – está uma noite incrível, não é mesmo?— Você não imagina o quanto...Claro que eu imagino...Ele a beijou e enquanto consumavam o ato ela olhava para Michael que lhe devolveu a piscadinha.ELA ESPEROU pacientemente Michael se desvencilhar da chata da Maisie e disse da forma mais gentil que já havia falado com Jeromy em toda a sua vida interrompendo a dança:—
MAISIE ESTAVA OLHANDO para a porta do banheiro onde Michael tinha entrado após colocar os óculos e não estava acreditando no que viu, Hannah tinha entrado logo em seguida... ela sabia o que aquilo queria dizer, afinal, ninguém erra o banheiro das garotas para o dos garotos sem querer, nem mesmo uma toupeira intelectual como Hannah Colleman.E eu que imaginava que ela era a minha melhor amiga... acho que sou tão burra para ver essas coisas óbvias quanto ela é para as matérias da escola...Para Maisie a noite e talvez a vida dela tinha terminado naquela noite, ela jamais conseguiria olhar para Michael novamente e enxergar um futuro ao seu lado, ele simplesmente tinha sido um cachorro da pior estirpe possível, e estragou o que já não estava bom naquela noite, mas a cada minuto que passava os dois lá dentro daquele maldito banheiro, mais Maisie perdia as