3 - "só tenho que aguentar mais um pouco..."

Dois anos depois...

✻✻✻

~Danyela Luchese~

"Meu nome é Danyela Luchese, tenho dezesseis anos e odeio minha família."

Esse é o meu pensamento quando acordo e fico olhando para a parede branca do meu quarto. Meu corpo inteiro dói enquanto me levanto e vou tomar um banho para me preparar para a escola. Ninguém jamais saberia que as dores são resultados da fúria de meu pai bêbado e frustrado.

Eu não posso dizer a ninguém porque se algo acontecer ao meu pai, meu tio Salvatore seria meu responsável legal e nem fodendo eu viveria no mesmo teto que aquele ser assassino e asqueroso. Meu pai era um homem feliz e normal até a morte de minha mãe quando eu tinha só 5 anos, mas não demorou muito para ele encontrar alguém para substituí-la.

Loira, bonita e com um corpo escultural, Leonor é uma mulher interesseira que encontrou no viúvo rico uma oportunidade de enriquecer e só encontrou violência e álcool, mas nada disso a aterrorizava já que ela encontrava consolo nos braços de tio Salvatore quando se dirigia escondida ao armazém.

Meu tio mudou bastante nesse último ano, se afastou totalmente de mim e as poucas vezes que eu o via ele ignorava a minha presença como se fosse insignificante para ele. O que eu já sabia sobre ele me fazia respirar aliviada por não vê-lo com tanta frequência.

"Está no mundo da lua novamente?" - Leonor abre a porta de repente e me olha enrolada na toalha, ela nem ao menos pergunta se preciso de algo, ou se dói, simplesmente olha as marcas e me manda descer e tomar café e ir à escola antes de meu pai acordar.

"Não faça barulho, seu pai está dormindo.' - Diz ela enquanto estou de costas e reviro os olhos.

Espero que ela tenha o mesmo fim que ele, os dois estão cavando sua própria cova e a recompensa não será nada agradável. Eu nem quero estar aqui para ver, mal posso esperar a hora de ir à faculdade e me ver bem longe desses dois.

Escutar atrás das portas é um dom e eu sei muito bem como usá-lo, o bastante para saber que minha madrasta e meu pai, estão ferrados quando a Organização descobrir o que estão fazendo.

"Vai estudar com a Mya hoje, de novo?"

"Sim, tia Sandra pediu que eu a ajudasse. Não precisa esperar, o Dante me trará."

"Quantos anos você acha que tem garota? Chegue a tempo do jantar ou seu pai vai ficar furioso." - Enquanto ela diz isso, sua mão furiosa aperta o meu braço, eu me livro e saio.

✻✻✻

No final da aula encontro Mya nos corredores e nós duas seguimos para o carro onde Dante nos espera. Quando chegamos a mansão seguimos para o quarto dela, mas não antes de encontrar seus irmãos pelos corredores.

Somos todos filhos de mafiosos e todos educados e preparados para seguir os passos de nossos pais e a família Caruso está no comando da Organização.

Giovanni, o irmão do meio, é o tipo engraçadinho e convencido de sua própria beleza, adora viver na noite. Está sempre de bom humor e sem dúvidas o amigo divertido que todo mundo gostaria de ter por perto.

Giancarlo, o mais velho, é o Senhor Sombrio, apelido que seus amigos deram a ele na Organização, está sempre com a cara fechada e segundo o que dizem sabe torturar um inimigo como ninguém. Por esse motivo e por ser mais velho irá substituir o pai no futuro sendo o novo Don.

"Tudo bem? Precisam de alguma coisa?" - Giancarlo pergunta a Mya, ele a trata como se ela fosse um bebê e eu me pergunto como ele não sabia que ela estava sendo incomodada na escola, parece que alguém não estava fazendo seu trabalho direito.

"Não, tudo bem, vamos estudar. Tchau irmãozinho."- Mya me puxa para dentro do quarto e eu não posso deixar de notar o olhar que Giancarlo direciona para mim e me pergunto se eu estava pensando alto? Será que deixei o ranço transparecer?

Nestes dois anos que me tornei a melhor amiga de Mya ele me trata com educação, mas eu não me deixo levar por sua cara fechada, é só mais um macho alfa tentando intimidar todos a sua volta.

Após deixar Mya preparada para sua prova no dia seguinte, eu entro no carro com Dante, que me deixará em casa. Quando olho para o relógio no meu pulso, não posso deixar de soltar uma “merda”, o que deixa Dante curioso.

"Tudo bem, pequena? Se quiser, eu posso entrar e explicar a seu pai a demora."

"Vou ficar bem Dante, não se preocupe." - Eu o olho pelo espelho e percebo que talvez ele desconfie do que aconteça na minha casa.

Dante é meu amigo desde pequena, sua família era próxima à família de minha mãe e quando se mudaram para uma casa na mesma rua nós nos tornamos amigos, como irmãos e várias vezes eu vi Dante deixando claro com sua presença que se precisasse era só chamar, isso na frente do meu pai e da mulher dele. Será que ele sabe de algo? Será que já comentou algo na mansão?

"Chegamos, pequena. Estou no celular, qualquer coisa só chamar." - Ele continua me olhando preocupado.

"Obrigada, Dante. Até amanhã! " - Eu digo desviando o olhar, não quero que ele perceba a minha tristeza.

Assim que entro em casa sinto a primeira bofetada no rosto.

"Garota idiota, eu disse para chegar antes do jantar. Seu pai jantou e saiu, com certeza ele vai querer ter uma conversinha com você quando chegar." - Leonor está furiosa e antes que eu sinta o próximo golpe, seguro a mão dela exatamente como Dante havia ensinado a mim e a Mya.

"O que é isso agora? Ficou valente ou só louca mesmo? Você não passa de uma inútil como sua mãe. "

A filha da puta acha que pode falar da minha mãe.

"Nunca mais fale sobre minha mãe, sua vadia ordinária. - Eu empurro seu braço, fazendo-a cair sentada no sofá."

"Seu pai vai adorar saber disso, você me paga."

Quando entro em meu quarto eu começo a lembrar de quando essa casa era um lugar feliz, minha mãe era como um anjo e fazia todos a sua volta sorrirem. Como sinto a falta dela, como queria estar com ela nesse momento.

As lágrimas rolam sem que eu possa segurar e eu me entrego a tristeza imensa que tenho no coração agora, mesmo sem esperanças eu peço a Deus para que a época de partir para a faculdade chegue logo.

A porta se abre e meu pai já está com o cinto nas mãos, o cheiro de álcool pode ser percebido a quilômetros de distância, eu não escuto nenhuma palavra que ele diz, só me levanto e aguardo os golpes.

Não existe um motivo para explicar porque a violência contra crianças surge na vida de uma família, mas na minha surgiu porque meu pai era um homem fraco e precisava de algo para descarregar a sua raiva.

"Eu exijo que tenha respeito por mim e por minha esposa. Você só me dá preocupação e despesas, queria ter tido um filho homem porque ele sim, poderia seguir a mim e seu tio."

Antes de sair do quarto, ele me olha surpreso pela ausência de lágrimas e sai do quarto furioso. Eu apenas sigo para o banho e um pensamento surge na minha cabeça: "só tenho que aguentar mais um pouco..."

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