Dois anos depois...
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~Danyela Luchese~
"Meu nome é Danyela Luchese, tenho dezesseis anos e odeio minha família."
Esse é o meu pensamento quando acordo e fico olhando para a parede branca do meu quarto. Meu corpo inteiro dói enquanto me levanto e vou tomar um banho para me preparar para a escola. Ninguém jamais saberia que as dores são resultados da fúria de meu pai bêbado e frustrado.
Eu não posso dizer a ninguém porque se algo acontecer ao meu pai, meu tio Salvatore seria meu responsável legal e nem fodendo eu viveria no mesmo teto que aquele ser assassino e asqueroso. Meu pai era um homem feliz e normal até a morte de minha mãe quando eu tinha só 5 anos, mas não demorou muito para ele encontrar alguém para substituí-la.
Loira, bonita e com um corpo escultural, Leonor é uma mulher interesseira que encontrou no viúvo rico uma oportunidade de enriquecer e só encontrou violência e álcool, mas nada disso a aterrorizava já que ela encontrava consolo nos braços de tio Salvatore quando se dirigia escondida ao armazém.
Meu tio mudou bastante nesse último ano, se afastou totalmente de mim e as poucas vezes que eu o via ele ignorava a minha presença como se fosse insignificante para ele. O que eu já sabia sobre ele me fazia respirar aliviada por não vê-lo com tanta frequência.
"Está no mundo da lua novamente?" - Leonor abre a porta de repente e me olha enrolada na toalha, ela nem ao menos pergunta se preciso de algo, ou se dói, simplesmente olha as marcas e me manda descer e tomar café e ir à escola antes de meu pai acordar.
"Não faça barulho, seu pai está dormindo.' - Diz ela enquanto estou de costas e reviro os olhos.
Espero que ela tenha o mesmo fim que ele, os dois estão cavando sua própria cova e a recompensa não será nada agradável. Eu nem quero estar aqui para ver, mal posso esperar a hora de ir à faculdade e me ver bem longe desses dois.
Escutar atrás das portas é um dom e eu sei muito bem como usá-lo, o bastante para saber que minha madrasta e meu pai, estão ferrados quando a Organização descobrir o que estão fazendo.
"Vai estudar com a Mya hoje, de novo?"
"Sim, tia Sandra pediu que eu a ajudasse. Não precisa esperar, o Dante me trará."
"Quantos anos você acha que tem garota? Chegue a tempo do jantar ou seu pai vai ficar furioso." - Enquanto ela diz isso, sua mão furiosa aperta o meu braço, eu me livro e saio.
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No final da aula encontro Mya nos corredores e nós duas seguimos para o carro onde Dante nos espera. Quando chegamos a mansão seguimos para o quarto dela, mas não antes de encontrar seus irmãos pelos corredores.
Somos todos filhos de mafiosos e todos educados e preparados para seguir os passos de nossos pais e a família Caruso está no comando da Organização.
Giovanni, o irmão do meio, é o tipo engraçadinho e convencido de sua própria beleza, adora viver na noite. Está sempre de bom humor e sem dúvidas o amigo divertido que todo mundo gostaria de ter por perto.
Giancarlo, o mais velho, é o Senhor Sombrio, apelido que seus amigos deram a ele na Organização, está sempre com a cara fechada e segundo o que dizem sabe torturar um inimigo como ninguém. Por esse motivo e por ser mais velho irá substituir o pai no futuro sendo o novo Don.
"Tudo bem? Precisam de alguma coisa?" - Giancarlo pergunta a Mya, ele a trata como se ela fosse um bebê e eu me pergunto como ele não sabia que ela estava sendo incomodada na escola, parece que alguém não estava fazendo seu trabalho direito.
"Não, tudo bem, vamos estudar. Tchau irmãozinho."- Mya me puxa para dentro do quarto e eu não posso deixar de notar o olhar que Giancarlo direciona para mim e me pergunto se eu estava pensando alto? Será que deixei o ranço transparecer?
Nestes dois anos que me tornei a melhor amiga de Mya ele me trata com educação, mas eu não me deixo levar por sua cara fechada, é só mais um macho alfa tentando intimidar todos a sua volta.
Após deixar Mya preparada para sua prova no dia seguinte, eu entro no carro com Dante, que me deixará em casa. Quando olho para o relógio no meu pulso, não posso deixar de soltar uma “merda”, o que deixa Dante curioso.
"Tudo bem, pequena? Se quiser, eu posso entrar e explicar a seu pai a demora."
"Vou ficar bem Dante, não se preocupe." - Eu o olho pelo espelho e percebo que talvez ele desconfie do que aconteça na minha casa.
Dante é meu amigo desde pequena, sua família era próxima à família de minha mãe e quando se mudaram para uma casa na mesma rua nós nos tornamos amigos, como irmãos e várias vezes eu vi Dante deixando claro com sua presença que se precisasse era só chamar, isso na frente do meu pai e da mulher dele. Será que ele sabe de algo? Será que já comentou algo na mansão?
"Chegamos, pequena. Estou no celular, qualquer coisa só chamar." - Ele continua me olhando preocupado.
"Obrigada, Dante. Até amanhã! " - Eu digo desviando o olhar, não quero que ele perceba a minha tristeza.
Assim que entro em casa sinto a primeira bofetada no rosto.
"Garota idiota, eu disse para chegar antes do jantar. Seu pai jantou e saiu, com certeza ele vai querer ter uma conversinha com você quando chegar." - Leonor está furiosa e antes que eu sinta o próximo golpe, seguro a mão dela exatamente como Dante havia ensinado a mim e a Mya.
"O que é isso agora? Ficou valente ou só louca mesmo? Você não passa de uma inútil como sua mãe. "
A filha da puta acha que pode falar da minha mãe.
"Nunca mais fale sobre minha mãe, sua vadia ordinária. - Eu empurro seu braço, fazendo-a cair sentada no sofá."
"Seu pai vai adorar saber disso, você me paga."
Quando entro em meu quarto eu começo a lembrar de quando essa casa era um lugar feliz, minha mãe era como um anjo e fazia todos a sua volta sorrirem. Como sinto a falta dela, como queria estar com ela nesse momento.
As lágrimas rolam sem que eu possa segurar e eu me entrego a tristeza imensa que tenho no coração agora, mesmo sem esperanças eu peço a Deus para que a época de partir para a faculdade chegue logo.
A porta se abre e meu pai já está com o cinto nas mãos, o cheiro de álcool pode ser percebido a quilômetros de distância, eu não escuto nenhuma palavra que ele diz, só me levanto e aguardo os golpes.
Não existe um motivo para explicar porque a violência contra crianças surge na vida de uma família, mas na minha surgiu porque meu pai era um homem fraco e precisava de algo para descarregar a sua raiva.
"Eu exijo que tenha respeito por mim e por minha esposa. Você só me dá preocupação e despesas, queria ter tido um filho homem porque ele sim, poderia seguir a mim e seu tio."
Antes de sair do quarto, ele me olha surpreso pela ausência de lágrimas e sai do quarto furioso. Eu apenas sigo para o banho e um pensamento surge na minha cabeça: "só tenho que aguentar mais um pouco..."
Eu evitei Mya durante toda a manhã e agora na saída da escola ela me espera ansiosa. Mesmo sabendo de meu segredo, eu não quero que ela sinta pena de minhas marcas.”Ei, tenho certeza que tirei uma ótima nota, não é demais?” - diz ela enquanto me abraça.”Ai”- Não consigo evitar o grito. ”Ah, meu Deus, eles fizeram de novo? ” - Ela diz levantando um pouco da manga da minha blusa. ”Tudo bem, não foi nada. Estou bem Mya. ” ”Como nada, olha só o seu braço, não consigo nem pensar no resto.”"Eu estou bem, Mya. Fique tranquila, só preciso ir para casa agora para não arranjar mais problemas." - Antes que eu feche a boca, percebo Giancarlo e Dante no carro esperando por Mya e saio andando, evitando contato, evitando conversas, evitando suspeitas, assim como meu pai sempre ensinou.Além de tudo que acontecia na minha casa, eu era obrigada a mentir e manter a imagem da família feliz que todos imaginavam. As pessoas viam apenas um homem que perdeu a esposa jovem e precisou se casar de novo p
~Danyela Luchese~Já faz alguns dias desde o último episódio com meu pai e Leonor, minhas marcas já não são tão visíveis em meu corpo, só as marcas na alma é que nunca vão desaparecer. Eu encontro Mya no refeitório da escola. ”Oi! Meu Deus, vai comer isso mesmo? ” - Pergunto com cara de nojo do queijo horroroso que ela insiste em dizer que é saudável. ”Hum, legal ver que seu senso de humor ainda vive. Tudo bem?” ”Claro, estou feliz só de ficar longe disso ai. ” ”Falando sério Dany, pode passar lá em casa hoje? Preciso de ajuda com uma coisa. ” - Mya insiste para que eu vá com ela e eu não tenho como negar. ”Mas tem que ser rápido, eu não quero ter problemas de novo. ” ”Claro, vai ser bem rápido. ”No final da aula, Dante está nos esperando com um olhar mais sério que de costume. Algo me diz que eu não deveria ir, mas mesmo assim eu atendo o pedido de minha amiga.Quando entramos na mansão, ela me leva pelo braço em direção à sala de jantar e encontramos Don Philip, junto a tia S
~Giancarlo Caruso~Eu tento manter a calma e não invadir a casa antes da hora, mas só de pensar que Dany está lá dentro sozinha meu coração dispara e eu me esforço para confiar que meu pai e nossos soldados chegarão a tempo.Horas depois, quando enfim eles chegam, se posicionam e nos dão o sinal, eu fico cego de raiva e sigo atrás daqueles que ousaram machucá-la. Luigi já sabia que estávamos a caminho, todos sabemos que temos traidores dentro da Organização e precisaremos fazer uma faxina depois.Assim que meu pai entra é recebido por Leonor que tenta nos atrasar, ela é a primeira a pagar por machucar Dany, Luigi como o covarde que é sobe as escadas para meu desespero. Quando chego a porta do quarto vejo o medo nos olhos dela, o pai a usa como escudo para se proteger de nós. ”Giancarlo, eu sei que vocês não vão atingi-la. É melhor ficar paradinho aí mesmo. ” ”Você não passa de um covarde Luigi. Usando a própria filha para se proteger, assim como usou sua esposa traidora. O que acha
~Giancarlo Caruso~A notícia sobre meu casamento com Danyela se espalhou pelos membros da Organização e já é oficial, estamos prometidos um ao outro. A única pessoa que ainda não está por dentro da novidade é a principal interessada, a própria Danyela.Depois de tanta tensão estamos em uma das boates e enquanto bebo uma dose de uísque, eu me deparo com várias caras me olhando curiosas, Giovanni, Dante e meu primo Matteo tentando entender no que eu estava pensando quando me ofereci para me casar com uma garota nove anos mais nova que eu."Você ficou louco, só pode. O que te faz pensar que uma garota de dezesseis anos vai querer um velho como você?" - Diz Giovanni incrédulo."Eu tenho quase vinte e seis e quando nos casarmos ela vai ter vinte e um e eu trinta. Nem é tanto assim e que eu deveria fazer? Deixar nosso pai escolher você? Que futuro poderia dar a ela?" - Eu ainda me sinto advogando para ela."Ela vai recusar e vai sofrer as consequências, ela nunca quis ser esposa de alguém d
Assim que chegamos, seguimos direto para o escritório onde Don Philip nos aguarda. Todos da família estão lá e eu sinto que o que vai acontecer agora não é bom.Giancarlo me ajuda a sentar na poltrona em frente a mesa do escritório, eu poderia dizer a ele para parar de me tratar como doente porque já estou ótima, mas não quero parecer ingrata ou insolente principalmente com ele, mesmo que eu reviva aquela cena sempre que o encaro."Me diga Pequena, do que se lembra daquela noite." - Dom Philip me pergunta curioso."Eu fiz o que o senhor me pediu para fazer, fui para meu quarto e tranquei a porta, fiquei esperando e então ouvi a voz de Leonor gritando e meu pai arrombou a porta me colocando na frente dele." - Digo olhando para algum ponto fixo na mesa em minha frente, eu nem gostaria de estar falando sobre isso."Depois disso o médico chegou e começou a socorrer você, nós abrimos o cofre e encontramos bastante coisa lá, graças a você. ” - Don Philip continua explicando e eu aceno com a
Dois anos depois...✻✻✻~Danyela Luchese~Eu me chamo Danyela Luchese, tenho quase dezenove anos e depois de um dia inteiro de aulas e trabalhos na biblioteca da faculdade, estou aqui com a cabeça no travesseiro sem conseguir dormir.Me sinto literalmente quebrada e agora as dores no corpo são pelo cansaço, tem sido assim desde que sai da mansão e vim para faculdadeEu passo bastante tempo por aqui evito ir à mansão o tempo todo porque na minha cabecinha maluca eu acho que se evitar meu noivo e ignorá-lo bastante ele também vai me ignorar e esquecer da minha existência, quem sabe assim ele se interessa por outra mulher e se esqueça de vez desse casamento.Mesmo ele me dando bastante espaço, eu trabalho na biblioteca inclusive nas férias, assim ocupo bastante meu tempo e posso dar uma desculpa a tia Sandra para não ir para casa quando ela reclama de minha ausência. Porém, durante o natal ela não abre mão da presença de todos.Eu falo com Mya todos os dias e ela me lembra que não vou co
~Giancarlo Caruso ~Nessa mesma Época..."Ela disse o quê? Mas o que ela quer, afinal? Eu estou tentando ser gentil, ela sabe que esse dinheiro também será dela quando nos casarmos. Ela prefere trabalhar na biblioteca do que aceitar nosso dinheiro?" - Pergunto a Dante que acaba de me contar sobre sua visita a Dany.Eu tenho tentado me manter afastado depois que percebi que ela não me quer por perto e antes de procurar entender o motivo de toda essa aversão, eu só tento respeitá-la quando, na verdade, minha vontade era de calar aquela boquinha nervosa com um beijo.Eu sempre recebo fotos dela pelos soldados e do próprio Dante e não posso negar a atração que sinto por essa pequena insolente só aumenta, não sei quando começou ou porque começou já que antes eu só queria protegê-la.O tempo todo tento me lembrar de minha responsabilidade com ela e com a Organização, por isso tenho que tentar controlar meus pensamentos mesmo que isso machuque meu pobre coração.”Acho melhor esquecer a ideia
~Giancarlo Caruso~Assim que o carro para na frente da mansão e vejo a razão de minha insônia descendo do carro, meu coração dispara. Quando ela se aproxima eu espero pelo menos um toque, mas a única coisa que recebo é um olá, como se eu fosse apenas um amigo, como se não tivessemos nenhum tipo de vinculo. ”Olá Giancarlo, como você está?” ”Estou bem Danyela e você? Bem-vinda de volta.” ”Estou bem, onde estão todos? ” Ela pergunta e meu telefone toca enquanto respondo a ela. Antes que eu possa me desculpar por ter que atender, ela já sumiu. Mas que porra essa garota viu em mim para não me querer por perto? É exatamente essa indiferença dela que me faz perder o juizo.Sigo para a academia onde disse a ela que meus irmãos estavam, chego a tempo de vê-la abraçando Mya e quando tenta fazer o mesmo com Dante ele estende a mão a ela que fica surpresa, eu consigo ouvir claramente sua indignação. ”O que foi, eu fiz alguma coisa? ” - Ela fica curiosa, porém acho que ela já sabe o que houve