A brisa que soprava pelo caminho entre as árvores trouxe uma mudança sutil, mas clara. A densidade opressiva da floresta de Nyrathas começava a ceder, dando lugar a um frescor que falava de campos abertos e ventos livres. As árvores continuavam altas, mas a luz que filtrava entre seus galhos carregava uma promessa de alívio.Eryon liderava o grupo, a leveza que sentia a cada passo não refletia o tumulto em sua mente. A floresta ainda sussurrava dentro dele, memórias e desejos dançando em um ciclo interminável, intensificados por aquela energia estranha e antiga.— O que é aquilo? — A voz de Eyle interrompeu seus pensamentos.Adiante, uma estrutura de pedra ergueu-se na trilha, como um guardião esquecido pelo tempo. Embora não fosse grandiosa, sua presença era inegavelmente marcante. Runas antigas cobriam sua superfície, brilhando com uma luz prateada e pulsante.Eryon avançou primeiro, ajoelhando-se diante da estrutura. Seus dedos traçaram as runas, e uma leve vibração percorreu seus
Do outro lado, Althea parou abruptamente quando viu Eryon. Ela o reconheceria em qualquer lugar. Seu corpo reagiu e ela correu até ele, o coração batendo rápido.Os outros lykor mantiveram certa distância, mas não deixaram de observar. Kael, especialmente, parecia atento, a tensão visível no maxilar.Quando Eryon e Althea se encontraram, o mundo ao redor desapareceu. O som do vento, dos passos de seus companheiros, até mesmo a vibração da floresta ali perto, tudo se tornou insignificante.— Você está bem? — Althea perguntou, suas mãos segurando o rosto de Eryon, os olhos cinzentos examinando-o.— Agora sim. — Respondeu Eryon, a sinceridade em sua voz carregando um peso que a fez vacilar.Naquele instante, tudo que Althea queria era se atirar em seus braços, sentir o calor familiar dele e garantir a si mesma que ele estava bem, que ambos estavam. Mas, em vez disso, ela manteve o controle, a líder dentro dela sempre à frente.Respirou fundo, recuou um passo e se virou para Eyle, cuja po
O peso das decisões pressionava Althea a cada passo. Como líder dos Lykir, suas escolhas moldavam não apenas seu destino, mas o de todos ao seu redor. A missão de alcançar o templo de Veyara, a tensão crescente entre Eryon e Kael, e a ameaça de uma força corrupta se espalhando por Lykaria eram fardos que ela carregava com dignidade.Contudo, a presença de Eryon, após anos de separação, trazia um turbilhão de emoções conflitantes—amor, dúvida e uma sombra desconhecida que se alojara entre eles desde a última vez que se viram, no Espelho da Lua.O sol mergulhava no horizonte, lançando sombras longas que dançavam ao ritmo do vento. Foi Eyle quem quebrou o silêncio, sua voz suave, mas firme, ecoando pelo grupo.— Eryon, você contou a Althea sobre a bruxa que encontramos na floresta? — A pergunta veio sem rodeios, o olhar de Eyle fixo em Eryon. — Como era o nome dela mesmo?Eryon parou, seus músculos se retesando. Ele desviou o olhar de Eyle para Althea, cujo cansaço deu lugar a uma expres
O primeiro indício de que algo estava diferente foi o cheiro no ar. Não era apenas a brisa fresca da manhã ou o aroma das folhas caídas. Era algo mais profundo, primitivo, um perfume que despertava os sentidos mais ocultos.Althea acordou sentindo o corpo mais quente, a pele mais sensível ao toque da brisa que atravessava o acampamento. E então, ela percebeu. O cheiro inconfundível que emanava dela mesma era uma declaração silenciosa do que estava por vir.Kael e Kamar foram os primeiros a reagir, ambos se endireitando de maneira quase automática, os olhos vermelhos brilhando com uma intensidade que apenas os Varkos podiam exibir. Suas narinas dilatadas captaram o aroma no ar, e a tensão entre eles cresceu de forma palpável.Eryon, por outro lado, sentiu uma inquietação diferente. Algo nele reagia, mas não como os Varkos. Ele sabia que havia algo mais em jogo, mas não era governado pelos mesmos impulsos.Sakyr manteve-se calmo, sua disciplina Lykir evidente enquanto observava a situaç
O grupo sentia um peso quase tangível no ar, enquanto Kael e Eryon se encaravam, desafiando-se mutuamente. A hostilidade que emanava de ambos era mais do que uma disputa de egos; era uma manifestação dos impulsos selvagens, amplificados pela presença de Althea. Não era apenas uma luta pelo afeto dela, mas também pelo controle e respeito em meio a um período que os deixava vulneráveis.Kael deu um passo à frente, seu sorriso provocador ampliando a intensidade de seus olhos.— Vamos ver do que você é feito, Eryon. — Ele disse, a voz carregada de sarcasmo. — Não é nem capaz de se transformar, por acaso perdeu sua conexão com o lobo? Talvez nem seja um lykor de verdade.Eryon respirou fundo, tentando manter a compostura. Ele sabia que Kael estava tentando desestabilizá-lo, mas precisava resistir. Ele ergueu o queixo, encarando Kael com uma calma exterior que ocultava a tempestade por dentro.— Conexão com o lobo é mais do que se transformar. — Eryon respondeu, a voz firme. — É saber quand
Kael se aproximou de Althea enquanto o grupo descansava, a noite envolta em um silêncio tranquilo, interrompido apenas pelo suave balançar das folhas ao vento. A luz prateada da lua delineava os contornos de Althea, e por um instante, Kael hesitou, a intensidade em seus olhos vermelhos suavizando-se enquanto buscava as palavras certas.— Althea, eu... precisamos conversar. — Sua voz, geralmente cheia de comando, agora era suave, quase hesitante, o que fez Althea arquear uma sobrancelha, curiosa.Ela cruzou os braços, virando-se para ele e esperando pacientemente que continuasse. Kael olhou o horizonte, enquanto lutava contra a confusão interna.— Peço que primeiro me ouça, tenho muito o que falar. — Ele começou, a intensidade em seu olhar voltando, mas desta vez com uma vulnerabilidade que não costumava mostrar. — Sei que somos diferentes. Mas preciso ser honesto com você.Seus olhos, agora, estavam fixos nos dela. — O que sinto é mais do que respeito ou admiração. É uma necessidade,
Eryon observava de longe, seus olhos fixos na interação entre Althea e Kael. Cada movimento, cada gesto, estava carregado de emoções que ele não conseguia decifrar completamente. A conversa deles era inaudível, mas o peso da situação era palpável. Ele sentia-se dividido entre o desejo de respeitar o espaço dela e a vontade de ouvir cada palavra. Uma mistura de ciúme, insegurança e amor o consumia, deixando seus pensamentos confusos e embaralhados. Eyle notou o conflito interno de Eryon. Aproximou-se com passos leves, tocando suavemente o braço dele para chamar sua atenção. — Eryon, está tudo bem? — Perguntou, sua voz baixa e gentil. Ele suspirou, desviando o olhar da direção de Althea e Kael. Apesar de Eyle ter introduzido o assunto "Miralen" antes dele ter a chance de fazer do seu jeito, ele não se sentiu afrontado por ela. Estava acostumado com a assertividade e clareza das Lykir e entendeu que não foi um ataque pessoal. Além disso, desde a jornada em Nyrathas, ela tinha provado
Althea e Eryon caminharam em silêncio até as Praias Prateadas. A areia, sob a luz da lua, reluzia com um brilho etéreo, transformando o cenário em um tapete de memórias e promessas. O som suave das ondas quebrando na costa compunha uma melodia nostálgica que os envolvia, ecoando o despertar de um amor que ali havia florescido.Quando alcançaram a margem, Althea parou, seus pés tocando a água fria que lambia a areia. Seus olhos fixaram-se no mar prateado que se estendia até o horizonte, cada onda trazendo de volta lembranças daquele primeiro beijo, daquele primeiro despertar.— Sempre sonhei viver esse momento num lugar assim. — Murmurou Althea. — E quis o destino nos conduzir até aqui, exatamente onde tudo começou.Eryon não podia mais esperar. Aproximou-se de suas costas, os dedos suavemente deslizando pelos braços dela até alcançar sua cintura. Com uma das mãos ele a puxou para si, a outra voltou para emaranhar-se nas ondas negras dos seus cabelos. Afastou as madeixas sedosas, expon