Capítulo 3

Paula havia colocado o seu celular à venda e, já no dia seguinte, tinha um rapaz interessado em comprá-lo. Ele foi conversar com ela em sua casa.

— Realmente, ele quase não tem marcas de uso.

O rapaz acabou pagando à vista e ela ficou muito feliz, apesar de doer por se desfazer daquele aparelho que havia sido sua primeira aquisição. Ela tinha conseguido comprá-lo depois de trabalhar alguns dias no shopping como vendedora, mas não pôde continuar no emprego devido aos estudos.

Paula voltou para casa, mas não quis comentar com o pai que havia feito aquilo por causa da viagem, não querendo que ele se sentisse mal por ela ter se desfeito do seu aparelho.

A partir de então, seria mais difícil para ela conversar com Tamara, porém ainda tinha seu notebook e conseguia acessar algumas redes sociais por ele.

Para ela, quarta-feira era o pior dia de aula, já que teria três aulas consecutivas com o professor Robson e ela achava muito cansativo. Chegou à faculdade um pouco atrasada por causa do ônibus.

— Perdoe-me o atraso, professor! — desculpou-se.

Ele apenas indicou que se sentasse no seu lugar. As aulas dele eram sempre excelentes. Diferentemente dos outros professores, ele não fazia uso de livros ou artigos para ensinar. Todo o seu conhecimento estava retido em uma mente extremamente brilhante. Infelizmente, ela não tinha muita aptidão para aquela disciplina, mas reconhecia o eficaz método de ensino dele.

Após o intervalo, ainda teriam mais aulas com ele. Paula decidiu ir para a biblioteca naquele momento. Tamara a questionava sobre o porquê de se isolar, mas ela explicou que precisava de um tempo extra para estudar a matéria.

Na verdade, esse não era o real motivo. Era apenas mais um momento em que ela se perguntava por que não podia ter tudo que as outras garotas tinham... Odiava ter que se dedicar tanto para mudar de vida, enquanto outras faziam uso de outros métodos para conseguir o que queriam.

Lembrou-se de que a chave de casa que pertencia ao seu pai tinha ficado dentro de sua bolsa, o que significava que ele teria que dar um jeito de entrar em casa, possivelmente chamando um chaveiro.

— Droga de chave! — resmungou.

Paula ia retornar para o pátio do campus, mas acabou esbarrando com o professor Robson em um dos corredores da biblioteca.

— Professor, perdoe-me, não o havia visto! — ela se desculpou.

— Na verdade, eu havia vindo justamente para falar com você sobre suas notas e trazer uma notícia. — respondeu ele.

— Antes de fazer isso, seria possível me emprestar o seu celular para fazer uma ligação urgente?

— Claro, é claro que posso! — disse ele, retirando o aparelho do bolso. 

Ela discou os números...

— Papai em uma troca de bolsas acabei ficando com a sua chave, o senhor precisará fazer uma nova cópia, me desculpe!

O pai revelou que de qualquer forma chegaria um pouco mais tarde naquela noite, então ela já provavelmente estaria em casa. Robson observava a preocupação da jovem com o pai, cada movimento por mais singelo de seus lábios eram acompanhados por ele, sua graciosidade deixou Robson em transe...

— Tudo bem então papai! — agradeceu ela, desligando a ligação e gentilmente entregando o aparelho para o professor.

— Posso te fazer uma pergunta Paula?

— Sim senhor!

— O que houve com o seu celular, sempre te vejo de um lado para o outro com ele e inclusive já chamei sua atenção por causa disso durante as minhas aulas.

— Eu tive um problema e precisei me desfazer dele.... — respondeu ela em tom constrangido.

Robson pensou em perguntar mais sobre sua vida e ele quis fazer isso, mas não queria parecer ter intenções que não deveria...

— Mas o senhor disse que veio até aqui para conversar comigo... — insistiu ela.

— Sim claro, é sobre a viagem que faremos para Los Angeles!

Assim que ele usou o verbo faremos, a jovem ficou ainda mais curiosa.

— Achei que essa viagem seria com a disciplina do professor Eduardo!

— E seria, mas eu fiquei incumbido desta missão e já que você está com notas baixas, eu decidi que avaliarei os seus conhecimentos durante nossa permanência e depois, na elaboração de um projeto de pesquisa!

Paula

Eu não posso acreditar que tenha vendido o meu celular e feito tantos planos para uma viagem com Eduardo e agora tudo isso foi em vão, tentei não demonstrar descontentamento, mas lamentavelmente não era o que eu esperava... Ter que viajar com ele!

 — E não há outra forma de me avaliar? — perguntei.

— Se você prefere fazer uma prova, por mim tudo bem e posso colocar outra pessoa em seu lugar, mas não se esqueça de que você não foi bem em nenhuma das minhas avaliações anteriores. Vim apenas te comunicar do fato, você tem vinte e quatro horas para decidir se vai ou não...

Robson saiu me deixando pensativa, já que ele queria me avaliar assim, eu terei que aproveitar e tentar melhorar as minhas malditas notas. Agora já está feito e não dá mais para voltar atrás, eu terei que ir a essa viagem estúpida.

Voltei para sala e assisti o restante da aula, depois Tamara me chamou para tomar um sorvete e eu contei a ela o que havia acontecido:

— Então quer dizer que o professor Robson, irá nos acompanhar nessa visita técnica? Logo ele, que nunca aceita fazer esse tipo de viagem por causa da esposa chata e o filho?

— Mas dessa vez ele vai e ainda disse que irá me avaliar desta forma, porque eu preciso de nota. — Joguei a colher dentro do copo de sorvete e cruzei os braços.

— Então é melhor que você se conforme e já comece a preparar as suas malas.

Cheguei em casa e realmente papai ainda não tinha voltado, eu sei que ele precisa conhecer alguém e se envolver de novo. Se tornou um grande solitário após a morte da minha mãe, eu gostaria que ele encontrasse alguém de bem para voltar a ser feliz.

Era tão estranho para mim, ficar sem celular e sem poder olhar as minhas redes sociais a todo momento, mas já que aquela era a minha realidade... Eu abri o notebook para verificar tudo o que havia de notificações naquele dia e para a minha surpresa, havia uma mensagem no b**e-papo do Direct.

O coração vibrou ao ver que era do professor Eduardo, apenas havia mandado um bom dia e eu respondi com um: “boa noite, vi apenas a sua mensagem agora.”

Fiquei toda feliz pensando que talvez ele pudesse me dizer que iria nessa viagem, mesmo que o professor Robson tenha dito o contrário.

[...]

No dia seguinte, Paula resolveu sair de manhã para comprar algumas coisas que precisaria levar para a viagem como roupas de frio, experimentou algumas peças e realizou o pagamento saindo de lá logo em seguida.

Robson permaneceu pensando na situação econômica de sua aluna e se compadeceu, sempre havia muito envolvida com o celular e estar sem ele para uma jovem, certamente era terrível. Como todos os dias, ele que levou o filho até a escola e se despediu dele com um beijo no rosto.

— Até mais tarde campeão!

Jonas entrou correndo na escola. Sheila e Robson divergiam em relação ao que achavam melhor para a educação do filho. Ele achava que o menino deveria estudar em uma escola especializada no atendimento de crianças com Síndrome de Down, enquanto ela acreditava que ele deveria estar em uma escola convencional, onde pudesse ter o mesmo tratamento que os outros meninos da sua idade. A escola em que ele estudava era padrão.

Antes de ir para a faculdade e realizar os preparativos para a viagem e o novo formato que deveria atribuir para aquela visita técnica, ele passou no shopping e permaneceu parado olhando para lá... Até que não resistiu e entrou, conversou com uma atendente em uma das lojas de celulares:

— Bom dia, senhor, em que posso ajudá-lo?

— Preciso de um bom aparelho celular, que possua uma memória de armazenamento para vários aplicativos e que tenha uma boa câmera!

Ele sabia que para as jovens de hoje em dia, tudo o que importava era que o celular pudesse registrar boas fotos e ter espaço de armazenamento.

— Certo! — respondeu ela, tirando alguns iPhones da prateleira.

— Vamos simplificar as coisas, se você fosse uma garota de dezoito anos, qual celular gostaria de ter?

— Certamente o iPhone 15 é um dos modelos atuais e dos melhores.

— Certo então, eu vou levar. — A atendente então, o encaminhou até o caixa onde ele realizaria o pagamento.

Ele pediu que fizessem um embrulho para presente.

Robson pensou sobre a maneira mais discreta de efetuar o pagamento. Considerando que ele e Sheila possuem uma conta conjunta, qualquer movimentação superior a R$ 15.000, ele sabia que não passaria despercebido por ela.

— Qual será a forma de pagamento?

— Cartão de crédito! — recordou que o cartão de crédito poderia ser mais discreto, já que apenas ele tinha acesso às faturas.

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