Sofia Adams - Março, 2012Ethan que acariciava meu cabelo parou e me encarou seriamente. - Você quer vê-la? - questionou. Assenti fraco. - Então muda, Sofia. Se você quer manter Anne e o bebê na sua vida precisa mudar. Precisa parar de sentir toda essa culpa e deixar o que aconteceu ir. Precisa superar. Vai ser difícil e vai doer, mas é o melhor e você sabe disso. Deixe Nick ir, Sofia.Suas palavras me atingiram como um tapa. Deixar Nick ir? Olhei para um ponto distante vendo só a silhueta de Nick e notei que ele usava as mesmas roupas do dia do acidente, só que sem sangue, eu quase nem reconheci. Tanto tempo sua imagem ensanguentada e inconsciente me atormentou e agora estava ele ali, pleno e em paz.Notei Nick com o olhar ansioso, como se ele estivesse ali só aguardando a minha... permissão? Então eu dasabei em choro. Deus sabia como eu queria Nick de volta. Mas eu não podia tê-lo e acho que ele queria me fazer entender isso. Ele queria que eu lhe desse liberdade. Que eu o deixa
Sofia Adams – Abril, 2012Uma semana havia se passado desde a cena que eu causei no hotel. Anne esteve hospitalizada a semana inteira, mas mesmo mantendo contato por mensagem eu não consegui vê-la. Nos primeiro dias tive crises horríveis de abstinência. Dores de cabeça, suor frio e tremores pelo corpo... Ethan esteve ao meu lado o tempo todo se certificando que eu bebesse muita água e comesse coisas leves. Eu não conseguia dormir e as vezes, eu não conseguia nem respirar. O pior eram os devaneios. Vira e mexe eu fantasiava com Ethan se distraindo e eu indo beber alguma coisa. O desejo era tão latente que eu sonhava com isso. Via-me com uma garrafa na mão e bebendo até a última gota, saboreando daquele veneno. De repente, eu acordava com a boca seca de desejo e coberta de vergonha ao perceber por onde meus pensamentos me levaram. Eu lembro de ir até o restaurante do hotel no terceiro dia após as crises abrandarem. Ethan dizia que seria bom ver aquele lugar com outros olhos e que
Sofia Adams - Março, 2012Assim que descemos na frente do hospital eu respirei fundo, na última vez que estive em um as coisas não acabaram bem. Eu não me sentia pronta para ver Anne antes, mesmo ela garantindo que me perdoava eu ainda estava tendo dificuldade em me perdoar. Anne descobriu estar propensa a desenvolver hipertensão gestacional o que me deixou completamente desesperada. - No seu tempo - Murmurou Ethan ao meu lado esperando eu me mexer. Respirei fundo mais uma vez e comecei a andar. Após informar o quarto na recepção e receber a permissão para subir, Ethan e eu rumamos para o elevador e assim que saímos dei de cara com Tom no corredor carregando uma garrafa d'água. Eu não sabia como agir com ele, após aquele dia não nos falamos e eu sentia que ele estava com raiva. Eu também estaria no seu lugar. Tom nem deu tempo para o desconforto se instaurar vindo imediatamente me abraçar assim que me viu. Poucas vezes na vida Tom me abraçou o que só tornou aquele momento único.
Sofia Adams - Março, 2012Anne me olhava com atenção e parecia ler o que se passava na minha cabeça. - Eu sei o que está pensando, Sofia. Sei que não é fácil, tudo bem estar triste - Sorri fraco, claro que ela sabia. - Eu prefiro me concentrar no quanto estou feliz por você, Ann - respondi sincera. Me concentrar em coisas boas parecia funcionar um pouco para distrair da vontade insana que eu tinha de beber. - Vocês já pensaram em um nome? - parguntei. Anne riu. - Nós nem sabemos o sexo, Sofia! - - Mas é questão de tempo - rebati. - Sim, mas quando soubermos teremos ainda mais tempo pra decidir – finalizou - E cá entre nós, estou evitando o assunto pra não ouvir os nomes horríveis que Tom quer dar - sussurrou. Anne mal havia terminado a frase quando Tom entrou no quarto abruptamente junto com Ethan. - Ei, Timóteo não é tão ruim assim - disse ele. Timóteo? Aquilo era uma piada, tinha que ser. Anne me olhou como se quisesse falar "não te disse?" - Já discutimos isso, Timóteo
Sofia Adams - Abril, 2012Eu estava sonhando.Eu vi o que parecia um Nick mais velho brincando com crianças em uma praia ensolarada. Uma delas era uma garota que aparentava ter sete anos com os cabelos ruivos iguais aos dele e a outra criança era um menino um pouco menor, talvez três anos com os cabelos escuros iguais aos meus. Obviamente minha mente iludida deduziu que eram nossos filhos, enquanto via Nick jogar o garotinho no ar e pegar enquanto a menina agarrava em suas pernas pedindo para fazer o mesmo com ela. Nick deixou os dois brincando e veio deitar ao meu lado na areia sob um céu azul e sol brilhante. Ele tocou meu rosto carinhosamente, seu toque queimando mais que o sol em minha pele. Eu estava sorrindo e feliz. - Nós nunca tivemos uma chance real, né? - perguntei. - Do quê? – Perguntou Nick ainda sorrindo fácil. - Disso - Apontei para nós e para as crianças que corriam alegremente a nossa frente. Nunca tivemos a chance de um futuro e mesmo que o acidente não tivess
Sofia Adams - Abril, 2012Pisquei voltando a realidade notando que Kate ainda aguardava uma resposta. - Sim, é por causa do sonho. Eu tenho essa sensação que eu não consigo viver uma vida sem Nick - confessei. Kate me lançou um olhar conhecedor e suas palavras seguintes me arrepiaram. - Que você não merece uma vida quando ele morreu por sua causa - Completou Kate dando voz aos meus sentimentos exatos - E mesmo com todos dizendo que você não teve culpa, você não acredita - Kate mais que ninguém entendia. - Sim - falei em um sussurro. - Você parou de beber tem pouco tempo, e antes todas as emoções que você tentava suprimir com o álcool agora não tem mais para onde ir. Você tem que encarar ou se deixar abater por elas. Mas isso só vai te levar de volta ao álcool - Kate dizia tudo isso suavemente, com a propriedade e a verdade de alguém que esteve onde eu estive. Chegamos a cafeteria antes que eu pudesse responder algo, mas acho que nem precisava, ela não parecia esperar uma respos
Ethan Hernandez – Abril, 2012 Anne tinha ido embora há pouco mais de uma semana, mas isso não a impediu de cuidar de tudo de longe. Eu olhava sua última mensagem no meu celular pensando se seria certo atender seu pedido. "Ethan, por favor distraia Sofia um pouco... Eu confio nela para ser forte e tudo mais, mas deve estar sendo difícil, talvez uma conversa ou só sair um pouco ajude. Me mantenha informada, sim?" Eu havia notado um certo distanciamento de Sofia nos últimos dias, ela estava me evitando. E eu só poderia pensar que isso se devia a Nick. O que não precisava ser assim, eu só queria estar por perto e ajudar. Queria ver Sofia voltar a ser o que era. Queria ter sua amizade de novo. Eu observei de longe sua melhora lenta, suas crises de abstinência abrandaram, mas ela sempre me parecia aérea demais, distraída. Como se não estivesse realmente ali. E esse era meu medo. Se ela não tinha mais o escape do álcool, talvez seu cérebro encontrasse alguma forma de desligar e se dis
Ethan Hernandez - Abril, 2012Sofia sorriu fraco e desviou o olhar, nossa conversa tinha chegado ao fim, mas eu não deixaria ela ir assim. Ela precisava saber que poderia me mostrar seu lado triste também sem medo. Desde que nos reencontramos eu recebi raiva e amargura, se eu quisesse retomar nosso contato eu teria que aceitar tudo. E eu aceitava. Eu aceitava sua tristeza, seu luto, seu choro e suas crises. Eu aceitava por quê eu sabia quem ela era por baixo daquilo tudo. Eu amava o que tinha embaixo e aprenderia a entender o que ela havia se tornado por cima. Peguei sua mão e apertei. Sofia não retornou meu olhar, mas apertou minha mão de volta e pude ver um pequeno sorriso em seus lábios. A roda gigante estava subindo vagarosamente, eram 30 minutos até ela dar a volta completa, então ainda não tínhamos atingido o topo. Eu revezava meu olhar entre a vista da janela e ela. Não podia evitar, era tão linda. Minha mente viajou para anos atrás, com uma Sofia mais nova e menos calej