Sofia Adams - Abril, 2012Eu estava sonhando.Eu vi o que parecia um Nick mais velho brincando com crianças em uma praia ensolarada. Uma delas era uma garota que aparentava ter sete anos com os cabelos ruivos iguais aos dele e a outra criança era um menino um pouco menor, talvez três anos com os cabelos escuros iguais aos meus. Obviamente minha mente iludida deduziu que eram nossos filhos, enquanto via Nick jogar o garotinho no ar e pegar enquanto a menina agarrava em suas pernas pedindo para fazer o mesmo com ela. Nick deixou os dois brincando e veio deitar ao meu lado na areia sob um céu azul e sol brilhante. Ele tocou meu rosto carinhosamente, seu toque queimando mais que o sol em minha pele. Eu estava sorrindo e feliz. - Nós nunca tivemos uma chance real, né? - perguntei. - Do quê? – Perguntou Nick ainda sorrindo fácil. - Disso - Apontei para nós e para as crianças que corriam alegremente a nossa frente. Nunca tivemos a chance de um futuro e mesmo que o acidente não tivess
Sofia Adams - Abril, 2012Pisquei voltando a realidade notando que Kate ainda aguardava uma resposta. - Sim, é por causa do sonho. Eu tenho essa sensação que eu não consigo viver uma vida sem Nick - confessei. Kate me lançou um olhar conhecedor e suas palavras seguintes me arrepiaram. - Que você não merece uma vida quando ele morreu por sua causa - Completou Kate dando voz aos meus sentimentos exatos - E mesmo com todos dizendo que você não teve culpa, você não acredita - Kate mais que ninguém entendia. - Sim - falei em um sussurro. - Você parou de beber tem pouco tempo, e antes todas as emoções que você tentava suprimir com o álcool agora não tem mais para onde ir. Você tem que encarar ou se deixar abater por elas. Mas isso só vai te levar de volta ao álcool - Kate dizia tudo isso suavemente, com a propriedade e a verdade de alguém que esteve onde eu estive. Chegamos a cafeteria antes que eu pudesse responder algo, mas acho que nem precisava, ela não parecia esperar uma respos
Ethan Hernandez – Abril, 2012 Anne tinha ido embora há pouco mais de uma semana, mas isso não a impediu de cuidar de tudo de longe. Eu olhava sua última mensagem no meu celular pensando se seria certo atender seu pedido. "Ethan, por favor distraia Sofia um pouco... Eu confio nela para ser forte e tudo mais, mas deve estar sendo difícil, talvez uma conversa ou só sair um pouco ajude. Me mantenha informada, sim?" Eu havia notado um certo distanciamento de Sofia nos últimos dias, ela estava me evitando. E eu só poderia pensar que isso se devia a Nick. O que não precisava ser assim, eu só queria estar por perto e ajudar. Queria ver Sofia voltar a ser o que era. Queria ter sua amizade de novo. Eu observei de longe sua melhora lenta, suas crises de abstinência abrandaram, mas ela sempre me parecia aérea demais, distraída. Como se não estivesse realmente ali. E esse era meu medo. Se ela não tinha mais o escape do álcool, talvez seu cérebro encontrasse alguma forma de desligar e se dis
Ethan Hernandez - Abril, 2012Sofia sorriu fraco e desviou o olhar, nossa conversa tinha chegado ao fim, mas eu não deixaria ela ir assim. Ela precisava saber que poderia me mostrar seu lado triste também sem medo. Desde que nos reencontramos eu recebi raiva e amargura, se eu quisesse retomar nosso contato eu teria que aceitar tudo. E eu aceitava. Eu aceitava sua tristeza, seu luto, seu choro e suas crises. Eu aceitava por quê eu sabia quem ela era por baixo daquilo tudo. Eu amava o que tinha embaixo e aprenderia a entender o que ela havia se tornado por cima. Peguei sua mão e apertei. Sofia não retornou meu olhar, mas apertou minha mão de volta e pude ver um pequeno sorriso em seus lábios. A roda gigante estava subindo vagarosamente, eram 30 minutos até ela dar a volta completa, então ainda não tínhamos atingido o topo. Eu revezava meu olhar entre a vista da janela e ela. Não podia evitar, era tão linda. Minha mente viajou para anos atrás, com uma Sofia mais nova e menos calej
Sofia Adams – Abril, 2012Eu estava na minha quinta reunião quando eu percebi um integrante novo no grupo encostado na parede longe de mim.Acenei para Mick alegremente enquanto ele me lançava um sorriso fraco. Sua aparência estava horrível... Ele tinha olheiras profundas ao redor dos olhos, seus cabelos estavam mais bagunçados que o normal e suas roupas amassadas. Um leve camada de suor pingava de seu rosto de forma quase doentia. Tudo isso somado a sua expressão abatida e postura cansada me fizeram chegar a uma conclusão: Mick estava em processo de desintoxicação. Que Deus ajudasse ele nesse momento por que eu me lembrava muito bem do inferno que era. Antes que eu pudesse chegar até ele para conversar as pessoas se aproximaram para se sentar nas cadeiras que formavam um círculo. Era a hora de compartilhar.Haviam se passado alguns dias desde que saí com Ethan. Eu estava me sentindo muito mais leve e um pouco confusa. Por isso quando chegou o momento de compartilhar no grupo de ap
Sofia Adams – Abril, 2012Já fazia um mês que eu estava em Vegas, não imaginei a mudança que isso traria pra minha vida, talvez eu estivesse certa no fim das contas... Vegas era um divisor de águas pra mim.Meu celular toca na minha bolsa e após identificar quem é atendo rapidamente. - Oi, como tá o bebê? – pergunto. Anne geme do outro lado da linha. - Por quê parece que toda vez que eu falo com alguém sua primeira pergunta é sobre o bebê? Alô, eu tô aqui também, aliás eu que carrego ele! –Ri do mau humor de Anne, Tom vinha reclamando que ela andava meio rabugenta. E eu absolutamente adorava aquilo. - Você se daria bem com Sky, ela também está esperando e é super mal-humorada – sorrio pensando na anã loira do meu grupo de AA. - Ela é do seu grupo né? Como tem ido as reuniões? Em que passo você está? – Por um lado era difícil falar das reuniões, ainda me trazia essa sensação de fraqueza, que eu falhei. Por outro também era um alívio saber que eu estava progredindo.- No quarto..
Sofia Adams - Abril, 2012Andamos pelas ruas de Las Vegas. - O quarto passo ainda tá te tirando o sono? – Ethan retoma nossa conversa.- Eu só não entendo o que tem pra avaliar. Eu fiz coisas ruins, entendi, próximo passo – digo exasperada.Ethan ri. - Não acho que seja tão simples assim, Sofia... – Paramos em um parque conhecido já que viemos algumas vezes aqui conversar.- Me diz o passo completo – Pede Ethan sentando em um dos bancos de plástico.Sento ao seu lado.- Quarto passo: Fizemos minucioso e destemido inventário moral de nós mesmos. A criação nós deu os instintos por alguma razão – Repito.Ethan olha para o horizonte. - Desde que começou essas reuniões tenho pesquisado sobre isso. O quarto passo parece ser um dos mais difíceis e vendo você entendo a dificuldade. Acho que seu principal obstáculo é não entender o por quê ele é tão importante – Não sei o que sinto ao ouvir que Ethan pesquisou os doze passos por mim. É confuso. - Todos são importantes – digo. - Mas nenhu
Sofia Adams – Abril, 2012Encaro Anne sem acreditar no que ela está dizendo.- Eu só estou dizendo que ela mudou. Maggie não é mais aquela adolescente horrível que costumava ser - defende. - Tanto faz, só agradeço por ela não morar aqui com os pais. Não preciso ver ela, nem ela a mim, todo mundo feliz - respondo contrariada. - Isso tem a ver com Ethan? - Anne pergunta se ajeitando na cama do quarto em que está hospedada na casa dos tios de Tom.- O quê? Claro que não - respondo desviando o olhar torcendo os dedos no lençol da cama. Claro que já superei aquele namoro bobo que tiveram. Claro que esqueci isso e que ela foi a primeira dele. Claro que isso é passado. - Tô vendo... - responde Anne sorrindo pra mim. Acaricio sua barriga protuberante. - E aí já descobriram o que é? - perguntei desviando o assunto. Anne faz cara de pensativa.- Olha, se eu não parir uma abóbora, acredito que seja um bebê - responde Anne seriamente. Gargalho da sua piada horrível. - Que pena, eu ia ado