Dirigir o próprio carro não era proibido. Mas era algo que meu pai detestava que fizéssemos. Eu não gostava de acelerar muito e costumava respeitar os limites de velocidade. Mas naquela noite, especificamente, estava ansiosa demais para cumprir as regras de trânsito.
Quando cheguei em frente ao Cálice Efervescente, estava tudo às escuras. Estacionei próximo a única porta do prédio e não havia nada, sequer um bilhete avisando o que estava acontecendo.
Fui até a lanchonete ao lado, quase sem clientes.
- Oi... Você sabe me dizer... O que houve com o Cálice Efervescente?
- Ele não abre hoje. – A atendente foi seca. No celular estava e lá ficou, sem sequer olhar na minha direção.
- Ok... Obrigada.
Ela nem se dignou em responder. Voltei para o carro e fui para casa, tentar dormir, o que era quase impossível sendo
O restante da semana eu me dividi entre a faculdade, fugir de Colin e tentar encontrar meu cantor na internet.Charles tinha algumas fotos, uns poucos vídeos gravados por fãs... Mas nada além do Cálice Efervescente. Não tinha rede social ou perfil pessoal. O que eu queria? Encontrar o endereço e telefone dele num acesso mundial? A parte boa é que descobri que na quinta-feira o Cálice Efervescente abria.E até quinta eu não vivi... Sobrevivi.Recusei o motorista naquele dia e fui para faculdade no meu próprio carro. E não assisti a aula da noite. Fui para o bar de beira de estrada, com o nome escrito em letras neon.Assim que estacionei meu carro na frente, chamando a atenção de todos que estavam próximos, meu coração acelerou.Tentei fingir naturalidade e não me preocupei com os olhares curiosos da mulher saindo da Ferrari n
Enquanto dirigia, tentava em vão fazer com que Charles me atendesse. Mas a droga do celular dele seguia desligado.Coloquei uma música em volume alto, tentando me distrair e conseguir não pensar tanto nele, a ponto de quase fundir o meu cérebro. Aquele homem tomava conta de todo meu ser. E o fato de saber que ele não tocava mais no Cálice Efervescente me preocupou.O filho dele morava em Noriah Sul. E se algo o fizesse ficar lá para sempre? Se eu nunca mais o encontrasse?Felizmente consegui avistar a casa onde ficamos, ao longe. Agora, prestando mais atenção no caminho, mesmo tensa por estar de carro e não na moto, vi que havia sim algumas casas pelas redondezas, embora não tão próximas.Reduzi a velocidade e quando estacionei na estrada estreita e arenosa, percebi as luzes da casa acesas. Senti meu coração bater descompassadamente.Estaria o &
Roubaram o celular e a carteira de Charles dias atrás e agora levaram meu carro... E o celular contendo o número dele atrás, na capa.Tirando a casa de praia, aquele lugar era horrível e extremamente perigoso. Fui andando, sentindo meus pés doerem nas fissuras da calçada.Não encontrava ninguém para pedir ajuda. Até que, duas quadras adiante, vi o posto de combustível, sentindo-me mais tranquila.Quase corri até chegar lá. Assim que vi o frentista, que coincidentemente era o mesmo que havia me atendido quando queimei a perna na moto, falei:- Senhor, eu fui assaltada. Acabaram de levar meu carro... Bolsa e celular.- Isso é bem comum por aqui.- Infelizmente eu soube tarde demais. Não sei se lembra de mim... – levantei parte da calça e mostrei a queimadura recente – Você me ajudou com este ferimento dias atrás.
Olhei-o, incrédula com a agressividade nas palavras dele. Meu pai sabia que eu não tinha escolha. Não tinha para onde ir, nem como viver. Precisava dele... Ou melhor, do seu dinheiro. E se saísse de casa, ficaria sem nada.Assim que chegamos em casa, desci do carro e fui para o meu quarto. Quando entrei, minha mãe estava sentada na poltrona, de frente para a cama, me esperando.Calissa Rockfeller usava uma camisola vermelha e um robe longo por cima, um chinelo de plumas branco, comprado na última viagem à França, completava o look dela de dormir.Eu estava confusa. Parecia que tudo estava errado naquele lugar e nada fazia sentido.- Como está? Tentei ir junto, mas seu pai...- Não deixou – completei – Porque é ele que manda... Na casa, na empresa, nas mulheres Rockfeller, incluindo as filhas e a esposa. Porque é só isso que ele sabe fazer: mandar
Dizendo isso, Jordan Rockfeller saiu, deixando o aroma de seu perfume forte e imponente no ar.- Sabrina, você precisa parar com esta rebeldia contra seu pai.- Mãe, ele me trata como uma criança.- Queremos o seu bem, Sabrina. Amamos você.- Não... Ele não me ama. Ele mesmo confessou que ama a outra Sabrina. E ela não existe mais. Eu cresci...- Não há dúvidas de que o homem é mais velho do que você... Embora não pudemos ver direito o rosto dele.- Até você está metida nisto, mãe?- Não vou deixar um qualquer tomar minha filha. Tivemos muito trabalho para criar vocês. E seu pai sempre deixou bem claro que jamais poderiam se envolver com alguém que não fosse do nosso nível social. Será que não entendem que qualquer um que se aproxima de vocês e que não tem condi
Me dirigi à sala íntima, que ficava no outro lado da residência. Colin me acompanhou em silêncio. Assim que entramos, Min-Ji veio nos oferecer algo para beber.- Deseja algo, Colin? – Perguntei.- Não... Obrigado.- Eu aceito algo, Min. Quero tequila... Com sal e limão.Min estava saindo e voltou, me encarando:- Como... Faz isso?- Eu aposto que alguém nesta casa sabe fazer. – Sorri.Sim, eu precisava de fogo descendo pela minha garganta para conseguir ter aquela conversa com meu ex.Sentei no sofá confortavelmente, próxima a ele, que se sentou também, de frente para mim.- Eu... Lhe trouxe algo. – Ele disse.- Para mim? – Fiquei surpresa.- Sim... – Ele sorriu, me entregando uma caixa embalada com veludo preto e laço dourado.Eu sabia que se tratava de uma joia. Senti minhas mãos trê
- Não é sobre perdão, Colin. É sobre não haver mais casamento... Nunca mais.- Isso não pode, entende? Eu me arrependi. Eu pedi desculpas... Me diga qualquer coisa que queira que eu faça e juro que farei.- Quero que pare de me ligar. E me deixe em paz.- Sabrina...- Eu estou apaixonada por outra pessoa, Colin. – Me ouvi falando.- Apaixonada por outra pessoa? Como assim? Isso não é possível.- Sim, é possível, Colin. Acabou.Dizendo isso eu deixei a sala, fechando a porta e subindo para o meu quarto.Sentia-me um pouco tonta e por isso deitei na cama, imediatamente, enquanto via o teto rodar. Não sei porque, mas tinha um sorriso bobo nos meus lábios.- Ele é um idiota!Fiquei ali um tempo, esperando que tudo girasse mais devagar para eu conseguir levantar. Ouvi uma batida na porta e vi duas Min-Ji na mi
- Sabrina? Filha, olhe para mim... Por favor. – Ouvi a voz dele, desesperado.Tentei fixar os olhos em meu pai, mas tudo girava muito rápido.- Min-ji... Corra aqui. – Ele gritou.Quando percebi, estava nos braços de J.R, que subia a escadaria em direção ao meu quarto.- Senhor... Vou providenciar um chá. – Disse Min-ji.- Querida, olhe para a mamãe... Vai ficar tudo bem. – Minha mãe estava chorosa.Assim que senti o meu colchão, parece que tudo ficou melhor. Ouvia as vozes, mas não conseguia responder. Enquanto o teto ficasse se mexendo, eu era incapaz de dizer qualquer coisa, pois o enjoo era forte demais.Min-Ji ergueu-me com cuidado e minha mãe me ajudou a beber um pouco de água.- Eu trouxe um chá... Chá sempre ajuda. – Min disse.- Obrigada... Mas agora não... – Fiz car