Pisquei repetidas vezes, tentando acordar. Mas não acordei... Porque sequer estava dormindo.
Tudo que vi foram os rostos pasmos de meus pais e Mariane.
- Grávida? – Minha mãe perguntou, parecendo não acreditar.
- Vocês... Não sabiam? – O médico olhou-me.
- Não... Eu não sabia. – Confessei.
- Então vamos aproveitar que está aqui e fazer todos os exames necessários. Vou encaminhá-la para um obstetra.
- Sim, faça isso, doutor. Por favor. – Meu pai pediu e se eu não estava ficando louca, tinha um sorriso nos lábios dele.
- Então peço que aguarde, senhorita Rockfeller, pois as enfermeiras virão buscá-la novamente para vermos como está este bebê.
- Obrigada, doutor.
Eu não tinha certeza sobre o que sentia naquele momento. Mas pensava como cuidaria
Suspirei e esperei.Ouvimos batidas leve na porta e duas enfermeiras entraram:- Com licença. Vamos levar a futura mamãe até a sala para a ultrassonografia.Sentei imediatamente na cadeira de rodas, antes que elas me ajudassem. Tudo que eu queria era sair correndo dali.- Quem gostaria de acompanhá-la? – uma delas perguntou, com um sorriso no rosto. – Caso queiram ir os três, o doutor pode trocar a sala, por uma maior.Olhei na direção deles e ninguém se manifestou. J.R olhava para a janela, sem expressão. Calissa seguia com o telefone na mão, sem dizer nada. Mariane já estava sentada novamente, indecisa sobre ir ou ficar desde que havia chegado.- Eu... Vou sozinha. – Falei, quebrando o silêncio constrangedor.Limpei as lágrimas e deixei que uma delas me conduzisse pelo corredor completamente branco e limpo, quase como se estivesse chegando ao céu.Quando entrei na sala, elas me ajudaram a deitar na maca e passaram um gel sobre a minha barr
Seguimos em silêncio até a cafeteria do Hospital. O local era no terceiro andar e tinha um teto em vidro, de onde podia-se ver a luz do sol e o tempo lá fora. Claro que escolhi sentar sob a luminosidade, sabendo o calor que fazia na rua, com a temperatura ambiente ali dentro.A atendente veio trazer o menu e enquanto eu escolhia, Colin disse:- Para mim café expresso, sem açúcar. Para ela chocolate quente e panquecas de chocolate com calda.- Eu não quero chocolate quente... Tampouco panquecas com calda. – Levantei os olhos na direção dele, o rosto escondido atrás do cardápio que mais parecia um livro de tantas páginas.- Mas... Você sempre gostou.- Quero um café com leite. Creio que eu deva começar a beber bastante leite... – falei mais para mim mesma – Um croissant com creme de baunilha... E outro de queijo.- Nã
- Venha! – Ele me pegou pelo braço, sem muita gentileza, encaminhando-me para o carro, onde estavam minha mãe e Mariane esperando.O ar condicionado estava ligado e cheguei a arrepiar quando entrei na temperatura gelada, que contrastava com o calor da rua.- Para casa. – Meu pai falou ao motorista.Seguimos para casa, em silêncio. J.R sequer olhou na minha direção. Mariane ficou compenetrada no celular e minha mãe vez ou outra me olhava, com o rosto baixo.Assim que chegamos em casa e descemos, meu pai retirou um lenço de pano do bolso e disse autoritariamente:- Limpe seu rosto.Limpei o rosto e estava subindo as escadas quando ele falou, em tom de voz alto:- Onde você vai?- Eu... Vou tomar um banho e sair.- Sair? Onde?- Eu... Vou contar a “ele”. Preciso dizer que vai ser pai.Mariane sentou no sofá da sala principal,
- Eu preciso pegar uma coisa... E não foi você quem me deu. – Falei.- Diga o que é e Min-ji buscará para você.Olhei-o firmemente, as lágrimas contidas, a dor queimando meu peito, extravasando na minha alma.Me dei em conta de que Min-ji estava próxima, as mãos para frente, entrelaçadas, observando tudo. Sorri na direção dela, sabendo que a dor que a governanta sentia era talvez a mesma da minha mãe.- O que quer que eu pegue, senhorita Sabrina? – Ela perguntou com a voz baixa.- A jaqueta preta de couro.- Sei qual é. – Ela disse subindo imediatamente.Fiquei ali, parada. Minha mãe aproximou-se e deu-me um beijo. Olhei o cordão no chão, sabendo que certamente ninguém juntaria. Iria para o lixo, junto com todas as minhas coisas. Ninguém precisava de nada meu... Tudo era para me ferir, me magoar, acabar comigo.Ainda assim, eu não tiraria a minha filha. Toquei meu ventre e sorri, tentando não passar a dor que sentia naquele momento para ela.Min-ji desceu com a jaqueta nas mãos e meu
Do retrovisor do lado de fora eu os via gritando enquanto eu gritava mais alto, não conseguindo ouvir nada do que eles tentavam gritar. O motorista tentava me alcançar pela lateral.Olhei para o lado direito e me dei em conta de que podia puxar o freio de mão. E assim o fiz. O carro parou. E ouvi o estrondo dos dois homens batendo na lataria.- Sua louca. – O motorista abriu a porta e me puxou para o lado de fora, de forma agressiva.Fui até os outros homens, para me certificar de que estavam bem.- Você... Não sabe dirigir? Por que não avisou? – Um deles perguntou, tocando o peito, com o semblante de dor.O outro me fuzilou com o olhar. Ambos entraram no carro no qual estavam e foram embora.- Eu preciso do seu celular. – Falei para o motorista.Ele nem olhou na minha direção. Fez uma ligação e parecia ter entrado em contato com algum guincho.- Senhor, eu preciso mesmo do celular.- Estou com pouca bateria e o guincho vai demorar. Não vou deixar você usar.Eu ri, incrédula:- Eu não
- Preciso de você, Colin.- O que houve? Onde você está? De quem é este número?- Vou passar minha localização. Pode vir até aqui?- Estou indo imediatamente.- E... Poderia pagar o taxista que me trouxe?- Peça que ele me envie os dados pelo telefone. E que aguarde com você até eu chegar.- Ok... Obrigada.Desliguei e entreguei o celular ao homem:- Poderia... Aguardar comigo até que ele chegue? E... Pode passar os dados que sua corrida será paga. Para o número que liguei, por favor.- Claro que aguardarei, senhorita.Levantei e me dirigi para a varanda. Fiquei ali, sozinha, esperando até que Colin chegasse. Já não tinha mais esperanças de reencontrar Charles.Quando vi o carro de Colin, me senti mais tranquila. Ele era alguém que eu conhecia e tinha intimidade. Já estava
Colin limpou-as e pegou o telefone, digitando os números:- Carlos, poderia providenciar o jato por favor?Ele me olhava enquanto ouvia a voz do homem do outro lado da linha:- Imediatamente... Destino: Noriah Sul.Respirei aliviada. Enfim, eu estava a salvo.- Vamos para o carro. Vou levá-la... Mesmo achando que eu não deveria fazer isso.- Prometo avisar quando eu chegar e dizer se estou bem.- Eu... Não consigo entender isso.Entrei no carro, sentando no banco ao lado do dele, num lugar onde dividimos por anos a companhia um do outro.- Pode... Me emprestar seu celular?Ele me entregou o aparelho e ligou o automóvel, fazendo a volta e retomando o caminho ao centro de Noriah Norte.Olhei para a casa, com as luzes completamente apagadas. Meu coração doía. Abri a janela e senti a brisa vinda do mar, o cheiro de maresia. Apertei a concha no meu bolso. E
Claro que eu deveria ter ao menos tentado descansar. Tirando o fato de que não levantei da poltrona para nada e bebi água por todo o tempo, talvez possa definir isso como “descanso”... Caso esta palavra signifique pensar intensamente 60 minutos por hora, até a cabeça doer de tanto medo e ansiedade.Assim que a porta do jato abriu-se, a comissária de bordo avisou:- Estamos em Noriah Sul, senhora Monaghan.Eu poderia corrigir e dizer que não era senhora Monaghan. Mas também não era mais uma Rockfeller. Teoricamente eu não tinha mais um sobrenome, já que meu pai me proibiu de usar o dele, mesmo isso sendo legalmente impossível.- Obrigada. – Foi minha única palavra que disse enquanto pegava o dinheiro que Colin havia deixado para mim na poltrona.Desci as escadas sem sequer uma sacola com roupas. Eu usava uma jaqueta de couro, com uma concha no bolso e dinheiro que ganhei por caridade do meu ex-noivo.Quando cheguei a terra firme, pisando enfim em Noriah Sul, vi o homem magro, alto e co