Seguimos em silêncio até a cafeteria do Hospital. O local era no terceiro andar e tinha um teto em vidro, de onde podia-se ver a luz do sol e o tempo lá fora. Claro que escolhi sentar sob a luminosidade, sabendo o calor que fazia na rua, com a temperatura ambiente ali dentro.
A atendente veio trazer o menu e enquanto eu escolhia, Colin disse:
- Para mim café expresso, sem açúcar. Para ela chocolate quente e panquecas de chocolate com calda.
- Eu não quero chocolate quente... Tampouco panquecas com calda. – Levantei os olhos na direção dele, o rosto escondido atrás do cardápio que mais parecia um livro de tantas páginas.
- Mas... Você sempre gostou.
- Quero um café com leite. Creio que eu deva começar a beber bastante leite... – falei mais para mim mesma – Um croissant com creme de baunilha... E outro de queijo.
- Nã
- Venha! – Ele me pegou pelo braço, sem muita gentileza, encaminhando-me para o carro, onde estavam minha mãe e Mariane esperando.O ar condicionado estava ligado e cheguei a arrepiar quando entrei na temperatura gelada, que contrastava com o calor da rua.- Para casa. – Meu pai falou ao motorista.Seguimos para casa, em silêncio. J.R sequer olhou na minha direção. Mariane ficou compenetrada no celular e minha mãe vez ou outra me olhava, com o rosto baixo.Assim que chegamos em casa e descemos, meu pai retirou um lenço de pano do bolso e disse autoritariamente:- Limpe seu rosto.Limpei o rosto e estava subindo as escadas quando ele falou, em tom de voz alto:- Onde você vai?- Eu... Vou tomar um banho e sair.- Sair? Onde?- Eu... Vou contar a “ele”. Preciso dizer que vai ser pai.Mariane sentou no sofá da sala principal,
- Eu preciso pegar uma coisa... E não foi você quem me deu. – Falei.- Diga o que é e Min-ji buscará para você.Olhei-o firmemente, as lágrimas contidas, a dor queimando meu peito, extravasando na minha alma.Me dei em conta de que Min-ji estava próxima, as mãos para frente, entrelaçadas, observando tudo. Sorri na direção dela, sabendo que a dor que a governanta sentia era talvez a mesma da minha mãe.- O que quer que eu pegue, senhorita Sabrina? – Ela perguntou com a voz baixa.- A jaqueta preta de couro.- Sei qual é. – Ela disse subindo imediatamente.Fiquei ali, parada. Minha mãe aproximou-se e deu-me um beijo. Olhei o cordão no chão, sabendo que certamente ninguém juntaria. Iria para o lixo, junto com todas as minhas coisas. Ninguém precisava de nada meu... Tudo era para me ferir, me magoar, acabar comigo.Ainda assim, eu não tiraria a minha filha. Toquei meu ventre e sorri, tentando não passar a dor que sentia naquele momento para ela.Min-ji desceu com a jaqueta nas mãos e meu
Do retrovisor do lado de fora eu os via gritando enquanto eu gritava mais alto, não conseguindo ouvir nada do que eles tentavam gritar. O motorista tentava me alcançar pela lateral.Olhei para o lado direito e me dei em conta de que podia puxar o freio de mão. E assim o fiz. O carro parou. E ouvi o estrondo dos dois homens batendo na lataria.- Sua louca. – O motorista abriu a porta e me puxou para o lado de fora, de forma agressiva.Fui até os outros homens, para me certificar de que estavam bem.- Você... Não sabe dirigir? Por que não avisou? – Um deles perguntou, tocando o peito, com o semblante de dor.O outro me fuzilou com o olhar. Ambos entraram no carro no qual estavam e foram embora.- Eu preciso do seu celular. – Falei para o motorista.Ele nem olhou na minha direção. Fez uma ligação e parecia ter entrado em contato com algum guincho.- Senhor, eu preciso mesmo do celular.- Estou com pouca bateria e o guincho vai demorar. Não vou deixar você usar.Eu ri, incrédula:- Eu não
- Preciso de você, Colin.- O que houve? Onde você está? De quem é este número?- Vou passar minha localização. Pode vir até aqui?- Estou indo imediatamente.- E... Poderia pagar o taxista que me trouxe?- Peça que ele me envie os dados pelo telefone. E que aguarde com você até eu chegar.- Ok... Obrigada.Desliguei e entreguei o celular ao homem:- Poderia... Aguardar comigo até que ele chegue? E... Pode passar os dados que sua corrida será paga. Para o número que liguei, por favor.- Claro que aguardarei, senhorita.Levantei e me dirigi para a varanda. Fiquei ali, sozinha, esperando até que Colin chegasse. Já não tinha mais esperanças de reencontrar Charles.Quando vi o carro de Colin, me senti mais tranquila. Ele era alguém que eu conhecia e tinha intimidade. Já estava
Colin limpou-as e pegou o telefone, digitando os números:- Carlos, poderia providenciar o jato por favor?Ele me olhava enquanto ouvia a voz do homem do outro lado da linha:- Imediatamente... Destino: Noriah Sul.Respirei aliviada. Enfim, eu estava a salvo.- Vamos para o carro. Vou levá-la... Mesmo achando que eu não deveria fazer isso.- Prometo avisar quando eu chegar e dizer se estou bem.- Eu... Não consigo entender isso.Entrei no carro, sentando no banco ao lado do dele, num lugar onde dividimos por anos a companhia um do outro.- Pode... Me emprestar seu celular?Ele me entregou o aparelho e ligou o automóvel, fazendo a volta e retomando o caminho ao centro de Noriah Norte.Olhei para a casa, com as luzes completamente apagadas. Meu coração doía. Abri a janela e senti a brisa vinda do mar, o cheiro de maresia. Apertei a concha no meu bolso. E
Claro que eu deveria ter ao menos tentado descansar. Tirando o fato de que não levantei da poltrona para nada e bebi água por todo o tempo, talvez possa definir isso como “descanso”... Caso esta palavra signifique pensar intensamente 60 minutos por hora, até a cabeça doer de tanto medo e ansiedade.Assim que a porta do jato abriu-se, a comissária de bordo avisou:- Estamos em Noriah Sul, senhora Monaghan.Eu poderia corrigir e dizer que não era senhora Monaghan. Mas também não era mais uma Rockfeller. Teoricamente eu não tinha mais um sobrenome, já que meu pai me proibiu de usar o dele, mesmo isso sendo legalmente impossível.- Obrigada. – Foi minha única palavra que disse enquanto pegava o dinheiro que Colin havia deixado para mim na poltrona.Desci as escadas sem sequer uma sacola com roupas. Eu usava uma jaqueta de couro, com uma concha no bolso e dinheiro que ganhei por caridade do meu ex-noivo.Quando cheguei a terra firme, pisando enfim em Noriah Sul, vi o homem magro, alto e co
- Sou Sabrina. Você deve ser Yuna.- Sou Yuna, dona da casa – ela fez questão de dizer – E filha mais velha.- Eu... Sou a filha mais nova. – Sorri.- Está com fome? – Do-Yoon perguntou-me.Se eu estava com fome? Pensei que não estava, mas quando ouvi aquela frase percebi que sim, estava morta de fome.E não tinha como tentar ser educada e dizer que não, pois corria o risco de desmaiar ali mesmo.- Sim, estou com fome. – Falei.- Vou preparar algo. – Ele disse.- Não quero dar trabalho... Mas realmente estou com muita fome. E... Tem o bebê. – Tentei justificar.Do-Yoon saiu por uma porta. Observei a sala pequena, com uma única janela de vidro. Tudo era branco, o que dava a impressão de ser mais amplo do que realmente era. Havia um sofá marrom num material que eu não conhecia, que era pequeno demais para duas pessoas, mas ao mesmo tempo grande para só uma. De frente para ele, um painel minimalista com uma televisão grande. A janela em vidro era coberta por cortinas bege com um voal cla
Despertei e demorei para me dar conta de onde estava. Parecia um pesadelo acordar naquele lugar pequeno e claustrofóbico.Assim que virei de lado na cama, dei de cara com Yuna, abrindo o armário e pegando um casaco:- Bom dia, madame. Está frio na rua. Precisa pegar um casaco, caso queira sair.- Que horas são? – Ainda estava sonolenta e minha voz saiu fraca.- Sete.Pus a coberta por cima da cabeça, tentando pegar no sono novamente.- Não querendo bancar a chata nesta história toda de amor e injustiças, mas acho que você deveria trabalhar.Pus a cabeça para fora, encarando-a:- Eu não sei fazer nada.- Ninguém nasce sabendo fazer alguma coisa.- Mas... Estou grávida.- Gravidez não é doença. Acha que vai sobreviver como? Por acaso pensa que vou trabalhar para pôr comida na mesa para vo