Kael respirou fundo, sentindo o peso esmagador da decisão que precisava tomar. Ele observava Ivy deitada na cama, sua pele pálida contrastando com os fios escuros de cabelo espalhados pelo travesseiro. Ela parecia ainda mais frágil sob a luz bruxuleante das velas, como se sua força estivesse se esvaindo a cada segundo. Seu peito subia e descia lentamente, sua respiração irregular, e Kael sentiu um aperto no coração. Ele sabia que não podia esperar mais. Mas também sabia que não podia marcá-la agora, não naquele estado.
Ele se ajoelhou ao lado da cama e pegou sua mão fria entre as suas. O contato fez com que Ivy abrisse os olhos devagar, piscando algumas vezes antes de focalizar nele. Seus olhos tinham um brilho febril, como se estivesse lutando contra algo dentro de si. Ela tentou se mover, mas um gemido de dor escapou de seus lábios.
“Kael... “sua voz e
POV IVYO peso em seu peito era esmagador.Ivy mal conseguia se mexer. Cada respiração parecia exigir um esforço enorme, como se uma força dentro dela estivesse sugando toda a sua energia. Seu corpo suava frio, os músculos estavam tensos e, por mais que tentasse se mover, sentia-se presa em uma onda de exaustão. Sua mente estava inquieta, perdida entre os fragmentos dos sonhos que assombravam suas noites. Mas agora, mais do que nunca, esses sonhos não pareciam apenas pesadelos. Eles eram reais, tão vívidos quanto o mundo ao seu redor. E isso a assustava.A luz branca brilhante, as vozes sussurrantes, o chamado insistente. A necessidade de despertar. Tudo isso fazia sentido agora.Kael lhe dissera a verdade.Ela era diferente. Sempre fora. Desde pequena, sentia-se deslocada, como se não pertencesse ao mundo ao seu redor. Momentos de intuição aguçada, instantes
Os dias haviam se tornado menos silenciosos. O treinamento da alcateia ganhava ritmo, os gritos de comandos e os sons de corpos colidindo em combate enchiam o ar. Ivy, agora oficialmente parte da rotina da alcateia, treinava separadamente, sob supervisão direta de dois dos guerreiros mais experientes, mas também de Kael, sempre observador, sempre presente.A aceitação de sua natureza, lenta mas firme, começava a despertar nela mudanças irreversíveis. Sua audição estava mais apurada, tanto que agora ouvia as folhas se partirem sob os pés de uma lebre distante. O faro identificava aromas com precisão quase desconfortável e, durante os treinos, seus reflexos estavam mais rápidos. Ela também percebia sua força, crescente e intensa, difícil de conter. Ainda não dominava tudo, mas canalizava, tentava, respirava fundo e escutava o que a bruxa dissera: aceite, confie
POV KAELO corpo de Ivy ainda dormia pesado, colado ao seu. Kael mantinha os olhos nela, traçando com o olhar cada linha de seu rosto sereno. Mas dentro de si, a paz era ausente. A dúvida corroía sua mente como ferrugem em lâmina antiga.Ela era sua. Sua Luna. Finalmente. Mas o que viria agora?A marca ainda queimava leve em seu peito, como um selo quente recém-imprimido na pele. E se a lenda fosse verdadeira? E se o sangue de Ivy realmente o transformasse, não apenas como companheiro, mas como Lycan, uma criatura nascida do sangue original? Ele era o Alfa, mas isso… isso era outro nível de poder. E de perigo.Orion, o espírito de seu lobo interior, surgiu em sua mente como um sussurro ancestral:“ Talvez a lenda esteja errada neste ponto, Kael. Mas não há mais volta. Ela é sua Luna.”Kael não respondeu. Seus olhos ainda estavam sobre Ivy, s
O campo estava tomado pelo cheiro metálico de sangue e o som constante dos uivos e rugidos. Corpos caíam um após o outro, mas Kael notava , mesmo em meio ao caos, que eram mais os do inimigo. As tropas que ele, Damian e os líderes das alcateias haviam preparado estavam vencendo. Por enquanto.Kael, em sua forma híbrida, corria entre os corpos com força e precisão, esmagando crânios e rasgando inimigos ao meio. Seus olhos prateados brilhavam como aço sob a luz fraca da lua escondida entre nuvens escuras. O mundo parecia girar em câmera lenta enquanto ele se movia com fúria metódica.Damian e Nina estavam à frente, abrindo espaço com sua força avassaladora. Os dois lutavam como uma dupla letal, com sincronia quase sobrenatural. As alcateias se mantinham firmes, seus uivos ecoando como cantos de guerra.Foi então que Kael ouviu. Um grito.Alto. Feminino. Reconhecível.Ivy.Seu corpo congelou por um segundo antes de virar na direção do som. Ao l
A guerra continuava.Damian agora comandava as tropas, ao lado de Nina. Os uivos dos lobos e os gritos das criaturas do submundo formavam um coro macabro no ar. O chão estava coberto de sangue, membros retorcidos e fragmentos de corpos que não tinham mais forma reconhecível. Ainda assim, a batalha seguia.Kael permanecia ajoelhado ao lado da maca onde Ivy estava. Suas mãos ainda estavam manchadas de sangue, sua respiração descompassada e os olhos vazios de qualquer traço de esperança. Chorou. Como nunca havia chorado antes. A dor era mais forte que qualquer ferimento já sofrido em batalha. Era a dor de perder sua metade.Mas algo dentro dele mudou.O choro cessou.O vazio deu lugar à fúria.Ele se ergueu com os olhos brilhando em dourado, mas não era o brilho de antes. Era um brilho mais intenso, mais denso. Um rugido baixo escapou de sua garganta. “ Eu vou destruir todos eles.Deu um passo à frente, mas então sentiu.Uma dor.Começou na nuca, mas se espalhou como uma explosão para o
Dois dias haviam se passado desde a batalha. O campo de guerra já não carregava mais o cheiro de sangue e morte, mas a tensão ainda pairava sobre a alcateia. Ivy e Damian continuavam desacordados, como se estivessem presos em um sono profundo do qual ninguém conseguia despertá-los. Kael, que passara todo esse tempo ao lado de Ivy, observava-a com uma mistura de preocupação e fascínio. Seu corpo permanecia intocado, sua respiração era estável, mas havia algo nela diferente, como se sua presença fosse mais intensa, mais poderosa.Damian, por outro lado, não exalava a mesma aura tranquila. Seu corpo estava frio, e, embora ainda houvesse vida, parecia que algo dentro dele lutava para permanecer ali. Nina se recusava a sair do lado dele, as olheiras profundas mostravam o quão pouco ela havia dormido nesses dois dias.Kael sabia que não podia mais esperar. Precisava de respostas, precisava de ajuda. Sem perder mais tempo, ele chamou um dos guardas e ordenou que cuidassem da segurança de Ivy
O tempo parecia escorrer pelas frestas da janela como grãos de areia persistentes. Dois dias haviam se passado desde a última batalha, desde que Ivy havia queimado os céus com sua luz e caído desacordada, e desde que Damian havia sido ferido por aquele ser sombrio e mergulhado num estado de inconsciência profunda.Kael não deixava o quarto das curandeiras. A cadeira ao lado da cama de Ivy já moldava seu corpo, e os dias pareciam longos demais sem a presença dela. Ele passava as manhãs em silêncio, observando a respiração lenta da mulher que amava. O peito dela ainda subia e descia com a mesma suavidade, mas ela não o olhava, não sorria, não dizia uma palavra. E aquilo estava lentamente acabando com ele.Nina também não saía de perto de Damian. Seus olhos estavam sempre vermelhos, mas ela não chorava mais. Apenas observava o rosto dele em silêncio, como se o amor entre os dois fosse forte o suficiente para trazê-lo de volta.Ele se levantava todo dia na mesma hora. Treinava seu corpo.
POV IVYTudo parecia feito de névoa e silêncio. Um silêncio tão profundo que o som da minha própria respiração me soava estranho. Eu não sabia onde estava. Não sabia se ainda estava viva. Não havia dor, mas também não havia calor. Era como flutuar em um espaço sem fim, sem tempo, sem forma… até que algo começou a mudar.Uma lembrança. Um toque quente em minha mão. Uma voz sussurrando meu nome com urgência e amor. A voz dele.Kael…Meus dedos estremeceram antes que eu percebesse. Meu corpo pesado parecia acordar do fundo de um abismo. A luz invadiu meus olhos como facas, mas havia um som. Um som que eu conhecia melhor do que qualquer outro no mundo.“ Ivy… amor, por favor, abre os olhos… me escuta… “ a voz de Kael estava embargada de emoção, e de alguma forma, isso me puxou ainda mais de volta.Pisquei. A princípio, tudo era borrado, formas sem sentido. Mas então vi ele. Seu rosto tão perto do meu, seus olhos vermelhos de choro, as mãos quentes envolvendo as minhas.“ K-Kael… “ minha v