Quatro

Assim que chegamos em casa, minha mãe estava sentada na sala, fumando um cigarro e coberta com sua manta de sempre. Assim que me viu, negou com a cabeça.

— Acabei de ficar sabendo que brigaram no rodeio – ela murmura, e eu reviro os olhos.

Meu pai e James apenas observam.

— Você voltou para casa agora, e em menos de uma semana já está causando, Ellie? – Ela pergunta, e eu solto um riso debochado.

— Como se você pudesse falar alguma coisa – murmuro entre dentes, fazendo ela levantar da cadeira com as sobrancelhas arqueadas, parecendo enfurecida.

— Como é? – Ela pergunta em um tom desafiador, o que me deixa ainda mais irritada. Não quero sermão de uma mãe que nunca foi presente, não mesmo.

— Eu disse que você não pode falar de mim – murmuro em um tom mais alto que o dela, fazendo ela tremer de raiva. – Mal te vejo, e quando te vejo, você está bêbada ou fumando.

— Ellie... – meu pai tenta me parar.

— O que você fez para ela te odiar tanto, pai? – Pergunto, observando-o. Ele apenas fica imóvel, sem saber o que responder. – Acho que está resolvido.

Antes que alguém possa responder, subo para o quarto, mas consigo ouvir passos de botas atrás de mim. Me viro na expectativa de que seja meu pai, mas vejo James, com uma sobrancelha arqueada e cortada. Não muito, mas está, como se um soco tivesse pego de raspão.

— Precisa cuidar dessa sobrancelha – falo ainda com a voz embargada, engolindo o choro.

— Vou fazer isso.

— O que deu em você!? – Pergunto a ele, que passa a língua pelos lábios. – Não está no seu país, aqui você não conhece ninguém!

Agora ele ri.

— Estava tentando te proteger, e você está reclamando? – Ele pergunta em um tom debochado, mas vejo seus olhos cheios de raiva.

— Eu não sou sua irmã mais nova, James! Não tem que me proteger de nada! – Exclamo. Ele assente com a cabeça e sorri.

— Que se foda – murmurou, saindo do quarto, e eu apenas respiro fundo.

Me sento na cama e deslizo a mão pelo rosto.

Depois da briga com a minha mãe e das palavras cortantes que troquei com James, o silêncio entre nós dois é palpável. James evitou meu olhar o dia seguinte todo, e mesmo que o dia tenha sido ocupado com tarefas simples na fazenda, a distância entre nós é quase física. Ele não fala comigo, nem mesmo quando passamos pela casa, nos cruzando no corredor. Ele se mantém distante, quase como se eu fosse uma estranha.

Eu tento ignorar a sensação estranha que surge no meu peito, a mistura de frustração e... algo mais que eu não quero admitir. Ele está tão... frio. Como se eu fosse a culpada por tudo. Mas, por outro lado, sinto um vazio onde antes havia uma conexão, mesmo que pequena. Aquelas discussões que sempre tivemos, as provocações, os momentos em que ele parecia se preocupar comigo, tudo isso está faltando agora.

Quando chega a noite, estou sentada na cozinha, mexendo sem vontade na minha comida. Ouço as botas de James do lado de fora, e uma parte de mim deseja que ele entre e que a tensão se dissipasse de alguma forma. Eu poderia ser a primeira a pedir desculpas, mas algo em mim me impede. Não é só a briga que está pesando, é a sensação de que ele se acha no direito de me proteger, como se eu fosse uma criança.

Eu mal escuto a voz do meu pai chamando.

— Ellie, você vai sair? O James vai até a cidade, não vai?

Eu hesito por um momento. Na verdade, a ideia de estar perto de James, com toda essa tensão, me incomoda mais do que qualquer outra coisa. Então, faço o que sempre faço quando preciso evitar uma situação: finjo que não me importo.

— Não sei, pai. Acho que não.

Com a resposta, deixo a cozinha, mas antes que eu consiga chegar ao meu quarto, vejo James parado na porta da sala. Ele me observa com aquele olhar fechado, sem dizer uma palavra.

Ele poderia ser o primeiro a quebrar o silêncio. Mas ele não faz nada. Só fica ali, parado. Ele está tão próximo, e ao mesmo tempo tão distante.

Eu me viro, querendo fazer algo — qualquer coisa — para aliviar a tensão, mas me sinto paralisada. Não sei o que dizer. Não sei como começar.

Mas então, de repente, ele fala.

— Se você mudar de ideia, vou estar na caminhonete.

É só isso. Uma frase seca.

E antes que eu possa responder, ele sai pela porta da frente, sem olhar para trás.

Eu fico ali, no meio do corredor, com o coração acelerado e uma sensação de perda que não consigo explicar.

Não sei se ele espera que eu vá atrás dele, ou se está apenas cumprindo uma obrigação, mas sei que, de alguma forma, ele está ferido. E por mais que tenha me irritado a atitude dele, uma parte de mim sabe que a nossa relação é bem nova. Nós dois temos nosso jeito de lidar com as coisas, e é complicado demais para ser resolvido com uma simples desculpa.

Me sento na cama, olhando para a janela. A noite cai silenciosa, e tudo o que ouço é o som do vento batendo nas árvores lá fora. Respiro fundo. Eu nunca sou assim, pelo contrário, mas conviver com alguém dentro da sua casa é complicado, principalmente nas situações em que uma amizade estava surgindo.

Desço para a cozinha, onde meu pai e minha mãe cozinham algo juntos. Eu os observo.

— Posso sair na sua caminhonete, mãe? – Pergunto a ela, que assente.

— A chave está atrás da porta. Vai sair com quem? – Ela pergunta enquanto mexe um pouco de bacon na panela.

— Sozinha, vou encontrar algumas amigas no rodeio de hoje – murmuro. – Até mais tarde.

Deixo os dois cozinhando algo e vou até a garagem. A caminhonete da minha mãe é bem mais nova, e também é automática, então a dirijo tranquilamente.

Enquanto dirijo para a cidade, mando uma mensagem para algumas amigas da época de escola, e assim elas conseguem me dizer onde estão. Assim que chego no rodeio, deixo o carro estacionado e já pago minha entrada.

Há luzes de todas as cores e uma energia incrível. Hoje o único cheiro que consigo sentir é o de milho cozido no molho agridoce, o que faz minha barriga roncar de fome.

Me vem algo em meu pensamento: será que James está aqui no rodeio?

— Ellie! Estamos aqui!

Um grupo de três amigas me chama. Todas elas ficaram morando na cidade enquanto eu e Hanna fomos para a universidade, mas, de qualquer forma, nunca fomos próximas o suficiente para irmos juntas.

— Decidiu vir de última hora? – Stacy, a mais nova do grupo, pergunta. Eu assenti com a cabeça.

— Que bom, depois daqui vamos para o rancho dos filhos dos Benett, parece que os pais viajaram hoje e vamos ter o rancho só para nós.

As observo. A sensação é que pararam no ensino médio, e apesar de estar rodeada de pessoas, meu pescoço fica esticado de tanto o procurar. Não gosto de ser rude com as pessoas, e isso vem me incomodando muito.

Droga! Acho que ele não está aqui.

— Vamos, Ellie! – Stacy me chama, e eu a olho sem entender. – O rodeio já acabou, vamos logo!

Assenti com a cabeça.

As outras duas garotas foram em outra caminhonete, e Stacy foi comigo na caminhonete da minha mãe. Péssima ideia. Ela não parou de tagarelar um segundo, e a sensação é que eu iria jogá-la da caminhonete em movimento logo.

O rancho dos Benett é mais próximo, o que me permitiu chegar em dez minutos. Acho que mais um pouco e eu ficaria maluca só de a escutar falando.

Estaciono a caminhonete embaixo da árvore e sigo com elas para a casa. Está um pouco movimentada, com pessoas na varanda e dentro da casa também, todas com um copo na mão.

Quando decido entrar, finalmente o vejo. Ele está em um canto, conversando com um dos filhos Benett, com um copo de cerveja na mão.

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