- Segure-a! - gritou Magna, interrompendo o pai nosso. Lay parecia ter recuperado tanto a voz, não estava mais rouca, quanto a força. Chutava e corcoveava com uma força que não combinava com sua estatura. Miroto espelhava a garota, tentava morder as pernas de Magna, que o ignorava.
- Dê-lhe mais éter - Gritou Zaira que não conseguia segurar a garota. Quase deitada sobre ela, era arranhada e Magna chutada no rosto pelos pés da menina.
- Não! Avisei que teria que segurá-la caso o efeito passasse e preciso fazer a raspagem completa. Miroto, senta, saia!
Zaira não a ouvia com os berros da menina, os choros das crianças solidárias lá fora que sentiam que algo não estava certo e puseram a fazer coro com Lay e Miroto, que gemia, parecendo uma criança ferida. Ainda assim, ela fazia o possível para conter a menina que chega
Foram para casa de Magna, estavam alternando entre a comunidade e a casa de Magna para agilizar agora que andavam pela cidade toda, em busca de trabalho. Quando trabalhavam mais perto da comunidade, dormiam lá, e quando mais próximos de Magna, passavam a noite em sua casa e dividiam o sofá, Corny sempre amanhecia no chão, seu tamanho não o permitia ter uma noite bem dormida e por vezes, para aliviá-lo, Zaira dormia com Magna, mas a enfermeira estava passando muitos dias no hospital devido a epidemia de lepra e tuberculose que só aumentava, o hospital precisava de toda ajuda possível e, como dizia Bruttus, o chefe da enfermagem e Rony, o diretor do hospital, ela fazia parte do corpo de enfermagem do hospital e apreciavam muito sua ajuda.Corny estava preocupado com a esposa na volta para casa e vieram os três calados. Magna estava calada e caminhavam os três pelos becos escuros, com ela na frente
Magna encontrou o médico na sala de médico onde ele estava com um aspecto que ela nunca tinha visto antes.Mais dois médicos estavam ali e conversavam entre si. Um deles era um cirurgião muito conhecido e requisitado e outro, um especialista em moléstias contagiosas. Se calaram quando ela entrou, mas ela percebeu que falavam de Miranda e pela expressão do doutor Frane, ela não estava bem.Quando ficaram sozinhos, ele lhe explicou que a doença havia se agravado, que fora embora no dia seguinte para ficar com ela, cuidar.- Não quero levar minha esposa para lá, Magna - Ele dizia - É um lugar terrível onde abandonam as pessoas a míngua, onde decaem até a morte.- Não fale assim, doutor. Sei que a ama e se preocupa com ela, porém não é certo ficarem juntos, pense em você também, em seus filhos, essa doen&cced
Ziri e Zaira saiam todos os dias quando Zaira dormia na comunidade, saiam antes do nascer do sol e voltavam a noite. Às vezes tinham sorte e traziam para casa dinheiro ou alimentos; Zaira ao chegar, ia com o marido visitar Lay, virara um costume e os esperavam ansiosos. Ela sempre reservava algo para a família, mesmo Lay já tendo se recuperado do aborto. Criara um laço forte amizade com a comunidade cigana de Cura e se acostumara a visitá-los.Curo, além de fazer serviços de bicos e biscates, criava galos para rinhas desde garoto, era um hobby que cultivava e andava quilômetros para participar de brigas de galos. Entendia de raças de galos, qual brigava melhor e quase sempre, seu galo vencia. Tinha um viveiro de arames e madeira onde uma meia dúzia de galos índios, com esporas afiadas, eram guardados e era comum trazer o perdedor da rinha morto para casa. Trazia galos esquartejados por o
Zaira fez o mesmo acompanhamento que fizera com Lay, com Tícia. A visitou todos os dias e foi gratificante vê-la desabrochar para a vida novamente. Ver que ela voltou a sorrir, que seu filho e marido estavam felizes e esperançosos. Tícia teve uma recuperação quase que imediata, diferente de Lay, para o alívio de Zaira. Dois dias depois, já atendia suas clientes em seu quintal, cuidando-lhes dos cabelos.O boca a boca sobre Zaira, cresceu exponencialmente por mais que ela tenha pedido sigilo e a cada vez que a visitava, notava as clientes de Tícia a olhando de forma diferente, não havia julgamentos, apenas admiração. A notícia de que uma cigana de cabelos castanhos ajudavam mulheres, logo se espalhou e Tícia um dia em que Zaira a visitou, cinco dia após o aborto, pediu-lhe que sentasse em sua cadeira de clientes e lhe pintou os cabelos de loiro, cortou-os, deix
- Obrigada por me deixar ficar aqui, doutor - Agradeceu Magna ao amigo e médico que a acolhera quando fora expulsa de sua quitinete - Até entendo o senhorio, sabe. Ele teve sorte de ter sido avisado antes, poderiam pôr fogo em seu prédio por acolher ali uma cigana.- Não precisa me agradecer, Magna, é um prazer tê-la aqui e quero que sinta-se em casa enquanto estiver aqui e fique o tempo que quiser. Mas me diga, chegaram a o confrontar?- Pintaram as paredes do prédio todo, amantes dos malditos ocupantes, claro. Isso foi uma alerta para ele. Escreveram palavras horríveis sobre ciganos nas paredes e ele estava muito sem graça de me pedir que saísse.- Menos mal, digo, que não o tenham atacado, que não tenham invadido lá e feito alguma maldade contra ele e você.- Sim, agradeço a Deus por isso. E você, como tem estado?Esta
- Zaira, precisamos conversar - Laise, uma das enfermeiras da casa de chá a avisou assim que ela chegou pela manhã.Com o estômago roncando, sentindo dor de cabeça, Zaira entrou no cômodo que usavam para o chá da tarde. Mais seis mulheres estavam ali, esperando. Todas já estavam desde o início com elas, nessa cruzada. Tícia era uma delas.- Não deve ser segredo para vocês que estamos sobre forte suspeita.Todas concordaram com um menear de cabeça.- Nem é só os ocupantes e a polícia. O que fazemos é ilegal! Fazemos pelo que acreditamos ser um bem maior, mas ainda assim, é ilegal. Bem, eu não vim ontem, como puderam perceber e o motivo, foi porque eu fui seguida.Todas ficaram assombradas. Não era segredo que o que realizavam ali como o nome de chá da tarde, encontro de mulheres, clube feminino, era u
Uma semana depois, Sony a procurou e lhe entregou seu novo documento.Lizantra era seu novo nome. Começou o trabalho no hospital no dia seguinte que recebeu o novo documento.Magna e o doutor, bem como a maioria das pessoas que conhecia, não sabiam. Achavam que ela estaria trabalhando como antes, nas praças vendendo os artesanatos, ou com o clube de amigas, mas durante dez a doze horas por dia, ela trabalhava no hospital.Sua nova rotina, era cansativa; tanto por ter que esconder as horas em que ficava no hospital, quanto para ver seus pais. Se vestia como uma enfermeira apenas quando já estava dentro do hospital para não levantar suspeitas.Seus pais estavam em uma cidade há uma hora de sua cidade. Fugiram das batidas constantes e conseguiram montar sua barraca em uma comunidade fixa. Ao menos por enquanto, estavam tranquilos. Curo e sua família fôra com eles. Nenhum amigo que ela
O novo emprego, deixava Zaira quase sem tempo para qualquer outra coisa. No início, achou que a farsa seria logo descoberta, já que nunca havia trabalhado em um hospital e não sabia como proceder. Ver tantos leitos, tantos pacientes a lhe chamar, a deixou desnorteada, mas suas amigas a ajudaram a passar pelos momentos críticos.Agora fazia a triagem, a pré e pós consulta de todos os pacientes, como se fosse mesmo uma enfermeira formada.Seus dias estavam mais tranquilos; ajudava, como Laise e Sony imaginou, diversas mulheres. Em constante contato com Tícia, essa, lhes encaminhavam mulheres que sofriam de abusos diversos, e estando no hospital, lhe era mais fácil poder auxiliá-las, com médicos vinte quatro horas por dia. Qualquer problema, estavam em um hospital.Não lhes era fácil, ainda que em um hospital, realizar o procedimento, não estavam s