Uma semana depois, Sony a procurou e lhe entregou seu novo documento.
Lizantra era seu novo nome. Começou o trabalho no hospital no dia seguinte que recebeu o novo documento.
Magna e o doutor, bem como a maioria das pessoas que conhecia, não sabiam. Achavam que ela estaria trabalhando como antes, nas praças vendendo os artesanatos, ou com o clube de amigas, mas durante dez a doze horas por dia, ela trabalhava no hospital.
Sua nova rotina, era cansativa; tanto por ter que esconder as horas em que ficava no hospital, quanto para ver seus pais. Se vestia como uma enfermeira apenas quando já estava dentro do hospital para não levantar suspeitas.
Seus pais estavam em uma cidade há uma hora de sua cidade. Fugiram das batidas constantes e conseguiram montar sua barraca em uma comunidade fixa. Ao menos por enquanto, estavam tranquilos. Curo e sua família fôra com eles. Nenhum amigo que ela
O novo emprego, deixava Zaira quase sem tempo para qualquer outra coisa. No início, achou que a farsa seria logo descoberta, já que nunca havia trabalhado em um hospital e não sabia como proceder. Ver tantos leitos, tantos pacientes a lhe chamar, a deixou desnorteada, mas suas amigas a ajudaram a passar pelos momentos críticos.Agora fazia a triagem, a pré e pós consulta de todos os pacientes, como se fosse mesmo uma enfermeira formada.Seus dias estavam mais tranquilos; ajudava, como Laise e Sony imaginou, diversas mulheres. Em constante contato com Tícia, essa, lhes encaminhavam mulheres que sofriam de abusos diversos, e estando no hospital, lhe era mais fácil poder auxiliá-las, com médicos vinte quatro horas por dia. Qualquer problema, estavam em um hospital.Não lhes era fácil, ainda que em um hospital, realizar o procedimento, não estavam s
Seis meses depois do recesso, o chá da tarde voltou a funcionar.Zaira mergulhava no trabalho no hospital, passava algumas horas na casa de Tícia e só voltava para casa, quando estava muito cansada. Não queria manter a mente desocupada; a falta de seus pais, dos pais e irmão de Magna, a fazia quase se afogar na dor. Precisava se manter ocupada ou sucumbiria.Morar na casa do doutor, foi a melhor coisa que fizeram. Seus filhos eram o sopro de alegria que mantinha ela e a amiga de pé.Nani não as deixava dormir a noite. Conversas sobre namoros, os hormônios aflorados da juventude, a deixava mais elétrica e por conseguinte, as “colegas de quarto”, tinham que ouvi-la.- Já posso dizer eu avisei? - Perguntou Frane uma noite em que jantavam e a garota não permitia que ninguém falasse. Estava apaixonada por um rapaz e agora era para valer. Toda sema
Mal conseguiam se desgrudar, quando interrompendo um beijo, Magna lhe perguntou:- O que diremos às crianças?- Não se preocupe com isso, eles a amam.- E eu à eles, e ao pai deles, também.A madrugada já ia alta quando se despediram com mais um beijo apaixonado, na varanda, não querendo ir para a cama, querendo aproveitar cada momento juntos, mas despediram-se, cada um foi para seu quarto e quando Magna abriu a porta de seu quarto, Nani estava sentada em sua cama; pernas cruzadas, escrevia em um caderno.Nani olhou para Magna e o sorriso que deu, chegou a assustar a enfermeira.- O que foi? - Perguntou Magna, ainda na porta, depois de fechá-la atrás de si.- Eu os vi… se beijando e estou quase tendo uma crise, um surto de alegria aqui. Não aguentava mais esperá-la.Magna corou e não sabia o que dizer. Nani havia visto ela e
Zaira e suas amigas, estavam com o chá da tarde em pleno funcionamento novamente. Trabalhava como Lizantra no hospital com Laise e Sony e seu marido e ela, dividiam a casa com a família de magna.Em um dos dias em que acordava enjoada, Magna estava com dez semanas de gestação, Zaira lhe dava um copo de água com limão.O limoeiro de Miranda, no fundo do quintal, os ajudava muito na crise de escassez que estavam e misericordiosamente, vivia dando frutos.Corny e Frane haviam estendido um lençol escuro para que não se visse a árvore da rua; naqueles tempos de extrema pobreza, muitas casas eram saqueadas se tivessem qualquer árvore frutífera e até dentro do banheiro, em bacias, tinham uma pequena horta com hortaliças, e isso muito os tinha ajudado.- Isso logo vai passar, Mag - Dizia-lhe a amiga.Quando Zaira, passando um pano úmido sobre a testa da
Semanas se passaram e Zaira ainda não contara ao marido que esperava um bebê.Tentava fingir a maior parte do tempo que não estava grávida; jogava para o fundo da mente, não queria lidar com aquilo agora.Não tinha tempo para pensar sobre isso e sabia que não teria como esconder por muito mais tempo; trabalhava o dia todo no hospital, do trabalho ia para o chá da tarde e só chegava em casa, bem tarde da noite. Estava evitando seu marido e ficava no quarto de Nani até que ele já estivesse dormindo e só então se deitava. Sabia que não podia continuar com isso, mas só de pensar em lhe contar, sabia que a opção de interromper a gravidez, seria anulada. Corny sonhava em ser pai, falavam disso muitas vezes e quando ele soubesse, ela não iria mais conseguir pensar em aborto.Alguns dias atrás, Magna chamou a amiga e lhe
Rael começara a namorar Dija, uma garota que conhecera há pouco tempo, antes que as aulas tivessem sido encerradas e passaram a namorar assim que se encontraram para continuar os estudos em casa. Não queriam ficar parados, mesmo com as escolas de todo país fechadas. O jovem, agora com dezoito anos, muito parecido com seu pai na mansidão e tranquilidade, sonhava em se tornar médico. Nani continuava se apaixonando na velocidade com que trocava de roupas; em um dia jurava estar apaixonada por algum rapaz, para no dia seguinte estar apaixonada por outro e o de ontem, esquecido.Nani e Dija eram inseparáveis, a eterna namoradeira havia arrebanhado a cunhada para ser sua nova confidente agora que Magna e Zaira seriam mães e estavam cada uma em seus quartos, a garota tinha uma nova melhor amiga.Magna estava de cinco meses, sua barriga estava enorme e seu marido dizia que só podia ser gêmeos, p
Corny veio engatinhando até Zaira; ele falava algo, mas ela só via sua boca mexer, não o ouvia, conseguiu ler seus lábios, ele dizia vamos.Corny tinha um corte na fonte, ela não sabia se era da coronhada que levara ou se havia se ferido com os escombros.Ele a ajudou a se levantar. Viu que Tícia, toda suja também se levanta e estava apoiada em seu vizinho traidor. Ambos falavam algo, Tícia apontava o céu. Ao longe um avião, que não estava tão alto como talvez deveria estar, se distanciava.A rua estava lotada de pessoas que saíram de suas casas, assustados como eles, uns gritavam, suas bocas mexiam, mas nada se ouvia. A rua já não estava como a minutos atrás; casas destruídas, fumaça, poeira, caos.- Temos que sair daqui, Zai, agora!Ela já ouvia seu marido, aos poucos, ouvia gritaria.- Te
Ignorando as dores que pioravam cada vez mais em sua barriga, ela esperou.Ouviu um carro que se aproximava e levantava a poeira da rua. Corny estava desmaiado novamente.Ela correu de encontro ao carro como se sua vida dependesse disso.O carro parou há cinco metros, ela fazia sinais com as mãos, mal tinha voz para gritar e eles pararam.A alma saiu de seu corpo quando desceram. Eram os dois policiais que queriam prendê-los mais cedo. O destino não podia fazer aquilo com ela.- Há um ferido - Ela disse tão logo eles desceram, rezava para estar tão imunda como imaginava que estivesse, como se sentia e assim não a reconheceriam, talvez com tudo o que acontecera, eles os ajudariam.Ela mostrou onde Corny estava, mas ficou ao lado do carro. Não os acompanhou e quando um deles, o que havia desferido uma coronhada em seu marido olhou para trás, para ver por que ela