Seis meses depois do recesso, o chá da tarde voltou a funcionar.
Zaira mergulhava no trabalho no hospital, passava algumas horas na casa de Tícia e só voltava para casa, quando estava muito cansada. Não queria manter a mente desocupada; a falta de seus pais, dos pais e irmão de Magna, a fazia quase se afogar na dor. Precisava se manter ocupada ou sucumbiria.
Morar na casa do doutor, foi a melhor coisa que fizeram. Seus filhos eram o sopro de alegria que mantinha ela e a amiga de pé.
Nani não as deixava dormir a noite. Conversas sobre namoros, os hormônios aflorados da juventude, a deixava mais elétrica e por conseguinte, as “colegas de quarto”, tinham que ouvi-la.
- Já posso dizer eu avisei? - Perguntou Frane uma noite em que jantavam e a garota não permitia que ninguém falasse. Estava apaixonada por um rapaz e agora era para valer. Toda sema
Mal conseguiam se desgrudar, quando interrompendo um beijo, Magna lhe perguntou:- O que diremos às crianças?- Não se preocupe com isso, eles a amam.- E eu à eles, e ao pai deles, também.A madrugada já ia alta quando se despediram com mais um beijo apaixonado, na varanda, não querendo ir para a cama, querendo aproveitar cada momento juntos, mas despediram-se, cada um foi para seu quarto e quando Magna abriu a porta de seu quarto, Nani estava sentada em sua cama; pernas cruzadas, escrevia em um caderno.Nani olhou para Magna e o sorriso que deu, chegou a assustar a enfermeira.- O que foi? - Perguntou Magna, ainda na porta, depois de fechá-la atrás de si.- Eu os vi… se beijando e estou quase tendo uma crise, um surto de alegria aqui. Não aguentava mais esperá-la.Magna corou e não sabia o que dizer. Nani havia visto ela e
Zaira e suas amigas, estavam com o chá da tarde em pleno funcionamento novamente. Trabalhava como Lizantra no hospital com Laise e Sony e seu marido e ela, dividiam a casa com a família de magna.Em um dos dias em que acordava enjoada, Magna estava com dez semanas de gestação, Zaira lhe dava um copo de água com limão.O limoeiro de Miranda, no fundo do quintal, os ajudava muito na crise de escassez que estavam e misericordiosamente, vivia dando frutos.Corny e Frane haviam estendido um lençol escuro para que não se visse a árvore da rua; naqueles tempos de extrema pobreza, muitas casas eram saqueadas se tivessem qualquer árvore frutífera e até dentro do banheiro, em bacias, tinham uma pequena horta com hortaliças, e isso muito os tinha ajudado.- Isso logo vai passar, Mag - Dizia-lhe a amiga.Quando Zaira, passando um pano úmido sobre a testa da
Semanas se passaram e Zaira ainda não contara ao marido que esperava um bebê.Tentava fingir a maior parte do tempo que não estava grávida; jogava para o fundo da mente, não queria lidar com aquilo agora.Não tinha tempo para pensar sobre isso e sabia que não teria como esconder por muito mais tempo; trabalhava o dia todo no hospital, do trabalho ia para o chá da tarde e só chegava em casa, bem tarde da noite. Estava evitando seu marido e ficava no quarto de Nani até que ele já estivesse dormindo e só então se deitava. Sabia que não podia continuar com isso, mas só de pensar em lhe contar, sabia que a opção de interromper a gravidez, seria anulada. Corny sonhava em ser pai, falavam disso muitas vezes e quando ele soubesse, ela não iria mais conseguir pensar em aborto.Alguns dias atrás, Magna chamou a amiga e lhe
Rael começara a namorar Dija, uma garota que conhecera há pouco tempo, antes que as aulas tivessem sido encerradas e passaram a namorar assim que se encontraram para continuar os estudos em casa. Não queriam ficar parados, mesmo com as escolas de todo país fechadas. O jovem, agora com dezoito anos, muito parecido com seu pai na mansidão e tranquilidade, sonhava em se tornar médico. Nani continuava se apaixonando na velocidade com que trocava de roupas; em um dia jurava estar apaixonada por algum rapaz, para no dia seguinte estar apaixonada por outro e o de ontem, esquecido.Nani e Dija eram inseparáveis, a eterna namoradeira havia arrebanhado a cunhada para ser sua nova confidente agora que Magna e Zaira seriam mães e estavam cada uma em seus quartos, a garota tinha uma nova melhor amiga.Magna estava de cinco meses, sua barriga estava enorme e seu marido dizia que só podia ser gêmeos, p
Corny veio engatinhando até Zaira; ele falava algo, mas ela só via sua boca mexer, não o ouvia, conseguiu ler seus lábios, ele dizia vamos.Corny tinha um corte na fonte, ela não sabia se era da coronhada que levara ou se havia se ferido com os escombros.Ele a ajudou a se levantar. Viu que Tícia, toda suja também se levanta e estava apoiada em seu vizinho traidor. Ambos falavam algo, Tícia apontava o céu. Ao longe um avião, que não estava tão alto como talvez deveria estar, se distanciava.A rua estava lotada de pessoas que saíram de suas casas, assustados como eles, uns gritavam, suas bocas mexiam, mas nada se ouvia. A rua já não estava como a minutos atrás; casas destruídas, fumaça, poeira, caos.- Temos que sair daqui, Zai, agora!Ela já ouvia seu marido, aos poucos, ouvia gritaria.- Te
Ignorando as dores que pioravam cada vez mais em sua barriga, ela esperou.Ouviu um carro que se aproximava e levantava a poeira da rua. Corny estava desmaiado novamente.Ela correu de encontro ao carro como se sua vida dependesse disso.O carro parou há cinco metros, ela fazia sinais com as mãos, mal tinha voz para gritar e eles pararam.A alma saiu de seu corpo quando desceram. Eram os dois policiais que queriam prendê-los mais cedo. O destino não podia fazer aquilo com ela.- Há um ferido - Ela disse tão logo eles desceram, rezava para estar tão imunda como imaginava que estivesse, como se sentia e assim não a reconheceriam, talvez com tudo o que acontecera, eles os ajudariam.Ela mostrou onde Corny estava, mas ficou ao lado do carro. Não os acompanhou e quando um deles, o que havia desferido uma coronhada em seu marido olhou para trás, para ver por que ela
Misericordiosamente, o bairro em que moravam não foi atingido pelas bombas. Zaira chegou a sua casa após andar sozinha, dispersa de pensamentos. Ignorara pessoas pela qual passara, não respondia quem a chamava. Perdera os sapatos pelo caminho e seus pés estavam feridos das pedras soltas pelas ruas.Andara em meio ao caos, vazia e sem se importar com nada e nem ninguém.Magna e Frane tinham a expressão de assombro quando ela chegara. estavam no portão, junto a muitos vizinhos e foi Nani quem a viu virando a esquina.Rael, sua irmã, Magna e Frane, a bombardeavam de perguntas:- Como está?- E esse sangue?- Tem algo quebrado?Ela os olhava, mas não conseguia se importar, era uma casca vazia, só quando perguntaram de Corny, ela saiu de seu torpor:- Ele está morto. Busque-o, doutor Frane!Ela pediu e entrou para casa.Ma
Abrir os olhos lhe custava muito. Lhe doía toda a cabeça e Lacantra resolveu não os abrir.Sentia o suor a lhe escorrer pelas costas e se grudar em suas vestes.Sentia o cheiro da fumaça do cigarro de Shetary, já tão conhecido por sua memória olfativa.Sabia que o dia estava claro, pelas pálpebras cerradas, ela sabia que era dia.Só forçou suas vistas a se abrirem ao ouvir a doce voz sussurrada de Aloy. Seu Aloy. Mas seus olhos não abriam, por mais que ela quisesse e tentasse.- Já se passaram quase uma lua, mãe. O inchaço em sua cabeça diminuiu, o corte já está cicatrizando, por que não acorda, por Rafo, por que não acorda?- Calma, rapaz - A voz de mãe Shetary também era baixa, mas firme - Temos que agradecer à Rafo por ela estar viva e respirando. Foi uma pancada muito forte.- Ma