Doutor Frane havia buscado Magna para auxiliar em uma pandemia que estava acontecendo. A tuberculose e a peste, já era comum mas se disseminaram e alastrou como um rastilho de pólvora nos meses que começara a guerra.
- Miranda está tísica - Disse o doutor quando estavam caminhando para o hospital no dia anterior. Ele tinha o maxilar cerrado ao lhe dizer isso e Magna apoiou uma mão sobre seu braço como forma de acalento - Terei que isolá-la em um convento ou asilo…
Miranda era sua esposa há quase vinte anos, tinham um casal de filhos, com as idades de dezoito e dezesseis anos. Magna nunca fora muito íntima da família do médico, via-os sempre em ocasiões especiais mas não criara um vínculo. Sabia que Miranda, sua esposa era uma boa mulher, amável e sempre a via feliz com a família, tinha uma boa imagem dela como uma
Da entrada da comunidade, uma pequena subida, uma rampa, eles ouviram os gritos de Lay.Era doloroso de ouvir e Zaira e Magna aceleraram o passo a quase uma corrida, Magna carregava uma mochila com o que usaria.- Com quem ela está, por que está gritando?- Sida está com ela, achamos que não viria, doutora e Sida lhe deu algumas infusões ontem que acho que deve estar fazendo efeito - Disse Mura - Deve estar perdendo o bebê.- Santo Deus, eu não acredito - Murmurou Magna, incrédula.Sida tentava conter os solavancos que Aly dava, ela dava trancos na madeira usada como cama e a fazia estremecer. Miroto que estava ali debaixo da cama e não sairia por nada, gania baixinho. A corda com a qual Muro tentara lhe deixar amarrado, pedia de seu pescoço. A cama, ou o que chamavam de cama, não estava mais recostada na barraca, em um canto, mas quase na metade do ambi
- Segure-a! - gritou Magna, interrompendo o pai nosso. Lay parecia ter recuperado tanto a voz, não estava mais rouca, quanto a força. Chutava e corcoveava com uma força que não combinava com sua estatura. Miroto espelhava a garota, tentava morder as pernas de Magna, que o ignorava.- Dê-lhe mais éter - Gritou Zaira que não conseguia segurar a garota. Quase deitada sobre ela, era arranhada e Magna chutada no rosto pelos pés da menina.- Não! Avisei que teria que segurá-la caso o efeito passasse e preciso fazer a raspagem completa. Miroto, senta, saia!Zaira não a ouvia com os berros da menina, os choros das crianças solidárias lá fora que sentiam que algo não estava certo e puseram a fazer coro com Lay e Miroto, que gemia, parecendo uma criança ferida. Ainda assim, ela fazia o possível para conter a menina que chega
Foram para casa de Magna, estavam alternando entre a comunidade e a casa de Magna para agilizar agora que andavam pela cidade toda, em busca de trabalho. Quando trabalhavam mais perto da comunidade, dormiam lá, e quando mais próximos de Magna, passavam a noite em sua casa e dividiam o sofá, Corny sempre amanhecia no chão, seu tamanho não o permitia ter uma noite bem dormida e por vezes, para aliviá-lo, Zaira dormia com Magna, mas a enfermeira estava passando muitos dias no hospital devido a epidemia de lepra e tuberculose que só aumentava, o hospital precisava de toda ajuda possível e, como dizia Bruttus, o chefe da enfermagem e Rony, o diretor do hospital, ela fazia parte do corpo de enfermagem do hospital e apreciavam muito sua ajuda.Corny estava preocupado com a esposa na volta para casa e vieram os três calados. Magna estava calada e caminhavam os três pelos becos escuros, com ela na frente
Magna encontrou o médico na sala de médico onde ele estava com um aspecto que ela nunca tinha visto antes.Mais dois médicos estavam ali e conversavam entre si. Um deles era um cirurgião muito conhecido e requisitado e outro, um especialista em moléstias contagiosas. Se calaram quando ela entrou, mas ela percebeu que falavam de Miranda e pela expressão do doutor Frane, ela não estava bem.Quando ficaram sozinhos, ele lhe explicou que a doença havia se agravado, que fora embora no dia seguinte para ficar com ela, cuidar.- Não quero levar minha esposa para lá, Magna - Ele dizia - É um lugar terrível onde abandonam as pessoas a míngua, onde decaem até a morte.- Não fale assim, doutor. Sei que a ama e se preocupa com ela, porém não é certo ficarem juntos, pense em você também, em seus filhos, essa doen&cced
Ziri e Zaira saiam todos os dias quando Zaira dormia na comunidade, saiam antes do nascer do sol e voltavam a noite. Às vezes tinham sorte e traziam para casa dinheiro ou alimentos; Zaira ao chegar, ia com o marido visitar Lay, virara um costume e os esperavam ansiosos. Ela sempre reservava algo para a família, mesmo Lay já tendo se recuperado do aborto. Criara um laço forte amizade com a comunidade cigana de Cura e se acostumara a visitá-los.Curo, além de fazer serviços de bicos e biscates, criava galos para rinhas desde garoto, era um hobby que cultivava e andava quilômetros para participar de brigas de galos. Entendia de raças de galos, qual brigava melhor e quase sempre, seu galo vencia. Tinha um viveiro de arames e madeira onde uma meia dúzia de galos índios, com esporas afiadas, eram guardados e era comum trazer o perdedor da rinha morto para casa. Trazia galos esquartejados por o
Zaira fez o mesmo acompanhamento que fizera com Lay, com Tícia. A visitou todos os dias e foi gratificante vê-la desabrochar para a vida novamente. Ver que ela voltou a sorrir, que seu filho e marido estavam felizes e esperançosos. Tícia teve uma recuperação quase que imediata, diferente de Lay, para o alívio de Zaira. Dois dias depois, já atendia suas clientes em seu quintal, cuidando-lhes dos cabelos.O boca a boca sobre Zaira, cresceu exponencialmente por mais que ela tenha pedido sigilo e a cada vez que a visitava, notava as clientes de Tícia a olhando de forma diferente, não havia julgamentos, apenas admiração. A notícia de que uma cigana de cabelos castanhos ajudavam mulheres, logo se espalhou e Tícia um dia em que Zaira a visitou, cinco dia após o aborto, pediu-lhe que sentasse em sua cadeira de clientes e lhe pintou os cabelos de loiro, cortou-os, deix
- Obrigada por me deixar ficar aqui, doutor - Agradeceu Magna ao amigo e médico que a acolhera quando fora expulsa de sua quitinete - Até entendo o senhorio, sabe. Ele teve sorte de ter sido avisado antes, poderiam pôr fogo em seu prédio por acolher ali uma cigana.- Não precisa me agradecer, Magna, é um prazer tê-la aqui e quero que sinta-se em casa enquanto estiver aqui e fique o tempo que quiser. Mas me diga, chegaram a o confrontar?- Pintaram as paredes do prédio todo, amantes dos malditos ocupantes, claro. Isso foi uma alerta para ele. Escreveram palavras horríveis sobre ciganos nas paredes e ele estava muito sem graça de me pedir que saísse.- Menos mal, digo, que não o tenham atacado, que não tenham invadido lá e feito alguma maldade contra ele e você.- Sim, agradeço a Deus por isso. E você, como tem estado?Esta
- Zaira, precisamos conversar - Laise, uma das enfermeiras da casa de chá a avisou assim que ela chegou pela manhã.Com o estômago roncando, sentindo dor de cabeça, Zaira entrou no cômodo que usavam para o chá da tarde. Mais seis mulheres estavam ali, esperando. Todas já estavam desde o início com elas, nessa cruzada. Tícia era uma delas.- Não deve ser segredo para vocês que estamos sobre forte suspeita.Todas concordaram com um menear de cabeça.- Nem é só os ocupantes e a polícia. O que fazemos é ilegal! Fazemos pelo que acreditamos ser um bem maior, mas ainda assim, é ilegal. Bem, eu não vim ontem, como puderam perceber e o motivo, foi porque eu fui seguida.Todas ficaram assombradas. Não era segredo que o que realizavam ali como o nome de chá da tarde, encontro de mulheres, clube feminino, era u