Fazendo uma força sobre humana, ela passou a mão pelos cabelos de Lucca e lhe disse que sentia muito.
Vendo que a amiga estava fora do choque, ele se levantou e a puxou.
Encontram Carh fora da tribo, ele havia corrido para pedir ajuda ou procurara uma forma de contra ataque que falhou, foi o que os sobreviventes disseram. Seu irmão fora um herói, salvara a vida de muitos na luta. Três Brucks foram mortos por ele e jaziam próximo de seu corpo.
Sua esposa fora empalada por uma espada e para aumentar a agonia, fora encontrada na porta da casa dos sogros com a própria espada transpassada nas costas de sua mão e atravessara sua barriga. Tentara proteger seu bebê que nem se percebia que existia e foi ali que levou o golpe. O que sobrou de Puzzo e Tábea, mal dava para contar como corpo.
Nem conseguiram escapar do fogo na choupana. Ninguém pôde explicar, mas supunha-se que Puzzo fora atacado ainda dentro da choupana. Como um dos líderes da tribo, os Brucks tentaram o imobilizar primeiro e um deles, fôra queimado junto do casal. Restos de uma besta, se encontrava retalhado e queimado junto aos pais de Lacantra.
A dor e remorso a deixava entorpecida. Mesmo todos lhe dizendo que havia sido melhor que ela não estivesse ali, que tinha sido bom que deixara sua irmã procurar Japur sozinha, nada daquilo a consolava. Sua dor a fazia repensar tudo e mesmo sabendo que podia estar morta, era o que desejava que tivesse acontecido. Perdera tudo que mais amava e não sabia e nem queria pensar em planejar nada.
A choupana de Lucca também queimara toda e ambos ajudaram até o meio do dia seguinte na procura dos restos dos amigos. Buscaram Magay para ajudar os feridos e para o ritual de três dias que se seguiram a despedida dos mortos.
Outras tribos foram saqueadas e muitos mortos eram contabilizados. Toda ajuda era necessária e os amigos nem tinham tempo de prantear seus entes.
Até mesmo a tribo de Pief, de Frizat não havia sido poupada.
Frizat era um imponente Sivaê. De pouca conversa ou contato com as demais tribos, os membros de sua tribo, seguia sua discrição e quase não se juntavam aos demais.
Frizat tinha pulso firme em decisões que tomava e jamais era questionado. O que dizia, era lei. Era respeitado por todos e nos encontros que faziam de todas as tribos, era o último a chegar e o primeiro a sair. Interagia pouco, rosto sempre sem expressões, dirigia sua tribo sem pedir ou oferecer ajuda aos vizinhos ou mesmo os que moravam mais longe.
Segundo se ouvia, sofrera baixa em Pief também, e pedira um encontro mais cedo dessa vez no conselho. Não tinha sido o único a pedir que antecipassem o encontro, medidas precisavam ser tomadas acerca dos Brucks.
Essas bestas não faziam morada. Eram nômades antigos que viviam de tribo em tribo.
Cantavam se cantigas ás crianças sobre eles, desde pequenos, todos temiam ser escravos de Brucks. Não se tinha notícias se escravizavam algum humano, mas ninguém queria pagar para ver. Eram ratos, sorrateiros, devastavam choupanas em busca de alimentação ou vestimentas. Qualquer coisa para facilitar suas vidas e eram cruéis. Matavam e comiam qualquer coisa que se mexesse.
Brucks não eram os únicos predadores que tinham, mas eram os mais comuns, que apareciam mais. O estranho era que costumavam atacar sorrateiramente. Esse último ataque, não era muito comum deles, de atacarem em plena luz do dia, com os moradores acordados, todos em sua choupana, inclusive os matriarcas. Isso seria debatido no conselho dos Sivaês, sem dúvidas.
- E fica resolvido que de hoje a três dias, iremos nos encontrar com os Sivaês. Traremos notícias boas, esperamos, à todos.
Matus, um vizinho, pai de família e sobrevivente, falava á todos de Pua o que fariam dali á três dias.
O ritual de despedida estava no fim. Fungados pontuavam seu último discurso. Os olhos de Matus também estavam vermelhos, perdera dois de seus filhos. Um ainda bebê e ainda assim, estava arregaçando as mangas, pronto para lutar contra o que os afligira.
Lacantra e Lucca, estavam ficando em sua choupana até que as suas ficassem prontas, agora era hora de refazerem o que perderam. Reconstruir, o prejuízo fora imenso, sem contar as vidas.
Lucca estava quieto, nos últimos dias, não derramou uma lágrima na frente de ninguém. Se mantivera frio até mesmo com a amiga, vivia o luto quieto.
Lacantra se sentia vazia como nunca antes. Não conseguia dormir e quando o corpo por fim relaxava e ela dormia alguns instantes, tinha sonhos que não sabia explicar. Ao despertar, demorava para saber onde estava. Deitada no chão da choupana do vizinho e amigo, dividindo uns trapos com Lucca, ela soluçava tapando a boca, se lembrando de sua mãe, pai e irmãos. De como era sempre que tinha as visagens e dividia com sua família.
O rosto de sua irmã, sorridente e colorido, era a primeira e última coisa que estampava sua retina, no dia e o que despedia dela ao dormir.
Lucca a abraçava quando o choro vinha. Ele também não dormia e sem falar nada, a amparava nas crises.
- Que seu dia seja bom - Era o comprimento matinal de Matus enquanto sentavam para o desjejum.
- O seu também, Matus - Responderam Lacantra e Lucca, sentando-se e cumprimentando Lara, que mal viu quando chegaram e mal dava pela presença de qualquer pessoa, desde que perdera seus filhos. Ela parecia doente e alheia a tudo. Tinha os olhos claros secos, mas seu sofrimento era visível, repetia o nome dos filhos em um mantra contínuo.
- Fomos convocados, como vocês sabem, ao conselho e pediram que vocês dois também se apresentem - Disse-lhes Matus, enquanto bebia seu chá e oferecia a esposa que negava com a cabeça pela terceira vez.
- Por que querem que vamos também? - Indagou Lacantra, apreensiva.
- Realmente não sei. Houveram muitas mudanças, talvez o conselho irá determinar algo para ajudarem, já estão ajudando… só lá mesmo saberemos.
- Tudo mudou, não é? - Lucca comentou com Lacantra quando seguiam os amigos de Pua e os anciões para o Fulgot, o conselho com os Sivaês após o ataque sofrido pelos Brucks e que prejudicou diversas tribos.Alguns Cândalos os acompanhavam. Esses eram homens e mulheres na idade entre dezessete a quarenta anos que iam a lugares mais longes, as vezes por dias em busca de alimentações ou melhorias para a tribo. Alguns casais se revezavam nessas viagens, um ficava para cuidar dos filhos enquanto o outro ia nas missões. Estavam sempre treinando para caças ou ataques. Treinavam com mestres na arte da luta.- Nada mais será como antes - Respondeu-lhe a moça, desanimada - Na última vez que fui a um Fulgot, eu era bem pequena e fiquei muito ansiosa, prometi á papai que não iria atrapalhar - A lembrança lhe deu um amargo na boca, lembrava-se de sua
O conselho, a reunião, seria iniciada no início da noite e o povo conversavam, trocavam idéias, diziam o que achavam que deveria ser feito á respeito dos Brucks e de outros predadores que todos enfrentavam.Lacantra, Lucca e Lutty, se afastaram e foram para longe dali, passeavam nas matas, colocavam os assuntos em dia. A jovem, interpelada pelo amigo que agora vivia distante, lhe contou sobre suas visagens, as que ele ainda não ouvira desde que fora realocado.Apenas no início da reunião, quando começava a anoitecer e assentos foram improvisados e agrupados de forma que todos se sentassem, que Frizzat apareceu. Dessa vez ele não estava só.Era costume sempre comparecer ao Fulgot sozinho, mas dessa vez, estava acompanhado de um jovem. Um rapaz forte, de costas largas, alto, pele curtida do sol, cabelos pouco abaixo dos ombros, trançados e claros, quase brancos. Seus olhos e
Pela primeira vez um Fulgot foi interrompido.Após um dos Sivaê cochichar no ouvido de Sácia, essa pediu silêncio e pediu que se reunissem mais tarde. Aquele conselho tinha saído dos trilhos, e perdendo as forças, sem saber que seria interrompida, não estava preparada para debater com a jovem e nem com todos que se levantaram em protesto. Tinham que pensar em algo, não podiam voltar atrás em uma decisão, a hierarquia era importante. Se aceitassem o que a garota fez, jamais teriam respeito novamente. Se insistissem e a punissem, mandando-a para Falls, mostrariam crueldade e ela poderia levar adiante mesmo essa idéia e sem querer, criara um motim.Lacantra foi chamada pelo ancião de Pua. Ouviu o que ele e seus amigos lhe diziam, ela não deveria ter se rebelado em um conselho e devia ser advertida. Mas ela não abriu sua boca, não mudaria de idéia.
- Ele, Frizzat, é mesmo sempre assim tão fechado, trata á todos com rigidez? - Questionou-o.- Normal todos pensarem isso, mas não, Frizzat é muito brincalhão e educado. Sempre fala com todos com carinho. Está revendo a idéia de ir para Pief? - Perguntou-lhe Aloy.- Jamais. Pura curiosidade, como você mesmo disse, todos temos á respeito dele, normal.- Mas prefere mesmo ser uma renegada para sempre, envolver outras pessoas, mandá-las para Falls?Lacantra se levantou, enfurecida, quase caiu no riacho para poder ficar de frente para o jovem:- Não pedi que ninguém se interferisse em minha decisão. Nem mesmo aos meus amigos mais chegados. Pare de me acusar, seu puxa saco maldito. Volte ao seu senhor e diga que prefiro morrer a morar na tribo de vocês e saia daqui, suma de minha frente.Ela tremia e sua voz alta e seu dedo indicad
Ela andou por mais de uma hora pensando nisso , no que o pai dissera.Ela prometera à ele que não consideraria mais suas decisões como defeito, mas que tentaria não mais agir por impulso.Deitada em um gramado, debaixo de uma árvore, deu vazão às lágrimas que corriam livres. Uma dor lancinante ao sentir a ausência de sua família. Um buraco instaurado em sua alma, seu coração, sua mente que chegava a doer fisicamente. Ela não acreditava que isso um dia seria amenizado, que essa dor fosse parar. Culpa e ódio, se mesclavam dentro dela. A inconformidade e a vontade de gritar, era uma constante.Olhando para as nuvens, novas lembranças a assaltavam. Sua mãe lhe dizia que toda nuvem, tinha um desenho, não importa a hora em que se olhasse para o céu, lá estava uma nuvem com o formato de algo. As lágrimas e a exau
- Por que a teria visto?Ela respondeu sem o olhar, não queria ele inserido na conversa. Não o queria ali.- Você a conhece? - Lucca perguntou ao rapaz.-Sim. Mãe Shetary é a pessoa mais inteligente que já conheci. Uma matriarca única.- Minha mãe dizia que ela pode tanto abençoar, como amaldiçoar alguém - Falou Lucca.- Não creio nisso - Retrucou Aloy - Ela auxilia em alguns Fulgots, quer o bem de todos e só apareceu em algum, quando algo sério aconteceu e ajudou nas decisões.Os três chegaram a choupana famintos. Se lavaram em uma bacia de madeira, molhando os cabelos e braços para tirarem o calor e a poeira da estrada, se alimentaram e aguardaram a decisão do conselho dos Sivaês, sentados ao fundo. Lutty se aproximou e se sentou junto aos jovens.Tendo se dispersado, andado quase o dia todo
Seu coração que mal havia se acalmado e voltado aos batimentos normais, disparou novamente.Aquela senhora disse ter sentido a situação que pairava sobre o Fulgot. Lacantra não se lembrava onde Aloy tinha dito que ela morava, ou se ele havia dito. Como ela viera, quem a avisara, por que viera tão rapidamente, qual seria seu veredito? Não acreditava que qualquer que fosse a decisão da matriarca, alguém fosse revidar ou reclamar. Seu destino estava na mão daquela criatura estranha e mais velha que alguém já conhecera. Ela dissera que sua histeria não fora de todo incompreendida mas não podiam ceder para não serem desacreditados e enfrentados no futuro.Lacantra esperava entre ansiosa e amedrontada com o que poderia advir da anciã.A senhora a olhava, via sua ansiedade latente mas esperou.- É próprio dos sá
Caos e barulho. Ensurdecedor.Lacantra se pôs de pé depois de tentar se levantar por três vezes e cair. Os joelhos ardiam pelos arranhados.Eram muitas pessoas gritando, correndo desesperadas. Entre eles, crianças.Uma de cerca de uns dois anos, tinha um olho fechado e roxo, sentada em meio aos escombros, sua diminuta boca aberta mostrava que chorava desconsolada mas de onde estava, Lacantra não ouvia seu choro. Lágrimas misturadas a sangue e terra, marcavam seu rostinho.Esse foi o impulso para que Lacantra se levantasse e mancasse até o bebê. O teto do lugar, seja ele qual fosse, caía em intervalos. O medo de Lacantra crescia, temia que um dos pedaços do teto caísse na criança antes que a protegesse.Adultos passavam pelo bebê sem um segundo olhar. Uma mulher magérrima e suja de terra que gritava, mas o barulho que vinha de diversos l