MAITÊ NARRANDO
Desci para jantar com a Mia. A dona Emma já estava sentada à mesa e me repreendeu dizendo que estávamos cinco minutos atrasadas. — Se você quer trabalhar nesta casa, tem que aprender as regras e ser pontual. Se tem uma coisa que meu noivo detesta é atraso — ela falou, colocando a água na taça. Se eu não precisasse tanto desse trabalho, pegaria aquela jarra de água e a derramaria na cabeça dessa cobra. Que mulher insuportável. Sentei a Mia na cadeirinha dela e me sentei ao seu lado. Coloquei a comidinha dela, sempre perguntando o que ela queria. Quando eu estava cortando a carne, mais uma vez a dona Emma me repreendeu. Parece que nada agrada essa mulher. Ela só sabe reclamar. Continuei cortando a carne do jeito que sei, servi a minha comida, sempre arrumando a postura, e segurei o garfo do jeito que a tia Margareth me ensinou. Jantamos em silêncio e foi servida a sobremesa. A sobremesa da Mia é sempre fruta, pois ela não pode comer nenhum tipo de doce. — Me fale sobre você, Maitê, não é esse o seu nome? Posso saber de onde você é e como veio parar aqui? — ela perguntou, levando uma colher de sobremesa à boca. Tomara que se engasgue. — Sim, é esse o meu nome. Eu fui criada em um orfanato por freiras que parece mais um convento, e vim parar aqui por indicação da dona Margareth. Eu moro na casa dela — respondi séria, olhando diretamente nos olhos da cobra. Ela começou a rir, me chamando de freira, e perguntou se sou tão recatada quanto uma freira ou se, de vez em quando, solto as asinhas. — Se gosta de soltar as asinhas, vou te dar um conselho: fique bem longe do meu Bryan, porque senão eu corto as suas asas — ela falou em voz baixa, mas eu consegui ouvir claramente. Não respondi, comi minha sobremesa, peguei a Mia, e depois de lavar as mãozinhas e a boquinha dela, subimos para o quarto. Coloquei a Mia sentada na cama e fui para a janela tomar um ar. Quando estou perto da dona Emma, me sinto sufocada. Essa mulher tem uma energia ruim; parece que o mal a acompanha. A Mia falou que estava com sono. Troquei a roupinha dela, coloquei um pijama, escovamos os dentes juntas, e também troquei de roupa. Primeiro, coloquei ela para dormir na sua caminha. Quando ela já estava dormindo, me deitei e logo dormi. A cama é muito confortável. Acordei cedo e já olhei para o relógio. Ainda bem que não estou atrasada. Me levantei rápido e peguei uma agenda que fica em cima da cômoda. A Mia tem aulas particulares. Só não entendi por que ela não vai para a escolinha igual às outras crianças. Até perguntei à tia Margareth, mas ela me falou que é preferência do senhor Bryan. Tomei banho rápido, fiz a minha rotina matinal e me arrumei, achei melhor assim depois só cuidar da Mia. Acordei a menina, dei banho nela, arrumei, ela bem bonitinha e fiz um coque no cabelo. É aula de balé. A Mia ficou uma verdadeira princesa. Quando olhei no relógio, só faltavam dois minutos para o horário do café. Peguei a Mia no colo e saí correndo. Não quero ser chamada atenção novamente. Ainda bem que a bruxa não estava na mesa. Perguntei por ela baixinho, e a tia Margareth falou que ela saiu cedo. Tomei café junto com a Mia, e a tia Margareth nos acompanhou até a sala de aula. Fiquei impressionada. É uma sala de aula com quadro negro, carteiras, tudo idêntico a uma escola. No orfanato, íamos para a escola porque ficava no mesmo terreno. A professora me deixou assistir à aula e até me ensinou alguns passos. A Mia se divertiu bastante. Tive a impressão de ter visto um vulto passando pela porta, vi através do espelho. Quando olhei para trás, não havia ninguém. Quando a aula acabou, agradeci à professora, ela foi embora e subi com a Mia para trocar a roupinha dela. Ficamos brincando até o horário do almoço. Quando descemos para almoçar, a dona Emma estava lá. Como estávamos dez minutos adiantadas, ela não me repreendeu, até me parabenizou, mas com muito sarcasmo. — Olha só, parece que a freira aprende rápido. Parabéns, Maitê. Pelo menos para o café da manhã e o almoço, você não se atrasou — ela falou, e eu não respondi. Depois do almoço, levei a Mia para descansar. Dessa vez, não dormi. Arrumei o armário dela por paleta de cores. Aprendi isso com a freira Carmem. Ela é muito perfeccionista e nos ensinou a arrumar tudo por cores. Passei a tarde toda dentro do closet da Mia até o horário dela acordar. Depois do lanchinho da tarde, brincamos um pouquinho. Dei banho nela e descemos para o jantar. Ainda bem que jantamos apenas nós duas. Depois, fui à cozinha conversar um pouquinho com a tia Margareth. Quando subi para o quarto da Mia, peguei ela no colo e fiquei mostrando as estrelas através da janela. — Quando eu era criança, minha mãe me falou que a maior estrela é a estrela Dalva — falei, apontando para um pontinho que brilhava no céu. — Tia, meu papai falou que ela é minha mamãe — quando ela falou isso, apontando para a estrela, meus olhos encheram de lágrimas. Assim como a Mia, eu também não tenho mais minha mamãe comigo. Fiquei brincando com ela para não ficar triste. Quando, de repente, a porta do quarto bateu e eu me assustei. Quando olhei para trás, era a dona Emma. Ela mandou colocar a Mia no chão, falando que a menina é grande e sabe andar e ficar em pé sozinha. — Eu não sei por que você mima tanto a minha sobrinha. Até posso imaginar uma órfã querendo mostrar serviço para dar o golpe, mas eu já vou te avisando: você não vai passar muito tempo nessa casa. Eu vou fazer da sua vida um inferno até você pedir demissão. Está ouvindo? — ela falou e veio na minha direção. Dei um passo para trás. A janela estava aberta, fiquei com medo de cair quando a porta do quarto se abriu novamente. Era um homem de olhos azuis e voz grossa. — Posso saber o que está acontecendo aqui? — ele falou, e a dona Emma olhou para porta assustada. Reconheci ele, tem um quadro enorme com uma foto dele e o pai da Mia no escritório, é o Sr. Bryan.BRYAN NARRANDO A missão no sul do país não era apenas um trabalho, era uma questão de honra. Recebi ordens diretamente do meu pai para resolver um problema em Sochi, um cliente de nossas armas, um político local, estava nos devendo e tentava escapar das suas obrigações. O tipo de erro que não podemos deixar passar.Cheguei à cidade numa madrugada chuvosa, o capote escuro protegendo meu terno impecável. Me Encontrei com o nosso contato local, um homem chamado Joseff, que me entregou todos os detalhes. O alvo era um empresário ligado ao político. O plano era simples: fazer uma visita noturna, assustá-lo o suficiente para que ele pagasse o que devia.Passei o dia observando o alvo, um tipo gorducho e arrogante que parecia pensar que estava acima das consequências. Quando a noite caiu, eu e Joseff nos aproximamos da mansão dele. A segurança era mínima, confiavam demais nos muros altos e nos cães. Saltamos o muro e silenciosamente neutralizamos os cães com carne embebida em sedativos.De
MAITÊ NARRANDO O Sr. Bryan é um homem muito imponente, até a sua presença assusta. Ele tem uma expressão muito séria e encarou a dona Emma, que mostrou um sorriso amarelo e foi falar com ele de uma forma bem fingida.O que achei estranho é que, quando ela tentou beijar o seu noivo, ele virou o rosto como se não quisesse, parecia recusar o seu beijo.Ele perguntou o que estava acontecendo, mas ela ficou dando voltas, duvidosa em dizer a verdade, que estava me ameaçando e me encurralando. Amanhã vou contar tudo à tia Margareth.— Você não ouviu o que eu falei? Saia, depois nós vamos conversar — ele falou então em voz mais alta, quase gritando.— Vou te esperar no quarto — dona Emma falou, mas ele não deu a mínima.— E você, sente-se, precisamos conversar — ele falou me encarando.Minhas pernas começaram a tremer e eu tive que sentar, se não ia cair. Ele ficou fazendo carinho nos cabelos da Mia até que ela dormiu. O perfume dele ficou no quarto, um cheiro amadeirado. Fechei os olhos, in
BRYAN NARRANDO Conversei com a Maitê, mas tenho certeza de que ela está escondendo alguma coisa. Ela não tem cara de quem apagou a infância da memória. Consegui ver dentro dos olhos dela uma mágoa que, sabendo usar, será uma grande aliada sua.Assim que ela saiu do escritório, peguei novamente seus documentos, analisei com cuidado e liguei para um investigador. Pedi que o Héber viesse até minha casa.Fiquei esperando o Héber no meu escritório. É um amigo de longa data e trabalha com investigação. Tenho um escritório renomado aqui em Moscou, e ele presta serviços para a yakuza e também ajuda em alguns casos da Interpol. Por isso, estamos sempre bem informados.Alguém bateu na porta do escritório e eu mandei entrar; era a Emma.— Você não vai deitar. Estamos há mais de uma semana sem nos tocar. Sinto saudade de você, Bryan. Por favor, não me faça implorar. Não negue o teu amor — ela falou e sentou nas minhas pernas.Eu deveria me comover com a Emma, mas não consigo. Tem algo nela que m
MAITÊ NARRANDO Acordei com o despertador e senti um perfume muito forte no quarto. Meu nariz até ardeu. Me levantei e já corri para olhar a agenda da Mia. Agora que o senhor Bryan voltou, tenho que fazer tudo corretamente e não posso me atrasar em nenhum horário.Tomei banho, fiz a minha rotina matinal e me arrumei bem rápido. Acordei a Mia, dei banho nela e também a arrumei, colocando uma roupinha mais quente, já que o dia estava frio. Ela tem que estar bem agasalhada.Descemos para tomar café. Ainda não contei à tia Margareth o que aconteceu, mas vou contar. Sei que o senhor Bryan pediu segredo, mas confio nela e sei que ela não vai contar para ninguém.Quando estávamos indo para a aula com o senhor Bryan, eu estava descendo as escadas e quis ser educada, mas acho que ele não gostou muito pela cara que ele fez para mim.— Bom dia, senhor — falei com um sorriso leve, e ele ficou me olhando com uma expressão assustadora.Mia correu e abraçou o pai dela. Só assim ele parou de me olhar
EMMA NARRANDO Eu tenho que dar um jeito de me livrar da nova babá da Mia. De todas que já entraram na casa para cuidar da minha sobrinha, nenhuma era tão jovem e bonita. Eu dei um jeito de dispensar todas. Esta é jovem, ainda é uma menina, tem apenas 18 anos, mas tem um corpo desenvolvido e é muito bonita. Pode ser um perigo para minha relação com o Bryan. E, para piorar a situação, ela tem um sorriso idêntico ao da Marisol.Só de lembrar, dei alguns socos no travesseiro. Mal consegui dormir só pensando em como vou me livrar dessa garota. Ela é muito meiga e tímida e ainda tem a proteção da Margareth, a empregada de confiança do Bryan. Não posso simplesmente expulsá-la; é muito arriscado.Passei a noite pensando. Consegui dormir um pouco já era madrugada. Bryan ainda não fez nenhum contato. Já liguei várias vezes para o secretário dele, que também não tem nenhuma informação. É uma missão sigilosa.Acordei às seis da manhã como todos os dias, gosto de cuidar do meu corpo e da minha sa
BRYAN NARRANDO Após deixar a Mia na sala de aula, a Maitê ficou junto com ela. Acho boa essa preocupação dela em acompanhar a minha filha nas aulas; assim, ela vai poder ensinar com mais qualidade.Tomei o meu café da manhã, e comentei com a Margareth, que vou almoçar na casa dos meus pais e irei levar a Maitê junto comigo.Fiquei esperando o Héber com a câmera para colocarmos no quarto da minha filha. Quero saber que tipo de assunto a Emma anda conversando pelas minhas costas.Terminei meu café da manhã e fui para o meu escritório. Abri a minha caixa de e-mails, não tinha nada que eu julgasse importante. Héber chegou e fomos para o quarto da Mia. Instalamos a câmera dentro da lâmpada, uma microcâmera moderna que vai conseguir pegar todos os metros quadrados do quarto.Agradeci ao Héber. Vou pagar junto com o serviço que ele vai me prestar, trazendo informações sobre a Maitê. Ela ainda é uma menina, mas me fascina com sua beleza e com seu sorriso. É pura coincidência, mas a Maitê tem
MAITÊ NARRANDO Depois do almoço, fomos para o jardim. A Dona Briana tem um jardim de inverno e também um jardim perto do pomar. Parece aquelas cenas de filme. Fiquei encantada com o jeito com que ela fala de cada roseira; tem uma roseira cujas rosas são pretas. Fiquei simplesmente apaixonada.— Pode colocar a Mia no chão, Maitê, ela está acostumada a correr por esse jardim — Dona Briana falou, e eu coloquei a Mia no chão.Corremos atrás dela brincando, depois sentamos em uma mesa de madeira. Mia pediu colo e acabou dormindo.— Me fale um pouco sobre você, Maitê. Como você foi parar em um orfanato? Alguém te contou como foi a sua chegada?Engoli seco olhando dentro dos olhos dela. Eu não queria falar sobre isso, mas também não podia ser deselegante com uma pessoa que está sendo tão doce comigo.— Eu não me lembro, Dona Briana. Eu era muito pequena quando cheguei lá, acho que com o passar do tempo fui perdendo as lembranças — falei em um tom de tristeza. Eu não queria mentir, mas como
BRYAN NARRANDO Assim que chegamos na minha casa, Emma já estava me esperando. Maitê subiu com a minha filha; provavelmente foi cuidar dela. Daqui a pouco é o horário do jantar e eu já deixei claro que não tolero atrasos nos horários da Mia.— Vim almoçar com você e fiquei sabendo pela empregada que você foi para a casa dos seus pais com a minha sobrinha e a babá — Emma às vezes me cansa com as coisas óbvias.— Até onde eu saiba, não marcamos nenhum compromisso no horário do almoço, e também, até onde eu saiba, vou para onde eu quiser e com quem eu bem entender — falei querendo encerrar o assunto, pois odeio discutir relação, não tenho paciência para esse tipo de assunto.Me sentei no sofá e pedi para me servirem uma dose de whisky enquanto ouvia as reclamações da Emma, que não cansa de pedir para marcarmos a data do nosso casamento, e eu não canso de repetir que isso ficará para outro momento.Quando a Maitê desceu com a minha filha e foi em direção à sala de jantar, acompanhei-a, e