Aquela palavra não era estranha para Zara.Antes, quando ainda morava na Brisa do Mar, sempre que Orson precisava de algo, ele enviava exatamente aquela mesma palavra: venha.Agora, enquanto encarava a mensagem no celular, algo inexplicável apertou seu peito, e seus olhos começaram a arder. Ela ficou ali, olhando fixamente para a tela, até que o toque do telefone sacudiu seus pensamentos. Era Paulinho, o motorista:— Senhora, estou aqui na Avenida Julius. O carro não consegue entrar na viela. Pode sair até aqui, por favor?Zara apertou os lábios, sem responder de imediato.— Senhora? — Paulinho insistiu.— Já estou indo.Zara finalmente respondeu, levantando-se para trocar de roupa antes de sair.— Senhora! — Paulinho a cumprimentou assim que a viu.Ele estava com um carro diferente daquela vez. Um Porsche Panamera prateado que, naquelas ruas apertadas e escuras do bairro, chamava atenção como um peixe fora d'água.Enquanto Zara entrava no carro, notou sua vizinha de cabelos amarelos.
Mas, naquele momento, o coração de Zara estava tomado por uma frieza absoluta.— Por quê? — Zara perguntou novamente a Orson.Orson não gostava de ser pressionado com tantas perguntas. Seu olhar já começava a demonstrar sinais de impaciência.Zara, por outro lado, não esperou por uma resposta e continuou:— É porque fomos casados por dois anos e você acredita que me conhece e confia em mim? Ou porque... o que aconteceu ontem à noite também teve o seu dedo?Enquanto dizia a primeira parte, Orson permaneceu impassível. Mas, assim que Zara terminou a frase, seu rosto escureceu de imediato.— O que você está insinuando?— Não, provavelmente você não participou disso. — Zara disse, ignorando a reação dele e falando consigo mesma, como se estivesse raciocinando em voz alta. — Afinal, Sr. Orson, alguém como você, tão superior, com certeza desprezaria esse tipo de artimanha. Mas você sabia de tudo, não sabia? Incluindo o fato de que Roberto apareceu naquele restaurante. Não foi coincidência, c
Zara, na verdade, não queria chorar. Desde muito pequena, ela havia aprendido que lágrimas só tinham efeito sobre quem a amava.E Orson, claramente, não fazia parte desse grupo. Naquele momento, ela sabia que suas lágrimas não despertariam nada além de irritação nele.Com um gesto rápido, Zara levantou a mão e secou o rosto, apagando qualquer vestígio de fraqueza.Orson, de frente para ela, observava seus movimentos com a testa ligeiramente franzida.Zara, no entanto, não percebeu a expressão dele. Apenas continuou, com a voz firme:— Naquela noite, quando aconteceu comigo... Onde você estava?— O quê?— Na noite em que eu perdi o bebê. Onde você estava?Orson permaneceu em silêncio.A voz de Zara ficou mais baixa, mas ainda mais cortante:— A Fiona me disse que, naquela noite, você estava em um leilão. Que estava lá para comprar o presente de aniversário dela. É verdade?— Ela já tinha me pedido aquele presente antes. E o que aconteceu com você... foi um acidente. — Orson respondeu, s
— Zara, lembre-se de uma coisa: a continuidade da nossa relação está nas minhas mãos. Foi assim desde o início. Inclusive, se eu não tivesse permitido, você acha mesmo que teria conseguido se divorciar? — Concluiu Orson.A mão de Zara, que antes ainda tentava resistir, simplesmente perdeu a força e caiu ao lado do corpo. Ela olhou para Orson, mas seu olhar já não carregava nem tristeza nem raiva. Estava vazio. Ele tinha razão.Que escolha ela realmente tinha? Aos olhos dele, ela nunca foi mais do que um objeto. Antes, sua esposa, destinada a lhe dar filhos. Agora… uma ferramenta para satisfazer os desejos dele.Aquela expressão tranquila e resignada de Zara era algo que Orson conhecia bem. Seu semblante se crispou, e ele franziu a testa. Após um breve momento de silêncio, ele segurou o queixo dela e a beijou de uma vez.No instante em que os lábios dos dois se tocaram, lágrimas voltaram a escorrer dos olhos de Zara. A sensação gelada das lágrimas contra sua pele fez o corpo de Orson es
No silêncio do quarto vazio, o som ecoou de maneira clara e inconfundível. Até Orson, que parecia sempre tão seguro de si, parou no mesmo instante.Pela primeira vez, Zara viu algo novo em seu olhar: um traço de surpresa, quase incredulidade.Ela apertou os dentes e virou o rosto, recusando-se a encará-lo. Orson, por sua vez, não insistiu. Soltou sua mão e levantou-se.— O que você quer comer? — Orson perguntou, com a voz neutra.Zara não respondeu.Depois de esperar alguns segundos, Orson simplesmente saiu do quarto. Zara continuou imóvel, deitada na cama. Apenas quando seus passos se afastaram e desapareceram na distância, ela suspirou fundo e cobriu os olhos com a mão.Não sabia quanto tempo se passou antes que Orson retornasse.— Venha comer. — Ele anunciou.Zara queria ignorá-lo, mas seu corpo começava a dar sinais de fraqueza. Ela havia passado quase o dia inteiro sem comer, e agora o estômago doía, e a cabeça rodava. Por fim, cedeu à necessidade física.Orson havia comprado vári
Nos dias seguintes, Orson não entrou mais em contato com ela, mas Zara recebia diariamente bolos enviados por diferentes confeitarias.E não era apenas um por dia.No começo, Zara quis recusar as entregas, mas os entregadores não lhe davam essa opção. Eles simplesmente declaravam que a missão deles era entregar os bolos; o que ela faria com eles era problema dela.Sem saída, Zara acabou aceitando. Após comer bolo por vários dias seguidos, ela finalmente não aguentou mais e decidiu ligar para Orson:— Não mande mais nada pra mim.— Por quê? Você não gosta?A voz de Orson parecia carregada de diversão, como se estivesse rindo baixo enquanto falava.Zara tinha certeza de que ele estava fazendo de propósito. "Ela gosta de bolo, não é? Então vou mandar todos os dias, até ela enjoar."Sem dizer mais nada, Zara simplesmente desligou na cara dele.Do outro lado da linha, Orson ficou surpreso com o som abrupto da ligação sendo cortada. Olhou para o celular, confirmando que ela realmente havia d
Zara acabou escolhendo um restaurante de churrasco qualquer. A fumaça e o cheiro forte do churrasco a rodízio típico do Brasil não combinavam em nada com o terno impecável de Orson.Mas Zara não se importou. Para falar a verdade, ela nem sabia o que Orson realmente queria. Será que ele só a via como uma ferramenta? Mas, ao mesmo tempo, as coisas que ele fazia agora não pareciam se encaixar nessa ideia.Afinal, mesmo quando ainda eram casados, raramente saíam para jantar sozinhos. Ele costumava presenteá-la com joias e outras coisas caras, mas nunca mandava alguém entregar um bolo de surpresa para ela.A atitude de Orson agora deixava Zara com a estranha impressão de que ele estava tentando... agradá-la. Claro, esse pensamento mal tinha surgido quando ela o cortou imediatamente.— Você gosta dessa pimenta? — Perguntou Orson, sentado tranquilamente à frente dela, como se o ambiente barulhento e descontraído não o incomodasse nem um pouco.— Gosto, sim. — Respondeu Zara. — Cresci em Cidad
Quando Orson entrou na mansão, percebeu que Paula parecia estar de excelente humor. Ele até conseguiu ouvir seu riso alto e descontraído enquanto conversava animadamente com alguém ao lado.— Mestre Orson voltou. — Anunciou o mordomo, com um sorriso amistoso.Orson apenas assentiu levemente em sua direção antes de olhar para Paula, que, ao vê-lo, acenou com entusiasmo:— Venha aqui, rápido! Olhe isso!— O que é? — Perguntou Orson, ainda com um leve sorriso nos lábios. Mas, assim que viu o que estava na tela do tablet que ela segurava, seu sorriso se desfez quase instantaneamente.— O que acha disso? A filha mais velha da família Correia. Na última vez que nos encontramos…— Para que a senhora está olhando essas coisas? — Interrompeu Orson, erguendo-se de onde estava, claramente desinteressado.— Como assim por quê? Obviamente, estou procurando uma esposa para si! Você viu o que acabei de mostrar? É uma boa partida…— Não estou pensando nisso no momento. — Cortou Orson, sem rodeios.— N