Depois de tudo, Zara nem sabia onde estava.No mundo dela, parecia que só restava Orson. Era como se ela tivesse perdido qualquer autonomia. Durante todo o processo, ela simplesmente se entregou completamente, sem resistência, deixando-se levar por ele e suas exigências.A consequência de toda essa falta de controle veio na manhã seguinte, quando ela despertou com o corpo parecendo ter sido atropelado por um caminhão. Sua garganta estava tão seca que parecia em chamas.Assim que tentou se mexer, uma dor aguda percorreu sua panturrilha, fazendo-a soltar um gemido involuntário. Ela ficou imóvel por alguns instantes, deitada na cama, recuperando o fôlego, antes de finalmente levantar a cabeça. O lugar ao seu redor era completamente desconhecido.Não era o pequeno apartamento alugado onde morava, muito menos o Brisa do Mar.Ainda assim, Zara não ficou surpresa. Sabia que Orson possuía diversas propriedades pela cidade de Cidade N, então não era exatamente um choque que ele tivesse um lugar
— Sim, estou satisfeito.A resposta de Orson foi direta.— Então, posso ir embora agora, certo?Enquanto falava, Zara levantou-se, pronta para sair. Mas, no instante seguinte, a voz de Orson ecoou mais uma vez:— Zara, você não acha que só porque foi drogada, a responsabilidade pelo que aconteceu ontem à noite simplesmente desaparece, não é?As palavras dele a fizeram parar no meio do caminho, surpresa. Lentamente, ela virou-se para encará-lo. Em questão de segundos, diversos pensamentos passaram pela mente de Zara. Ele queria que ela pagasse algum preço? Pretendia usá-la como moeda de troca, ou talvez ameaçá-la? Ou seria apenas um pretexto... porque ele não queria deixá-la ir?Quando essa última ideia surgiu, Zara tentou afastá-la imediatamente. Mas, antes que pudesse organizar sua cabeça, Orson já havia continuado:— Você não tem uma mãe adotiva internada no hospital?— O que você quer dizer com isso?O rosto de Zara mudou instantaneamente, e seus olhos ficaram cheios de um misto de
Zara cerrou os dentes, sentindo a voz seca e amarga. Ela acreditava que, com o passar do tempo, já tinha conseguido se desvencilhar dos sentimentos que nutria por ele. Mas agora percebia que, no final das contas, tinha superestimado sua própria força.Hoje em dia, não importava o que viesse da família Garcia, ela conseguia se manter indiferente. Mas Orson... Bastavam poucas palavras para que ele se transformasse na lâmina mais afiada, perfurando diretamente suas entranhas.Orson estava sentado bem à sua frente, olhando-a nos olhos. Depois de alguns instantes de silêncio, ele soltou uma risada baixa:— Está se sentindo injustiçada, não é? Então me diga: o que você acha que significa se divorciar e, em menos de uma semana, já estar se encontrando com outro homem? Isso é o que você chama de comportamento nobre?Zara permaneceu em silêncio.Orson, no entanto, estendeu a mão e segurou o queixo dela com firmeza:— E mais uma coisa... Ontem à noite, foi você quem subiu na minha cama. Por que
Avenida Julius, número 37. Era onde Zara estava morando agora. Essa também era a primeira vez que Orson ia até lá.Mesmo sendo o Grupo Harris uma das maiores potências do ramo imobiliário, Orson jamais teria imaginado, não fosse Zara guiando o caminho, que existisse um lugar como aquele em toda a Cidade N.Zara não se despediu dele. Apenas agradeceu ao motorista rapidamente antes de sair do carro e se virar para entrar no prédio. O que ela não esperava era que Orson também tivesse saído do carro e a estivesse seguindo.Zara parou e o encarou:— O que você está fazendo?— Quero subir para dar uma olhada. — Respondeu Orson.Zara respirou fundo, tentando manter a calma:— Não é conveniente.— E por que não seria? — Orson olhou casualmente para os anúncios colados na parede desgastada e, em seguida, voltou a encará-la. — Tem alguém na sua casa?— Claro que não!— Então, qual é o problema?Zara respondeu com a voz tensa:— Não vejo sentido algum em você subir.— O sentido é verificar se rea
Zombar da Zara... De todo o esforço que fez para sair daquela vida, apenas para Zara acabar morando em um lugar que mais parecia uma caixa de fósforos.Zara queria dizer algo, mas Orson não deu a ela essa chance. Ele apenas murmurou algo em tom indiferente e virou-se para sair. Quando chegou à porta, no entanto, seus passos pararam de repente. Ele olhou para trás e disse:— É melhor trocar essa fechadura. As pessoas que moram por aqui são bem... variadas. É só por segurança.Depois de dizer isso, ele não esperou por uma resposta. Apenas seguiu em frente com a mesma calma e frieza habituais.Zara olhou para a fechadura por um momento antes de fechar a porta de uma vez, sem hesitar. O som seco da porta batendo fez Orson, que já descia as escadas, parar por um instante. Mas ele não se virou, continuou caminhando.O motorista o aguardava na calçada.O carro de luxo, com sua pintura impecável e placas chamativas, logo atraiu os olhares curiosos dos moradores da área. Orson, no entanto, pare
— Sim.A resposta de Zara foi direta.— Então, Zara, que direito você tem de me acusar? Você não fez o mesmo, agindo sem escrúpulos só para ficar com Orson?Aquela frase do Evander fez o olhar dela escurecer. Zara abriu a boca para responder, mas Evander não lhe deu tempo:— Se você já tivesse desistido dele, por que entrou no carro dele? Por que não foi direto para o hospital? Isso não parece... parte do seu plano? Zara, sobre o que aconteceu ontem à noite... Eu errei, admito. Você disse que esse meu jeito de gostar de você é algo que você não consegue suportar. Mas, no fundo, em essência, você não é tão diferente de mim.Evander fez uma pausa antes de concluir:— Você entrou no carro dele ontem porque sabia que ele não iria te deixar desamparada, não é?O silêncio que se seguiu foi quase palpável. O sol do meio-dia queimava a pele dos dois, mas Zara sentia-se congelada por dentro. Suas mãos, até então cerradas em punhos, relaxaram subitamente.Evander observava o rosto pálido dela e
Zara também não teria a chance... de ficar com quem amava.Na noite anterior, Zara quase não dormira, e agora seu corpo estava exausto ao extremo. Ainda assim, deitada na cama, continuava a se mexer de um lado para o outro, incapaz de pegar no sono. Por fim, levantou-se e ficou olhando para fora da janela, perdida em pensamentos.Naquele lugar, a vista não oferecia nada de especial. Tudo o que se via eram casas apertadas e varais cheios de roupas coloridas penduradas nas sacadas vizinhas.Zara suspirou, virou-se de novo na cama e fechou os olhos. Quando finalmente começava a sentir o sono chegar, o celular ao lado vibrou duas vezes.Ela ignorou. Mas quem estava do outro lado não parecia disposto a desistir, enviando mensagem atrás de mensagem, fazendo o aparelho vibrar repetidamente.Quando Zara finalmente decidiu pegar o celular para ver, a ligação de Fiona chegou. Ela rejeitou a primeira chamada, mas Fiona insistiu, ligando novamente. Depois de várias tentativas, Zara perdeu a paciên
Aquela palavra não era estranha para Zara.Antes, quando ainda morava na Brisa do Mar, sempre que Orson precisava de algo, ele enviava exatamente aquela mesma palavra: venha.Agora, enquanto encarava a mensagem no celular, algo inexplicável apertou seu peito, e seus olhos começaram a arder. Ela ficou ali, olhando fixamente para a tela, até que o toque do telefone sacudiu seus pensamentos. Era Paulinho, o motorista:— Senhora, estou aqui na Avenida Julius. O carro não consegue entrar na viela. Pode sair até aqui, por favor?Zara apertou os lábios, sem responder de imediato.— Senhora? — Paulinho insistiu.— Já estou indo.Zara finalmente respondeu, levantando-se para trocar de roupa antes de sair.— Senhora! — Paulinho a cumprimentou assim que a viu.Ele estava com um carro diferente daquela vez. Um Porsche Panamera prateado que, naquelas ruas apertadas e escuras do bairro, chamava atenção como um peixe fora d'água.Enquanto Zara entrava no carro, notou sua vizinha de cabelos amarelos.