Por fim, Zara não teve outra escolha senão se sentar lentamente no sofá, abraçando o próprio corpo com as mãos. Foi nesse momento que o telefone desconhecido tocou mais uma vez.Zara não tinha salvo o número, mas, mesmo depois de apenas ter olhado para ele uma única vez na noite anterior, o reconheceu de imediato. Sem hesitar, pegou o celular e o jogou com força no chão.Na cidade de N, no bairro Brisa do Mar.A governanta Ivone observava pela porta o homem que estava à sua frente.— Quem é você? — Perguntou Ivone com um tom de desconfiança.— Meu nome é Roberto Serra. Sou pai da Rita... Não, quero dizer, da Zara. — O homem sorriu, exibindo dentes amarelos. — Sei que ela mora aqui. Mande-a vir falar comigo.A história de Zara ter desaparecido e, mais tarde, vivido por anos no interior era conhecida por praticamente todos os habitantes da cidade de N. Ao olhar para o homem, Ivone entendeu imediatamente quem ele era. Seu olhar se tornou ainda mais carregado de desprezo.— A Srta. Zara já
Com o lembrete de Ivone, Orson finalmente se lembrou de que seu aniversário estava próximo. Ao entrar no carro, quase sem perceber, pegou o isqueiro que carregava consigo. Era de um preto fosco com detalhes dourados. Nenhuma ornamentação, apenas as iniciais de seu nome gravadas discretamente no canto inferior direito.Um presente simples, sem grandes pretensões. Mas foi o único presente que Zara já lhe deu.No ano seguinte.Por não ter comparecido à festa de comemoração de aniversário de casamento, no último aniversário, Zara sequer se deu ao trabalho de lhe oferecer um presente tão simplório quanto aquele.E este ano.Orson interrompeu os próprios pensamentos, guardou o isqueiro de volta no bolso e desviou os olhos para o tablet à sua frente. No entanto, no instante seguinte, o carro freou bruscamente.A manobra repentina fez Orson franzir as sobrancelhas, seu olhar imediatamente tornando-se frio e afiado. O motorista, nervoso, apressou-se em explicar:— Desculpe, Sr. Orson, mas à fre
Na frente do restaurante, foi o motorista quem chamou a atenção de Orson. Só então ele percebeu o homem que falava com Carlos. Carlos, visivelmente irritado, contornou o sujeito e tentou seguir em frente sem dar atenção.Mas Roberto não estava disposto a deixá-lo ir tão facilmente. Seguiu-o de perto e, ao perceber que Carlos estava prestes a entrar no carro para partir, levantou a voz:— Sr. Carlos, se o senhor não concordar, eu não terei escolha a não ser procurar o Sr. Orson novamente e contar a ele sobre o que aconteceu com Rita naquela época.Orson já estava prestes a ir embora. Afinal, tanto Zara quanto a família Garcia não tinham mais nada a ver com ele. Mas, ao ouvir as palavras de Roberto, ele parou no mesmo instante.— Sr. Orson? — Chamou Michel, ao seu lado.Orson, no entanto, não respondeu. Apenas inclinou levemente a cabeça para o lado, com os olhos fixos na cena.Carlos, que antes tinha uma expressão fria e decidida, agora havia cedido, e Roberto já estava entrando no carr
Zara havia voltado para Cidade N.Ela não sabia se Carlos ainda mantinha alguém de olho nela, mas também não fez questão de evitar o encontro com Roberto.O Restaurante Diamante, um dos mais conhecidos da Cidade N.Quando Zara chegou, Roberto já estava sentado, cruzando as pernas e jogando conversa fiada com uma garçonete. Seu olhar era descarado, e ele murmurava algo que claramente deixava a jovem constrangida. A garçonete, uma moça delicada, tinha os olhos vermelhos, segurando o choro, mas não se atrevia a reagir. Apenas apertava o cardápio em suas mãos, com os dedos tremendo.Mesmo tendo se preparado mentalmente para aquele encontro, o coração de Zara apertou ao vê-lo novamente.Foi nesse momento que Roberto a notou. Ele se levantou de imediato, animado, e acenou para ela com entusiasmo:— Rita!Zara apertou as mãos para se controlar e, após um breve momento, caminhou em sua direção.A garçonete, como se tivesse sido salva de um pesadelo, largou o cardápio e saiu apressada, sem olha
Depois de um tempo, Zara finalmente virou a cabeça e falou:— Certo, vá em frente.A resposta dela pegou Roberto de surpresa. Antes que ele pudesse reagir, Zara já havia dado as costas e começado a caminhar para longe.Roberto, tomado pela raiva, deu um tapa forte na mesa e se preparava para ir atrás dela quando um garçom apareceu, bloqueando seu caminho:— Senhor, o senhor ainda não pagou a conta.— Pagar o quê? Eu nem pedi nada! — Gritou Roberto.— Senhor, mesmo que não tenha feito um pedido, cobramos a taxa de uso da mesa.Enquanto dizia isso, o garçom lançou alguns olhares rápidos para Roberto, e o desprezo em seus olhos era evidente.Roberto ficou tão irritado que começou a tremer. Ele já estava pronto para esfregar sua conta bancária com quinhentos mil reais na cara do garçom, quando uma outra voz interrompeu:— Pode deixar, eu pago.Ao ouvir aquela voz, a expressão de Roberto mudou instantaneamente. Ele virou-se bruscamente e viu Fiona estendendo seu cartão ao garçom. Em seguida
Zara e Henrique marcaram o encontro em um restaurante privado.Zara já vivia na Cidade N há alguns anos, mas, se não fosse por Henrique, nunca saberia que existia um lugar como aquele.O restaurante ficava na divisa entre a área urbana e os arredores da Cidade N. Era um lugar luxuoso, com uma arquitetura tão grandiosa que, à primeira vista, Zara chegou a pensar que fosse um palácio dedicado a eventos e lazer. Nos fundos, havia um lago e até mesmo um campo de golfe.O estabelecimento era administrado por uma jovem mulher. Ela não era exatamente bonita, mas sua elegância natural e a delicadeza na maneira de falar deixavam uma impressão marcante.Henrique, ao que parecia, já havia acertado tudo com ela. Não foi preciso nem escolher os pratos. A mulher apenas serviu café para os dois e, em seguida, se retirou discretamente.— Eles preparam os ingredientes no mesmo dia. Por isso, qualquer pedido precisa ser feito com antecedência. Ontem tomei a liberdade de escolher o menu. Espero que não s
— Não fazia ideia de que o Sr. Orson também viria aqui esta noite. Se eu soubesse, teria convidado o senhor para se juntar a nós.Henrique falou com um sorriso calmo, mantendo uma postura impecável, sem sinal algum de constrangimento.Orson soltou a mão dele e lançou um olhar breve na direção de Zara. Ela continuava com a cabeça baixa, deixando claro que não tinha intenção de cumprimentá-lo.Sem insistir, Orson desviou o olhar e respondeu a Henrique:— Sendo um encontro, não vou atrapalhar. Até logo.— Até logo.Depois dessa breve troca de palavras, a dona do restaurante conduziu Orson para outra área, enquanto Henrique voltava a se sentar diante de Zara.— Eu realmente não sabia que ele estaria aqui hoje.Henrique explicou, como se quisesse aliviar qualquer desconforto.— Não tem problema.Zara já tinha recuperado a compostura e até ofereceu um sorriso tranquilo a Henrique.Ele não comentou mais nada.No entanto, até aquele momento, Henrique tinha mantido a conversa fluindo com facili
Roberto ficou em silêncio, apenas semicerrando os olhos enquanto a observava.Zara, por outro lado, soltou uma risada curta:— Por que não fala mais nada?— Zara.Ao perceber o clima pesado, Henrique finalmente se levantou e puxou de leve a mão de Zara.Mas Zara não cedeu.— Você não vai embora, né? Tudo bem, então eu vou.Dito isso, Zara se virou, pronta para sair.Henrique fez menção de ir atrás dela, mas Roberto, com sua típica lentidão calculada, disse:— Ah, não esperava menos da senhorita cheia de moral depois de alguns anos vivendo como madame. Essa pose toda é impressionante. Mas, Zara, a gente não pode esquecer de onde veio, não é? Se não fosse por mim naquela época, você já teria morrido de fome. Nem força pra ficar dando ordens por aí teria. E agora vem me tratar como se eu fosse um peso morto? Deixa eu te dizer uma coisa, Zara: só estou sendo educado porque ainda considero a nossa relação de pai e filha. Mas, se você continuar agindo assim, não me culpe por expor tudo o que