Mas ela rapidamente reprimiu aquela sensação e se virou, tentando voltar a dormir. Zara não soube dizer a que horas Orson havia voltado. Meio adormecida, ela teve a estranha sensação de que alguém estava a observando. As cortinas estavam fechadas, e o quarto permanecia mergulhado na escuridão. Mesmo assim, quando ela abriu os olhos, ainda foi surpreendida pela figura dele na penumbra, deixando escapar um grito involuntário. Num reflexo, ela se afastou para trás. Orson, no entanto, agiu rápido e acendeu a luz. Sua voz soou grave e baixa: — Sou eu. Zara franziu o cenho, olhando para ele com desconfiança. — Acabei de voltar. Vi que você estava dormindo bem, então não quis te acordar. — Ele explicou lentamente. — Está com fome? Quer comer alguma coisa? Zara engoliu as palavras ásperas que estavam prestes a sair e respondeu: — Não estou com fome. — Eu comprei um bolo. — Orson disse de repente. — Igual ao da outra vez. Só que agora é de chocolate. Quer experimentar? Enqua
A voz de Orson era tranquila, como se estivesse apenas conversando com Zara sobre algo corriqueiro. A expressão de Zara, no entanto, mudou. Ela demorou um pouco antes de finalmente perguntar: — A situação... É tão séria assim? — É. Além disso, ele te incomodou antes. Aproveito para te ajudar a se vingar. Zara não respondeu. Orson olhou para ela e perguntou: — Não me diga que você está com pena dele? — Não. — A voz de Zara era calma. — Só estou... Um pouco surpresa, só isso. — Hm. Alguém como ele não merece compaixão. — Orson disse, enquanto começava a abrir a embalagem do bolo. Como Zara não quis comer, ele pegou uma colher e provou um pedaço. Sob o olhar dela, colocou o bolo na boca. — Hm, é bom. — Orson assentiu e, pegando outra colherada, a estendeu para ela. — Quer experimentar? Zara sentiu o cheiro do bolo e ainda teve um leve enjoo, mas, no fim, abriu a boca. — Gostou? — O sorriso de Orson ficou ainda mais evidente. Para evitar vomitar ali mesmo, Zara engo
Orson sabia que aquilo provavelmente não passava de um sonho. Mas, se pudesse, ele desejaria que esse sonho nunca acabasse. O tempo parecia voar. O outono em Cidade N sempre foi curto, e, num piscar de olhos, o inverno chegou. No primeiro dia de inverno, Marta ligou para Zara, convidando-a para jantar na Mansão Harris. Zara nem teve tempo de responder antes que Marta continuasse: — Ah, fiquei sabendo que você está grávida, é verdade? Sua avó ficou muito feliz quando soube. E, além disso, já faz um bom tempo que vocês não aparecem, não é? Mas, se você não quiser vir, tudo bem. Eu posso passar no Brisa do Mar para visitá-los. Afinal, eu preciso transmitir os sentimentos da sua avó. Era evidente que Marta não estava deixando espaço para uma recusa. Zara apertou os lábios, relutante, mas acabou concordando: — Tudo bem. Quando Orson voltou da reunião, Zara contou a ele sobre o convite. Orson franziu as sobrancelhas. — Você aceitou? — Sim. — Certo. Então vamos juntos à
— Aqui, para você. — Quando chegaram ao escritório, Marta estendeu um envelope para Zara. Zara estranhou o gesto, mas acabou pegando o envelope. Ao abri-lo, encontrou um cheque e um bilhete com informações de um voo. O corpo de Zara tremeu. Ela levantou o olhar rapidamente para Marta e perguntou: — Isso é... — É o meu jato particular. A rota já está definida. — Marta explicou. — O destino é Cidade B. Claro, quando chegar lá, você pode pegar um carro e ir para outro lugar. Ou, se tiver algum destino específico em mente, é só me dizer que eu organizo tudo para você. A voz de Marta era calma, cada palavra clara e precisa. No entanto, Zara parecia não entender o que ela estava dizendo. — Você não quer ir embora? — Marta perguntou. — Agora que os problemas com o Grupo Garcia foram resolvidos, você não tem mais nenhum laço que te prenda aqui. Pode ir. — Mas... — Não se preocupe. Quanto ao Orson, eu já cuidarei disso. Ele não vai te impedir. Nesse momento, Zara finalmente
— E o resto da família Harris? Por que eu deveria aceitar a volta de Percival? Você sabe por que eu fiquei aqui todos esses anos, desperdiçando minha vida? Foi para garantir que Orson herdasse tudo. E agora, Paula simplesmente decide trazer Percival de volta e ainda me obriga a aceitar isso! Por que eu deveria aceitar? Meu presente e meu futuro já foram destruídos, e até meu passado foi negado. E nisso tudo, Orson também tem sua parcela. Você diz que eu deveria lembrar que sou mãe dele, mas ele sequer se lembra de quem eu sou para ele? Enquanto Marta falava, seus olhos estavam arregalados de raiva, e seu corpo tremia intensamente. Na memória de Zara, Marta sempre foi uma figura impecável, elegante e serena. Muitas vezes, Zara a enxergava como alguém distante, como se estivesse exposta dentro de uma vitrine de vidro. Tudo nela era perfeito, mas também intocável, irreal. Foi só naquele momento que Zara percebeu que Marta também era uma pessoa cheia de emoções. O vidro havia se esti
— A sua mãe não está bem. — Assim que entraram no carro, Zara falou diretamente para Orson. Orson não respondeu. Zara continuou, como se estivesse falando sozinha: — E eu acho que sua avó sabe de alguma coisa. Essa história do Percival... Não é tão simples assim. Orson permaneceu em silêncio, sua expressão fria e indiferente fez com que Zara franzisse a testa. Ela sabia, no fundo, que aquilo não tinha nada a ver com ela. Uma voz dentro de si dizia que, considerando o que ela estava passando, era justo que Orson também estivesse sofrendo. Mas, ao lembrar do estado de Marta há pouco, algo apertou no peito de Zara. Ela abriu a boca para falar mais alguma coisa, mas, antes que pudesse continuar, Orson perguntou: — Por que você não aceitou? A pergunta a pegou de surpresa. Orson, ainda com as mãos firmes no volante, virou-se para olhar para ela. — O cheque e a chance de ir embora que ela te deu. Por que você não aceitou? Nenhum dos dois havia mencionado o que aconteceu
— Se eu realmente tivesse seguido o plano dela e ido embora, isso não seria uma dupla traição para você? Além disso, agora o Percival está te observando de perto. Eu não teria coragem de te deixar enfrentar tudo isso sozinho. Então, mesmo que eu vá embora, não será agora. — Zara disse tudo de uma vez, sua voz firme e decidida. Seus olhos continuaram fixos nos de Orson, sem ardor, mas repletos de sinceridade e serenidade. Orson a encarou por alguns instantes e, de repente, sorriu. Dessa vez, foi um sorriso genuíno, vindo do fundo do coração. Os cantos de sua boca se ergueram, iluminando seu rosto de maneira tão radiante que ele parecia ainda mais encantador e impressionante. Zara ficou olhando para ele, seus olhos piscando levemente, como se fosse pega de surpresa por aquela expressão. Foi nesse momento que Orson estendeu a mão, segurou delicadamente seu queixo e a beijou. Dentro do carro, o beijo era suave e envolvente, transformando o inverno ao redor em algo caloroso e reconfor
— O que aconteceu? — Perguntou Zara. Orson permaneceu imóvel no banco, seu rosto pálido e rígido de forma assustadora. Zara não conseguiu conter a pergunta, e foi só então que Orson lentamente virou o rosto para olhá-la. Mas ele não respondeu. Em vez disso, deu uma guinada brusca no carro, retornando pelo caminho de onde haviam vindo. A velocidade insana com que ele dirigia fez Zara entender que algo muito grave havia acontecido, mas ela preferiu não perguntar. Apenas apertou o cinto de segurança com força e fixou os olhos na estrada à sua frente. Orson não dirigiu muito longe da Mansão Harris. Quando chegaram, a casa já estava em completo caos. Os gritos das empregadas ecoavam pela sala, enquanto Paula estava no meio do cômodo, batendo no peito com raiva e desespero. — Maldição! É uma verdadeira maldição! Eu já disse antes, alguém como ela não pode ficar aqui! Uma vez não foi suficiente, agora tem que fazer de novo? Ela quer arrastar toda a família Harris para o inferno!