A pergunta repentina de Orson fez Zara engasgar. Ele lançou um olhar na direção dela, um olhar que fez o corpo de Zara imediatamente se enrijecer, como se ele a acusasse de estar ansiosa para criar uma conexão com ele. Zara mordeu os lábios, prestes a responder, mas Orson foi mais rápido, analisando a situação com sua calma habitual: ― Eu só não quero que você fique próxima demais do Ivo, só isso. Agora que a Fiona está noiva do Evander, não quero virar assunto ou ferramenta de especulação na família deles. Entendido? Zara abriu a boca para tentar argumentar, mas Orson a interrompeu, tomando a decisão por ela: ― Está decidido. Aqui está o cartão dela. Guarde com você. Se precisar de algo por aqui, entre em contato diretamente com ela. Zara, só tenho um pedido: não me traga problemas, está claro? …O celular tocou enquanto Zara estava deitada na cama do hotel. ― Srta. Zara, tudo bem? ― A voz do outro lado era feminina, doce e carregada de charme. ― Aqui é a Jennifer, sua g
Nos dias que se seguiram, Zara não viu Orson. Jennifer, no entanto, mostrou-se uma guia extremamente competente. Durante esse tempo, ela levou Zara para conhecer vários lugares em Cidade S. Os passeios não se limitavam a pontos turísticos entediantes. Jennifer organizava os roteiros de forma tão equilibrada e agradável que, mesmo caminhando bastante, não havia cansaço. ― À noite, vai ter um show de fogos de artifício aqui. ― Comentou Jennifer durante o jantar. ― Não é algo que acontece todos os dias. Hoje é o início do inverno, e em Cidade S esse espetáculo é especial para a data. Reservei para você um lugar no andar superior, conhecido como o melhor ponto de observação. Assim que terminar de comer, suba para ver. É realmente incrível! ― Você não vai comigo? Jennifer deu um sorriso leve: ― Srta. Zara, eu também tenho namorado, sabia? Já passei esses dias todos sem dar atenção a ele. Se eu não voltar hoje à noite, ele vai ficar muito bravo. ― Sinto muito, eu não queria atra
O número de pessoas no terraço aumentava cada vez mais, e o som dos fogos de artifício tornava o ambiente barulhento, quase caótico. Mas, por algum motivo, Zara sentiu tudo ao seu redor ficar em silêncio. Era como se o mundo inteiro tivesse desaparecido, deixando apenas ela e Orson ali. As pessoas, os fogos no céu, tudo parecia ter se dissolvido em um vazio. Então, as palavras que Jennifer lhe dissera dias atrás começaram a ecoar em sua mente. Na época, Zara não deu muita atenção ao que Jennifer disse. Achou que eram apenas devaneios, algo sem sentido. Afinal, Orson não parecia o tipo de homem que faria algo assim, muito menos por ela. Mas aquelas palavras, como uma pedra atirada em um lago tranquilo, haviam deixado marcas. O impacto não foi imediato, mas as ondulações ainda persistiam. E, naquela noite, elas pareciam mais fortes do que nunca. Foi nesse momento que Zara notou Orson dar um passo à frente. Apenas um simples passo, mas algo que fez seu coração disparar, como se
A neve continuava a cair do lado de fora. Dentro do quarto, o aquecedor estava ligado no máximo, e Zara não sentia frio algum. Na verdade, o calor intenso parecia deixar suas emoções ainda mais exaltadas, como se estivessem prestes a transbordar. E não era apenas ela. Orson parecia estar na mesma situação. Há apenas um mês, os dois estavam brigando. Zara, inclusive, já havia decidido que nunca mais o veria novamente nesta vida. Mas, de alguma forma, ela sempre o perdoava. Ele era como uma doença crônica em seu coração. Não importava quantas vezes ela tentasse se curar, ele sempre retornava. Naquela noite, no terraço, o simples fato de ele dar um passo em sua direção foi suficiente para lhe dar toda a coragem de que precisava. Afinal, ele era o homem que ela amava há tantos anos. Quem nunca sonhou em estar ao lado de quem amava? O que não se podia ter sempre se transformava em arrependimento. E ninguém queria viver com arrependimentos. Zara virou a cabeça para a janela. A
Vendo que Zara ainda parecia incrédula, Jennifer fez uma pausa e acrescentou: ― Que tal olhar por outro ângulo? ― O que você quer dizer? ― Zara perguntou. ― Por exemplo... E se tudo isso fosse, na verdade, um plano do Sr. Orson? E eu apenas estivesse executando o que ele pediu? Aquela sugestão pegou Zara de surpresa, mas ela logo balançou a cabeça e respondeu: ― Isso é impossível. ― Impossível? Por quê? Você ainda duvida do quanto o Sr. Orson se importa com você? Além disso, pense bem, que tipo de homem ele é? Se ele quisesse apenas uma mulher qualquer, por que escolheria você? ― Jennifer sorriu, com uma sinceridade desconcertante. ― Vou ser honesta: até eu já pensei em tentar seduzi-lo. Jennifer falou com tanta naturalidade que Zara, por um momento, não conseguiu discernir se ela estava brincando ou falando sério. ― Mas, ao menos, eu sei qual é o meu lugar. ― Jennifer continuou, revelando sem rodeios o que aconteceu naquela noite. ― Só precisei de um olhar do Sr. Orson
Quando aquela pergunta surgiu em sua mente, Zara lembrou-se do casal da família Garcia. Ela já havia se perguntado inúmeras vezes o mesmo: o que ela significava para eles? No fundo, ela sabia a resposta. Sempre soube. Mas, não importava quantas decepções enfrentasse, assim que as feridas cicatrizavam, ela voltava a cultivar esperança. Até que seus pais esmagaram seu coração no chão e o reduziram a pó. O que ela estava esperando? Que seus pais a amassem? Ou que Orson, de repente, fosse diferente com ela? Durante dois anos, ela tentou aquecer o coração dele, mas nada mudou. Por que, agora, ele daria um passo em sua direção? Era absurdo. Era ela, mais uma vez, sonhando alto. Como quando era criança e via o senhorzinho na porta da escola vendendo algodões-doces coloridos. Naquela época, tudo o que ela queria era dar uma mordida em um daqueles doces. Mas ela não tinha dinheiro, então só podia ficar ali, parada, olhando de longe. Dia após dia, vez após vez. Ela sabia que, mesmo
Zara não teve chance de recusar, e, de qualquer forma, ela também não conseguia. Logo, as duas chegaram à cafeteria. ― Quando você chegou em Cidade S? ― Laura perguntou diretamente. Zara segurou a xícara entre as mãos, sua voz saindo calma: ― Há alguns dias. ― Ah, é? Veio sozinha? Zara não respondeu. Apenas levantou os olhos e encarou Laura. Laura sustentou o olhar por alguns instantes antes de soltar uma risada. Então, tirou algumas fotos de sua bolsa e as colocou na mesa, bem na frente de Zara. ― A pessoa aqui é você, né? As fotos mostravam o show de fogos de artifício, o movimentado terraço do prédio e, no centro da cena, duas pessoas se beijando. O rosto de Orson estava perfeitamente visível nas imagens. Ele segurava Zara em seus braços, a mão dele repousando em sua face, o que dificultava que o rosto dela fosse identificado com clareza. Mas, naquele ponto, negar seria inútil. Zara apertou as mãos, respirou fundo e, finalmente, assentiu: ― Sim, sou eu. ― E
― Sr. Orson? ― A pessoa do outro lado da linha ainda esperava a resposta dele, estranhando o silêncio. ― Entendido. ― Respondeu Orson, encerrando a ligação em seguida. Ele voltou o olhar para Zara, com a expressão firme. ― O que você está fazendo? A voz dele soava calma, mas havia uma tensão evidente. ― Estou arrumando minhas coisas. Vou voltar para Cidade N. Zara respondeu sem levantar os olhos, enquanto fechava os fechos da mala com um clique seco. Orson permaneceu impassível, mas perguntou com um tom mais frio: ― O que isso significa? Só então Zara finalmente levantou a cabeça, oferecendo-lhe um sorriso tranquilo. ― Afinal, a Srta. Laura já está aqui. Não seria apropriado eu continuar, certo? As palavras dela fizeram Orson estreitar os olhos. ― Ela não é sua noiva? ― Zara continuou, sem rodeios. Orson soltou uma risada baixa, carregada de sarcasmo: ― Então, você está com ciúmes? ― Não. ― Zara desviou o olhar, baixando os olhos. Como poderia ter esse direito