Rodrigo pegou de um lado, Rafael do outro. Juntos tiraram Pedro de cima de Matheus. Com o rosto todo ensanguentado, Matheus foi levantado do chão por Christian e Gabriel. Felipe o segurou já que Matheus não conseguia abrir os olhos por causa do sangue vermelho vivo que escorria do supercílio esquerdo, descia pelo seu rosto e pingava na camiseta preta. Com empurrões, Pedro se livrou de Rodrigo e Rafael. Cuspiu sangue. A barba dourada estava encharcada de sangue que jorrava do lábio inferior aberto. No chão, onde a luta aconteceu, pingos de sangue, papéis espalhados, cadeiras, computador, impressora e o telefone quebrados. O Secretário, agora perturbado com a cena e o estado dos delegados, disse:
- O que eu estou vendo aqui hoje me entristece profundamente. Eu vejo a imagem da destruição causada por dois policiais desequilibrados e extremamente violentos.O Secretário se aproximou de Matheus que continuava de olhos fechados e amparado por Felipe.- Você tem alguma coisa pra fPedro acordou confuso. Estava em um quarto escuro. Não era mais o quarto do hospital. Era o seu quarto. Sua cama. Estava de banho tomado e de pijama limpo. Por quanto tempo ele dormiu? Como foi parar na sua cama? Ao tentar se mexer, tudo doeu e ele gemeu.- Você acordou.A luz foi acessa cegando os olhos de Pedro. Ele espalmou a mão contra a claridade.- Apaga essa merda, Rodrigo.Ao falar, Pedro sentiu o inchaço da boca, o gosto de sangue e a dor latejante.Rodrigo deixou a luz acessa e foi até a cama.- Como se sente, Pedro?- Morto.- Não foi dessa vez.- Sinto muito ter desapontado você.- Não fale muito para os pontos não se abrirem.Pedro abaixou a mão e deixou que seus olhos se acostumassem a claridade. Olhou em volta.- Como eu cheguei aqui?- Rafael e eu trouxemos você. Você veio andando, mas apagou de novo. O médico disse que é normal.- Normal? - Pedro estreitou os olhos que doeram. - Que porcaria me deram no hospital?-
Rodrigo corria em vão atrás de Henrique, um de seus dois filhos.- Anna, eu tô atrasado!Anna, furiosa, saiu da cozinha e tirou o filho de dentro do cesto de roupa suja.- Que droga de policial é você que não consegue pegar um garotinho de cinco anos?Rodrigo estava no limite. Anna voltou para a casa com as crianças e estava fazendo da vida dele um inferno. As crianças ficaram com os avôs alguns dias e voltaram fora de controle. Há uma semana sem delegado, a delegacia está um verdadeiro caos. Ele teve que emendar um plantão no outro. Sem Pedro para impor limites os presos começaram a colocar as asinhas de fora. E para completar o seu martírio, Rafael não está falando com ele. Tiveram uma discussão boba durante uma ocorrência e Rafael usou isso para se afastar. Rodrigo não discutiu com a esposa. Pegou o filho dos braços dela e terminou de vesti-lo. Sempre deixa as crianças na escola antes de ir para o trabalho.- Cadê seu irmão?Henrique fez uma cara de
Rodrigo coçou a cabeça com o cano da arma. O sangue do seu filho estava na pistola .40 e também em suas mãos. Desolado, Rodrigo caiu ajoelhado no chão. O choro compulsivo sacudia todo o seu corpo. No seu rosto avermelhado as lágrimas se misturavam com a coriza que escorria do seu nariz. Anna também no chão, embalava Henrique nos braços. Em estado de choque, a esposa tinha o olhar perdido no vazio. Henrique olhou para ele.- Papai, nós também vamos para o céu?A dor transpassou a alma de Rodrigo.Pedro abaixou o celular. Rodrigo tinha encerrado a ligação. Era inútil ligar outra vez. Pedro decidiu partir para o plano B. O arriscado plano B. Se aproximou de um dos Investigadores.- Eu quero uma chave micha agora.O Investigador arregalou os olhos.- Você não pode ...Pedro manteve o tom de voz baixo, porém firme.- Agora. Nós não temos tempo a perder com protocolos.O Investigador arriscou um olhar para o Secretário. Netto viu determinação em Pedro. O filh
Pedro viu a ambulância do SAMU ligar a sirene e sair escoltada por duas viaturas da Polícia Civil. Dentro da casa a Equipe da Perícia fazia o seu trabalho. O carro do IML aguardava a liberação do corpo. Pedro se viu cercado de repórteres e microfones apontados para a sua cara.- Delegado, como se sente com esse ato heróico de salvar a vida dos reféns e preservar a vida do sequestrador?Pedro se irritou com a pergunta. Mas antes que pudesse dar uma resposta atravessada, veio outra pergunta.- Delegado, o senhor voltou a trabalhar após a briga com o delegado adjunto?E mais outra.- O pai será preso?Pedro viu na pergunta uma oportunidade. Olhou para a câmera.- Não. O nosso bom Governador e o Secretário de Segurança Pública vão entender que Rodrigo agiu por impulso. Ele não é um criminoso. O que aconteceu aqui hoje foi uma fatalidade.Pedro não respondeu as outras perguntas.O Secretário ficou frente a frente com Pedro.- Você entrou lá sozinho, liber
Rodrigo rodeado dos colegas de trabalho, se aproximou do caixão do filho. Parecia um anjo dormindo. Sedado e cego pelas lágrimas, ele foi sentado. Aquilo não parecia ser real. Era um pesadelo e ele só queria acordar. Se lembrou do cano duro e frio da arma em sua cabeça e em seguida a dor queimada no bíceps direito. O resto foi uma sequência de imagens borradas e surreais. Não conseguiu olhar para os pais, nem para Anna e muito menos para Henrique no colo de Zoe. Após o enterro não será mais marido e nem pai. Anna não voltará para casa e muito menos deixará ele chegar perto de Henrique outra vez. Só conseguiu olhar para uma pessoa. E ele também o olhava de volta. "Você já tem em mim seu lugar".Muito abalado, Rafael foi até Rodrigo. Se inclinou e o abraçou. Sussurrou em seu ouvido.- Eu sinto muito. Pode contar comigo para o que precisar.- Obrigado. - Rodrigo passou o braço esquerdo em volta dos ombros de Rafael.Raf
Pedro estava fora de si. Ele voltou a trabalhar e Zoe se viu no direito de voltar para a Conceitos. É claro que Álvaro a aceitou de volta. É isso que um pai amoroso faz. Agora além de ter Zoe fora de casa, tem Álvaro, Dan e Lara colocando mentiras na cabeça de Zoe sobre ele. Bem, talvez haja um pouco de verdades, só um pouco. Mas ele tem sido um bom marido. Sim, porque na cabeça dele estão casados. Só de pensar em Zoe perto de outros homens, Pedro espuma de ódio. A desgraçada não atende e não retorna as suas ligações durante o dia. Ele é um delegado e pode levar um tiro a qualquer momento. Será que ela não pensa que suas ligações podem ser uma emergência? Discutiram de manhã e agora Zoe não tinha ido almoçar em casa. Em um acesso de fúria Pedro atirou o prato de comida contra a parede da sala. O macarr&at
Zoe colocou uma mão na boca e a outra no peito. Na boca para sufocar um grito do mais puro horror. No peito para tentar impedir o coração que estava aos pulos de sair pra fora.Pedro sabia que a porta não estava trancada pelo lado de dentro. Era só girar a maçaneta e entrar. Mas não, quis fazer uma entrada triunfal. Como assim chamar a Polícia pra ele? Ao se dar conta de que ele era um Delegado de Polícia, gritou para Dan:- Eu SOU a Polícia! Palhaço!Pedro entrou, fechou e trancou a porta. Com a violência do chute o trinco foi quebrado. Olhou para Zoe. Ela estava exatamente do jeito que ele queria que ela estivesse: Apavorada.Os olhos azuis turquesa estavam vermelhos e brilhantes. Zoe se ausentou alguns dias da Conceitos para cuidar de Pedro. O que ele esperava? Que ela fosse virar dona de casa? Zoe bateu o pé e voltou a trabalhar. Ama o que faz e não nasceu para ser sustentada por homem. Mas diante de um Pedro bêbado, drogado, furioso e armado, talvez fosse melh
Rafael abaixou a mão pela terceira vez. Estava parado em frente a sala de Pedro. Já tinha levantado a mão três vezes para bater na porta. De manhã Pedro estava agitado. Ao que parece Zoe não atendia as suas ligações. De tarde voltou do horário de almoço com uma hora e meia de atraso. Voltou com a pá virada. Rafael viu os outros policiais rindo e fazendo sinal para ele bater na porta. Rafael mostrou o dedo do meio. Foi vaiado. A porta foi aberta. Os policiais desapareceram no corredor e Rafael foi pego com o dedo levantado. Pedro o encarou esperando uma explicação.Sem graça Rafael abaixou a mão e a escondeu atrás das costas.- Foi uma brincadeira. É ... eu tenho más notícias. - Rafael achou melhor falar de uma vez. - Matheus vai voltar hoje.Pedro estreitou os olhos.- O Governador disse que eu poderia escolher outro delegado.- Tem o dedo podre do Secretário nisso.- É claro que tem. Ele quer me fuder. Até a punheta aquele homem deve bater pensando em mim.Rafa