Xavier Alcântara Era sexta-feira, e eu mal podia conter a ansiedade. Ruby tinha algo que me deixava fora de controle. A maneira como ela dominava o palco com seus cabelos curtos brilhando sob a luz, o olhar desafiador que parecia encarar cada homem e dizer “você não pode me ter”. Ela era como uma tempestade: fascinante, imprevisível e impossível de ignorar. Hoje, decidi que tentaria algo diferente. Cheguei cedo ao The Beats, determinado a encontrá-la antes do show.O bar ainda estava se ajustando. Luzes sendo testadas, garçons organizando as mesas. Um vazio antecipado preenchia o espaço, mas minha mente estava ocupada demais para perceber os detalhes. Tudo o que importava era encontrá-la, decifrá-la, ter a chance de conhecer o que existia por trás daquela máscara de sedução.No balcão, Pablo já estava acomodado como se aquele lugar fosse sua extensão natural. Ele segurava um copo de uísque com a familiaridade de quem entende mais sobre álcool do que sobre pessoas.— Chegou cedo — ele
Natasha Lewis O motor do carro ronronava suavemente enquanto eu dirigia pela cidade, o brilho das luzes da rua refletindo no para-brisa. Pérola estava ao meu lado, o olhar curioso voltado para mim. Havia algo reconfortante nela, uma simplicidade que contrastava com o caos que meu coração carregava.— Ainda não quer falar sobre aquele assunto? — ela perguntou, lançando-me um olhar paciente.Suspirei, fixando meus olhos na estrada à frente.— É complicado. Acho que nem eu entendo direito. — Minha voz saiu hesitante, quase engolida pelo som do motor.— Sou boa ouvinte, sabe? — Pérola disse, dando de ombros com um sorriso pequeno. — E não sou do tipo que julga.Olhei para ela rapidamente, surpresa com sua espontaneidade. Não fazíamos amizade há muito tempo, mas algo em sua presença era acolhedor. Decidi arriscar.— Aquele homem que estava no camarim é o Xavier. Somos melhores amigos desde o ensino médio, trabalhamos juntos
Xavier Alcântara Sábado à noite. Mais uma vez, a boate estava lotada, os clientes se amontoavam para ver o show, mas minha mente estava longe dali. Meu olhar mal conseguia acompanhar a apresentação da outra dançarina no palco. Não que eu não apreciasse o talento das mulheres que subiam ali, mas meu foco estava em uma só: Ruby.Enquanto os homens lá fora buscavam qualquer distração momentânea, eu atravessava os corredores iluminados por luzes vermelhas, rumo ao camarim. Era o meu novo ritual nas noites de sábado. O que começou como uma brincadeira para atrair a atenção dela agora havia se tornado quase uma obsessão. Eu precisava vê-la, nem que fosse por poucos minutos.Empurrei a porta do camarim e lá estava ela. Ruby. Sentada diante do espelho, concentrada em passar o batom vermelho que marcava seus lábios cheios. A cena era quase teatral — o reflexo dela me encarando, o sorriso malicioso brincando no canto da boca. Uma rainha no próprio reino.— Você é insistente — ela disse, sem se
Xavier Alcântara Esse último mês tem sido um caos, uma verdadeira loucura. A coleção de primavera está prestes a ser lançada, e parece que a pressão do mundo inteiro caiu sobre os meus ombros. Os dias se arrastam entre reuniões, ajustes de última hora e a correria para garantir modelos para o evento. Eu mal consigo respirar, quanto mais me concentrar.E como se o estresse do trabalho não bastasse, tem Ruby. Aquela mulher me consome, me domina até nos momentos em que eu deveria estar focado. Não importa o que eu faça, ela não sai da minha cabeça. A cada segundo livre, minha mente volta para o jogo de sedução que estamos jogando — ou que ela está jogando comigo, pra ser mais preciso.Ruby é fogo puro, e eu me sinto cada vez mais atraído pelas chamas. Cada sorriso malicioso, cada palavra dela é uma provocação, e isso me deixa louco. É como se eu estivesse preso em uma corda bamba entre desejo e frustração. Eu quero ela de um jeito que nunca quis ninguém antes, e isso me assusta tanto qu
Natasha Lewis A semana inteira foi estranha. Apesar de ainda almoçarmos juntos e conversarmos como de costume, algo entre mim e Xavier havia mudado. A conexão que sempre tivemos parecia perdida, e isso me matava por dentro. Mas hoje, sexta-feira, eu decidi que seria diferente. Se ele ainda insistia em estar por perto, era porque não havia desistido de mim. E eu? Bem, eu decidi que essa noite ele seria meu. Estava de costas quando ouvi a porta se abrir. Seu perfume chegou antes dele, aquele cheiro amadeirado e familiar que fazia minha pele arrepiar. Virei-me lentamente, um sorriso desenhando-se nos meus lábios. — Sempre insistente, Xavier? — provoquei, inclinando a cabeça enquanto ele fechava a porta atrás de si. Ele devolveu o sorriso, aquele olhar penetrante que fazia meu coração disparar. — Se eu quero algo, corro atrás. Caminhei em sua direção, lenta e calculadamente. — Que bom que veio. Porque hoje... — pausei, mordendo levemente o lábio, vendo sua atenção fixar-se ali.
Xavier Alcântara SábadoVejo Natasha entrar no salão do evento, ela está simplesmente deslumbrante com aquele vestido preto, seu cabelo solto ondulando suavemente sobre os ombros. Suspiro, faz tempo que ela não me abraça mais, e eu sinto falta.Enquanto seguro meu copo de whisky, observo ela sorrir enquanto é abraçada por Pablo. Puta merda, eles tinham que ficar tão próximos? Ajeito o nó da minha gravata, tentando ignorar o nó de ciúmes que se forma no meu estômago.Natasha me nota e faz um tchauzinho de longe. Sério que ela não vai vir até aqui me cumprimentar? Será que estou sendo invisível para ela?Fico ali, bebendo e observando a festa até a hora de subir ao palco.— Boa noite, pessoal — começo. — Sejam bem-vindos a essa noite. O desfile será para anunciar a coleção da Alcântara Clothes de verão. Então, aproveitem e obrigado por virem.Em meio aos aplausos, saio do palco e volto para perto do bar. De longe, vejo o desfile acontecendo, mas meu foco está na Natasha. Vejo quando Pa
Natasha Lewis A semana tinha sido uma montanha-russa. Desde que comecei a cobrir as tarefas de secretária do Xavier, passamos horas juntos, mais do que eu estava acostumada. Ele me ensinava, me corrigia com paciência, e vez ou outra me arrancava sorrisos com suas piadas quase infantis. A proximidade dele, o jeito que ele me olhava às vezes, como se tentasse decifrar algo… Tudo isso começou a me confundir. Não era como se algo tivesse mudado entre nós, mas talvez fosse só eu, enxergando mais onde não devia.Agora, na sexta-feira à noite, era o momento de me desconectar. Ruby, meu alter ego no The Beats, sempre me dava essa fuga. A música, as luzes, a dança. Era libertador, uma parte de mim que não cabia no papel de Natasha, a garota doce que ele chama de “Pequena Nat”.Entro animada no quartinho onde costumamos nos preparar, pronta para me transformar, quando vejo Pérola sentada no banquinho, a cabeça baixa, os ombros sacudindo levemente. Ela está chorando.— Pérola? — digo baixinho,
Natasha Lewis Sábado nunca foi meu dia de trabalho. Mas, como estou cobrindo o papel de secretária do Xavier, cá estou, sentada na cadeira giratória da sua sala. O escritório está mais silencioso que o normal, quase vazio, e meus pensamentos têm mais espaço do que deveriam. A preocupação com Pérola não sai da minha cabeça. Ela é uma garota incrível, forte e doce, e não merece que um idiota transforme sua vida em um pesadelo. O que aconteceu ontem no The Beats ainda me pesa no coração. É por isso que, antes mesmo de terminar de organizar a agenda do Xavi, pego meu celular e ligo para Pablo. Chamada iniciada — Bom dia, Pablito — digo num tom brincalhão, tentando soar leve. — Bom dia, pequena — ele responde, a voz calorosa como sempre. — Preciso dos seus serviços como advogado. — Opa, o que posso fazer? — Ele pergunta, interessado. — É uma amiga. Ela está sofrendo assédio no trabalho. Do outro lado da linha, ouço um leve suspiro, seguido por um tom firme e decidido: — Adoro es