Na mais escura imensidão do infinito, ondas de explosões A mais escura imensidão do infinito envolvia o universo, onde estrelas pulsavam em uma coreografia celeste, iluminando o cosmo com explosões de energia em cascata. Aquele espetáculo cósmico, com suas batidas ritmadas, ecoava como o palpitar de corações e o fluir do sangue pelas veias, uma representação da vida em sua essência e concepção.
No entanto, o ambiente de grandeza e majestosidade era abruptamente interrompido na sala de reuniões do Dr. Paulo Azevedo. Os funcionários ao seu redor notavam com preocupação o enfraquecimento de sua respiração e a debilitação de seus batimentos cardíacos. O empresário, no auge de sua maturidade, sofria um infarto justamente durante a apresentação de seu mais novo e promissor produto, após uma noite intensa de paixão. Aquele empreendimento sustentável, fruto de décadas de sucesso profissional, era o seu maior sonho, repleto de inovações tecnológicas.
Como a união de dois seres em um ato de amor, que pode gerar vida, a luz e o calor emanados pela estrela sustentam a existência da vida. Porém, quando um coração deixa de pulsar e se recusa a recuperar seu movimento, mesmo com todos os recursos médicos acumulados ao longo da história humana, a morte se apresenta como o símbolo final.
Naquele momento, o bilionário parecia ter alcançado esse fim. Em meio à escuridão, sem qualquer explosão de luz para salvá-lo, ele se via preso em seu próprio pensamento. Imagens de seu filho ainda criança surgiam em sua mente, imóvel à beira-mar. Desejava expressar seu amor, mas as palavras não encontravam saída, ele parecia já não estar realmente mais ali, o tempo havia esgotado. Tentava abrir os olhos, ciente de que precisava despertar para ter a chance de ver seu filho, presente e chorando pela partida do pai. Queria encontrar paz interior e, com apenas uma frase, curta, mas nunca proferida ao longo de sua vida, descansar em paz.
No entanto, não havia luz. A escuridão era implacável, e sua mente parecia se afastar, prestes a ser desligada. Ainda sentia a presença de alguém ao seu lado, mas a solidão o consumia cada vez mais.
Não era apenas uma sensação. Seu filho, André Azevedo, estava naquele momento ao lado do pai, segurando-lhe a mão. André havia acompanhado cada movimento, desde a sala de reuniões, seguindo abaixo os 30 andares do prédio, o trajeto de ambulância e a angústia de hall de espera do hospital. E apesar de raras vezes perceber um esforço do pai para mover os lábios e acordar temporariamente para a realidade, ele também viajava em sua própria mente.
Recordava-se de um pai afetuoso, orgulhoso de suas conquistas, mas essas lembranças pareciam ser forjadas pelo próprio desejo de André, cheias de ilusões que ele acreditara durante toda a sua vida terem acontecido de fato. Paulo sempre fora um homem reservado, que não expressava seus sentimentos para não revelar fraquezas aos inimigos. O filho cresceu sob essa frieza, sem a presença da mãe, que falecera no parto, e aprendeu que a vida era uma guerra, em que cada movimento era calculado como num jogo de xadrez. No fundo, ele nunca experimentara um verdadeiro amor. Para o pai, todos eram peões que deveriam obedecer às ordens do rei ou então peças inimigas.
Agora, com a morte do patriarca se aproximando, André se perguntava como seria viver sem essa proteção que se estendia ao mundo todo. Enquanto aguardava do lado de fora do centro cirúrgico, refletia sobre a possibilidade de tomar as rédeas de suas próprias decisões. Não sabia se seguiria os passos do pai ou se libertar-se-ia de tudo o que fora aprisionado em seu interior. Naquele momento, não desejava pensar nisso, mas era inevitável escapar daquilo que o consumia.
A movimentação dos médicos, com seus olhares carregados de negatividade, não oferecia um bom presságio. E, então, um dos médicos caminhou lentamente em direção a ele, retirando as luvas e a máscara. Embora seus olhos estivessem úmidos, prestes a derramar lágrimas, André manteve-se firme, como seu pai, pelo menos naquele momento.
— Não precisa dizer nada, doutor — afirmou ele.
Apesar de ser um homem sério, que raramente demonstrava sentimentos, e até parecia não os ter, fora esse homem que o criara sozinho. Sempre agira com honra, valorizando seu patrimônio, mas, acima de tudo, era ético. Foi essa a mensagem que ele transmitiu em seu discurso durante a missa de sétimo dia.
Enquanto a morte do Dr. Paulo Azevedo ainda ecoava na vida de André, os acionistas aproveitavam a oportunidade para pressioná-lo, aproveitando-se do luto recente. O corpo do pai mal havia esfriado, mas eles não hesitaram em avançar, ávidos por obter vantagens e reivindicar parte do império que ele construíra. Aquela ganância deixava André anestesiado, envolto em uma névoa de incertezas. Completamente sozinho, percebeu que, mesmo contra sua vontade, sua vida se resumia em duas coisas: o pai e o império criado por ele. Na verdade ele não estava sozinho, sua irmã mais velha estava ao seu lado, mas não significava muito naquele caso.
Eva parecia a caçula entre os dois irmãos. Filha do primeiro casamento do pai, enquanto ainda era um estudante, ela se dedicou a cuidar de sua aparência invejável, roupas de grife e joias deslumbrantes. Nunca foi uma pessoa profundamente conectada aos sentimentos de seu pai e irmão, priorizando mais as posses materiais e as aparências do que os laços emocionais. Essa atitude era, em parte, uma defesa que ela havia construído ao longo dos anos para proteger-se da dor, da solidão e da angústia que a acompanharam desde muito jovem.
O dia seguinte ao funeral de seu progenitor se desenrolava como qualquer outro dia comum. Para Eva, a tristeza que a consumia não parecia ser motivo suficiente para alterar sua rotina. Ela preferia manter-se entorpecida, evitando a manifestação de sentimentos, como se a dor fosse algo que pudesse ser sufocado para não borrar a maquiagem impecável em seu rosto.
Enquanto caminhava pela calçada da praia, a beleza de Eva a envolvia como uma aura hipnotizante. Sua presença era capaz de atrair todos os olhares ao seu redor. Era uma mulher deslumbrante, ciente do poder que tinha sobre os corações alheios. Um veneno doce e suave, capaz de destruir aqueles que cruzavam seu caminho. Mais de uma vez, presenciou brigas entre homens que disputavam sua atenção, rindo da situação, pois sabia que jamais poderia ser dominada por alguém. Era ela quem ditava as regras, quem possuía o controle sobre tudo e todos.
Entretanto, tudo mudaria naquela noite, a primeira vez que Eva avistou Moisés. Uma festa repleta de música alta, luzes alucinantes, bebidas em profusão e pessoas por todos os lados, e, mesmo assim, os olhares deles se encontraram. Aqueles poucos segundos, em que seus sentidos se cruzaram, pareceram durar uma eternidade. Era um momento em que tudo desaparecia, um completo aprisionamento dos pensamentos, em que nada mais existia além daquelas pupilas que se fitavam. Foi o olhar de Moisés que a cativou, um olhar soberano, como se detivesse todas as respostas para os mistérios da humanidade. Um olhar destemido, que não tinha nada a perder, mas ao mesmo tempo, acolhedor e cheio de vontade de realizar sonhos e desejos.
Esse olhar, que a mantinha presa como em um feitiço, fez com que Eva se tornasse uma presa fácil, algo que ela jamais imaginara que aconteceria. No entanto, Moisés não se dirigiu a ela. Não por timidez, pois era um homem extremamente confiante, alguém que parecia ter o controle de tudo ao seu redor, mesmo diante de alguém que se sentia dona do mundo. Ele continuou a dançar sozinho, sem olhar novamente para Eva.
Aquela situação tornava-se insuportável para ela, que já desejava tê-lo rendido aos seus pés, mas, por mais que usasse de seus truques, que sempre funcionavam quando queria alguém, Moisés permanecia indiferente. Determinada a conquistá-lo, ela se aproximou e parou em sua frente, não resistindo à pergunta que escapou de seus lábios:
— Você é gay? Nada contra, mas acabe logo com essa dúvida. Você realmente não me quer?
Moisés a olhou com calma, sem demonstrar qualquer interesse em sua abordagem. Sua resposta foi firme e precisa:
— Garota, você não sabe absolutamente nada sobre mim.
Eva, surpresa com a resposta, não conseguiu conter sua curiosidade e retrucou:
— Então... estou querendo saber!
Moisés continuou, respondendo a questão dela, que ele entendeu como prepotente, como se a única explicação para ele evita-la fosse a falta de seu interesse por mulheres em geral:
— Eu não sou gay... Sim, senti desejo por você... mas não...
Eva interrompeu, curiosa para saber o desfecho da frase:
— Não o que?
Moisés, com um tom de voz que denotava sua determinação, respondeu:
— Não serei mais um troféu para coroar sua noite!
— Ah, então é isso, você me conhece das revistas!
— Não sou um homem que costuma ler revistas de celebridades, não faço a mínima ideia de quem você é. Mas pela forma como você trata seus amigos, as pessoas próximas e até mesmo o garçom que serviu sua bebida, pude perceber que você quer que eu seja como todos: uma aquisição sua.
— Nossa! Você reparou tanto assim em mim?
— Sou extremamente observador.
— Então tá, tchau!
— Até breve!
Aquele "Até breve!" a atingiu em cheio e foi como um tapa em sua face. Ela virou-se, andou alguns passos e começou a pensar o que aquela simples frase queria dizer. Significava que ele não iria atrás dela e que sabia que ela estava interessada o suficiente para voltar. Ela parou, virou-se novamente para ele, olhou e voltou, buscando seu beijo. Ele fez que ia beijá-la, inclinou o corpo para trás se esquivando e colocou o dedo em sua boca impedindo-a, sussurrando em seu ouvido:
— Sou eu quem escolhe a hora, a forma e o local em que vou te beijar!
Eva ficou perplexa, sentindo-se cativa de suas palavras. Cedeu e continuou a dançar com ele. A atração mútua entre os dois era palpável e tangente de maneira envolvente e sensual.
Até que em um determinado momento ele a segurou, prendendo seus cabelos por entre seus dedos, a abraçou com força e a beijou de um jeito que a fez perder o chão debaixo de seus pés. Os beijos, as vozes, as mãos, os corpos, juntos no caminho entre a casa noturna, o carro dele e o motel foram detalhes imperceptíveis. Eles não conseguiam nem imaginar em que momento a roupa já não mais os vestia, ou quando algo começou ou terminou. A única sensação era de preenchimento, de complemento total, parecia que um fazia parte do outro.
Moisés era um homem muito sedutor, mas sua especialidade era ter as pessoas em suas mãos. Seu interesse não era financeiro, mas emocional. Sabia que era bom em fazer as pessoas só perceberem razão de existir por conta dele. Eva tinha acabado de se tornar a maior de todas as suas conquistas, sabia que era ela a pessoa certa para estar ao seu lado, para ser a rainha de seu reinado.
Na manhã seguinte, Eva acordou e ouviu o pulsar do coração de Moisés. Usava o peito dele como travesseiro e aquele ritmo a acalmou.Ela pensou que jamais iria chorar por um coração que parou enquanto tivesse aquele coração batendo bem perto.O desenrolar daquela história de amor não foi surpreendente. Eva estava completamente apaixonada e um certo jeito cafajeste de Moisés, de tê-la sob comando, de não dar satisfações, ser independente, sumir por uns dias e não dar notícias e de repente reaparecer com um fogo que a deixava enlouquecida, aquilo tudo fazia com que ela soubesse que estava ficando nas mãos dele, mas sem querer ou conseguir fugir disso.Moisés era um homem misterioso, cheio de segredos sobre sua vida, não tinha família e não deixava claro sua profissão. P
- Não tenho tempo para isso, Dona Fátima, não posso ficar indo em todas as reuniões da empresa. - Dizia André que mal havia assumido os negócios depois da morte de seu pai e sentia como se anos já tivessem se passado.- Mas, Sr. André, a reunião com os investidores japoneses é extremamente importante, a empresa precisa de credibilidade internacional agora, e nesse momento sua presença é muito necessária. - Insistia a secretária Fátima, que agora, mais assumia o papel de babá, depois de mais de 30 anos na empresa naquele cargo. Enquanto André passava ferozmente pelas portas do escritório da sede publicitária da empresa, a secretária se contorcia para escapar do fechamento das portas levando consigo centenas de documentos e pastas, que André evitava ter que parar para ler e assinar tudo. Por vezes sua medalhinha de Nossa Senhora roda
- Desculpem, mas o museu já fechou! Dizia o segurança na entrada do museu.- Somos os donos, Cezar! - Respondeu, André, lendo o nome do vigilante no crachá.Um outro segurança já se aproximava deles e rapidamente resolveu o problema na entrada.- Boa noite, Dr. André! Entendam que não é comum a visita de vocês ainda mais nesse horário e o Cezar é novo por aqui! - Aquele era Wanderson, chefe da segurança do complexo. Conhecia os dois desde quando eles ainda faziam trabalhos de escola na biblioteca do complexo cultural da família.- Boa noite, Wando! Sem problema, o erro é nosso, mas precisamos ir ao museu, consultar um item.- Claro, Dr.! Vou levá-los! - Se prontificou!- Fique tranquilo, conhecemos bem o caminho e tenho todos os acessos. - A resposta de André, um pouco tenso, deixou Wanderson
André abriu os olhos. O Sol quente ardia seu corpo todo. Estava deitado numa areia escaldante. Sentia como se a areia tivesse invadido seus poros, entrado pela boca, presa por todo seu cabelo. Lembrava o que tinha acontecido. Será que sobreviveu e foi sequestrado? Atirado no meio do nada? Sentia seu corpo diferente. Foi tentando levantar e se percebeu mais magro, seu abdômen definido como de um atleta, seus braços mais finos. A ideia de que havia morrido e que estava em outra realidade passava por sua cabeça, mas a possibilidade de sonho fazia mais sentido para ele.Ao ficar de pé, olhou para o céu e viu dois Sóis. A combinação da luz, na posição que estavam dava um avermelhado para todo aquele cenário entre areia e céu infinitos. O céu foi se cobrindo de nuvens, ficando mais escuro rapidamente, o som lembrava o de turbinas d
- Então, deixa eu ver se entendi direito, aquele idiota, quando esteve na Terra, deixou descendentes, deixou testemunhas que escreveram sobre suas ações como bem entenderam, inclusive fizeram profecias em seu nome e criou um elemento químico com seu poder, não natural, que deixou no planeta, sem contar nada disso para nós? - A mulher que leu os pensamentos de André contava as conclusões que tirou com base nos acontecimentos lembrados pelo garoto.- Quem você pensa que está chamando de idiota? - Zeon ficou furioso e ao gritar essa pergunta explodiu uma enorme energia a partir de seu corpo para cima, como se saísse dele fogo e raios elétricos que escapavam das chamas. André, no susto, caiu sentado.- É mesmo um idiota se precisa confirmar a quem eu estava me referindo! - Gritou em resposta a mulher que não por menos explodiu de
Hagar levou André novamente para o deserto. Contou diversas histórias fantásticas que intrigavam André e o faziam entender mais o funcionamento daquele Universo. O que mais impressionava André era o mecanismo que levava uma pessoa ao morrer para uma outra vida. Existia uma total aleatoriedade, mas ao mesmo tempo, também alguma previsibilidade. Na cabeça dele, lembrava seu familiarizado mercado de ações. Existiam muitos fatores externos que influenciavam e que podiam fugir do controle de quem quisesse tentar adivinhar o destino de alguém que morria em sua primeira vida. Mas ao mesmo tempo, existiam padrões que se observados bem por um estudioso poderiam ser previstos e o apostador teria grande chance de sucesso se existisse um banco de palpites.- Acho muito interessante o caminho que fazem seus pensamentos. É maravilhoso ter contato, depois de tanto t
- Eva! - Moisés gritava seu nome enquanto era arrastado por outras pessoas.- Moisés! - Eva respondia da mesma forma, também sendo levada para o outro lado.A visão dos dois ainda estava embaçada, não sabiam muito bem, nenhum dos deles o que estava acontecendo.Moisés começou a olhar a sua volta e percebeu que não estavam no museu. Era uma espécie de caverna gigantesca, toda vermelha, efeito provavelmente criado por chamas que estavam por todos os lados e, se Moisés estava enxergando direito, lava, que fluía pelas laterais. Percebeu como eram estranhas as vestimentas daqueles que os agarravam.- Peguem o cálice. - Disse, uma das vozes.Moisés notou que o cálice estava ali, no lugar de onde aquelas pessoas estavam removendo-os. Tentou desvencilhar-se e pular em direção ao cálice, mas foi seguro com mais força. Quando um dos home
A nova estrutura criada por Hagar era uma simples barraca. Mais simples que a anterior. A intenção era poupar esforços, pelo que explicava Hagar. Alguns repunham a energia dos que haviam gasto mais, com uma técnica. Espalmavam a mão por sobre seus corpos e uma espécie de energia era repassada. Segundo Hagar, esse poder utilizava o ar como alimentação para multiplicar a energia quando transmitida. O gasto de quem usava era baixo e a recuperação de quem recebia era muito rápida. Quando Móretar, o rapaz que treinava, acordou, quis imediatamente voltar a treinar e seu pedido foi atendido. Hagar desfez a barraca de emergência que tinha criado, dizendo que era apenas uma ilusão, que estavam o tempo na floresta, que por sinal já estava totalmente reconstruída. Eles já haviam deixado tudo preparado para sua recuperaçã